Negrao::Excelente abordagem Mayrant Gallo.
Esse assunto me lembrou uma leitura que fiz um tempo atrás: O Negócio dos Livros, de André Schiffrin, onde ele comenta como as editoras mais antigas publicavam livros visando o aspecto literário e cultural. No livro ele relata que antigamente um trabalho autoral de qualidade tinha maior chance de ser publicado, mesmo que as previsões financeiras não fossem tão favoráveis, mas que com a interferência de empresas maiores o negócio foi rumando cada vez mais para a publicação de livros que teriam um potencial de vendas maior.

Fiquei curioso em saber se você acredita que, nos Jogos de Tabuleiro, estamos passando por uma situação parecida.
Obrigado! A Literatura contemporânea deixou de ser arte para se tornar um produto de consumo como qualquer outro. Menos estética e mais assunto, este escolhido com base no gosto geral de nossa época e desenvolvido sob a orientação de uma cartilha, com uma etiqueta de comportamento e um protocolo de atitudes. Portanto, não é mais arte, pois arte é estética (forma, estilo) e liberdade (ponto de vista único, escolhas pessoais). Esse é um fenômeno mundial, mas que em países como o nosso, com baixa educação, fica acintoso, agressivo. Quanto aos jogos de tabuleiro, me parece que o maior problema é a acomodação ao que editores e influenciadores sugerem. Nós nos deixamos fisgar pela histeria do “hype” e pesquisamos pouco, em busca de jogos que realmente se ajustem ao nosso gosto pessoal. Isso conduz à reprodução de gêneros, à multiplicação de jogos uns parecidos com os outros, como em “literatura” os best sellers, todos muito iguais, palatáveis, digeríveis. Nesse universo, o jogo diferente tende a ser rejeitado ou ignorado, vira underground, uma guloseima para poucos. Outro problema reside em julgamentos falsos, que podem “matar” alguns jogos: não gostar de um jogo não o faz ruim, é só gosto pessoal. Não se deve diminuir um jogo porque não se o aprecia. Eu, particularmente, não gosto de alguns, mas evito falar ou escrever sobre eles e até os recomendo, pois sei que são ótimos, apenas não me agradam. E, por fim, prevalece o estranho critério de que os “melhores” jogos, os imprescindíveis, são sempre os grandes, pesados, cheios de componentes e regras. A pessoa sente até vergonha de gostar de Carcassonne… Ora, Terra Mystica pode ser o que for, mas o cara prefere Tokaido, Power Grid ou El Gaucho. Eu talvez prefira K2, Skyline 3000 e Arraial. Todos ótimos jogos, cada um à sua maneira. Como disse Raymond Chandler, os franceses têm uma frase para tudo e sempre estão com a razão: c’est la vie!