Spiel des Djows Internacional: Jogatinas na Holambra
Você sabia que existe uma cidade no Brasil, chamada de
Holambra? Fica em São Paulo e há quem diga, que graças a ela a região dos Países Baixos na Europa ficou internacionalmente conhecida como Holanda, nome este, talvez fruto de algum erro de escrita no cartório. Bom, não entendo tanto assim de história, então não confiem em mim, confiem na
Wikipedia.
Djow_: excelente introdução, faltou citar a parte mais massa… uma cidade chamada Holambra II (DOIS) lol
Holambra, a Holanda Brasileira
Faço essa introdução lembrando aos nossos caros leitores que eu (
isR34L) acabei me mudando para a versão européia da Holambra, conhecida oficialmente como os Países Baixos, ou
The Netherlands (não confundir com o mundo do
Mortal Kombat). Dito isso, no texto de hoje, vou contar para vocês o que realmente importa:
como tem sido a vida de um boardgamer brasileiro no país da maconh…. tulipas. Vem comigo!
Disclaimer: originalmente eu escreveria um texto como um diário de viagem semana a semana, mas ficou longo demais, então cortei para algo mais condensado com apenas a perspectiva da minha primeira semana + os 3 meses que seguiram.
Antes da Ida
Antes de me mudar para cá, já tinha feito contato com vários nativos no BGG. O pessoal sempre foi muito solícito, respondendo minhas perguntas sobre melhor locais para morar e locais para jogar boardgames. Algo curioso, é que em uma dessas conversas um cara mencionou um
Civ Game Argentino bem desconhecido:
Impérios Milenários e perguntou se eu podia trazer caso achasse. Não achei obviamente e além disso o jogo original vem numa
caixa de madeira fora de todo padrão já visto o que tornaria esse contrabando bem complexo.
Já fizeram isso pensando nos problemas de transporte com o Correios será? São nossos vizinhos afinal.
Tirando essa
side quest de cena, fiz contato com dois grupos: o
Imperium de
's-Hertogenbosch e o
Sunday Boardgame at LAB-1 em
Eindhoven. Ambas cidades ficam a apenas 20 minutos de trem, então é algo bem factível transitar entre as duas. Diga-se de passagem os
designers da
Splotter fazem os seus
playtests em Eindhoven.
Imperium Boardgame Club ('s-Hertogenbosch)
Primeiras Impressões
Minha nova cidade: 's-Hertogenbosch. Foto: Acervo pessoal.
Na sexta feira
(8 de Abril) tive minha primeira incursão no
Imperium. Após quase morrer congelado com singelos
10 graus acrescido do fato de que
VENTA PACARAÍ AQUI, conheci o tal grupo.
O que me impressionou na largada foi a
formalidade. O "líder" do clube traz um monitor
touch screen e notebook, faz tipo um guichê na entrada da sala e os membros fazem
check-in num sisteminha que eles mesmo criaram. Existe uma cobrança de
2,40 Euros para o aluguel da sala, que é razoavelmente grande, acompanhe no replay:
O que é jogado?
Os membros a medida que vão chegando, deixam os jogos numa mesa central e os interessados em determinado jogo começam a formar os grupos. Os jogos em geral oscilam entre leves e médios como
Clãs da Caledônia, mas nada muito mais pesado que isso. Isso não impede os membros trazerem monstros como
Eclipse Second Dawn for the Galaxy só para que a caixa gigante seja apreciada na mesa central(risos).
A jogatina
"heavy" ocorre depois que o clube fecha, na casa de algum membro que ofereça abrigo e aí o tempo é infinito, até por que o horário já filtra os adultos das crianças (literalmente). Porém diferente do que você esperaria, ainda tem bastante gente indo para esse chamando
after-party, então não é tão comum jogar coisas especialmente pesadas, então o que já vivenciei foi
Space Base ou algo que jamais arriscaria no Brasil:
Agrícola em 6 players.
Vale salientar algo muito curioso: alguns membros tem coisas como ~200 jogos, e alugam depósitos só para manter os jogos já que a casa não da conta. Um deles tem um quarto da casa, com estantes, só para os jogos, como se fosse o estoque de uma loja. E lá você vai encontrar preciosidades como
Battle Star Galactica e todas as Expansões. Porém isso não é o melhor, o mais curioso é que mesmo assim eles continuam gostando muito de
party games como
Dixit e Secret Hitler (risos).
As Pessoas e O Choque Cultural
O primeiro contato pareceu frio, mas talvez fosse o fato do meu Inglês / confiança ainda não estar
aquecido, no entanto o pessoal não teve nenhum problema em trocar a língua nativa por inglês para jogar com
o único não falante de neerlandês da sala. O que era engraçado, é que as vezes eles falavam neerlandês comigo por impulso.
No primeiro dia jogamos
Dixit, Ilha do Tesouro e
Just One, todos jogos altamente dependente de comunicação e tudo correu bem, foi possível avaliar o potencial Nerd da galera, com algumas referências de filmes do 007 ou Star Wars e o pessoal estava
"bem ligado". No
Just One inclusive fizeram uma tradução simultânea já que as cartas eram em neerlandês.
Algo memorável recentemente é que jogamos
Coup em 10 players, minha primeira vez jogando inclusive, o dono perguntou quem falava neerlandês
e eu era o único que não, ainda assim foi tudo em inglês mesmo de
boaaaaaççça.
Parceria aprovada e me tornei um regular no grupo.
PS: Nas jogatinas no after-party, "só" falamos neerlandês como uma maneira de me educar na língua que também é do meu interesse. Já sei contar e mover Meeples ao menos (risos).
A seguir uma lista resumida dos jogos que já vivenciei nesses últimos 3 meses nesse clube. Em parêntesis a nota, e em negrito se eu joguei de fato. Coloquei um X nos casos em que tem review vindo e não quero dar spoiler.
Ark Nova (9), GWT, Clans of Caledonia, Orléans,
Cascadia (X), Perudo (7), Dixit (6), Just One (8), Stick'em (8), The Crew 2 (10), Treasure Island (6), Coup (5), Bang! Dice (5), Secret Hitler (6), Ticket to Ride Europe,
Free Ride (X), Splendor (7), Agrícola (7),
Pax Pamir (10), The Great Dalmuti (X), Gravwell (6), Spots [vaza clássica] (8), Diamant (4), 7 Wonders,
King Domino (7), Spirit Island (5), Space Base (6), Tiny Epic Dungeons (5), Sheriff of Nottingham (4)
Sunday Boardgames LAB-1 (Eindhoven)
Primeiras Impressões
Viajo para Eindhoven todo domingo para encontrar este segundo grupo. Foto: Acervo Pessoal.
Diferente do clube de ‘s-Hertogenbosch, aqui é muito mais Luderia/Brazil vibes (ao menos para a minha experiência). O LAB-1 é um cinema
indie / centro cultural de eventos
nerds e no domingo a tarde, onde o movimento é menor, o salão de entrada fica aberto para os
boardgamers, basta chegar com os jogos. Existe um contrato social não escrito de sempre consumir pelo menos "alguma coisa" que acaba servindo como a taxa de manutenção.
No meu primeiro dia
(10 de Abril) fui muito bem recebido por um Irlandês que ao meu ver se tornou o "líder orgânico" do grupo, um aficionado por
Knizia e
PnP-Potencialmente-Ilegal, afinal, quem pagaria mais de 50 euros num jogo?
A cabeça dele explodiu quando expliquei os valores dos preços no Brasil.
A jogatina ocorre normalmente entre as 15:00 e as 19:00.
Saguão de entrada, as mesas de jogos ficam ali na esquerda.
Foto do Facebook deles.
O que é Jogado?
Enquanto em 's-Hertogenbosch o grupo é de fato
majoritariamente hardcore, em Eindhoven o pessoal é mais
party-game gateway. Aqui vamos encontrar pessoas jogando
Cards Against Humanity e
Exploding Kittens, e no máximo alguma coisa do
Knizia como
Arte Moderna e/ou até mesmo algo mais obscuro como
Container (ambos em versão PnP do Irlandês [risos]).
Vendo o potencial no grupo, já envangelizei alguns jogos mais pesados e as vezes coloco pressão no grupo para começar mais cedo com algo mais pesado como um
Pax Pamir. BIIIIRRRRRLLLLL!
A seguir uma lista resumida dos jogos que já vivenciei nesses últimos 3 meses, no mesmo modelo que citei antes.
Muse (7), Container (4), Arte Moderna (6), Médici (6), Spicy (7), Regicide (X), Secret Hitler (5), Quacks of Quedlinburg (7), Ark Nova (9), Pax Pamir (10), Isle of Cats (8), Paris La Citie (7), Bang! Cardgame(2), Shamans (7), Samurai, Bohnanza (7), Carcassonne (8), Project L, Around the World in 80 Day (5), Carnegie (7), The Crew 2 (10), Tichu (8), 7 Wonders Duel (X), Coloretto (7).
As Pessoas e o Choque Cultural
O choque cultural aqui é mínimo, Eindhoven é uma cidade repleta de
Expats (vulgo imigrantes), então o Inglês de fato é a língua padrão. É até raro interagir com um Holandês de fato, mas já vi gente de lugares como
Irlanda, Itália, Japão, Índia, Sri Lanka, França, USA. Outra coisa é que a rotatividade aqui é muito mais alta, enquanto em 's-Hertogenbosch é majoritariamente um grande grupo de amigos fixos (salve algumas exceções), aqui sempre há gente nova e gente que aparece uma vez e nunca mais volta.
Acabei conhecendo um casal de
Brasileiros e um cara de
Kosovo que acabou se tornando o meu "grupo fixo". De vez em quando se reunimos para jogarmos coisas mais pesadas como
Ark Nova e três horas sem parar de
The Crew 2 (pra cozinhar a cabeça).
E o que mais?
Realmente os Países Baixos tem uma tradição em boardgames, talvez comparável com os Alemães, então é muito
mainstream.
A chance de alguém dizer que joga boardgame é muito alta, talvez não seja fã
hardcore, mas vai topar um
Ticket to Ride. Fui em outro clube em
Veldhoven a convite daquele meu amigo que queria o jogo da Argentina,
e eu no altos dos meus 33 anos, me senti uma criança, todo mundo era pelo menos uns
10 anos mais velhos que eu. Talvez eu tenha tido um vislumbre do meu futuro.
Evidentemente, lojas tem aos montes, e é bem fácil comprar coisas em lojas não especializadas. Você vai encontrar
Lost Cities, Patchwork, Friday, cardgames do Knizia e todos os Ticket to Ride em livrarias nas estações de trem. Cheguei ao cúmulo de visitar
Utretch e ver que tinha duas lojas de boardgames uma na frente da outra, separadas apenas por um canal.
Quantos aos preços, é aquele absurdo de diferente. Apesar da maioria das coisas na Europa serem efetivamente o mesmo preço que no Brasil (se comparar ao mercado cinza brasileiro), ou até mais caro, o
mundo dos boardgames certamente é um deboche. Exemplo, aqui na Ludopedia encontramos anúncios de
The Great Zimbabwe por módicos 1600 R$ e aqui é possível pegar uma cópia nova por 60 €, vulgo 360 R$. Sem contar os lançamentos, que normalmente chegam no
porto de Rotterdão, então praticamente tudo de ponta vai chegar na Europa primeiro por aqui.
Qual a chance de encontrar um Import / Export lacrado numa loja aleatória no Brasil? Foto: Acervo pessoal.
E tem mais: moro a duas horas de distância de carro de ESSEN.
SEGURA O CORAÇÃO. Vai ter cobertura (com qualidade questionável) pelo
Spiel des Djows esse ano.
E para encerrar, já que não tinha nenhum outro lugar para escrever isso, deixa eu contar uma história curiosa. Alguns devem saber que eu tenho dois Hobbies principais:
Boardgames e
Escalada. Eis que o ginásio de escalada que me inscrevi tem noites de boardgames, o que seria curioso por si só, mas tem mais que isso. O sócio do dono é uma
publisher indie de boardgames, tendo um escritório dentro do próprio centro de escalada.
Pensa na coincidência. Eles lançaram um jogo que até parece interessante, mas jamais irei comprar por uma
questão de preconceito geométrico. Pronto, fim da história bizarra.
E o ruim?
Praticamente não tem, com exceção de uma única coisa:
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The Brazilian Brotherhood of Djows. Foto dos meus últimos momentos nas terras Tupiniquins.
Infelizmente não tem foto com
todos os Djows para essa homenagem e infelizmente pegar o avião pra fazer aquele bate e volta é um pouco mais complicado que o tradicional trajeto
Joinville / Tubarão. Fica aqui meu
#semperfi ao meu grande amigo e co-author
Cássio Nandi Citadin e a toda a alta cúpula da amizade/players que ficou no Brasil.
@
alucia, @
Bob_, @
brendonbarreto, @
Lanzen, @
LeoDoraJu, @
MarcelSerafin, @
marciusfabiani, @
N4t4n431, @
TheConcer, @
Xupim
Só vou citar (em ordem alfabética) quem eu sei que entra na
Ludopedia,
AO RESTO (zoeira do bem) fica só o
lembrete do coração (e o álibi para caso eu tenha esquecido alguém). E por fim é claro,
um beijo a todos os leitores e colegas criadores de conteúdo que apesar de não conhecermos face-to-face sempre acompanharam as besteiras que eu e o
Cássio Nandi Citadin escrevemos.
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Não perca no próximo episódio: O Review de Cascadia