por Patanga Cordeiro

The silence of the soul
Is a roaring lion.
O silêncio da alma
É um leão que ruge.
-Sri Chinmoy
Seventy-Seven Thousand Service-Trees, part 29
Esse é um jogo de lion-placement, dominação e crueldade (ou "lei da selva" ou "lei da natureza", vc pode escolher o nome que preferir)
“Não viva no presente, não permita que as coisas passageiras o impressionem. Viva na eternidade, além do tempo e do espaço, além das coisas finitas Então nada poderá influenciá-lo”. (E. Haich, mais no fim do artigo)
Cada jogador é uma tribo de leões de uma subespécie. O objetivo é vencer por pontos. Você ganha pontos ao completar objetivos (chegar num lugar, ter presença em três lugares do tipo "x", etc.) e por ter mais leões, leoas, territórios e comida.

Leões machos são melhores em combate e podem atrair fêmeas do adversário, mas exigem mais comida e não caçam. Filhotes não andam e crescem em duas rodadas. As fêmeas caçam para toda a alcatéia e ajudam no combate. Os meeples são personalizados para os machos e fêmeas, e fica bem bonito o tabuleiro. A arte é de Vincent Dutrait, meu ilustrador favorito (Lewis & Clark, Ilha do Tesouro e muitos outros), e o jogo é lindo. (Repare bem na capa do jogo, na expressão dos olhos do leão e da leoa.)

Toda rodada tem duas ações, dentre estas: acasalar (ganha filhotes (e os jogadores só descobrem o sexo depois de uma rodada), pegar dois objetivos (sacada bem legal no jogo - vc pode fazer coisas para ganhar pontos ou ganhar novas cartas com outras formas de ganhar pontos), andar com uma alcatéia (para conseguir um território com mais alimento), atacar uma alcatéia adjacente (para afastá-los da sua terra e então ocupá-la e matar seus filhoes) ou atrair fêmeas de outra alcatéia (você ganha os meeples do seu oponente). A última opção é sacrificar um macho para aumentar a força de todos os machos que possui e que ainda nascerão (mas o meeple fica perdido até o fim do jogo, e são limitados!)
"Experimente trocar de lugar com outro. O que vc sentiria se estivesse com alguém como vc mesmo, falando o que vc fala, fazendo o que vc faz?"
Todo fim de rodada você precisa alimentar seus leões de acordo com a quantidade de presas nos territórios onde suas fêmeas se encontram (os machos não caçam, eles ficam cuidando da coleção de board games). Cada leão sem comida é, digamos, removido do tabuleiro. A cada rodada um jogador coloca uma vila de humanos, que afugenta os leões de uma região. Essa rotação é bem legal e você precisa levar em conta quando prepara seu turno.

Gostamos bastante do jogo. Já é interessante o tema ser 100% africano. É um jogo onde 3/4 das ações acabam gerando Guerra Fria ou confronto direto. Matar leões dos outros é parte do dia-a-dia na vida de uma alcatéia, e se tiver filhotes melhor ainda. Mas o objetivo é ganhar pontos, então mesmo que você apanhe muito, se conseguir pontos, ainda assim você fica bem. É aquela ideia de que a "lei da natureza" não é nem boa e nem má, ela só é, e funciona para objetivos mais "básicos" da existência.
“o destino é o reflexo do caráter da pessoa e o resultado de suas ações” p.314
O que não gostamos é que foi um pouco longo. Da próxima vez vamos tirar umas 2-3 rodadas do fim do jogo para ver como fica.
“..temos o livre-arbítro para nos identificar com os impulsos ou nos tornar seus senhores. Só é livre o ser humano que dominou seus impulsos e que já não é escravo de suas paixões, desejos e anseios.”
RRRRAAAOOOOORRRRRRRR!!!
_________
Mini-review do livro Initiation
Curiosidade: as citações que coloquei no texto acima são do livro Initiation, onde Elizabeth Haich relembra sua encarnação como uma sacerdotisa no Egito dos faraós. Lembrei desse livro ao escrever o artigo porque lá ela descreve como os leões eram próximos dos humanos - na verdade, os animais mais próximos de todos, aceitando conviver juntos - até que os humanos começaram a perder muito em virtude e os leões voltaram a ser animais selvagens. Aqui deixo algumas ideias e um mini-review do livro em si, a quem interessar.

Algumas coisas que ela descreve no livro:
--Princípios que regem o universo e, portanto, explica como foram construídas as pirâmides, porque todas tem quatro lados e a mesma orientação, sobre Atlantis e porque Atlantis se destruiu, porque sentimos certas coisas (impulsos, formas de progresso tecnológico, etc) em diferentes momentos da humanidade, porque encarnamos numa certa família, etc, como se comunicar telepaticamente, etc, e porque hoje em dia não se consegue fazer certas coisas que faziam antigamente (como as Pirâmides). Tem muita coisa curiosa e interessante! Você para e pensa “Nossa! É isso! Agora entendi, é tão óbvio!”
--Prática espiritual, que é o que me interessou mais. Ela explica os passos que teve até receber a iniciação como sacerdotisa, tais como: atividade física, concentração da mente, meditação, desapego, observar o divino nas coisas, controlar a própria vontade, viver em sociedade, celibato, etc. Essa parte é muito linda, pois se você ver vai coincidir com o que todos os grandes Mestres ensinam! Para mim, é a essência do livro, que me inspirou na minha própria jornada. Uma parte, quando ela recebe a iniciação, envolve superar os desafios e ter a experiência de iluminação por um momento. (Essa ainda está um pouquinho longe para mim.)
PS: o primeiro livro que ajudou a despertar em mim uma sede espiritual foi escrito pelo seu colega, Selvajaran Yesudian, com a coautoria de Elizabeth Haich, chamado Ioga e Saúde.