RaphaelGuri::É uma discussão bem extensa... hahaha
Acho que é isso, tem muito pano para manga, muita coisa para refletir (e eu amo isso). Vamos deixar a superficialidade de lado um pouco, pois o hobby também precisa disso!
Abraços cibernéticos!
Caro RaphaelGuri e Felipenserj
Inicialmente eu quero dizer que concordo com vocês, no sentido de que esse termo “premium” realmente não foi a melhor decisão da Estrela. Se ela tivesse chamado a nova linha de produtos de “Estrela Modern Games”, muito provavelmente boa parte dessa discussão nem estaria acontecendo.
Por outro lado, conforme eu disse em outras respostas, o termo “premium” efetivamente pode se aplicar a mais de um aspecto, podendo significar componentes melhores, como também jogo melhor (no quesito mecânica) e até mesmo um amálgama dos dois, ou seja, jogo melhor com componentes melhores.
Assim sendo, vocês realmente podem ter razão em certa medida, e o consumidor comum “não-boardgamer” comprar o “Herdeiros do Khan”, e ficar muito pau da vida, com a qualidade dos componentes. Eu só acho que esse tipo de comportamento não é natural no público alvo do produto, até porque como o RaphaelGuri mesmo apontou, o único parâmetro de comparação real seria o “Guerra Mitológica”, e me parece que esse jogo não vendeu tanto assim, então não é todo mundo que possui uma cópia para poder comparar.
Essas considerações a respeito da qualidade dos componentes são muito mais características do boardgamer tradicional, que todos já concordamos não é o público alvo do “Herdeiros do Khan”. Por isso, tanto pode acontecer do público comum rejeitar o jogo por conta dos componentes (conforme vocês defendem), quanto pode ocorrer das pessoas não ligarem para isso, e comprarem o jogo normalmente (conforme eu defendo).
Do mesmo modo, pode acontecer do jogo ser bem sucedido ou fracassar, e isso não ter nada a ver com a qualidade dos componentes, mas sim com a complexidade que pode atrair ou afastar o consumidor comum. Nesse caso, nem eu, nem vocês, teríamos necessariamente razão, nesse particular. Isso nós só vamos poder verificar através do desempenho em vendas do jogo.
Em relação aos demais jogos que o RaphaelGuri citou e que não causaram o impacto esperado no mercado, como o Puerto Rico, o Castles of Burgundy, Istambul e Ave Cesar, é preciso lembrar que nenhum desses jogos teve uma tiragem de 10.000 unidades, e acho que essa é a aposta da Estrela. Além disso, esses jogos não partiram de uma faixa de preço de R$100,00/R$150,00, e só atingiram esse patamar de preço quando a Grow desistiu do mercado de board games, e fez uma queima de estoque de seus jogos. Então a iniciativa da Grow e a iniciativa da Estrela são situações e estratégias muito diferentes.
Quanto ao argumento do Felipenserj referente à camisa barata que desbota, eu acho que você tem toda a razão. Porém, quem quiser um jogo que dure para a vida inteira, terá de estar disposto a pagar os R$ 600,00 que custa o preço normal, dos board games de complexidade média. Não tenho nenhuma dúvida que o “El Grande Big Box”, com qualidade alemã de componentes, é para passar de geração para geração. O problema é que ele custa R$ 800,00. Quem está pensando em comprar jogo complexo por R$ 100,00 ou R$ 150,00 certamente não está pensando em durabilidade. Mais uma vez, eu acredito que esse pensamento "estou pagando uma pequena fortuna pelo jogo, mas até meus netos vão jogar", trata-se de um raciocínio de boardgamer e não do público em geral. A grande massa de clientes Estrela pensa “vou comprar esse jogo baratinho agora, e se daqui a quatro ou cinco anos ele não tiver durado, eu compro outro”. Não fosse assim, WAR, Detetive e Banco Imobiliário não seriam o sucesso de vendas que são. Pelo menos é como eu penso.
No tocante ao relacionamento com as Ri Happys e Lojas Americanas, eu gostaria de ponderar que essas cadeias de varejo não estarão lidando com uma empresa de porte médio que edita board games, mas sim com a Estrela, que produz boa parte dos produtos que essas empresas vendem. Falar grosso com a Devir, com a Mepple BR, com a Conclave e até com a Galápagos é uma coisa, mas falar grosso com a Estrela é uma coisa muito diferente. Claro que a Ri Happy e as Lojas Americanas também não falam grosso com a Grow, mas a quantidade de jogos produzidos por ela foi muito menor do que a tiragem do “Herdeiros do Khan”, e isso também faz muita diferença.
De todo modo, se a estratégia da Estrela será bem sucedida ou não, e se ela terá o impacto que se espera, sobre as empresas do setor de board games, isso só o futuro dirá.
Um abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Realmente esse tipo de debate, principalmente nesse nível é muito bom para o hobby, especialmente para os boardgamers recém chegados que eventualmente estejam acompanhando as manifestações.