As Tabernas do Vale Profundo é o mais novo lançamento da DEVIR no Brasil. O jogo chegou do nada, está em pré-venda e poucas pessoas já tinham ouvido falar dele antes de começar a criar um buzz nos criadores de conteúdo. É interessante como, num hobby de nicho, o boca a boca ainda é o principal contribuidor pelo hype dos jogos.
No caso do Tabernas do Vale Profundo, tudo começou com o nosso amigo @
Fel Barros voltando de um evento privado (Gathering of Friends with Alan Moon) com um jogo de deck building em alemão chamado Die Taverns Im Thiefen Tal e dizendo que era só amor. cara apresentou o jogo pra mim, pro David Coelho e para nosso amigo BH do Area 21 lá em meados do ano passado, mas o jogo estava esgotado em todos os sites e até mesmo no BGG parecia haver uma enorme fila de gente querendo pegá-lo. E com um tempo, o jogo começou a ganhar coro pelos canais. De repente, o jogo estava no Top 100 do Fel, David, Renato Simões, no meu e o Paulo do Covil pedia para jogar. E. Nossa, gente, será esse jogo o próximo número 1 do BGG??? Calma lá!
Taverninha, como ele terminou sendo apelidado por aqui, não é nenhum jogo que irá revolucionar o mercado dos boardgames, e spoiler pra vida, quase nenhum será isso. Onde ele brilha, é na capacidade de entregar muito com pouco. O jogo pode ser facilmente jogado em menos de 60 minutos se as pessoas não demorarem muito nas suas jogadas e ele tem, em vários momentos, uma sensação de jogada perfeita, que dá vontade de tirar foto e por no currículo, que alegra muita gente. Mas isso não acontece sem seus defeitos.

Para você entender melhor como funciona o Tabernas do Vale Profundo, vai aqui uma breve descrição. O jogo é um euro médio de baixa interação, que se utiliza de mecânicas de deckbuilding e draft de dados para simular uma Taberna em Thiefen Tal onde os clientes estão indo para beber cerveja. Você monta seu deck com garçonetes, mestres cervejeiros, lavadores de pratos e outros funcionários, além de clientes e mesas. Ao contrário de outros deckbuildinds onde você tem limite de mão, no Taverninha você compra quantas cartas conseguir comprar até encher todas as mesas da sua Taberna. Todo mundo começa com 3 mesas e pode ir adicionando mais. Você abre então um deck que, se sair funcionários, ele potencializa suas ações, e se sair cliente, você coloca ele pra sentar em uma mesa qua no futuro lhe dará dinheiro caso você aloque um dado ali. Enquanto você tiver mesa livre, você continua comprando e abrindo cartas. Depois, você drafta dados para alocar em ações. Por exemplo, se você comprou 3 mestres cervejeiros nessa rodada, sua ação de produzir cerveja produz 3 cervejas a mais por dado alocado lá. E o que isso tem de legal?
Bem, primeiro, o jogo lhe dá decisões estratégias interessantes. Alguns podem escolher encher a mão de funcionários para garantir baixa proporção de clientes no seu deck e uma potencialização de cada dado a ser utilizado. Outros jogadores vão optar por aumentar mesas e conseguir abrir mais cartas. Outros poderão reduzir o número de clientes dando trash nas cartas e garantindo que só ficam clientes melhorados que você já adquiriu durante o jogo. Em segundo lugar, isso é bacana pois te permite a jogada épica que falei ali em cima. Se você conseguir encaixar seu deck direitinho, é possível que você abra todo seu baralho em uma única jogada, fazendo todas as ações na sua potência máxima, e isso dá uma sensação gostosa pra caramba no jogo. E o melhor, tudo isso, em cerca de 50 minutos de partida. Excelente.
Algumas pessoas comentam sobre o fator sorte na compra das mãos. Pois mesmo que você tenha 10 mesas e 6 clientes, não há garantia alguma que os 5o cliente não será comprado do deck quando apenas 5 mesas estão disponívels, parando, em momento sub-ótimo a sua jogada. Bem, isso pode de fato acontecer, mas a sorte, em momento algum me incomodou no jogo, pelo contrário. Primeiro por que você foi quem montou seu deck, e no final ele vai rodar inteiro. Se você tirou uma mão ruim agora, onde não veio nada, a sua próxima provavelmente será excelente e pois sairão todas as cartas boas e isso será compensado no jogo. Além disso, ao contrário de outros deckbuildings onde as novas cartas compradas vão pro descarte, nesse jogo, elas vão para o topo do seu baralho, então dá sempre para se organizar minimamente para o que vai sair. E por último, o jogo permite, algumas vezes, que você descarte toda mão e recompre caso, em um momento crucial você saia com uma mão horrível. Então acho que a sorte é bem mitigada.
Mas esse jogo que empolgou muita gente pela gostosa jogabilidade, estratégia equilibrada e tempo curto, tem sim seus problemas. Problemas aliás, muito comum na maior parte dos euros médios. Rejogabilidade e possível caminho vencedor com a inclusão de alguns módulos.
Bem, quanto a rejogabilidade, o jogo parecia resolver bem. Ele vem com 5 mini módulos que você vai adicionando para ter uma jogabilidade diferente. Todos eles são pequenas interações diferenciadas, que mudam pouco a regra mas adicionam alguns elementos para quando você se cansar de jogar o jogo base. Acontece que, esses módulos, ao colocarem mais opções de fazer ações que eram raras e dar poder variado no jogo, cai num possível erro de gerar uma estratégia que, parece ser mais forte que outras. E aí, quando você percebe isso, a rejogabilidade dele pode ir pras cucuias. O jogo passa então, a ser um jogo de quem consegue encaixar melhor aquela estratégia pois todos passam a disputá-la. O caminho, pelo menos está disponível a todos.
Wolfgang Warsh tem se mostrado um autor muito sólido. Ele é o autor do excelente Twice as Clever, meu roll and write favorito e já bateu na trave no Spiel de Jahres com o The Mind antes de vencer Kennerspiel de Jahres com o Quacks of Quedlinburgr. E em Tabernas do Vale Profundo não será diferente. É possível até ver um pouco do autor aqui. Tanto em Quacks quanto em Taverna, o autor dá uma adicionada no Push Your Luch a mecânica de Bag/Deck Building. A diferença é que no Quacks você tem um fator de Push you luck mais real, onde você será penalizado se estourar seu limite. Já no Taverna, ele apenas para sua compra de cartas, sem penalidade qualquer. Isso é bacana pois nessa mecânica você tem sempre a emoção da compra, da comemoração de vir o que quer ou decepção quando vem o contrário que causa momentos memoráveis no jogo, além de dar uma modernizada a mecânicas que já estavam meio batidas.
Para quem curte um euro médio-leve como Heaven & Ale, Glen Moore, Hadara, Luxor ou Istambul, o jogo é uma ótima pedida. Meu conselho é jogar bastante o jogo sem os módulos, onde as estratégias me parecem mais bem equilibradas e aproveitar bastante o jogo antes de subir e tirar suas próprias conclusões. Eu, por mais que tenha um gosto para jogos mais pesados, sempre aprecio ter esses jogos gostosos que conseguem ver bastante mesa com qualquer público, e desses, Heaven & Ale é o que está mais subindo no meu conceito. Mas entenda que, de forma apressada ou não, o Tabernas do Vale Profundo não entrou no Top 100 de jogos de tantas pessoas com bagagem de boardgame a toa.
********************************
Começou a 1a fase de votação do Premio Ludopedia. Se tudo der certo, você vai ter de votar 2x na gente. Uma para nos classificar para a final e outra, na final para ajudar o Red Meeple a levar o prêmio. Se quiser votar, é só clicar na foto abaixo
********************************
********************************
Curtiu esse texto? Veja então no Instragram TV no Red Meeple (@redmeepleblog) nos próximos dias, os melhores jogos antigos (2018 pra traz) que eu conheci em 2019. Só jogasso.
********************************
E se quiser ler mais textos nossos, se inscreva e siga a gente para receber notificação quando tiver novas atualizações.
Veja abaixo os últimos textos do Red Meeple Blog
E muitos outros textos que você pode encontrar
aqui
Big Shoulders e os jogos que mudam nosso perfil de jogador
Best 9 - Os 9 melhores jogos de 2019
Cooper Island e como bons jogos podem ser cansativos
Maracaibo e a Reciclagem de Alexander Pfister
Terra Mystica Merchants of the Sea: a modernização de um clássico
Barrage e o encontro de Brass com Banquete a Odin