Vou abrir aqui uma polêmica entre dois grandes jogos,
Barrage e
Terra Mystica! Para começar, adoro os dois, eles são sensacionais. Mas, aqui em casa acabamos gostando mais do Barrage por alguns motivos e vou falar sobre isso nesse post.

Primeiro, as semelhanças: ambos são jogos Euro, controle/influência de área, mapa onde os jogadores colocam suas construções, setup inicial que define os bônus de rodada, 6 rodadas fixas, bônus de fim de jogo (variável no Barrage, o que é legal), jogadores com diferentes habilidades (aqui o TM ainda é melhor), tabuleiro individual com a marcação de renda de acordo com as construções que você faz no jogo (e variável por jogador), ordem de turno variável, zero ou pouca sorte envolvida (há contratos no Barrage, parecido com o Clãs da Caledônia), componentes de madeira (variáveis por jogador, na cor no TM, na cor e na forma no Barrage) e um certo parasitismo (é bom ficar perto dos outros mas isso pode te prejudicar também). No Barrage não há a trilha de cultos, apesar de haver desenvolvimento de tecnologia (diferente do Projeto Gaia), e também não há aquela peça de bônus de rodada do TM. Como vocês podem ver, há muita coisa parecida entre os dois e acho que a comparação entre ambos é pertinente. Jogar o Barrage te faz lembrar do Terra Mystica em muitos momentos.

No meio do caminho entre semelhanças e diferenças, existe o gerenciamento de recursos de médio prazo, no caso do TM, o Poder (as pecinhas roxinhas), que requer certo planejamento para utilizá-lo, pois mesmo quando você o produz, ele não está necessariamente disponível pra você. O Barrage tem um mecanismo parecido, mas vai mais longe: os recursos (Maquinários) gastos para fazer uma construção ficam presos numa roda junto com a peça da construção correspondente. Ou seja, para fazer uma Hidrelélétrica, você gasta os maquinários e a peça de tecnologia associada, e eles só ficarão disponíveis novamente depois que derem uma volta inteira na roda de construção. Isso faz com que a utilização desses recursos seja bem estratégica, mesmo havendo formas de acelerar essa volta. Notem que esse mecanismo é parecido com o Poder no TM, mas diferente. Nesse aspecto, o TM talvez te dê mais flexibilidade, porque você usa o Poder para várias coisas, inclusive convertê-lo em recursos.
Iniciando com as diferenças, uma delas é a implementação do tema. No TM, ele é um pano de fundo, que influencia as habilidades das raças, setup inicial no track de culto e nada muito além disso. No Barrage, a água escorre das montanhas (segundo um setup variável) e para nas barragens, até que você a use para gerar energia. Quando acontece isso, a água segue em frente, descendo pelos rios e parando na próxima barragem ou indo embora para sempre. Esse mecanismo é o coração do jogo e tem tudo a ver com o tema. Outra diferença é que temos no Barrage a mecânica favorita de muitos: alocação de trabalhadores. Temos quase o Um Banquete a Odin replicado aqui, são 12 trabalhadores que podem ir em muitos locais, mas com uma diferença: no Banquete, ir com mais trabalhadores permite uma ação mais forte; no Barrage, ir depois fará com que você precise de mais trabalhadores ou que você faça uma ação mais fraca. Então, é um semi block, dá pra fazer a mesma ação que o amiguinho fez antes, mas vai ser mais cara ou mais fraca.

Seguindo com as diferenças, no Barrage as suas construções no tabuleiro desempenham uma função. No TM elas ficam no mapa ocupando o espaço e marcando pontos para eventualmente fazer uma cidade. No Barrage, vc precisa das construções (suas, mas também dos amigos) para gerar a energia que te permitirá pontuar e a forma como você as conecta também é crucial (e temático). Por fim, a interação entre os jogadores. No TM, ficar próximo do amiguinho ajuda você a crescer, ao mesmo tempo que pode limitar sua expansão. No Barrage a interação é fundamental. A água usada por um jogador para gerar energia pode vir parar na sua barragem e te beneficiar. Se quiser, você pode usar o conduíte de outro jogador, e ele ganha bônus por isso. Outro jogador pode inclusive colocar um conduíte justamente ao lado da sua barragem para se aproveitar disso! Mas como o dono da barragem controla a água, então ele dependerá de você. Você pode ter uma barragem em um lugar mas se outro jogador coloca uma barragem acima da sua, a água vai cair na barragem dele antes e te bloquear; porém, se ela não for alta o suficiente, ele pode não conseguir armazenar toda a água e acabar vindo o que exceder para você. Além disso, há uma pontuação atrelada a quem gerou mais energia na rodada, então mesmo que você fique na sua, tem que ficar de olho no amiguinho. Essa interação vejo como um dos grandes atrativos do jogo, mas entendo que isso poderá afastar outros jogadores, ainda mais se sua primeira experiência foi ruim. Se esse for o seu caso, aliás, dê uma segunda chance: esse jogo depende do seu grupo.
Finalmente, como vocês puderam perceber, o Barrage é sim mais complexo que o Terra Mystica, apesar de ambos estarem, atualmente, com o peso muito próximo no BGG. É quase como se o Barrage tivesse um Terra Mystica dentro dele, tirando algumas coisas e acrescentando muitas outras mais. O tempo de jogo também é maior. Então, se muito tempo e muita complexidade forem um fator negativo para você, provavelmente será mais feliz com o TM. Se tivesse que escolher entre duas mesas para jogar, uma com cada jogo, ficaria na do Barrage. Mas na minha coleção há espaço para os dois e acredito que muitos fãs do TM também terão espaço para ambos.