Nessa modernidade líquida, o que temos cada vez menos é tempo, contraditoriamente ao fato de termos cada vez mais tecnologia. Dentre os muitos problemas decorrentes dessa contradição, um deles é que é cada vez mais difícil manter uma campanha de RPG. Muito embora não seja um jogo do tipo, já que o espaço para interpretação de personagens é pequeno, a série Gloomhaven é hoje o mais próximo de um RPG que você irá encontrar no universo dos jogos de tabuleiro.
Por tal motivo, é uma boa alternativa para aqueles que amam os jogos de interpretação de papéis, assim como eu, mas que não possuem mais condições materiais de manter as jogatinas de D&D em dia. Em Presas do Leão, temos uma fantasia medieval convencional do gênero, representando um grupo de mercenários com autoestima elevada e algum talento com armas e magias, desvendando um mistério sobre pessoas desaparecidas em proximidade às gigantescas muralhas de Gloomhaven.
Em Gloomhaven: Presas do Leão todo o aprendizado do jogo se dá por meio de um tutorial que o encoraja fortemente a começar a aprender jogando. Desse modo, após a preparação dos componentes, as informações organizadas entre o manual e o livro de cenários permitem que a aventura realmente comece, dispensando a necessidade de leitura prévia do material.
O próprio tutorial divide-se nos primeiros cinco cenários, deixando o aprendizado progressivo e mais acessível para jogadores não familiarizados com o sistema. Com a utilização do livro de cenários no lugar das peças de tabuleiro, em comparação ao irmão mais velho, a organização da partida é agilizada, além disso, as páginas dos cenários incluem mais detalhes de ilustração e informações extras úteis sobre a história, regras, objetivos, etc.
É digno de nota que a quantidade de componentes é enorme e a qualidade dos mesmos é ótima, especialmente, diante do preço de lançamento e do tamanho da caixa, que não é tão grande, em comparação com os demais dungeon crawlers. Por outro lado, para conseguir colocar tudo novamente na caixa, tive que recorrer a um tutorial que só encontrei no BGG. Negativamente, pontuo apenas o fato de que os adesivos removíveis deveriam vir na caixa base.
Quanto à jogabilidade, destaco que a opção de não utilizar dados nos combates, optando por cartas para determinar os modificadores de ataque, diminui o fator sorte e deixa os combates mais estratégicos, forçando uma interação e planejamento maior entre os jogadores, o que é sempre muito bem vindo, na minha opinião.
Na minha cópia, ganhei uma HQ que conta a história dos dois primeiros cenários, o que foi ótimo para me familiarizar com o universo e característica de cada um dos quatro personagens. Os personagens, por sua vez, foram criados de modo que a personalidade deles refletisse um pouco a função tática correspondente no grupo, ou seja, não são tão aprofundados assim, mas também não destoam do gênero narrativo em questão.
Ainda assim, a história em Presas do Leão se destaca e ganhe relevância, ou seja, este não é apenas um jogo de movimentação tática, mas legal também em desenvolver o conto e os personagens. Nesse sentido, a quantidade de cenários, 25, que é ótima para uma caixa base, são também 25 capítulos de uma história que se mostra interessante e que é contada por meio do livro de cenários e componentes, inicialmente lacrados, que vão sendo introduzidos durante a campanha.
Enfim, para quem procura por algo como uma experiência próxima de um RPG num excelente jogo de tabuleiro, creio que seja esta a melhor opção hoje. Mesmo que não tenha a profundidade de uma campanha de RPG inteira ou mesmo as 90 missões do jogo original, os 25 cenários de Presas do Leão podem entregar uma experiência lúdica e narrativa interessante e na medida certa.
Por: Linauro. Apaixonado por literatura, música e jogos, desde sempre. Descobriu nos jogos de tabuleiro uma desculpa perfeita para passar mais tempo com amigos e pessoas amadas.
Imagens: acervo pessoal.