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Escape Plan, você e seus amigos fizeram um assalto ao banco muito bem sucedido. Todos conseguiram esconder sua grana roubada pela cidade e estão vivendo a vida boa. Acontece que a polícia avançou na investigação deste assalto e está cada vez mais próxima de pegar vocês. Com isto, seu grupo começa a ter desavenças e acusações para todos os lados e vocês resolvem seguir caminhos separados e fugir da cidade. Agora é cada um por si e para que consiga escapar da polícia, você tem três dias para visitar sorrateiramente os lugares que deixou sua grana e sair da cidade no último dia antes que a SWAT feche todas as saídas. É chegada a hora de você planejar e colocar em prática seu plano de fuga!
COMO FUNCIONA
O jogo é dividido em 3 rodadas (dias) e cada uma delas é possível fazer de 3 a 5 ações (turnos divididos em horários do dia: manhã, tarde, noite, madrugada, amanhecer). A ordem das ações consiste em: caminhar (movimentar-se pela cidade), evitar (evitar ser visto e baleado pela polícia) e agir (visitar um local e fazer sua ação). Nos locais é possível você sacar dinheiro para uso durante a partida; retirar a grana da fuga (em um montante bem maior) para pontuar no fim do jogo; se curar das balas que recebeu; conseguir equipamentos, ferramentas e contatos de emergência; entre outras coisas. Em linhas gerais, é assim que o jogo funciona.
Exemplos de Cartas que representam Contatos de Emergência
A coisa fica mais complexa com a própria proposta do jogo: realizar seu plano de fuga da forma mais otimizada possível dentro do pouco tempo que você tem para fugir. É preciso escolher bem qual ajuda recorrer e quando usar cada uma delas, como também decidir a ordem dos locais que você quer passar. O jogo é apertadíssimo – você simplesmente não conseguirá passar por todos os lugares que gostaria, nem tirar toda a sua grana escondida – e sacrifícios precisarão ser feitos. Não se iluda: se não fizer nenhum sacrifício, chances são que você não conseguirá nem sair da cidade e irá direto para a prisão.
# jogadores: 1 a 5
Idade: 12+
MINHA VISÃO
Para aprofundar um pouco mais esse review, vou quebrar em oito pontos que considero importantes e que gosto de avaliar nos jogos:
- Facilidade para aprender a jogar
- Estratégia x sorte
- Interação entre jogadores
- Rejogabilidade
- Tempo de jogo
- Sensação ao final da partida
- Representatividade
- Temática & Estética
Facilidade para aprender a jogar
Escape Plan é um jogo que leva um certo tempo para aprender. Para você ter ideia, um vídeo do Paul Grogan (recomendo muito!) de setup e explicação tem 45 minutos – e isso porque ele acaba pulando algumas regras mais de detalhe. E mesmo assistindo ao vídeo, saiba que o manual será consultado durante as primeiras partidas. Por sorte, mesmo ele sendo grande e com 24 páginas, tem muito detalhe, fotos, exemplos e é extremamente bem explicado e organizado, o que faz com que seja fácil de encontrar as respostas para as dúvidas durante o jogo.
A iconografia é direta e simples, o que ajuda para caramba. Tem também player aids e vários lembretes de pequenas regras espalhados pelo tabuleiro, sem que fique um excesso de informação. Então, é um investimento de tempo tanto para aprender a jogar quanto para explicar para alguém, mas que eu particularmente não me inibo e não recomendo que você se deixe inibir também.
Estratégia x sorte
Eu diria que é 85% estratégia e 15% sorte. Eu só não digo que é um jogo 100% estratégico porque tem alguns fatores que acontecem que tiram o controle total dos jogadores. Como as tiles da cidade que são colocadas aos poucos (quatro novas tiles a cada começo de dia) e você só tem o mapa completo da cidade no terceiro dia. Ou então só descobrir qual é a saída que está aberta para fuga, dentre as três possíveis, também só no último dia. Ou quando você resolve abrir um dos cofres secretos e não saber quais serão os valores que irá encontrar para escolher. Ainda assim, mesmo com estes pequenos lances de sorte, há ainda espaço para você se programar, se planejar e escolher.
Antes de serem colocadas no mapa, as localidades ficam em uma parte lateral do tabuleiro
Interação entre jogadores
É bem baixa e acontece de forma indireta. É um jogo de movimentação de área que não existe bloqueio tão direto nem nada que um jogador possa fazer para diretamente afetar o outro e estragar seus planos. O que pode acontecer é que alguns estabelecimentos que tiveram muitas visitas fiquem bloqueados para próximos jogadores, sendo ainda possível entrar se gastar uma chave para abrir o local. Ou, então, há ainda a movimentação da polícia que é feita pelos jogadores. O tradicional é que você vai querer colocar os policiais mais perto dos seus adversários para liberar o seu caminho. Tirando isso, é meio cada um por si e salve-se quem puder.
Rejogabilidade
Considero muito boa. A começar pelo plano de fuga que é representado por uma carta entregue aleatoriamente no início da partida para cada jogador, sendo um total de 9 possibilidades sorteadas. Ou seja, você nunca sabe qual será seu plano de fuga, e ele será o seu direcionamento principal durante o jogo.
Cartas com os Planos de Fuga individuais (que ficam ocultos dos outros jogadores)
Além disso, temos as tiles das cidades que, como comentei anteriormente, vão surgindo aos poucos e cada jogo acaba tendo uma cidade organizada de forma única. Ao posicionar essas tiles, os próprios estabelecimentos são escolhidos também por quem as coloca. Temos também a expansão que veio no jogo que contém cartas de missões e habilidades dos jogadores a serem escolhidas. Ou seja, as combinações possíveis de rejogabilidade beiram o infinito.
Tiles da cidade que serão colocadas no mapa no início do próximo dia (rodada)
Por fim, ele apresenta algo que muito me atrai: modo solo. O que faz com que aumente ainda mais as possibilidades de jogá-lo. Depois escreverei uma resenha contando especificamente da versão solo (spoiler alert: aprovada!).
Tempo
Na caixa diz que leva de 1 a 2 horas no total. Eu diria que vai variar muito dependendo do seu tipo de grupo. Por ser um jogo apertado e extremamente estratégico, cada escolha precisa ser muito bem pensada, o que acabará fazendo com que as pessoas pensem um pouco mais antes de tomar uma decisão. Só que como o cenário do jogo não mudará drasticamente até que sua vez de jogar chegue novamente, é possível que você já vá se planejando enquanto as outras pessoas vão jogando. Dando um equilíbrio tanto no AP quanto no tempo de espera para jogar (downtime). Se você é do perfil dos euros pesadões, ele não irá te assustar e também, nem chega a ser super longo e demorado. E, com o tempo, é um jogo que tende a ser um pouco (não muito!) mais rápido.
Sensação ao final da partida
Terminei a primeira partida com uma vontade imensa de iniciar imediatamente um round 2. O jogo tem um equilíbrio tão incrível entre aperto, estratégia, salada de pontos, rejogabilidade e mistério de como seus adversários estão que faz com que, independente do resultado, a sensação de querer o repeteco vem automaticamente para mim. Seja para tentar uma estratégia diferente, ou porque existe uma curva de aprendizagem longa que faz com que quando o jogo termina eu tenha sacado algo novo sobre ele, e quero colocar em prática. Acredito que é, principalmente, pelo fato de que é um jogo fantástico, muito bem desenvolvido e estruturado. Dá um gosto danado jogá-lo.
Representatividade
Sendo uma mulher preta, é esmagadora a quantidade de vezes em que jogo um jogo sem me sentir devidamente representada. Por isso, acabo tendo esse olhar mais crítico na arte e diversidade escolhida pela equipe que produz um jogo. Em Escape Plan, temos como figura de destaque na capa um homem preto. Questionável se formos pensar que o tema é um assalto ao banco, e as pessoas da capa são, portanto, os assaltantes. Só que acontece que temos as mais variadas representações dentro do jogo. Homens, mulheres, brancos, pretos, orientais. Não existe um padrão. E isso muito me atrai e ainda é raro de encontrar por aí. Sem contar que tem uma mulher preta como integrante da trupe e é prazeroso demais poder escolhê-la para jogar.
Aquele raro momento em que abro mão de ser o player roxo com muito prazer! 
Temática & Estética
Vital Lacerda nunca está de brincadeira quando resolve escolher um tema para desenvolver um jogo, não é? Então neste não seria nada diferente. O tema está presente em tantos detalhes, desde a estética do jogo até as regras e sensação ao jogá-lo. Sem brincadeira, eu sinto uma tensão real de fuga enquanto planejo minhas jogadas. O negócio é tão perigoso e apertado que é comum as pessoas serem presas! E como se não fosse o bastante, até no manual tem algumas referências e explicações temáticas, além de ter (para fazer graça!) citações de filmes famosos sobre assaltos e fugas. É fantástico! Lacerda, mais uma vez, não mediu esforços para nos fazer mergulhar no tema.
A arte, por sua fez, é feita pelo Ian O’toole (que sou uma baita fã!!!) e é maravilhosa. As cores são vibrantes, tem um monte de detalhezinho que me encantam muito. Eu sou apaixonada pela qualidade deste jogo em ilustra e composição. Ele é um dos jogos da EEG de luxo, com caixona enorme, componentes de primeira, versão KS e todos os extras. É uma baita produção. Depois, se quiserem, posso fazer uma apresentação do que vem na caixa mais no detalhe, com bastante foto. Só avisar nos comentários.
PENSAMENTOS FINAIS
Escape Plan está longe de ser um jogo para iniciantes. Apesar de uma lógica simples com etapas diretas de ação e podendo ser mais rápido e menos pesado que vários outros jogos do Vital Lacerda, definitivamente é um jogo que te fará fritar a cabeça para poder otimizar da melhor forma possível suas ações – como um bom e velho jogo do Lacerda. Eu recomendo muito!
Nanda: Do tipo de criança que ficava de boa se tivesse um baralho ao lado, cresceu sendo a organizadora das jogatinas por onde passava. Em 2019, mergulhou ainda mais no hobby quando entrou para a organização da
JogaMana. Hoje esta também à frente da
Liga Brasileira de Mulheres Tabuleiristas, criando cada vez mais espaços para as mulheres estarem juntas, conectadas e acolhidas, em volta e fora das mesas.