Marllos Dias::De fato, a iniciativa da Estrela pode vir a baixar os preços dos jogos no geral, em algum momento no futuro, mas não creio que todas as editoras farão isso, e as que fizerem, provavelmente não farão com todos os jogos.
Caro Marllos Dias
Achei a sua análise muito apurada, e direto ao ponto. Olhando pelo seu ponto de vista é bem possível que a queda de preço do "History" não tenha mesmo muito a ver com essa iniciativa da Estrela.
Em relação aos demais pontos que você destacou, eu acho que você também tem razão. O lançamento do "Herdeiros do Khan" não fará milagres, nem reduzirá o preço de todos os jogos pela metade. Ninguém espera isso, até porque muitos jogos lançados aqui já são caros mesmo no mercado internacional, como é o caso do "Tainted Grail". Esse tipo de jogo realmente não será para todo mundo.
O problema e que todos os jogos praticamente já são lançados na faixa de R$ 350,00 / R$ 450,00, independente da complexidade e da quantidade de componentes. Um exemplo disso foi o "It's a Wonderful World". O jogo é basicamente um jogo de cartas, mas foi lançado a R$ 350,00. Certamente se a tiragem fosse maior, e se parte dos componentes fosse produzida nacionalmente (coisa que é difícil, mas pela qual dá para brigar), muito provavelmente o jogo seria mais barato.
Mas as editoras de board games parecem cada vez menos interessadas em procurar baixar o preço dos jogos, e ganharem mais dinheiro, com o maior volume de vendas. Ao invés de vender mais e mais barato, como fazem os chineses, a economia que mais cresce no mundo, as editoras de board games procuram fazer o contrário, ou seja, vender menos e mais caro.
No caso dos jogos mais caros como o "Tainted Trail" e o "Descente: Lendas da Escuridão", realmente os lançamentos da Estrela talvez tenham pouco impacto, mas em relação aos jogos mais baratos a história é outra.
Portanto, a grande importância do eventual sucesso do "Estrela Premium Games" é abrir os olhos das editoras tradicionais para a grande parcela do mercado de board games que cada vez mais está sendo abandonada e ficando desassistida por essas mesmas editoras, por conta do aumento absurdo no preço dos jogos.
Essa é a minha esperança, que as editoras vejam o quanto a Estrela está ganhando dinheiro com jogos baratos, e comecem a olhar com outros olhos para essa faixa de preço de R$ 200,00, que não sejam apenas os jogos festivos e familiares. É claro que existem jogos, complexos inclusive, que já estão nessa faixa de preço. Mas esses jogos não foram lançados a R$ 200,00, e conforme você bem pontuou, são jogos que não venderam tão bem, e que precisam ser "desovados" de alguma forma. Não dá para esperar que isso ocorra com todos os jogos médios.
Evidentemente pode acontecer do "Estrela Premium Games" não fazer sucesso, ou até mesmo que faça um sucesso estrondoso e mesmo assim, não impactar quase nada, em relação às editoras de board games, e os preços continuarem a subir cada vez mais. Todavia, se for esse o caso, acho que muita gente vai acabar abandonando o hobby, e não haverá ninguém para repor essa diminuição da comunidade boardgamer. Pode ser que as pessoas também não saiam completamente, mas que passem a comprar jogos a cada quatro ou cinco anos, o que em termos práticos é quase a mesma coisa.
Com um mercado cada vez menor, a tendência é que as tiragens diminuam ainda mais e os jogos fiquem ainda mais caros. Quando só restarem apenas uma centena de muito ricos no hobby, quem vai sustentar as lojas especializadas? Quem será que vai justificar a realização de um evento como o Diversão Off-Line? Quantas editoras serão necessárias para atender apenas a essa centena de consumidores abastados?
Pode parecer que esse eventual futuro, que eu tracei, seja sombrio demais, porém ele é bem possível de se realizar. E uma coisa que a história cansou de ensinar é que um mercado que não se renova, nem cresce, é um mercado fadado a morrer. Basta lembrar do mercado nacional de Laser Disc, que eu acho até que muita gente por aqui nem chegou a conhecer.
Por fim, eu torno a repetir, jogo barato é que dá dinheiro de verdade, como Estrela e Grow vem demonstrando a décadas, e as editoras de board games deveriam realmente pensar nisso.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio