Na nossa última análise, falamos sobre
Kingdomino. Então, para aproveitar o embalo, vamos falar sobre Queendomino, um lançamento independente da mesma série, mas que também pode ser integrado à caixa original, através do modo Casamento Real, como veremos adiante.
Queendomino é mais um excelente jogo do Bruno Cathala (7 Wonders Duel, Five Tribes), lançado no Brasil no ano de 2019 pela PaperGames e que, mantendo o mesmo tema de Kingdomino, mistura fantasia medieval com o tradicional jogo de dominó, porém, com a adição de algumas ações e regras especiais, como veremos abaixo.
O jogo é para 2 a 4 jogadores, com idade a partir de 08 anos e o tempo estimado de partida é de 25 minutos, o que retrata bem a realidade. Queendomino repete a parceria de Kingdomino e conta também com a excelente arte de Cyril Bouquet.
Os componentes da versão nacional, produzida pela PaperGames, mantém a mesma qualidade encontrada em Kingdomino, com destaque para a gramatura dos dominós (tiles). A caixa é bem resistente e também serve como insert para a utilização das peças nas partidas.
Em Queedomino, além dos meeples dos reis e castelos em 3D, em cores diferentes daquelas encontradas em Kingdomino, contamos também com peças de Estabelecimentos, Cavaleiros, torres, moedas, um tabuleiro central e, especialmente, os meeples da Rainha e do Dragão.
Na onda do lançamento de Kingdomino, que venceu diversos prêmios importantes, como o Spiel des Jahres, na categoria Jogo do Ano, no ano de 2017, Queendomino também teve uma boa recepção, ainda que mais modesta, é verdade, mas, ainda assim, tendo sido indicado ao prestigiado Prêmio Golden Geek, na categoria Jogo Familiar, também no ano de 2017, organizado pelo site BoardGameGeek. Atualmente, Queendomino ocupa a 41ª posição no concorrido ranking de jogos familiares do Ludopedia.
A temática do jogo é a mesma da série, fincada na fantasia medieval e, como em Kingdomino, os jogadores representam reis que competem entre si para expandir o seu reino através da incorporação de diversos tipos de territórios. Além daqueles territórios já conhecidos na série (campos de trigo, pastagens, florestas, pântanos e lagos), temos agora também os espaços de vila para construção de Estabelecimentos.
A arte do jogo mantém o padrão da série e continua muito bonita, com a inserção de elementos divertidos nas ilustrações dos territórios e Estabelecimentos.
As peças de dominó continuam repletas de ester eggs e os Estabelecimentos são bem interessantes, por exemplo: a Grande Taberna, que conta com um formato de barril de cerveja, e o Castelo Animado, uma referência ao filme genial de Hayao Miyazaki. Como em Kingdomino, um pequeno problema é que esses detalhes são bem diminutos e é preciso olhar com atenção para poder visualizá-los.
Diferentemente de Kingdomino e Kingdomino Duel, não temos em Queendomino, ao menos na versão nacional, um manual multilíngue, apenas em português, o que, todavia, em nada decresce a qualidade do mesmo, que é bem organizado e ilustrado, permitindo que se jogue uma partida logo após uma breve leitura, principalmente, se você já conhece o jogo original da série.
Queendomino, a exemplo do seu antecessor, continua sendo um euro familiar e leve, porém com a adição de algumas ações que lhe trazem maior profundidade estratégica. A mecânica básica continua sendo a colocação das peças de dominó, mas também temos o cerco de área, seleção de peças e ordem de fases variável.
Como no jogo de dominó, temos a escolha dos tiles de territórios (substituindo os números) que devem ser combinados para formar o seu reino e definir a sua pontuação final. Além disso, a colocação das peças deve observar precisamente a formação de uma grade de 5×5 quadrados (7×7 em partidas com dois jogadores), sendo que eventuais peças sobressalentes ao modelo devem ser descartadas, prejudicando a sua pontuação.
Em Kingdomino, no seu turno, os jogadores adicionam uma peça de dominó com até dois tipos de território ao seu reino e, em seguida, escolhem uma nova peça para ser adicionada no próximo turno, através de uma coluna de dominós formada a cada turno.
Em Queendomino, além dessas, são incorporadas as seguintes novas ações: enviar um ou dois Cavaleiros para recolher impostos nos seus territórios, construir um Estabelecimento e subornar o Dragão para que ele queime um Estabelecimento.
O objetivo do jogo continua sendo o de reunir a maior quantidade de pontos de prestígio com os seus territórios, mas com a entrada das novas ações, as estratégias possíveis em Kingdomino (discutidas na nossa análise anterior) foram aumentadas, mesmo que a necessidade de se potencializar a pontuação dos seus territórios com o número de coroas nelas impressas ainda seja um fator predominante.
Agora, você também pode pontuar ao final da partida com as suas moedas e Estabelecimentos, de diferentes formas: somando pontos diretamente ou de acordo com as torres, cavaleiros ou tipos de territórios que você possui no seu reino.
Em Queendomino, não poderíamos deixar de falar também do importante papel da Rainha, que fica sempre com aquele jogador que possui mais torres. A monarca lhe concede desconto na construção de Estabelecimentos e ainda conta como uma coroa extra para o seu território mais extenso ao final do jogo, podendo ser decisiva numa partida mais equilibrada.
A ordem de turno dinâmica para a escolha dos dominós foi mantida, sendo esta uma das mecânicas mais legais de Kingdomino, pois gera tensão entre a escolha da melhor peça de dominó e a melhor colocação na ordem de escolha do próximo turno, o que nem sempre é possível conciliar.
Nesse sentido, mesmo com o acréscimo das novas ações, o fator sorte ainda se faz presente e influente no decorrer da partida, notadamente, no sorteio das peças de dominó, o que pode ser contornado apenas em parte por sua estratégia com os territórios e Estabelecimentos.
Mas, depois de algumas partidas, é possível pensar em bloquear a melhor escolha de dominó para os adversários, combinar isso com o uso do Dragão para também afastar a possibilidade da escolha de um Estabelecimento que faria diferença nos seus reinos e controlar a entrada dos dominós e Estabelecimentos, com o auxílio de uma tabela, por exemplo, aproveitando-se assim do máximo de estratégia que o jogo pode oferecer.
Queendomino oferece ainda o Casamento Real, que são outros três modos de jogo para quem também possuir uma cópia de Kingdomino, aumento inclusive a capacidade máxima de jogadores: para partidas com 3 ou 4 jogadores, é possível construir reinos com 7×7 quadrados; para 5 ou 6 jogadores, construindo reinos com 5×5 quadrados; e, finalmente, para 6 a 8 jogadores, através da formação de times de 2 jogadores.
Como bem observa tuliobarros na sua análise (link da análise), o Casamento Real é um modo de jogo interessante, porém alternativo, não sendo o objetivo das duas caixas. Queendomino e Kingdomino são jogos diferentes, com características próprias e que, de certa forma, são diluídas no mashup proposto – notadamente, a agilidade do primeiro e a estratégias envolvidas nas vilas e Construções do segundo.
O Casamento Real, assim, é uma possibilidade interessante de se integrar os dois jogos e criar uma nova experiência, inclusive, com mais jogadores.
Queendomino compartilha com Kingdomino uma expansão chamada ‘Age of Giants’, lançada lá fora no ano de 2018, mas ainda sem notícias de chagar no Brasil, que inclui componentes para um 5º jogador, uma torre de tiles, novos dominós e possibilidades de pontuação.
Enfim, Queendomino mantém a necessidade de planejamento para a construção do seu reino e acrescenta algumas camadas estratégicas interessantes, como vimos. Ainda assim, é um jogo leve, rápido e com bom custo benefício, além de ser uma boa opção para se jogar com as crianças um tanto mais crescidinhas, pois, apesar da inclusão das novas ações, não há comprometimento da rapidez e diversão das partidas.
No próximo post, falaremos de Kingdomino Duel, o mais novo jogo da série, lançado em 2019, anunciado pela PaperGames para ser lançado no Brasil no ano de 2020, exclusivo para dois jogadores e que marca a entrada da série na mecânica roll and draw.
Linauro Neto é advogado, mestre e doutorando em Ciências Sociais. Apaixonado por literatura, música e jogos, desde sempre. Descobriu nos jogos de tabuleiro uma desculpa perfeita para passar mais tempo com amigos e pessoas amadas.
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