Quando a ciência ainda engatinhava, a superstição e a crendice andavam juntas para o tratamento de doenças, que normalmente eram vista como a ira divina sobre a humanidade, um sinal que a pessoal tinha desagradado alguma divindade. Mas em meio ao oceano de ignorância, uma ilha atuava como um farol: Kós, no mar Egeu. Lá foi fundada uma das mais importantes escolas de medicina do mundo clássico ocidental. Seus alunos eram levados a observar seus pacientes cuidadosamente e registar seus sintomas. Com base no que foi visto e apresentado, procuravam estabelecer relações com outros casos semelhantes e proporcionar a melhor solução possível, não relacionando a enfermidade ao capricho dos deuses, mas no ambiente ao redor e no corpo do doente. Tão importante foi essa escola, que até hoje os médicos citam em sua formatura o juramento de seu criador. Hippocrates Tá na Mesa!

Hippocrates é um jogo de 2021 criado por Alain Orban. De 1 a 4 jogadores, com duração média de 90 min, em Hippocrates os jogadores devem liderar um grupo de médicos, salvando o máximo de pacientes possível e se tornar o sucessor do “Pai da Medicina”.
- Hipócrita é você! Onde já se viu xingar quem não te vez nada.
Devo ter jogado pedra na Cruz para merecer uma coisa dessa (Nota do Sr. Slovic: Já parou para pensar em quantas pessoas falam isso? A fila deveria ser gigantesca e não acredito que havia tantas pedras assim disponíveis). Antes de mais nada, só sua presença já estraga meu humor (Nota da Sra. Slovic: Humor no sentido de ânimo e não os quatro humores corporais definidos por Hipócrates: Sangue, Fleuma, Bílis e Atrabile). Depois não tenho culpa que você fugia da escola e não sabe ler. Hippocrates é jogado em quatro turnos, dividido em cinco fases.
Na primeira, chamada de Acolhimento, os jogadores escolhem os pacientes que vão tratar. Cada um dá benefícios (Nota do Sr. Slovic: As vezes algumas penalidades vem no pacote), como remédios, dinheiro ou reputação. Cada jogador pode escolher no máximo três pessoas, mas nem sempre isso é possível, principalmente quando você é o último a escolher. Na segunda fase os jogadores devem pagar salário aos médicos de seu grupo. Como todos já começam com um, o pagamento acontece desde o primeiro turno (Nota da Sra. Slovic: É triste, mas justo). O valor depende da reputação do jogador. Quanto pior, maior o desembolso.

Depois temos a fase de Recrutamento, onde podemos contratar novos médicos e/ou comprar remédios. Existem três tipos de remédios (ervas, poções e unguentos) e, exceto pelo inicial, todos os médicos só sabem usar um ou dois tipos (Nota do Sr. Slovic: Mais que olhar só o custo do profissional, é de vital importância observar os tipos de remédios que ele sabe ministrar). Se o jogador decidir contratar o médico e comprar os materiais, ele ganha um bônus: um marcador de Conhecimento. Esse marcador pode vir na forma de um médico extra (Nota da Sra. Slovic: Que não precisa de salário, mas só atende uma pessoa), dinheiro, reputação, bônus na fase de acolhimento e até mesmo mais um enfermo.
- E para que vou pegar outro doente? Quero me livrar dessas coisas nojentas logo.
Que belo humanitário você é. Espero que se lembre disso na próxima vez que ninguém se importar que você está doente, hipócrita! Para vencer o jogo você precisa ter mais Pontos de Vitória que seus adversários e há basicamente três maneiras de conseguir: na fase de Acolhimento, ao curar um paciente e quando um médico se aposenta. Então quanto mais pacientes você tratar, mais pontos ganhará. E esses doentes que vem como marcadores de conhecimentos são todos fáceis de curar e não dão penalidade se não forem tratados (Nota do Sr. Slovic: Só vejo vantagem).

Na fase quatro acontece o Tratamento. Os jogadores devem combinar seus médicos com os pacientes (Nota da Sra. Slovic: Os marcadores se encaixam um no outro). Se um único médico não consegue tratar sozinho um enfermo, ele pode receber ajuda de outro (Nota do Sr. Slovic: Criando uma teia com as peças). Um doente só pode ser ligado a um médico se for possível curá-lo imediatamente (Nota do Sr. Slovic: Não pode deixar para o próximo turno) e quando ele é medicado corretamente, recebendo todos os remédios descritos em seu marcador, ganha alta. (Nota do Sr. Slovic: Comprar e vender remédios é uma ação livre. A única diferença na fase de Recrutamento é que eles estão mais baratos). Assim que é curado, o enformo é virado para baixo e o jogador ganha os PV que estão no marcador. Cada médico pode cuidar de um número máximo de pessoas no jogo (Nota da Sra. Slovic: E não no turno. Cuidado com isso) e o marcador do paciente curado fica ligado até que ele atenda todos pacientes possíveis. Assim que isso acontece, o médico pede aposentadoria e o jogar ganha os PVs indicados no marcador.
A última fase é a preparação para o próximo turno. Todos os pacientes acolhidos no turno e que não foram atendidos, são movidos para a Sala de Emergência. Qualquer doente que já esteja na Emergência e não recebeu alta é conduzido para o Domínio de Hades (Nota da Sra. Slovic: Ou seja, morre), penalizando o jogador no fim do jogo.
No geral, Hippocrates é um grande jogo. As regras não são complicadas, mas as decisões que os jogadores precisam tomar podem levar a um grande AP (Nota do Sr. Slovic: Analysis Paraliysis. Em bom português, o tempo que o jogador fica pensando em suas ações. Ou como falamos lá na Casa Slovic: “Vai Will!”). A arte é bonita, bem ao estilo grego clássico. O jogo está muito bem amarrado em suas mecânicas. Tudo faz sentido. Enfim, um grande jogo.
E é isso, Shishô!