iuribuscacio::JMax::Caros colegas boardgamers, boa tarde!
OBS: Quero deixar claro que não sou dono da razão, não tenho o conhecimento do universo e não prevejo o futuro.
Depois de ler esse tópico, eu entendo toda a indignação por trás do mau (péssimo) serviço prestado a nós boardgamers, na tradução dos jogos nacionais.
Mas sinceramente, esse negócio de postar "nota 1, como protesto" pra mim é um disserviço à comunidade. Sites como o BGG e a Ludopedia não são sites de defesa do consumidor, mas onde os hobbistas se encontram pra trocar ideias, conceitos, análises. Se cada um começa a postar notas por causa de suas amargas experiências que não tem algo a ver diretamente com as mecânicas do jogo, penso que a longo prazo estaremos mais destruindo do que construindo a comunidade.
Vejam o caso de Bloodborne: the board game. Muita gente não comprou no Kickstarter (e com razão) porque o valor do frete era altíssimo. Colocou "nota 1 como protesto" no BGG, mesmo não tendo financiado o jogo no Kickstarter. Queria, mas não financiou, e ainda se achou no direito de colocar nota 1. Hoje em dias muitos estão dizendo que "agora entendem o valor do frete", por causa da quantidade de caixas e enorme conteúdo. Mas o disserviço já foi feito e não está sendo desfeito.
Considerem também que as empresas brasileiras não ligam para táticas do tipo "vou xingar muito no Twitter". Esse tipo de postagem, de destilar raiva, ódio, não vai resolver. Além disso, chamar os outros consumidores de "burros e idiotas" porque compraram os jogos também não vai ajudar. Não vai mudar nada e vai impedir de conseguir uma união comum de consumidores em torno do problema.
Além disso, considerando o custo/benefício, pra muita gente é melhor comprar um jogo nacional e retificar algumas falhas do que comprar o importado, pagar um frete e imposto caríssimos. Eu mesmo comprei a expansão do Jornadas na Terra Média, que além de ter uma tradução de habilidade como sendo "Se esconder" (os ossos de minha professora de português se remexem no túmulo), tem duas cartas com texto errado. Mas é melhor fazer um pasteup das duas cartas e ignorar o "Se esconder" do que pagar o mesmo valor pelo jogo base, frete, imposto de importação.
Mas não postei pra desmerecer o esforço e o post de Iuri. Há razão nas suas palavras e intenções. Mas acredito que falta o método.
No Brasil, se quisermos mudar alguma coisa a curto prazo, temos que fazer as empresas começar a entender que poderão ter prejuízos diretos ou rápidos, com custos administrativos (Procon) ou judiciais (Juizados Especiais Cíveis).
Deixar de comprar os jogos da empresa é uma tática útil também, mas eu gostaria de sugerir uma outra:
1 - Não crie tópicos apenas pra insultar e ficar xingando empresas. Elas não ligam se o produto delas está sendo vendido. Melhor seria pra juntar os possíveis prejudicados, identificar quantos foram e quem são. Além de identificar todos os erros do produto e convidar os prejudicados a tomar uma atitude.
2 - Postar reclamações em sites de que colaboram com a defesa do consumidor, como o ReclameAqui. Redijam as reclamações com coerência, objetividade, sem insultos e com bastante detalhes. Eu particularmente gosto muito, porque eles entram em contato com a empresa e isso já força uma resposta dela. Ela começa a perceber que o consumidor quer eficiência na resposta. Além disso, é um site bastante consultando e a fama da empresa lá é bem visível a todos. Uma empresa que tenha o mínimo de seriedade vai tentar mostrar uma boa relação com o cliente.
3 - Registrem reclamações formais pelos canais de atendimento ao consumidor da empresa. Tentem duas ou três vezes. Mantenham tudo anotado. Redijam seguindo as mesmas orientações acima.
4 - Se a empresa ainda assim não responder ou retificar o problema (ou der uma solução pífia), acionem o Procon. É uma relação de consumo, o produto tem de vir como novo e qualquer defeito deve ser sanado. Levem toda a documentação (emails, mensagens, reclamações) e registrem formalmente a queixa. Isso por si só já gera a necessidade de uma resposta formal da empresa e a possível aplicação de multa em caso de não fazê-lo. Aqui a empresa já precisará pagar um advogado pra acompanhar o negócio, então já estará desembolsando alguma quantia (que provavelmente sairá mais caro pra ela do que corrigir a impressão de cartas defeituosas).
5 - Se a fase do Procon não funcionar, ao menos a empresa sairá com alguma multa ou penalidade. Ou prejuízo pelo pagamento do advogado. Mesmo assim, é possível acionar o Juizado Especial Cível para isso. A dificuldade aqui é o valor, que deve ser estudado caso a caso. Uma tradução errada de algumas cartas terá valor baixo e provavelmente não será apreciado pelo Judiciário. Mas vários erros, de vários jogos, da mesma editora e sem a devida resposta já é algo considerável, podendo talvez até se exigir danos morais pela falta de atendimento ao consumidor.
Essa estratégia acima já funcionou comigo em outras situações em que fui lesionado como consumidor.
É garantido que vá funcionar ? Não. É a estratégia mais perfeita do universo? Nâo.
Mas algumas dessas etapas poderão fazer a empresa se preocupar e gastar com advogados. Quando ela começar a coçar os bolsos com várias reclamações, várias audiências no Procon, de vários clientes, a posição dela vai mudar, com certeza.
Tentemos nos organizar.
Caro JMax
Antes de qualquer coisa, se o tom do meu texto parecer demasiadamente agressivo, eu quero esclarecer que não é essa a minha intenção. Infelizmente nem sempre é possível se transmitir através da escrita o exato sentido do que se pensa. Você escreveu com toda a educação, urbanidade e consideração, e apesar de divergir, vou lhe responder da mesma forma. Portanto, peço perdão previamente, se alguma ponderação minha parecer ofensiva.
O seu post foi escrito com muita sensatez, razoabilidade e seriedade, e em outra terra, talvez eu até concordasse com o seu ponto de vista. Ocorre que nós estamos no Brasil, que não é um país sensato, razoável e muito menos sério. Portanto, com todo o respeito, sou forçado a discordar totalmente da sua opinião.
A grande maioria dos que escrevem aqui no Ludopedia, é composta por pessoas adultas, e sérias que só escrevem aqui, quando os canais normais de reclamação não deram em nada. Vou citar apenas alguns casos, mas emblemáticos:
As pessoas reclamaram, através dos meios normais, sobre a cor diferente nos tiles do Carcassonne, da Grow, que inviabilizava a utilização de expansões internacionais. Isso adiantou alguma coisa? Não. Muita gente inclusive disse: “ah usa um saquinho para sortear os tiles e não enche o saco”. As pessoas reclamaram, através dos meios normais, sobre os erros do Western Legends, da Conclave, que produziu o jogo com um tabuleiro baseado na regra antiga e cartas, componentes e manual, baseados na regra revisada (hei, finge que o barril é uma ferradura, valeu!?!?). Isso adiantou alguma coisa? Não. As pessoas reclamaram, através dos meios normais, sobre os erros do Masmorra do Mago Louco, da Galápagos, em especial sobre a carta da “Guereira”. Isso adiantou alguma coisa? Não. As pessoas estão reclamando, agora mesmo, sobre os erros do Nemesis, com a Galápagos. Vai adiantar alguma coisa? Certamente que não.
Então como você pode ver, sempre que as pessoas tentam reclamar, usando o sistema, e através dos canais apropriados, quase sempre, nada acontece. Antes de partir para o BGG, os boardgamers coreanos adotaram essa mesma abordagem que você defende. Do mesmo modo como acontece por aqui, nada adiantou. A diferença, é que após esgotar os canais apropriados e nada acontecer, os coreanos adotaram outra estratégia, ou seja, descer a lenha no jogo na BGG, e foi só depois disso que alguma coisa aconteceu. Você diz que isso não resolve, mas até agora eu tenho visto a estratégia funcionar muito bem. Só depois que a Awaken Realms viu o prestígio do Tainted Grail despencar, é que ela resolveu acordar para o problema e fazer alguma coisa, para resolver o imbróglio.
Se os coreanos ainda estivessem apenas reclamando, da forma como você defende, certamente que eles ainda estariam esperando alguma coisa acontecer. Mas como eles tomaram uma atitude, que afetou as empresas envolvidas, mesmo que o caso do Tainted Grail não se resolva, eu duvido que alguma editora internacional grande vai voltar a licenciar jogos para a Coréia do Sul, sem antes tomar todas as precauções possíveis, para que eventuais erros sejam mínimos, e mesmo esses, sejam corrigidos e resolvidos assim que descobertos. Portanto, a estratégia de “nota 1 no BGG”, muito mais contribuiu para o mercado coreano de board games, do que destruiu. Se isso está funcionando na Coréia do Sul, qual o motivo de não fazermos isso aqui no Brasil, em relação ao Nemesis, já que nada mais parece adiantar? No mínimo, temos a possibilidade de chamar a atenção da Awaken Realms, para os nossos problemas locais, e até, quem sabe, conseguir uma solução, ao menos em relação aos defeitos da produção nacional do Nemesis.
Em relação a sua postura de pagar R$ 600,00, R$ 800,00, R$ 1.000,00 em um jogo e depois ser obrigado a fazer uma “gambiarra” para jogar, eu acho isso simplesmente INACEITÁVEL, e com todo o respeito, prefiro nem entrar nessa seara.
Quanto a procurar o PROCOM ou os Juizados Especiais Cíveis, a solução que você propõe me parece ainda mais sem sentido. O máximo que eu vou consegui é obter o preço que eu paguei pelo jogo corrigido. Condenação por dano moral? Esquece. Isso só acontece em filme de tribunal, da Julia Roberts, ou se eu for magistrado ou parente de magistrado (o que eu não sou). Multa na empresa por vender produtos com defeito? Nem sonhando. Aqui no Rio de Janeiro, a CEDAE está deixando 30 bairros (isso mesmo 30 bairros) sem água, em plena pandemia, e o máximo que a justiça fez, foi dar uma multa irrisória, que é menor do que o dinheiro que a CEDAE gasta, todo mês, em papel higiênico. É essa justiça que vai resolver os problemas dos consumidores de board games?!?! Acho que não.
Deixar de comprar os jogos da empresa? Isso também não resolve, porque as grandes editoras brasileiras não fazem mais lançamentos, elas agora fazem projetos. Então nós temos o “Projeto Gloomhaven”, o “Projeto Nemesis”, “Projeto Etherfields”, o “Projeto Frosthaven”, o “Projeto Tanited Grail”, e por aí vai. A estratégia é fazer uma tiragem mínima, um pouco abaixo daquilo que o mercado consegue absorver a um preço altíssimo. Se o Chico não comprar, não tem problema o Francisco compra. E quando isso começar a dar errado, com jogos “peso-pesado”, como parece ter acontecido com o Nemesis, basta transferir a estratégia para jogos em uma faixa de preço mais baixa, mas cobrando o mesmo preço abusivo. Veja o caso do “Carnavalesco” e do “It’s a Wonderful Word”. Um é o “Sagrada” fantasiado, mas que custa quase o dobro do preço, e o outro é um jogo com 150 cartas e 170 cubinhos de plástico. Ambos custam na faixa de R$ 350,00, e não tenham dúvida de que vão vender feito água no deserto, mesmo com esse preço absurdo.
Aí você pode dizer, mas desse jeito você prejudica a indústria de board game nacional, porque a Galápagos não vai mais trazer nenhum jogo para cá. Então, porque a editora pode fazer pirraça e não lançar mais nenhum jogo aqui, eu tenho de aturar que ela lance jogos cagados de cima a baixo? Isso não tem o menor cabimento. Além disso, se a Galápagos não trouxer os jogos, outra editora lança, porque pode ter certeza, ninguém vai querer perder um mercado de 210.000.000 de consumidores em potencial, que são naturalmente festeiros, que gostam de reunir os amigos em casa, cujo tamanho médio das famílias ainda é grande, ou seja, um mercado feito sob medida para os board games.
Não precisa nem procurar muito, para encontrar o caminho das pedras. O Zombicide Invader vende para caramba, apesar de custar na faixa de R$ 450,00 (tudo bem, Zombicide talvez não seja o melhor exemplo porque ainda é bem caro, mas compreensível pela quantidade de coisa que vem na caixa), Pandemic não para de esgotar nas lojas (e eu estou falando do normal e não do Legacy), O Dixit se custasse um pouco menos, ia vender tanto quanto o Uno, e isso quem me diz, são os lojistas das lojas que eu conheço. A diferença é que esses jogos aí de cima, não custam os olhos da cara, nem vem com erros absurdos como cartas cada uma com o verso de uma cor, miniaturas com uma perna faltando, ou com cartas onde se lê “médicu” e “enfermêra”. Tudo o que nós boardgamers queremos são jogos com um mínimo de razoabilidade nos preços, com um mínimo de padrão de qualidade na produção, e um mínimo de respeito, no atendimento ao cliente, no pós-venda. Isso não é pedir muito.
Por fim, com todo o respeito, não me leve a mal, mas eu já estou farto de seguir os protocolos, nada acontecer e eu acabar tendo que ficar no prejuízo. Eu quero uma abordagem que resolva os problemas, e se para conseguir ser tratado com um mínimo de dignidade, e receber produtos sem defeito pelos quais eu paguei caro, se a solução para conseguir isso, for descer o cacete nos jogos no BGG, meu camarada, pode estar certo que é isso que eu farei, e incentivarei as outras pessoas que se sentirem lesadas a fazer o mesmo.
Um abraço.
Iuri Buscácio
P.S. Apesar do ponto de vista divergente, concordo consigo no sentido de que precisamos nos organizar.
Não fico ofendido de maneira alguma, meu velho. Discutir ideias é sempre bom, quando a galera não transforma num flame war sem sentido.
Posso dizer que agora entendo melhor suas razões.
De fato, eu não sabia de boa parte desses casos, inclusive o da Awaken e dos coreanos. O que me chamou a atenção foi que eles realmente se organizaram nisso, talvez por isso tenham conseguido. Chamaram a atenção e a Awaken resolveu bancar a nova tiragem dividindo os custos com a publisher.
Eu vi muitos casos de pessoas no ReclameAqui que conseguiram alguma coisa ou partiram pro Procon. Também vi outras que não conseguiram.
Pensei que, se pudéssemos fazer algo em massa e organizado seguindo essa linha teríamos melhores resultados. Mas teria de ser várias pessoas, apenas um ou outro é algo que diminui a eficiência do negócio.
Meu post inicial não foi pra desmerecer ninguém, mas pra dar uma outra ideia ou plano de ação. O fato é que, qualquer que seja a estratégia, tem de haver organização e comprometimento da comunidade. Senão não funciona aqui no Brasil.
Eu ainda acho meio complicada essa estratégia que os coreanos adotaram funcionar por aqui, porque as empresas daqui estão se lixando pra nós. Mas vai que de repente apareça uma Awaken da vida e faça alguma coisa...
Ainda assim é bom lembrar de agir com moderação, evitando os excessos. A Awaken Realms não vai intervir nos processos que a publisher move contra os consumidores coreanos que foram abusivos, nos casos de assédio, constrangimento ou ameaça. Por mais louvável que a postura da Awaken seja, ela não tem poder sobre isso.
No final, é um cenário triste esse do boardgame nacional, infelizmente. Ver que conseguimos trazer o hobby mais pra perto de nós, sem precisar importar, mas ao mesmo tempo já vendo o "custo brasileiro" e a "esperteza(desonestidade) brasileira" ferrando os consumidores.
PS.: No caso da Galápagos eu acho ainda mais complicado essa estratégia funcionar. A Asmodee, que comprou ela e a própria Fantasy Flight, já é conhecida lá fora por sua mercenarice e péssimo atendimento ao consumidor. Nos foruns da Fantasy Flight há um monte de gente falando sobre a postura dela.