Neste jogo, você controla um grupo de aventureiros invadindo uma masmorra, tendo como objetivo derrotar o grande chefe final, e depois sair de lá com vida.
Regras detalhadas no vídeo aí em cima, e resumão aí embaixo.
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Esse jogo é um pouco diferente do tradicional.
Ele é um jogo solo, PNP, vendido pelo autor. O que significa que você pode comprar o livro de regras, imprimir por conta própria, e jogar sozinho.
Por enquanto ainda não temos uma versão oficial em PT-BR, mas acredito que ela está a caminho.
Mas, seguindo para o jogo.
A ideia aqui é clássica, você tem um grupo de aventureiros e está invadindo uma masmorra.
Para começar, monte seu grupo.
O livro de regras vem com 8 classes básicas, com todas as características que você precisa saber sobre elas.
Então simplesmente escolha 4, e anote as informações em sua ficha de heróis.
Aí o jogo começa de verdade.
4AD se desenvolve em vários turnos, até você matar o chefe final e fugir da masmorra, ou até seus personagens morrerem.
E cada turno se resume a um movimento, rolagens de dados para descobrir o que existe no local em que você entrou, e então sua resposta ao evento do local.
Seguindo o turno, primeiro você se move para um lugar válido, isso é, qualquer local conectado à sua sala atual, seja por portas ou corredores.
Se você seguir por um caminho ainda não explorado, role os dados para descobrir o formato da próxima sala, e desenhe no mapa.
Então, role os dados novamente para descobrir o que há no local.
E aí vem uma bela tabela que envia para várias outras tabelas criando caminhos completamente imprevisíveis. Aqui você pode encontrar monstros, armadilhas, salas especiais, chefes, comerciantes, e até salas vazias. Cada um destes em vários tipos e efeitos diferentes, e geralmente com algumas novas escolhas e rolagens de dados.
Por exemplo, ao cair em uma armadilha, veja no livro as características dela.
Uma armadilha de urso sempre terá como alvo o herói que está guiando o grupo, e ele poderá fazer uma rolagem para tentar evitar o dano. Caso não consiga, ele perderá vida, e ainda terá uma penalidade em rolagens de ataque até que cure esta ferida.
Como extra, alguns personagens possuem bônus em rolagens de determinados eventos.
Um ladino sempre somará seu nível em rolagens com armadilhas, magos somam seu nível contra enigmas, bárbaros somam em ataque, e assim por diante. Por conta disso, montar seu grupo irá influenciar em quão difíceis serão certos desafios de cada masmorra.
Da mesma forma, se as rolagens de conteúdo indicarem um monstro, você pode simplesmente partir para a briga ou esperar para ver a reação dele.
É possível que ele tome a iniciativa e lute até a morte, ou pode fugir antes mesmo de iniciar uma batalha, ou começar um duelo mágico, ou mesmo pedir suborno para deixar você passar sem maiores problemas.
Mas na verdade, na maioria das vezes vocês vão acabar indo para a batalha mesmo.
Assim, cada um de seus heróis poderá realizar uma rolagem de ataque, que é modificada por sua classe e equipamentos.
Então, simplesmente divida o valor final de cada ataque pelo nível do monstro para ver quantos foram derrotados. Por exemplo, se você rolar um 5, conseguirá derrotar duas criaturas de nível 2, mas apenas uma de nível 3.
Depois do ataque dos heróis, as criaturas revidam.
Cada criatura tem direito a um ataque, e aqui os heróis rolam dados tentando se defender.
Se seu resultado for maior que o nível da criatura, você defendeu com sucesso, caso contrário receberá um dano.
E essa sequencia se repete até todos de um dos lados morrer ou fugir.
O jogo mantém esse padrão de geração de masmorras aleatórias até você encontrar um chefe final.
Se você vencer ele em batalha, ainda precisará sair da masmorra com vida, voltando todo o caminho que já percorreu, só que mais fraco graças à luta contra o chefe.
Se você conseguir sair da masmorra depois de derrotar o chefe, vence o jogo.
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E ok.
Desta vez vou começar pelo ponto negativo, porque na verdade ele é bem óbvio.
Você tem muitas rolagens de dados neste jogo. Muitas delas cobrindo áreas que seriam interessantes como decisões do próprio jogador.
Não tenho problemas com rolagens para geração de masmorra. As salas, o conteúdo delas, e as especificações deste conteúdo são legais de forma bem aleatória.
Mas sinto falta de mais controle durante a resolução de eventos.
Em batalhas mesmo, você até tem escolha entre atacar e esperar a reação do monstro, ou trocar equipamentos e usar magias, mas no fundo o resto se resume a uma sequência de rolagens de dados entre defesas e ataques.
De certa forma, você pode influenciar nestas rolagens no momento em que escolhe seu grupo, já que cada personagem terá uma vantagem dependendo do que ele encontra. Mas acredito que seja pouco considerando uma aventura inteira.
Dito isso, se você não tem problemas com rolagens de dados, segue o texto porque no fim gosto muito do que vem neste jogo.
Como comentei, não tenho problemas com rolagens de dados na parte de geração de masmorra. Na verdade, acredito que o sistema implementado aqui é fantástico.
O autor trás muitas tabelas, e cada tabela com várias informações bem distintas. Isso faz com que a masmorra realmente se comporte de forma diferente a cada partida, tornando o jogo completamente imprevisível, e com uma rejogabilidade muito alta.
Já tive masmorras clássicas, em que tudo dá certo, como já tive que fugir algumas vezes para comprar equipamentos melhores ou para reviver personagens. Algumas masmorras são muito bem protegidas por monstros absurdos já de começo. Enquanto em outras você quase não encontra monstros, mas descobre segredos a cada corredor explorado.
Outro ponto, que acaba ajudando na rejogabilidade, é a questão de formar seu grupo de heróis.
Temos características bem diferentes aqui, com bônus realmente tentadores. Nas primeiras partidas você simplesmente não saberá o impacto de cada habilidade no jogo. Mas depois de um tempo realmente conseguirá montar uma equipe para jogar do seu jeito. Nem sempre montar um grupo de pancadaria é uma boa.
Ainda dentro da questão dos heróis, saiba que o jogo foi desenvolvido de forma a permitir o uso dos mesmos heróis em partidas diferentes.
Por conta disso, o jogo pode até ser jogado em campanha, levando seus achados de uma masmorra para outra, e subindo o nível do grupo aos poucos.
Eu não dava muita atenção à esta característica até ficar apegado aos meus personagens. Tenho um grupo que realmente é do coração, e chego a jogar com mais cautela com eles para não correr o risco de perder um pelo caminho.
O que leva a questão das expansões.
Se você reparar, o livro base apresenta um sistema de masmorras aleatórias, sem qualquer linha de narrativa. Você simplesmente entra numa masmorra e vai.
Mas aí entra o autor com seus livros de expansão.
A grande maioria deles é voltado para a narrativa, onde você realmente terá pausas durante a partida para ler pequenos parágrafos de contexto.
Nesse processo, muitas tabelas do livro básico serão substituídas por outras mais temáticas de acordo com a expansão. E algumas regras serão modificadas graças às forças do além (sem spoilers).
Assim, posso dizer que no livro base você terá a mecânica do jogo, e nas expansões suas histórias.
E como já comentei, você pode pegar um grupo de heróis e seguir livro a livro com ele.
Agora, sobre a real sensação de jogar, tirando a rolagem de dados constante...
É divertido.
Você acaba preso pela sensação de surpresa. Os eventos são tantos, e tão aleatórios, que você sempre quer ver o que tem atrás da próxima porta.
Isso faz com que partidas de 1hr a 1hr e 30min passem sem você perceber.
Sem contar que aos poucos você acaba fazendo ligação entre alguns eventos, o que acaba inventando uma narrativa leve mesmo no jogo base.
Outro ponto que vale ser comentado é o impacto inicial de regras.
Afinal, tudo que você tem é um livro de 80 páginas voltado a regras e tabelas, não é algo muito comum para a maioria dos boardgamers.
Mas já alerto que, depois desse impacto inicial, as partidas começam a se desenvolver de forma maravilhosa. A sequência de ações fica cada vez mais fluída, e você vai descobrindo onde estão as informações que precisa no momento.
No fim.
Gostei muito do que encontrei nesse jogo.
Definitivamente ele foi criado com um público alvo restrito em mente, algo próximo ao RPG solo. O que por sí só é uma combinação estranha.
Mas fazia tempo que não via um jogo desenvolvido para partidas solo nesse nível de complexidade. É claro o esforço do autor para criar algo de qualidade para este público.