Para quem adora board games é sempre uma saída para a abstinência ter em mãos jogos rápidos e pequenos, daqueles que podemos sacar a qualquer hora do dia e em qualquer mínima interação social. Tem que valer para qualquer situação: ponto de ônibus, fila do SUS, casamento da tia, mesa de bar, intervalo do almoço, aniversário das crianças, lua de mel e por aí vai…
– Ei! Ei, moço! Que horas são?
– Hora de jogar King’s Gold, minha senhora!
Buscando por jogos simples e divertidos para jogar com amigos, crianças e familiares, fui à Invasion BG pedir uma certeira sugestão. Como todas as indicações da loja até hoje não falharam, fechei os olhos e comprei! Sabe o que foi melhor? Custou algo em torno de R$ 60,00!!!
King’s Gold é um jogo muito simples e de caixa muito pequena, constituído apenas de dois tipos de componentes: dados de seis faces (d6) e moedas. De regras extremamente fáceis, cativa qualquer um em pouquíssimo tempo. São só 5 minutinhos para explicar a dinâmica do jogo e a diversão é garantida. Com a criançada então, nem se fala! Muito recomendado para este período de isolamento social!
King’s Gold traz uma temática interessante e bem casadinha com as mecânicas do jogo. Somos todos piratas, corsários do Caribe, e saqueamos tesouros transportados em ricos navios desavisados. Porém, como bons piratas, de vez em quando metemos a mão sorrateiramente nas moedas dos próprios colegas de ladroagem, só para ver se eles se mantêm espertos, como um verdadeiro pirata deve ser.
E se a história das utopias piratas nos sopram ventos libertários de aventureiros que mantinham comunidades livres, sem reis ou padres, com suas próprias regras e sustentadas com tesouros saqueados da nobreza, inevitavelmente o jogo não deixaria de fora a detestável figura do grande Rei, inimigo de todos os piratas, usurpador das riquezas de seu próprio povo, sabedor das ilegalidades piratas e, sobretudo, um astuto oportunista!
Em King’s Gold, o Rei é figura quase onisciente. A cada roubo que os piratas fazem aos nobres navios que circulam em águas caribenhas, o Rei cobra uma propina proporcional à quantia roubada. Se há uma tentativa frustrada de saque, o rei cobra uma singela taxa de três moedas de ouro para não te mandar para as masmorras.
Se o roubo é feito de pirata para pirata, o código de ética dos corsários não permite que a rapinagem seja delatada à Coroa (nada é pago ao rei)! Mais vale assumir honrosamente a perda de valiosos tesouros a um outro bravo pirata do que enriquecer as gordas poupanças do velhaco monarca! Todo pirata deve manter seus princípios, ora, ora!
Genial! Numa caixinha tão pequena, com cinco dados e um punhado de moedas, experimentamos o que é o famoso “banditismo por uma questão de classe” e o que é a figura do Rei, que na mecânica do jogo é bastante verossímil com o papel histórico das realezas: extorquir e aumentar o seu próprio patrimônio!
Mas um bom corsário jamais engole de bom grado alguém, do alto de seu palácio, sentado com sua farta bunda em macias almofadas de cetim, ditando ordens ou metendo o bedelho em seus negócios… Rá! Velas ao vento em direção à esquadra real! Tomaremos o que é nosso daquele nobre usurpador. Beberemos e cantaremos aos sete mares a deleitosa falência do rapinante monarca!
Você já deve ter notado que em King’s Gold todo mundo rouba todo mundo: pirata rouba navio, pirata rouba pirata, rei rouba pirata e pirata rouba rei! Que maravilha, hein? Caso não conheça o jogo, deve estar se perguntando se King’s Gold oferece mesmo essa experiência grandiosa aos jogadores com uma caixinha tão pequena ou se é o escritor desta humilde resenha que viajou demais na maionese!
Bem… um muito dos dois! Não consigo jogar board games de forma autômata, apenas empurrando cubinhos. “Viajar é preciso, viver não é preciso”! Acredito que o que é bom pode ficar ainda melhor com uma boa dose de imaginação.
Mas vamos agora à parte menos importante do texto: às mecânicas do jogo!
King’s Gold conta com cinco dados de seis faces. Em cada dado há três faces onde vemos grafadas moedas de ouro, sendo uma face apresentando o desenho de uma moeda, outra face com duas moedas e a terceira com três moedas de ouro. As três faces restantes contêm em cada o desenho de um canhão, uma caveira ou um xis formado por ossos cruzados.
Na própria caixa do jogo, há uma divisão em dois compartimentos. O compartimento maior pode ser destinado às moedas dos navios a serem saqueados pelos piratas e o compartimento menor pode ser utilizado para representar o tesouro do Rei. O jogo inicia com todas as moedas alocadas no tesouro dos navios, que serão pilhados pelos corsários. O Rei e os piratas começam o jogo sem tesouro nenhum.
O jogo acaba quando todas as moedas dos navios se esgotam. Ganha, obviamente, o mais rico! Não pela riqueza, certamente, mas pela diversão das proezas piratas que foram necessárias para acumular exuberante tesouro!
Cada jogador representará um pirata e, em seu turno, rolará todos os cinco dados. Os efeitos mais simples dos dados podem ser executados combinando um ou dois pares de símbolos da seguinte forma:
- canhão e moeda: você saqueia dos navios o número de moedas indicado no dado;
- caveira e moeda: você saqueia de outro pirata à sua escolha o número de moedas indicado no dado.
Além destes efeitos, há jogadas especiais, que ocorrem quando na rolagem de dados são sorteados os mesmos símbolos em todos eles:
- cinco canhões: você rouba todas as moedas dos navios e o jogo acaba;
- cinco caveiras: você rouba todas as moedas de um jogador à sua escolha;
- cinco moedas quaisquer: você rouba todas as moedas do Rei.
A grande diversão em King’s Gold é que você, após a primeira rolagem, pode selecionar quantos dados você quiser para rolá-los novamente por até mais duas vezes, com exceção daqueles dados que caíram com a face do xis de ossos voltada para cima. Estes dados ficam bloqueados e não podem ser lançados novamente.
Mas tenha cuidado! Sua tentativa de saque pode ser frustrada caso você role três ou mais dados com a face do xis de ossos voltada para cima. Neste caso, pague uma taxa de três moedas de ouro ao Rei para não entrar em cana!
Sim, é simples! Mas é MUITO divertido. Roubar os navios, os coleguinhas e, sobretudo, roubar o Rei depende de muito controle emocional, afinal, não é nadinha fácil resistir à ganância para não cair na asneira (ou astúcia) de forçar demais a própria sorte, mesmo quando os objetivos daquele saque são quase impossíveis!
King’s Gold é isso. Simples assim, cabe na palma de uma mão e dura uns 15 minutinhos. Um pequeno jogo fantástico, libertário, divertido e que exige a todo o instante a astúcia de avaliar os riscos e benefícios de alçar as velas à mercê dos imprevisíveis ventos da sorte.
Zarpem de suas cadeiras e naveguem com King’s Gold pelos perigosos mares caribenhos (acompanhados de um bom rum, melhor ainda!). Certamente aportarão em momentos inesquecíveis de boas gritarias e gargalhadas!
Bruno Marchena é biólogo com atuação na área de ecologia de comunidades, apaixonado por pedagogia libertária e saberes de comunidades tradicionais. Fã de jogos infantis, jogos experts, de controle de área e alocação de trabalhadores.
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