Você já ouviu falar em FOMO? FOMO é uma sigla que vem do inglês e significa Fear Of Missing Out, ou numa tradução livre, "medo de ficar de fora".
Essencialmente trata-se de uma espécie de ansiedade relacionada ao consumo, e o mundo dos boardgames seguramente não se encontra ileso desse mal.
Veja se essa situação lhe soa familiar:
Essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança aqui contida é uma mera coincidência.
Você descobre o fascinante mundo dos jogos de tabuleiros modernos. Depois de anos, possivelmente décadas, acreditando que jogos de tabuleiro eram sinônimos de War, Banco Imobiliário, Jogo da Vida e Detetive (e Uno figurando como representante dos cardgames), você um belo dia, meio que por um capricho do destino se depara com um jogo completamente diferente de tudo que você já viu. Há grandes chances desse jogo ter sido um Carcassonne (o meu certamente foi, lembro-me daquele dia até hoje), talvez um Catan, Ticket to Ride, Zombicide, Munchkin, etc. Naquele momento você percebe que foi cego durante muito tempo e não sabia. Você viu a luz.
Então você recorre à internet e descobre que o buraco é muito mais embaixo. Milhares de jogos são lançados todos os anos no Brasil e no mundo, conceitos que você nunca ouvira falar. O negócio é tão desenvolvido que há terminologias específicas para o meio, você começa a se inteirar sobre o léxico da coisa. Isso aqui é um gateway, esse jogo é euro, ameritrash, híbrido, worker placement, roll and write, area control, solo, draft, cooperativo, engine building, legacy, etc, etc.
Você se encanta com aquilo, começa a consumir conteúdos relacionados vorazmente, diariamente, se inscreve nos canais, dá joinha, ativa o sininho para ser notificado o quanto antes, lê artigos direcionados, assiste a reviews, gameplays, unboxings, ...
Parece que você descobriu a oitava maravilha do mundo do entretenimento. Enquanto todo mundo está se isolando cada vez mais (antes mesmo da pandemia), você está caminhando na direção oposta, um desbravador contra a corrente em busca de reunir as pessoas como nos velhos tempos, todos interagindo olho no olho, conversando, celulares colocados de lado, todos concentrados naquela atividade coletiva de forma saudável e lúdica. E tudo isso graças a você e seu fiel escudeiro, uma caixa de papelão colorida recheada de mais papelão colorido, pecinhas de plástico e madeira.
Isso tudo é maravilhoso, eu quero mais. Há tanto a se explorar. O influencer x falou que o jogo é bom. It's a must have. Todo boardgamer de respeito tem que ter esse jogo na coleção. Você então entra num estado de frenesi incontrolável alimentado pelo combustível do êxtase de se desvendar uma experiência nova atrás da outra.
Nem seus amigos conseguem acompanhar seu ritmo, eles não entendem, são jogadores casuais. Você, por outro lado, é um boardgamer. Você então chega num ponto onde nem você consegue acompanhar o seu próprio ritmo. Os lançamentos são muitos, a carteira não aguenta, eu tenho que ter aquele jogo que fulano falou na internet que é bom. Se fulano falou, então é porque o jogo deve ser bom mesmo. O que fulano teria a ganhar com isso? Fulano é quase um brother meu. Eu nem o conheço pessoalmente, ele nem sabe meu nome, mas eu de certa forma desenvolvi um vínculo afetivo com ele. Ele é quase um oráculo pra mim. Ele me aponta o norte e eu vou atrás sem questionar.
Mais do que dinheiro simplesmente, você chega num patamar onde você não consegue ter tempo para desfrutar do império de entretenimento na forma de plástico, metal, madeira e papelão que você acumulou nos últimos poucos anos ou meses. É tudo tão colorido, tão bonito, tão envolvente. Eu sei que eu tenho 6 worker placements, mas esse é diferente, a mecânica é completamente diferente. Para os meus amigos é mais do mesmo porque eles não entendem a sutileza. Eles são preguiçosos, sempre querem jogar o mesmo jogo, não têm disposição pra aprender um jogo novo. Tô com vários jogos parados na estante esperando sua hora de brilhar e mais 3 que vão chegar do financiamento coletivo. Você viu aquelas miniaturas?
Chega uma hora que nem você mesmo tem tempo para os seus próprios jogos. Você tem mais jogos do que você mesmo é capaz de absorver. Você assiste a um review e logo fala quero, abre a carteira, aperta confirmar o pedido e pronto, aquele alívio de quem preencheu um buraco que nunca pode ser tapado.
Tem uma hora que você percebe que, além do dinheiro, do tempo, o problema é também o espaço. Você não tem espaço hábil para comportar tudo isso. A culpa não é minha, essas caixas que são todas cheias de ar. Você "dá um jeito" e consegue reorganizar sua prateleira. Eu nem sabia que eu tinha esse jogo! Ele tava escondido atrás desses 5 que eu ainda não joguei.
Num determinado momento, você tem um lapso de realidade. Você então percebe que seu jogo não estava nos jogos em si. Seu jogo estava em acumular os jogos. Completar a coleção. A coleção é o jogo. O meta jogo. Gotta catch 'em all.
Eu menti para vocês. Essa história é real. Essa é a minha história.
Eu faço terapia há pouco mais de um ano e uma das pautas que frequentemente discuto na terapia é essa ansiedade relacionada ao consumo.
É como se o jogo que eu não tenho fosse infinitamente mais importante do que todos os jogos que eu tenho combinados.
Eu já cheguei a ter mais de 80 jogos. Para alguns aqui isso não é nada e eu super respeito isso. Há pessoas aqui que conseguem gerenciar uma coleção de centenas de jogos, jogá-los todos de forma devida, respirar o
hobby. Bom, no meu caso, 80 foram mais do que o suficiente para me sufocar.
Hoje eu tenho cerca de 40 jogos (cerca de 25 caixas grandes e 15 pequenos). 40 jogos para alguns ainda é uma quantia extraordinária. Concordo.
Desfazer-me do primeiro foi um martírio à parte. Parecia que eu tava arrancando um braço meu.
Eu não posso viver sem esse jogo, eu amo esse jogo!
Mas você não joga esse jogo na mesa há mais de um ano!
Mas um dia eu posso colocar, e se eu vender? Aí eu não vou ter mais...
...
Até que um dia, num ato de lucidez, ou talvez de desespero, eu vendi um jogo.
Para minha surpresa, ou não, o jogo não me fez falta alguma.
O jogo estava na casa de outra pessoa que iria dar o amor que aquele jogo de fato merece e eu não tinha capacidade de fazê-lo porque eu estava ocupado demais pensando nos próximos jogos.
O dia amanheceu como qualquer outro, o céu ainda era azul, eu ainda tinha uma estante com muito mais jogos que eu era capaz de contemplar.
O segundo jogo foi mais fácil, daí veio o terceiro, o quarto, o décimo.
A coleção foi diminuindo pouco a pouco e eu fui percebendo que eu podia enfim respirar aliviado.
Eu fui redescobrindo os jogos que eu tinha e nem eu mesmo lembrava o quão bons eles eram. Ou vice versa, eu nem gostava tanto deles assim, comprei por impulso. O jogo é até bom, mas eu já vi tanta coisa. Antes era tudo novidade e hoje é meio que mais do mesmo. Talvez meus amigos tivessem razão, mas fui orgulhoso demais para aceitar esse fato.
O jogo era a melhor coisa do mundo até a hora que eu o comprei. Depois que eu o comprei, ele se juntou ao bolo e o posto de melhor jogo do mundo passou a ser daquele jogo que eu ainda não tinha e seguramente não iria jogar.
Não tem nada errado em ter vários jogos. O dinheiro é seu, você faz o que quiser. Esse tópico não é destinado a uma pessoa em particular. Não estou aqui no intuito de demonizar o consumo. Eu mesmo ainda luto bastante contra esse mal que tanto me aflige. Ninguém é melhor do que ninguém por ter mais ou menos jogos, por ter um jogo x, y ou z. Se essa história te incomodou um tiquinho que seja, talvez esteja na hora de fazer uma auto avaliação, uma reflexão acerca de seus hábitos.
Hoje quando vendo um jogo, as pessoas até desconfiam. "
Se ele tá vendendo esse jogo, deve ser porque o jogo não é tão bom assim... sei não".
Parece que estamos tão imersos nessa atmosfera que perdemos o nosso próprio senso crítico às vezes.
Se o jogo recebeu centenas de notas 10, então esse jogo é bom. Se o jogo é bom, então eu tenho que tê-lo na minha coleção.
É como se estivéssemos fazendo isso para os outros e não para nós mesmos às vezes.
Já vi casos de gente incomodada quando o jogo que elas genuinamente gostam recebe uma avaliação/crítica negativa. É como se estivessem atacando o próprio filho delas, ou elas mesmas. É como se estivessem ofendendo uma extensão da personalidade daquela pessoa. É como se o jogo tivesse sido feito por elas. Mesmo que fosse, as pessoas ainda têm o direito de não gostarem dele e tudo bem.
Eu levei muito tempo para entender que meus amigos nem sempre estariam dispostos a jogar todos os jogos que eu compro. Para algumas pessoas (eu inclusive) é bem difícil aceitar que se você não tem gente disposta a jogar/aprender aquele jogo, não adianta comprá-lo. Será um desperdício de tempo, dinheiro e energia.
Hoje eu tento caminhar na direção oposta. Funciona como uma curva de sino, uma curva normal.
No começo era apenas um jogo, Carcassonne. Aleatoriamente na internet descobri Munchkin, Zumbicide, Catan e Ticket to Ride. Fiquei com esses jogos por vários anos. Só jogávamos esses jogos. Era o que tinha. Éramos felizes, éramos inocentes em nossa ignorância. Era como os tempos em que só existia War, Banco Imobiliário, Jogo da Vida e Detetive. Questão de gosto. São jogos ruins? Depende do seu critério. Podem ser jogos repletos de falhas mecânicas, jogos criados há 50 anos atrás, ou mais, mas independentemente de hoje termos visto a luz e sabermos que existe um mundo depois dessas muralhas, muitos de nós fomos plenamente satisfeitos em nosso desconhecimento e esses jogos sim atenderam aos nossos quesitos de entretenimento por muitos anos. Não me levem a mal, não quero ser nostálgico. Não tenho saudades desses jogos e certamente não os jogaria de novo. Sempre sugeriria outra centena de jogos no lugar, mas certamente sinto saudades daquela época em que eu não precisava ter o jogo x, y ou z. O que tinha tava bom e pronto. Hoje reclamo de rejogabilidade de jogos que têm exponencialmente muito mais rejogabilidade que qualquer um dos clássicos.
Em um segundo momento da minha trajetória, eu simplesmente cansei. Aqueles 5 ou 6 jogos que eu tive por uns 4 anos não me serviam mais. Eu era bom demais pra eles. Precisava pesquisar mais, escavar mais, explorar mais. Foi um período genial da minha vida. Eu tive oportunidades de conhecer esse universo maravilhoso a fundo. O preço de entrada foi a minha falta de controle. Caí em todas as armadilhas possíveis. Paguei caro em muita coisa que não valiam isso tudo. Não só isso, fiquei desesperado em cogitar a possibilidade de não conseguir o que queria. É como se minha vida dependesse disso. Hoje não tenho mais nenhum desses jogos que há anos atrás eu entraria em colapso se eles estivessem fora de estoque. O mundo continuou a girar, o céu ainda é azul e certamente esse jogo está recebendo mais amor em algum outro lugar.
Finalmente a conclusão do ato. Quando eu percebi que eu tinha jogos na minha estante que eu nem tinha lido as regras. Foi aí que eu entendi a expressão "aberto para conferência". Eu literalmente estava fazendo isso, estava acumulando e esse era o meu novo jogo. Eu não lembro exatamente qual foi o primeiro passo que desencadeou essa inversão de polaridades, mas pouco a pouco eu fui retomando a aqueles tempos áureos onde eu me contentava com pouco. Acredite em mim, não acho 40 jogos pouco, pelo menos não pra mim (sem contar as expansões). Ainda pretendo diminuir essa lista. Minha ideia aqui não é condenar ninguém, não existe certo nem errado, não existe número de ouro. Não existe tal coisa como "acima de tantos é muito". Nós que construímos isso dentro do nosso parecer e o importante é termos isso muito bem claro dentro de nossos atos e convicções.
Quando eu comecei a vender meus jogos, eu finalmente cheguei a um patamar onde na minha prateleira eu tinha todos os jogos dentro do meu campo visual e eu não precisava tirar nenhum jogo da frente do outro pra lembrar que eu tinha tal jogo que eu não conseguia mais ver porque o outro jogo tava na frente. Bizarro, não? Para alguns a solução seria conseguir uma estante maior, um quarto maior. Quem sou eu pra dizer que eles estão errados? Enfim.
A consequência disso? Eu pude voltar a sentir um gostinho do que era desfrutar um jogo em sua plena capacidade. Jogar um mesmo jogo dezenas de vezes, talvez centenas. Chegar num certo nível e falar "eu conheço esse jogo de ponta a ponta". Começar uma partida e traçar uma estratégia com base na mais pura experiência pessoal. Ah, eu sentia saudades disso, como sentia. Eu tinha expandido tanto horizontalmente, tava na hora de cortar as bordas dessa curva e voltar à verticalização.
Meus aprendizados em meio a essa trajetória toda:
I - Não é porque um jogo é considerado bom pela crítica que você tem que tê-lo. O mundo sempre vai falar que todos os jogos do mundo são bons. Isso é o que faz a roda do sistema econômico vigente girar. Eles podem até ser verdadeiramente bons, mas novamente, você precisa deles de fato?
II - Não é porque todo mundo gosta de um jogo que ele é necessariamente bom para você. Você pode, e deve, discordar do senso comum às vezes. Gloomhaven é o top 1 do BGG no momento em que escrevo esse texto. Eu simplesmente abomino a ideia de destruir componentes. Nada contra quem curte. Não posso julgar o jogo pois nunca o joguei, mas não tenho que bater palmas para ele só porque ele chegou ao top 1. Respeito o jogo e a façanha do designer, mas não é o MEU top 1. O importante é o que é bom pra você, não pra internet.
III - Não é porque você gosta do jogo que você tem que tê-lo. Esse é sutilmente diferente do item I. Você pode realmente gostar da ideia de um jogo, você pode até tê-lo jogado algumas vezes na mão de terceiros, mas por isso você tem que tê-lo na sua coleção? Você precisa ter tudo que gosta sempre?
IV - Não é porque o conceito do jogo é baixo na internet que ele é necessariamente ruim para você. A opinião da internet é uma métrica. Ela é um aglomerado de opiniões do senso comum e muitas vezes do efeito manada. Por exemplo, você já reparou que jogos caríssimos quase sempre têm nota elevadíssima? Há muitas razões para tal. Uma delas, que a maioria das pessoas não admite para si mesmas, é que se você pagou uma fortuna em um jogo, ele TEM que ser bom. É quase que uma auto negação para amaciar o ego. Ninguém está disposto a admitir que gastou uma fortuna em um jogo ruim. Ninguém quer se mostrar vulnerável, ainda mais na internet para todo mundo ver.
V - Se você está com um jogo parado há meses, ou anos, você deveria considerar passá-lo adiante. Tempo é uma commoditie inestimável. Você pode ter rios de dinheiro, mas você não tem como comprar tempo. Tempo > dinheiro nesse caso. O que torna nossas escolhas interessantes é a finitude da vida. Se você escolhe uma coisa, você, por definição, abdica de todas as inúmeras escolhas que ficaram de lado para que você pudesse escolher essa. Você não pode escolher tudo. Se você escolher tudo, na verdade, você não tem nada.
VI - O mundo não acaba se você se desfizer dos jogos, você sempre poderá comprá-los de novo, mas provavelmente, sendo honesto consigo mesmo, eles não vão fazer tanta falta assim se você chegou a vendê-los.
VII - Se o jogo está
Out of Print, você não precisa vender um rim para conseguí-lo quando ele aparecer no mercado. Eu cansei de cair nessa armadilha e muitos jogos que eu paguei caro, fiquei um bom tempo sem jogá-los e acabei revendendo. Você passou anos do seu hobby se divertindo sem esse jogo. Você não precisa desse jogo em particular, ainda mais se ele for um Santo Graal inalcançável. É como se parte do jogo em si estivesse no desafio de alcaçá-lo. Nada contra isso, mas vale a pena rever as prioridades.
VIII - Antes de pensar no próximo jogo, pense nos que você tem primeiro. Esse jogo é igual aos demais? Ah, mas esse é diferente. Diferente quanto? Tente categorizar seus jogos. Não falo nem em termos de mecânicas, mas em termos de sentimento através da experiência. Sempre que jogamos um jogo, buscamos uma certa experiência, seja imergir em uma história, fazer contas, não importa, estamos atrás de algo. Se sempre que você vai jogar um jogo, você pega o jogo B e deixa de lado o A porque não dá vontade de jogar ele na maioria das vezes que você opta pelo jogo A, é porque muito provavelmente eles preenchem o mesmo papel em termos de experiência, mesmo que na prática eles sejam jogos completamente em termos de mecânica.
IX - As experiências se repetem. Alguns de nós chegamos em um determinado nível onde nós experimentamos um determinado jogo e de cara já falamos "essa mecânica foi inspirada no jogo A, essa no B, esse jogo é uma mistura dos jogos C, D e E...". Ou você fica com esse jogo, ou você fica com os que inspiraram o mesmo, mas não faz sentido você ficar com os dois em função de um vínculo emocional que seja. O que fica são as experiências. Você não precisa de um token material para concretizar sua memória. Você não precisa de um troféu. Se o jogo fosse tão necessário no seu atual momento da sua trajetória de gamer, você não precisava lembrar dele em termos de nostalgia, você estaria jogando o jogo propriamente dito. Tire uma foto, vai durar mais e ocupa menos espaço.
X - Sua personalidade define a escolha de seus jogos, mas seus jogos não definem sua personalidade. Não é porque você gosta de Euro que você é mais inteligente do que alguém que gosta de Ameritrash. Não é porque você gosta de Ameritrash que você é muito mais descolado do que uma pessoa desalmada que gosta de ficar brincando com a Planilha de Excel, o boardgame. Não tem problema nenhum em gostar de party game. Eu amo Hanabi, eu amo Kingdom Builder, gosto deles tanto, às vezes até mais do que meus igualmente adorados Brass Birmingham ou Great Western Trail. Sempre que eu vejo um top 100, à medida em que vamos chegando ao top 10, só restam os jogos cabeça. De fato, esses jogos são extremamente mais sofisticados e proporcionam experiências únicas. Acontece que na prática, muitas vezes a pessoa jogou aquele jogo um par de vezes, mas é descolado dizer que gosta do gosto tal e viva a corrente.
XI - Seja mais crítico sobre a intencionalidade por trás de cada coisa. Por que as pessoas fazem reviews? Muitas vezes porque elas são pagas pra isso, porque as empresas precisam vender os jogos e fazer o capital circular. Essas pessoas são ruins? Esses jogos são ruins? Não, é apenas como o sistema funciona. O jogo faz parte do top 10 daquele influencer x? Ele não precisa fazer parte do seu. Você não é aquela pessoa, com a experiência daquela pessoa, com os gostos daquela pessoa. Às vezes a pessoa só fala que "gosta" daquele jogo porque ele tem muita visibilidade e a internet vai com tochas e ancinhos nos comentários se essa pessoa ousar ser sincera sobre não gostar tanto assim do jogo. O marketing vive de criar hypes e mexer com os desejos mais basais da pessoa na forma de bens de consumo vendendo promessas, Às vezes a pessoa gosta de um certo jogo em função de uma experiência tão particular e única que não pode ser reproduzida fora de contexto e tudo bem. Não tem como ela vender isso pra você. Faça suas próprias experiências e faça elas inestimáveis.
XII - Curta o que você já tem antes de mais nada. Todos chegamos até aqui por uma razão. Se hoje fazemos parte dessa grande comunidade que envolve nosso hobby, é porque em algum momento nós entramos de cabeça nessa parada e genuinamente gostamos daquilo que vimos e experimentamos. Muitas vezes esse sentimento puro se perde em meio a outras tentações e armadilhas, como o consumismo. Antes de adquirir mais um para sua família de boardgames, e reitero, não tem nada de errado em aumentar sua coleção, desde que você esteja perfeitamente seguro e consciente de seus atos, apenas pare e repense sobre as coisas que você já tem. Pegue todos os tópicos anteriores e converta-os nesse momento de reflexão pré consumo potencialmente impulsivo. Você vai ter tempo? Você precisa mesmo desse jogo? Você realmente quer, ou você só está indo na onda da manada? Você quer, mas você precisa? Você precisa, mas precisa dos dois (o que você já tem e aquele que você muito provavelmente vai jogar bem menos em função do novo entrante)?
Esse texto não é direcionado a ninguém em particular. FOMO é um assunto sério e precisa ser trabalhado com devida seriedade. Se você por ventura se sentiu afetado em função de alguma declaração contida nesse texto, saiba que ela certamente não foi destinada a você, mas uma auto reflexão e auto avaliação são sempre bem vindas. Não acho errado que milhares de jogos sejam lançados todos os anos, não acho errado alguém ter centenas de jogos. A única coisa que deveria ser repensada dentro disso tudo é as pessoas serem honestas consigo mesmas e consumirem de forma consciente.
Obrigado se você leu até aqui.
Curta seus jogos. Jogue-os, faça-os valer. Adquira novos, mas pense sobre a utilidade dos antigos e eventualmente passe-os adiante, isso também faz a economia girar. Consuma uma quantidade razoável de conteúdos para definir seu juízo de valor, mas lembre-se que terceiros não devem definir como você pensa. Se você se arrependeu de um jogo, passe-o adiante. Sempre existirá alguém que gosta desse jogo, ao menos o designer do jogo ou a editora que comprou a ideia. Bom e rum são medidas qualitativas totalmente subjetivas e particulares.
Jogue mais e consuma com responsabilidade.
Forte abraço.
Luis Perdomo