Por Professor Barna
Jogos e a educação, quem nunca ouviu falar nessa relação? Alguns grupos ainda possuem muitos preconceitos com os jogos, mas essa situação está mudando com cada vez mais professores e pesquisadores utilizando os jogos em sala de aula.
É possível utilizar os jogos em ambientes de ensino, de três maneiras distintas: Gamificando elementos da aula, criando Jogos específicos para a educação ou utilizando jogos já existentes, os chamados Jogos de Prateleira, no contexto do curso.
E é justamente sobre essa terceira alternativo, de utilizar os jogos já existentes, que fica mais fácil explicar como esse processo acontece. Existe hoje uma lacuna no mercado, não existe, ou melhor, não existia, uma metodologia sólida para utilizar os jogos em sala de aula.
Diante desse problema, e depois de muito estudo, acabamos criando na
Immersive Games uma metodologia nossa, a
Seven Stars, para facilitar a forma como trabalhamos com os jogos na educação e para auxiliar os novos colaboradores a entender o nosso processo e a nossa preocupação com a didática e metodologia de ensino.
Para ficar mais palpável e fácil de se entender, vamos utilizar um jogo de prateleira como exemplo, o
The Resistance. Neste jogo, de 5 a 10 jogadores atuam como Operantes da Resistência ou como Espiões do Império. De três a cinco rodadas, eles dependem uns dos outros para executar e concluir missões contra o Império. Ao mesmo tempo, eles devem tentar descobrir as identidades secretas dos outros jogadores e conquistarem sua confiança.
Cada rodada começa com uma discussão, o Líder da vez reúne o grupo nos porões da Resistência e escolhe um certo número de jogadores (incluindo ele próprio) para executarem a missão. Todos os jogadores então votam se Aprovam ou Rejeitam a equipe selecionada…

Uma vez que a equipe foi escolhida e aprovada, os jogadores dentro da missão secretamente escolhem se a missão será bem-sucedida ou se falhará. Baseado nos resultados, a missão tem Sucesso (vitória da Resistência) ou Fracasso (vitória do Império). Quando um time ganha três missões, ele vence o jogo!
The Resistance, aqui no Brasil distribuído pela
Galápagos Jogos, é um jogo que permite trabalhar múltiplas habilidades em sala de aula e até em cursos empresariais. Vou exemplificar aqui, algumas das características que os mediadores podem trabalhar utilizando esse jogo.
A primeira habilidade que é possível aprimorar com o jogo é a capacidade de comunicação. Durante todo o jogo, os participantes precisam convencer o outro de que não são espiões e que devem ser convidados para participarem das missões e caso seja o espião, ainda devem convencer o grupo a acreditar que o espião é na verdade alguém da resistência, utilizando pra isso toda a capacidade comunicacional possível.
Todo esse processo envolve um trabalho de iniciativa, principalmente em cada rodada tendo um líder que vai comandar a missão e escolher os participantes, ele deve ter iniciativa e capacidade de liderança, além de saber analisar o cenário e o perfil de cada um para tomar a melhor decisão para o sucesso do grupo, enfatizando o aspecto de trabalho em equipe.
Também exige um alto nível de relacionamento interpessoal e uma grande capacidade de persuasão e habilidades de negociação, para que o jogador consiga convencer o grupo de que a sua estratégia é a mais indicada e de que ele é a melhor escolha do líder naquele momento. Seja da resistência, querendo o sucesso da missão ou um espião querendo blefar ou fracassar a missão.
Para conseguir convencer os outros sem levantar suspeitas sobre si, é importante que o jogador saiba controlar as emoções. Para isso, a todo momento ele trabalha a autoconfiança e a capacidade de articulação, apresentando fatores objetivos de acordo com a análise do cenário para comprovar cada um dos seus argumentos.
Durante os turnos, cada jogador tem a oportunidade de atuar como líder da missão, e se envolver em uma negociação com os outros jogadores para decidir quem participa ou não da missão, trabalhar a liderança e a capacidade de negociação.
Como cada jogador possui um papel, isso permite que eles tracem uma estratégia de acordo com o papel, objetivo e estado atual do cenário de jogo, que muda a cada nova sequência de ações.
Para vencer é imprescindível um foco nos resultados, muitas vezes sacrificando elementos da equipe com vistas ao sucesso da missão, além de atuar na gestão de conflitos, para evitar suspeitas desnecessárias e atuar com base nos indícios que percorrem os turnos de jogo.
Depois de todo esse processo, é muito importante que o mediador analise, em conjunto com os participantes do curso, esse processo e promova um debate sobre as causas, consequências, melhores estratégias, dilemas éticos, efetividade dos resultados e tantos outros elementos que se é possível analisar com os jogos.
Como foi possível observar, todas essas características são essenciais para o contexto contemporâneo, e ainda mais importantes para o mercado de trabalho. Além de gerar o engajamento pela questão lúdica do jogo, o mediador ainda pode extrair todos esses conceitos das interações em sala e aproveitar a experiência para debater e analisar os objetivos de aprendizagem de maneira contextualizada e totalmente personalizada, criando um diferencial significativo no processo educacional.
Professor Luis Barna atua como consultor lúdico e professor na graduação (Jornalismo, Publicidade e Propaganda; Produção Multimídia; Audiovisual) da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM). Pesquisador nas áreas de educação, games, narrativas e inovação, também atua como palestrantes em empresas e cursos de graduação e pós-graduação em universidades como Cásper Líbero, Fatec, FMU, Impacta e afins.