Eu acredito que, a partir de um certo repertório de jogos, o jogador começa a buscar relevância nas novas aquisições. Por que eu devo manter esse jogo na minha coleção é a pergunta que eu sempre faço. Seria esse mais do mesmo? No próprio texto de Maracaibo, de semana passada, eu digo que parte da qualidade do jogo passará despercebida pelo fato de que, muitas daquelas mecânicas já estão presentes em outro jogo. E é aí que começa a discussão sobre Cooper Island.
Cooper Island é um jogo que me chamou bastante a atenção na lista pré-Essen devido o fato de que ele apresenta algumas dinâmicas diferentes e interessantes. A mecânica básica é uma alocação de trabalhadores, mas o que se dá a partir dela, é quase tudo original. Grande parte do jogo está em colocar tiles na sua ilha para produzir recursos. É um esquema interessante pois os recursos só são produzidos ao se colocar um tile e nunca mais produzem de novo até que um novo tile entre por cima (e apenas esse novo produz algo). Dessa forma, você vai empilhando montanhas de tiles um sobre os outros como forma de obter recurso durante o jogo.
Mas o mais interessante, não é nem só isso. Acho bacana também, que cada recurso, tem valor igual ao da altura da sua pilha. Ou seja, um cubo num tile com 2 de altura, vale 2 daquele recursos. Se tiver num tile de altura 6, aquele único cubo vale 6 recursos e isso escalona de uma maneira bem bacana no jogo. E para melhorar a estratégia e decisão, cada vez que você usa esses recursos para construir algum prédio ou estátua que será a origem dos seus pontos, este precisa, obrigatoriamente, ser construído no tile mais alto da sua ilha. Desta forma, o que lhe dá ponto, sempre lhe tira a sua principal fonte de recursos. E esse trade off, e timing saber quando tirar recurso dos tiles e quando tirar pontos dele, é muito, muito bacana. Mas vem com um porém.
Cooper Island, é um jogo bem apertado. Você tem muito poucos recursos e menos trabalhadores ainda. São apenas 2 no início do jogo, e 5 rodadas por partida. Sem contar que cada trabalhador, precisa ser alimentado a cada rodada(Agricola Feelings). Você tem então, que pensar muito bem no que fazer, pois qualquer erro pode ser fatal. Uma partida de Cooper Island estamos falando de apenas 25 a 35 pontos por jogador no final do jogo. É muito pouco para desperdiçar 1 que seja. E é aí que Cooper Island tem a origem os seus problemas.

Por ser um jogo muito apertado e cheio de decisões precisas e, de certo modo, diferente de outros jogos, você gasta muito tempo pensando, de forma cirurgica, em o que vai fazer com cada trabalhador e como vai gastar cada recurso. E isso gera um downtime e uma analysis paralysis bem forte no jogo. Você sai do jogo com uma sensação quase que de cansaço mesmo, como parte do seu cérebro ficou entregue ali naquela partida. E nem adianta pensar com muita antecedência pois o cenário muda até chegar na sua vez de novo.
Veja eu estou acostumado a jogar jogos médio/pesados. Jogos como Lisboa, Feudum, Through the Ages, Twilight Imperium entre outros. Mas mesmo assim, poucos jogos sugam minha energia cerebral como Cooper Island. Não que ele seja o mais difícil ou mais complicado que já joguei. Ele apenas exige que eu otimize mais cada ação e isso cansa.
No entanto, Cooper Island é original até na maneira de ganhar ponto, pois, ao fazer isso, você na verdade, anda com um dos seus barcos, entre bancos de areias que lhe vão dando novos bônus. E cada ponto que você ganha você precisa decidir com qual barco andar (são 2 por jogadores) e qual bônus ganhar. E cada punição que toma, ganha uma âncora, que prende seu barco que precisa agora, gastar o próximo ponto que ganha para retirá-la e permitir que continue navegando.
E é aí que eu tenho um certo dilema com Cooper Island. Se por um lado, ele exige de mim mais do que eu gostaria de planejar em um boardgame, cujo intuito final, é me divertir, por outro, ele me permite fazer escolhas e decisões que são sempre significativas, diferentes e com sensação de originalidade me prendem ao jogar um boardgame.
Seria simples demais dizer que o jogo é ótimo (e é!), fantástico, original e recomendar a todos. Também seria simples demais dizer que ele é demorado, que se gasta muito tempo esperando o adversário otimizar a jogada e que ele frita tanto o cérebro que chega a cansar um pouco. Mas ambas as coisas são verdade e é aí que está o dilema de Cooper Island. Até que ponto uma coisa compensa a outra?
Por enquanto, os prós tem sido maiores que os contras pra mim. Entendo todos aqueles que, por causa dos problemas citados aqui, desistiram do jogo. Também entendo quem amou ele de paixão e achou o melhor jogo do ano. O jogo dá justificativas para os dois lados. Pra mim, até agora, é um jogo que entrega uma jogabilidade única, muito interessante, e que, apesar dos pesares, tenho vontade de jogar de novo. E isso pra mim, tem sido suficiente, até agora, para mantê-lo na coleção.
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