Istanbul – É dia de feira!
Título: Istanbul (2014)
Designer: Rüdiger Dorn
Arte: Andreas Resch
Editora nacional: Grow
Nº de jogadores: 2 a 5
Em Istanbul cada jogador representa um comerciante e seus assistentes, que deverão aliar sua habilidade em conhecer e correr pelo bazar com uma estratégia eficiente para conseguir fazer o maior número de negócios e conseguir mais fama e rubis do que seus adversários!
Istanbul é um jogo altamente estratégico que apresenta para os jogadores um clima tenso de corrida, sem ser de fato um jogo com temática esportiva, através da otimização de escolhas, onde cada movimento é importante para definir quem será o mais rico negociador turco.
Nota: Parece TBT, mas não é. Este foi outro texto resgatado do formato antigo, que não chegou a ser postado antes da mudança de formato. Espero que curtam!

Istanbul possui um visual bonito e bem feito, com uma paleta de cores composta por tons neutros e sóbrios. O jogo não possui um tabuleiro, mas peças cartonadas que servem como locais, todas com algumas iconografias e uma ilustração no meio, todas bem feitas e ricas em detalhes, que buscam reproduzir locais do Grande Bazar, porém não conseguem transmitir aos jogadores as texturas e cores vibrantes reais do ponto turístico verdadeiro. Uma característica do jogo é que praticamente TUDO vai em cima destas peças, escondendo um pouco a arte e gerando um visual meio poluído, contudo o Grande Bazar, quando visto pessoalmente ou em fotos, temos esta impressão mesmo, de coisas empilhadas e acumuladas. Neste sentido, tal “poluição visual” acaba combinando com a temática e contribuindo positivamente para a fotografia do jogo na mesa.
Todos os componentes, como marcadores, cartas, manual e afins, parecem ter sido feitos com base em um visual de lavagem sépia ou grisaille como fundo, mas com ícones e texto coloridos, o que contribui para um visual mais puxado para os tons marrons, evocando aos jogadores um sentimento que apela ao senso comum ao conectar estes tons com algo proveniente do oriente médio (mesmo a Turquia sendo parte europeia), devido à arquitetura clássica da região. A iconografia é de fácil entendimento e de um tamanho que permite uma fácil identificação e leitura.

[ todos elementos do jogo, com ele montado para ser jogado! Fonte: Internet]
Ø Qualidade dos Componentes
Apesar da caixa ser de um papelão um pouco fino, todos outros elementos do jogo são de boa qualidade, possuindo peças de madeira bem pintadas, cartas de boa qualidade e muitos marcadores em papelão de boa gramatura. Além disso, o jogo possui alguns cristais plásticos vermelhos bem bonitos e um par de dados de qualidade razoável.
O fato de o jogo não possuir um tabuleiro, mas peças de locais separadas cartonadas, não é apenas uma escolha estética, mas mecânica. As peças soltas permitem inúmeras possibilidades de preparação da partida. Tais peças cartonadas de locais são impressas frente e verso, porém ambos lados exatamente iguais. O manual possui um papel de boa qualidade, cheio de ilustrações e exemplos. Como o jogo é relativamente simples e acompanha um player-aid (carta de ajuda) bem grande e detalhada, feita de papelão cartonado da mesma gramatura que todos os componentes, o manual raramente sai da caixa.
Ø Curva de Aprendizagem
Istanbul é um jogo de regras bem simples, onde os jogadores precisam basicamente aprender uma regra principal, que é a de como mover seu trabalhador pelo tabuleiro. Contudo, adicionalmente, os jogadores precisam aprender o que cada um dos 16 (dezesseis) espaços fazem (na verdade, 12 espaços, pois alguns são praticamente iguais, só mudando coisa mínima, como o tipo de recurso que recebemos). Agora, não é por ter entendido bem a regra que jogar bem se torna fácil, afinal Istanbul é um jogo de otimização de ações e corrida, então saber ler bem os caminhos e os adversários, tentando prever seus movimentos para estarmos um passo à frente é a chave para se vencer e isso, caros leitores, não é tão fácil. No final, Istanbul é um com regras simples o suficiente para ser encarado como um jogo familiar, porém em uma mesa experiente possui uma profundidade tática e estratégica grande o suficiente para ser encarado como um verdadeiro eurogame raiz!
Um problema do jogo (se possível colocar como ‘problema’) é que jogadores experientes em Istanbul terão uma bela vantagem sobre novatos, não sendo raro ver jogadores em suas primeiras partidas de Istanbul desperdiçando ações pela má distribuição de seus assistentes pelo mapa ou lançando aquele olhar gelado para um rival esperto que fez algo que ele queria na sua frente. Por outro lado, tal impacto da curva de aprendizado pode servir de estímulo para o jogo ver mesa com mais frequência na mesma turma ou mesmo para desestimular novo jogadores. Tudo vai depender da forma que os jogadores experientes tratem essa primeira experiência do(a) colega novato(a).
Ø Presença de Tema
Mecanicamente o tema encaixa bem, afinal os trabalhadores e assistentes dos jogadores irão andar pelo Grande Bazar fazendo entregas e negócios, o que é algo que realmente acontece na vida real. Tematicamente, sinto falta apenas de mais interferência ou contato com clientes e turistas, pois no jogo são poucos espaços em que vendemos mercadorias, o que contrasta com a realidade do Grande Bazar, que é basicamente uma lojinha enfileirada atrás da outra com uma guerra velada comercial.
Para viés de informação e para ajudar a ilustrar na mente de vocês, colegas leitores, deixarei algumas fotos abaixo REAIS do Grande Bazar em Istanbul (fotos retiradas do blog de viagens MeusRoteirosdeViagem” de Diego M.):


Apesar de certa fidelidade na retratação do Grande Bazar (claro, com um grau de abstração, pois estamos aqui tratando de um jogo de tabuleiro e não uma reprodução do cenário real), devo lembrar que Istambul é uma grande e moderna cidade, como toda grande e moderna cidade do planeta, não se diferenciando muito em relação à Nova Iorque ou São Paulo, por exemplo. Na cidade de Istambul (antiga Constantinopla), como em toda cidade grande, temos áreas comerciais modernas e ricas, áreas precárias e perigosas de moradia popular e assim por diante.“...Tá, mas, e daí, Amarelinho?” - Ok, ok, pode ter parecido que sai do foco, mas não sai e digo o motivo: Istanbul (o jogo) retrata apenas UMA parte da cidade, um local histórico e isso deve ser levado em consideração ao se apresentar o jogo para alguém que não conhece a história ou cultura turca, para que o jogador não seja levado ao erro de achar que Istambul (a cidade) consiste majoritariamente de uma arquitetura antiga e paredes beges, devido à linha artística adotada na arte do jogo e mesmo seu título que generaliza a cidade. Exemplificando: Seria como dizer que o Centro Histórico de São Paulo representa São Paulo na integridade, ignorando por completo a variedade cultural da cidade ou mesmo que o Pelourinho sozinho traduz o que é Salvador, coisa que não faz. Entenderam? :^)
Ø Rejogabilidade
O jogo segue sempre uma mesma sequência, onde o jogador se movimenta, pega recurso, descarta recurso e pega rubi, porém apesar desta repetição mecânica, o jogo apresenta uma boa rejogabilidade uma vez que os locais sempre mudam de lugar de uma partida para outra (dai a vantagem dos locais serem cartonados avulsos e não um tabuleiro). Vale ainda lembrar que Istanbul é um jogo de corrida (não no sentido clássico de “correr por uma pista/trajeto”, mas é de corrida), o que faz o jogador sempre estar ligado nas ações do adversário, então que a rejogabilidade também leva em conta a engenhosidade adversária, de tal forma que um mesmo “mapa de jogo” pode trazer incontáveis possibilidades para os jogadores.
Ø Interação
A interação em Istanbul é presente e de diferentes formas: Direta, com o jogador interagindo com assistentes rivais ao ocupar o mesmo espaço (tem que pagar dinheiro para usar um local ocupado); e Indireta, em diferentes aspectos como ativar o final do jogo, utilizar locais onde esta interação o modifica de certa forma para o próximo uso e, ainda, a necessidade da leitura do adversário para tentar prever seus próximos movimentos.
É importante salientar que o jogo muda um pouco a dinâmica com diferentes números de jogadores, onde com mesa cheia (quatro ou cinco) se torna um jogo mais apertado, onde ter dinheiro é sempre necessário, enquanto com dois ou três jogadores, mesmo usando variantes, acaba sendo um jogo mais aberto e controlado, geralmente com mais opções de caminhos que não precisem gastar dinheiro. Apesar disso, na minha opinião, o jogo funciona bem em qualquer quantidade de jogadores.
Ø Fator Sorte
A sorte está presente, mas impacta muito pouco. Podemos vê-la apenas na compra de algumas cartas que dão bônus aos jogadores ou quando rolamos um dado para mover um personagem do cenário e ver para qual local ele irá se mover, contudo esta sorte existente não impacta de forma negativa ou descontrolada os jogadores, de tal forma que está no jogo embutida fazendo um papel de elemento de aleatoriedade para deixar o quebra-cabeça do jogo sempre vivo.
Temos, todavia, dois locais do jogo onde temos sorte presente e ela impacta diretamente o jogador, que são a Casa de Chá e o Mercado Negro. Ambos locais definem o que o jogador irá vencer através de uma rolagem de dados, contudo é bom salientar que não são ações obrigatórias, devendo ser usadas com cautela e de forma consciente, de modo que arriscar ali é escolha do jogador.
Ø Fator Estratégia
O jogo consegue ser altamente tático (a curto prazo), ao mesmo tempo que é muito estratégico (a longo prazo) e tudo isso com uma mecânica simples a ponto de conseguirmos apresentar o jogo para qualquer pessoa.
Todas ações do jogador serão de sua total responsabilidade, ocasionalmente influenciadas por outros jogadores, mas ainda assim, se ocorrem bloqueios, isso só é possível pois o jogador bloqueado não juntou moedas o suficiente ou demorou mais que o adversário para fazer determinada ação. Isso é incrível, pois o jogador sente quando fez uma má escolha em ações passadas ou quando sua estratégia não está juntando rubis (que são, a grosso modo, os pontos de vitória do jogo) tão rapidamente quanto os rivais, portanto considero Istanbul um dos melhores jogos de regras leves que vemos com tanta clareza o quanto nossas escolhas e a tática traçada (ou a falta dela!) fazem diferença em nosso caminho rumo à vitória.
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em reviews de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
Nota: A partir desta postagem, as postagens irão ocorrer quinzenalmente, devido a atividades pessoais. Quem dera conseguir dedicar e ganhar a vida apenas jogando e escrevendo sobre jogos de tabuleiro!
Confira também redes:
Instagram: https://www.instagram.com/sociedade_dos_boards/
Facebook: https://www.facebook.com/groups/1219416214780289/
Blog: https://sociedadedosboardsbr.home.blog/