Para quem não sabe, está rolando o Top 100 de Jogos 2020 - 1 Player Guild Brasil! Antes de mais nada, se você ainda não votou, por favor confira as regras na postagem e encaminhe logo seus votos. A votação vai até o fim do mês de setembro e será fantástico se conseguirmos uma quantidade expressiva de votos!
Assim como no ano passado, quando fiz, além dos reviews de hábito, uma série de posts temáticos sobre o top 100 de jogos solo, resolvi fazer o mesmo esse ano. Daí fiquei pensando o que poderia fazer diferente. Uma das primeiras coisas que me veio à cabeça foi justamente quais jogos eu gostaria de ver bem votados. Eu tenho uma boa ideia de quem estará no topo da lista, assim como todo mudo que está lendo esse texto, mas isso me levou a pensar em outros jogos, jogos abaixo do radar, que deveriam figurar na lista dos melhores jogos solo.
Desde que entrei no hobby em 2014, logo descobri os jogos solo e isso norteou praticamente todas as minhas compras e a composição da coleção. Se o jogo não tem modo solo, penso muito antes de adquiri-lo, pois sei que terei menos oportunidades de colocá-lo na mesa. Se você não passou por isso ainda, uma hora vai chegar a sua vez, mas, assada aquela fase inicial de montagem de uma ludoteca básica, de aprendizado e deslumbramento, a gente começa a procurar uns modos solo menos usuais para quebrar o ritmo dos jogos que a gente joga mais. Isso aconteceu comigo depois de uns 3-4 anos jogando. Foi muito bacana descobrir algumas pérolas de design e, mais ainda, muito divertido garimpar essas jóias em leilões, importações e durante viagens para fora.
Posto isso, preparei aqui uma lista de 10 modos solo abaixo do radar que eu realmente gostaria de ver na lista do top 100 de jogos solo. Esses aqui não são reviews propriamente ditos, mas pode ser que virem em algum momento, sobretudo se vocês curtirem algum jogo.
Trajan
Quem me lê com regularidade sabe que sou um dos maiores fãs do Uwe aqui no Brasil. Tenho boa parte do catálogo de jogos grandes dele e consigo fazer um top 10 só com eles. Todavia, como uma provocação ao amigo
edupomper, do canal 3DUs, resolvi colocar um jogo do Feld aqui no primeiro lugar dessa lista.
Não sou um grande especialista na jogografia do Feld, mas Trajan é, para mim, um de seus melhores jogos. Gosto do tema, da salada de mecânicas (mancala, da alocação de trabalhadores, controle de área/maioria) e dos vários mini-jogos ali embutidos. É um jogo que diverte barbaridade e escalona bem para todas as contagens de jogadores.
Embora ele não tenha um modo solo oficial, Trajan tem uma das melhores variantes solo não oficiais que já vi, o Trajan Optimus. Trata-se de um deck de cartas e um conjunto simples de regras que visa à simular um oponente a exemplo de um automa como os criados pelo pessoal da Automa Factory (que fez o do Viticulture, por exemplo). Ele é dinâmico, simples de se manejar e permite que esse grande jogo saia da estante mesmo naquelas noites em que seus amigos estão trancados em casa cuidando das crianças deles ou trabalhando. Se você não quiser ter o trabalho de imprimir as cartas, há também um web-based app que te permite jogar como se tivesse as cartas. O amigo
anjocaido, do canal Tabuleiros BR, fez um
vídeo mostrando como ele funciona.
Root
Sim, o segundo lugar da lista é um dos melhores jogos multiplayer assimétricos de maior sucesso dos últimos anos. O Root tem um ótimo modo solo, a respeito do qual fiz um
review aqui não faz muito tempo.
Quando saiu a expansão Ribeirinhos, o Marquês Mecânico dava a opção de jogar sozinho ou de forma cooperativa, mas ele era uma peça ruim de design, não proporcionava uma boa experiência e foi muito criticado. Em resposta a isso, o usuário Benjamin Schmauss, criou o
Better Bot Project (BBP), que foi um projeto colaborativo que propôs bots aprimorados para todas as facções do Root. O negócio ficou tão bom que foi oficializado pela expansão Clockwork, que contou com desenvolvimento adicional pela equipe da Leder Games. Isso se deu quando o BBP estava em sua versão 4.0, que foi a segunda que imprimi e joguei.
Embora o Benjamin não seja muito claro a respeito disso, em algum momento houve alguma cisão entre ele e a empresa e ele continuou desenvolvendo os bots de forma autônoma e postando-os no BGG para quem quisesse. Atualmente, o BBP encontra-se em sua versão 6.0 e contempla todas as facções, até mesmo as recém lançadas. Caso você queira jogar Root solo contra os bots, mesmo tendo só a caixa básica isso é possível, contanto que você imprima o material para jogar.
Eu simplesmente adoro o Root e jogar ele solo é fantástico para podermos testar estratégias e combinações de facções. O bom disso é que você aprende como cada uma delas opera e, na hora de colocar ele na mesa com os seus amiguinhos, você sairá na frente. Aprendi a jogar com os lagartos dessa forma e hoje em dia você precisa suar a camiseta de verdade se quiser ganhar de mim enquanto eu jogo com eles.
Great Western Trail
Não vou falar muito a respeito do jogo em si, nem dos modos solo, pois já o fiz ao longo de três longos textos (
1,
2,
3) aqui no canal. Garth, um automa não oficial criado pelo mesmo designer do modo solo do Gugong, faz do GWT um jogo solo impecável. Ainda não tive a oportunidade de testá-lo com a expansão Railways to the North, mas ela já está aqui em casa e aguarda a oportunidade de ver mesa.
Sei que algumas pessoas vão perguntar da comparação com o Maracaibo, mas já adianto que são jogos bem diferentes entre si, ambos muito bons, mas vou deixar para tecer comentários a respeito dos modos solo de ambos quando eu tiver jogado o Maracaibo o suficiente, em especial o modo estória (sim, vai olhar no dicionário!).
Brass: Lancashire
Cheguei tarde para esse hype train. Piada infame, hein!? Sim, cheguei tarde, mas não perdi o trem. Quando descobri o Mautoma, que permitia jogar solo tanto o
Birmingham quanto o
Lancashire, Brass foi catapultado para o topo da minha lista de preferências. Que jogo, amigos, que jogo! O modo solo tem uma curva de aprendizado não desprezível, mas fornece uma ótima experiência uma vez compreendido. Entre as versões do Brass, a que recomendo para o modo solo é o Lancashire no mapa alternativo para 2 jogadores.
Renegade
Você gosta do Mage Knight, mas não tem paciência para o setup, para uma partida demorada ou para aquele monte de regrinhas? Então lhe apresento Renegade, jogo concebido pelo Richard Wilkins, o Ricky Royal, do canal Box of Delights, talvez o pioneiro dos gameplays solo no YouTube.
Nele você joga como um hacker interpelado por desafios crescentes e se deslocando com seu avatar virtual em uma rede de servidores, enquanto enfrenta vírus, firewalls e outras ameaças. O jogo requer grande abstração para que você o considere temático, mas é mecanicamente brilhante. Ele tem um esquema de deckbuilding que chamo de intensivo, pois você muda sua mão e seu baralho praticamente toda rodada. Quando compradas, as cartas não vão para o descarte, mas, sim para sua mão, o que dá um espaço de decisão muito interessante e desafiador. Ele tem aquele mesmo feeling de planejar combos que o Mage Knight tem, mas com muito menos burocracia, ocupando menos espaço na mesa e com um tempo muito mais curto de jogo.
Gloom of Kilforth: A Fantasy Quest Game/Shadows of Kilforth: A Fantasy Quest Game
Pense num adventure game guiado por dados, no qual seu personagem pode ser um elfo negro assasino e no qual você se sente dentro de uma aventura de D&D. De brinde, você tem uma arte deslumbrante, que não deixa a desejar nada para os Jeff Easley ou Larry Elmore da época áurea do AD&D 2nd Edition. Isso é exatamente o que você vai encontrar nesses jogos, aqui colocados como um, porque são quase a mesma coisa, para ser bem honesto.
Embora ele seja anunciado como um jogo para 1-4 jogadores, tenho completa convicção de que trata-se de um jogo solo que foi escalonado para outras contagens de jogadores após sua criação. Funciona perfeitamente, sem nenhuma modificação das regras e diverte muito.
Aviso amigo: isso aqui é um festival de dados. Muitos rolamentos para várias coisas, inclusive resolução de combates. Se essa não é sua praia, nem chegue perto. Pessoalmente, isso não me incomoda nada e acho bem temático dentro da proposta do jogo.
Rallyman: GT
Fiz um
review bastante extenso desse jogo por aqui. De lá para cá já joguei bastante. Faço questão de destacá-lo, pois acho uma pena que esse jogo ainda não tenha vindo para o Brasil. Trata-se de um jogo simples, divertidíssimo, com um tema top e arte excelente, que agradaria a flamenguistas e (coitados) vascaínos por aqui.
O modo solo não muda quase nada do jogo multiplayer, você simplesmente deixa de usar algumas regras de ultrapassagem. Isso traz algumas diferenças no gameplay, mas nada que atrapalhe. A sensação que se tem é a de estar correndo pela pole position, tentando bater seu próprio tempo.
Nunca imaginei que um jogo com uma mecânica relativamente ultrapassada de roll & move pudesse oferecer tantas decisões interessantes. O legal nesse jogo é justamente a manipulação de riscos, trabalhar e medir isso. Ganha quem sabe se arriscar na hora certa. Isso reflete a ousadia dos melhores pilotos e, a meu ver, funciona bem.
Clamem às editoras, amigos. Esse jogo precisa vir para o Brasil. Vai ser um sucesso enorme.
Aeon's End
Não sei ao certo qual foi o jogo que mais joguei até hoje, se foi
Imperial Settlers: A Ascensão de um Império ou
Thunderstone Advance: Towers of Ruin. O fato é que joguei o Thunderstone Advance tanto que o deckbuilding tornou-se uma de minhas mecânicas mais queridas. Para mim é confortável jogar esses jogos e eu consigo trabalhar bem a contrução do baralho e planejar como me comportar na maioria dos jogos.
Aeon’s End está nessa lista porque ele bagunça esse planejamento ao não embaralhar o descarte. Isso foi uma cartada de mestre e fez com que o desafio de aprender um novo sistema de construção de baralho o colocasse em minha mesa com muita frequência. Adorei o jogo, mas jogo com uma regra um pouco diferente da que é a considerada oficial, mas é uma sugestão do próprio Kevin Riley, designer do jogo.
Nesse jogo, a ordem dos turnos é variável e definida por cartas de turno embaralhadas e sacadas no início de cada turno. No modo solo oficial, descrito no manual, são utilizadas 3 suas e 2 do inimigo, mas isso torna o jogo impossível de se bater. Somente quando você combina heróis e monstros específicos é possível ter alguma chance. Dadas as queixas recorrentes de muitos jogadores, Kevin Riley sugeriu em um post do BGG que você jogue com 4 cartas de turno e 2 do inimigo. Comecei a jogar dessa forma e tenho me divertido muito mais. Não é que o jogo fique fácil, mas ele fica possível de ser batido.
Aeon’s End deu tão certo que já teve uma série de expansões stand-alone e até uma versão legacy. É um super jogo e recomendo a qualquer um que se interesse por esse tipo de mecânica.
Imperial Settlers: Empires of the North
Se tem Imperial Settlers escrito na caixa, vou pegar. Mesmo que seja ruim, como foi o caso do roll & write, vou pegar. Esse aqui foi um que fiquei de olho desde o tempo zero, pois ele propunha aproveitar a fórmula do jogo original, que amo de paixão e já fiz review aqui no portal, adicionando algumas novas camadas e elementos.
O modo solo é muito gostoso de se jogar e baseia-se em vencer desafios específicos de pontuação. A variedade é assegurada pelos vários desafios (são 6 na caixa básica, salvo engano, mais 2 ou 3 promocionais que sairam depois) em combinação com cada uma das facções, que jogam bem diferente entre si.
Esse jogo tem uma grande melhoria em relação ao original: decks prontos por facção. Você não tem aquela coisa de customizar os decks para cada partida, com tantas cartas de cada tipo, mas ele vem fechadinho e pronto para colocar na mesa. Isso assegura que você consiga explorar ao máximo a potencialidade de cada facção, contanto que saiba fazer as combinações certas na mesa e não no baralho.
Já joguei ele o suficiente para gostar, recomendar, mas ainda não para fazer um review top para vocês.
Dawn of the Zeds (Third edition)
Esse jogo combina 2 elementos que falam ao pé do ouvido dos jogadores solo: Hermann Lutmann e Victory Point Games. O primeiro é um designer de wargames das antigas, com muitos jogos solo, mas que tem uns jogos com temas tão variados quanto invasões alienígenas, guerra civil americana e, nesse caso, zumbis. A Victory Point Games é uma editora daquelas que tem seu público cativo e que durante muitos anos editorou vários jogos exclusivamente solitários, entre os quais destaco
Nemo's War (Second Edition) (que agora percebo deveria estar nessa lista) e todos os da série States of Siege, da qual Dawn of the Zeds é a obra magna.
Nesse jogo, você tenta defender a cidade de Farmingdale de ondas de zumbis que vem atacá-la. Precisa gerir pessoas, recursos, lutar, criar barreiras e, mais do que tudo, sobreviver. É um jogo clunky, com muitos manuais e regras mas que não é difícil de se aprender e que flui muito bem quando você pega o jeito. Sem dúvida nenhuma, esse é o melhor jogo de zumbis que já vi, pois replica bem a sensação desesperada de olhar para o tsunami se formando longe no horizonte. É um jogo de escolhas duras, sujeito aos reveses dos dados e que conta uma história fantástica.
Só uma curiosidade para finalizar: os jogos mais antigos da Victory Point Games vinham numa caixa que parece uma caixa de pizza com um sleeve com a capa do jogo. Dentro sempre vinha um guardanapo com o logo da empresa além das peças do jogo. Da primeira vez em que vi isso, fiquei super encucado, mas logo entendi. Quando você destacava os punchboards, eles soltavam um pó escuro do corte a laser e a gente ficava com as mãos pretinhas. O guardanapo era para isso! Fico imaginando se isso acontecesse com um jogo feito aqui no Brasil, como a comunidade reagiria.
E vocês? Tem algum modo solo que acham que deveria estar na lista, mas que ninguém comenta? Dê sua opinião!
E lembrem-se: together we game alone!