Como já havia dito algumas vezes, eu curto fazer reviews sobre jogos mais undergrounds ou que tenham poucos reviews, por isso, agora tem mais um aqui, dessa vez sobre o novíssimo Chronicles of Crimes, jogo muito bacana que acabei pegando recentemente. Como sempre, vou fazer uma introdução meio prolixa. No caso específico desse jogo, ainda serão duas. 
Quero ainda deixar claro, que esse jogo tem resenhas bem melhores aqui mesmo na ludopédia, do Lucas que escreve muito melhor que eu, portanto vou me focar em outros aspectos.
Primeira introdução: eu adoro jogos de dedução. Alquimistas é um dos meus favoritos até hoje, mas digo, de forma geral, esses jogos de descobrir crimes, de ligar pistas, é algo que eu particularmente adoro. Lembro do incrível Scotland Yard, que pra mim, o maior problema era justamente que a maioria dos casos, para se chegar ao assassino por exemplo, você não tinha que fazer ligações entre as pistas e sim alguma coisa do tipo "Assassino, 3 Partes, pista 1: Primeira sílaba de 'bala'" e coisas do tipo. No fim, era mais um exercício de questionário que de investigação. E por isso mesmo eu adorava quando via casos em que era simples e pura dedução.
Justamente pelo mesmo motivo, (vou entrar num tema polêmico aqui), sempre preferi Agatha Christie e seu Poirot a Arthur Conan Doyle e seu Sherlock. Com Poirot, a gente podia chegar as conclusões junto com o detetive, pois todas as pistas estavam ali o tempo inteiro, enquanto em Sherlock somos meros expectadores da genialidade do detetive, que na maioria das vezes resolvia os mistérios "fora da cena" e nos voltava com a resposta mastigada, mas tirando o principal para mim, que era justamente a parte de deduzir junto. Ainda soma-se ao fato de eu amar jogos assim, que minha noiva, que não é gamer, curte muito essas coisas de pensar. Tanto que todos os Exit ela adorou. Então pensei que Chronicles of Crime seria uma compra certeira - e foi, o jogo é muito bom mesmo, só não é um jogo, mas falamos disso mais pra frente.
Segunda parte da introdução prolixa: Outro dia estava num tópico de desenvolvedores de jogos de tabuleiro no facebook e alguém criou um tópico interessante: "Será possível que existam loot boxes em jogos de tabuleiro?" A lógica era simples. Imagine por exemplo um Dungeon Crawler desses mais modernos, que são controlados por APP. Agora imagine que por exemplo, a missão principal está ali. Mas você pode pagar apenas 1,99 para destravar aquela sala que está com a porta fechada e abrir uma side quest, que vai permitir por exemplo que você ganhe uma arma épica (que pode até vir no deck de cartas do jogo, mas fica acessível apenas nessa missão).. Enfim, a maioria das pessoas falou que não, que era meio absurdo... Mas eu particularmente não vejo assim.
Eu não ligo de jogos com aplicativos. Mansions é um dos preferidos do meu grupo, e como já havia dito, alquimistas é um dos jogos que mais gosto. Acho que aplicativos vem pra somar sim, mais do que pra dividir. Mas já é óbvio que a maioria da comunidade aceitou muito bem o uso de Apps. Como exemplo, cito o próprio Mansions, que vem com poucas missões no app, mas permite que você compre umas a mais (não estou falando das expansões físicas e sim das aventuras digitais). E é algo que as pessoas aceitam pela rejogabilidade. Sinceramente, de "vou comprar uma missão de 15 reais" para "poxa, por 1,99 eu desbloqueio uma sidequest nesse jogo que curto tanto" não vejo um caminho tão longe.
E isso de certa forma me trás ao Chronicles of Crimes. (viu, eu disse que seriam duas introduções prolixas). 
CoC, a abreviatura que vou usar a partir de agora, é um jogo de pura e simples dedução. Tem histórias maravilhosas (joguei apenas dois casos), mas que você realmente se sente fazendo parte de uma investigação, conversando com as pessoas, procurando pistas.
O manual do jogo é extremamente pequeno, por que em realidade, aí reside o maior problema de CoC, ele não é um jogo de tabuleiro. Não há regras.
O funcionamento é simples. Todos os jogadores são detetives (na realidade, representam um único detetive, ou seja, é um jogo excelente para ser jogado solo ou em dupla, mais do que isso pode ocasionar em pessoas no ostracismo, a não ser na hora de fazer as deduções ou ligar as pistas.
No começo da partida geralmente somos apresentados a um caso e solicitado que nos dirijamos a determinado lugar. Então, pegamos a ficha desse lugar (indicado por letras) e colocamos em algum lugar da mesa, ao redor do tabuleiro. Ai, é só pegar o celular e ler o QR code do lugar. Teremos todas as informações sobre aquele local e as ações disponíveis (por exemplo, procurar pistas, ou conversar com algum personagem que esteja no local).

Partida em andamento.
Para conversar com alguém que esteja no local, basta escanear o QR code da pessoa. Obviamente, se você escanear a pessoa estando no lugar F quando ela está no lugar G, vai ter a informação que a pessoa não está neste lugar. Então, cada localização tem espaço para "guardar" até três personagens. Simplesmente facilitação visual.
Quando queremos entrevistar alguém, escaneamos a carta da pessoa e depois escaneamos a carta do assunto que queremos falar. Por exemplo, se você quer falar com a personagem 33 sobre a personagem 12, deve escaneá-las nesta ordem. Se quer falar com a personagem 33 sobre um animal morto que viu na cena do crime, escaneie a carta 33 e depois a carta de evidências "animais". E assim por diante.
Um exemplo de localização, com as pessoas que estão lá.
Obviamente, quanto mais tempo você gasta investigando, mais o tempo dentro do jogo avança. Como eu ainda não repeti missões, não sei o quanto o avançar do tempo interfere na resolução da história. Em uma missão por exemplo, uma das testemunhas morreu. Eu realmente não sei, se eu tivesse gastado menos tempo perguntando coisas desnecessárias, se daria tempo de falar com a testemunha ainda viva ou se isso era pra acontecer de qualquer jeito. Enfim, como história o jogo é demais.
Não podemos esquecer também, que o jogo se vendeu como um jogo com realidade virtual. Particularmente, não sei se por ter o VR de playstation, achei a RV do jogo bem fraquinha. Eu mesmo não consegui ajeitar o óculos uma vez sequer no meu rosto. Como temos apenas 40 segundos pra visualizar a cena do crime, achei muito mais interessante jogar sem o óculos. Mas é um recurso interessante pra se criar a imersão de estar na cena. Com certeza voltará a ser utilizado em outros jogos, pois pelo que tenho lido, muita gente gostou.
Bom, não há muito mais o que falar sobre o jogo. As histórias são ótimas e ele não tem regras. Vamos então falar de meu maior medo quando joguei. E não me entendam mal, eu adorei a imersão e o jogo em si.
O maior problema de CoC é ele se vender como um board game. Você paga um valor alto por um punhado de cartas e um tabuleiro que não serve para absolutamente nada e todo o resto é resolvido por um aplicativo.
É diferente de um Mansions, ou Alquimistas, ou mesmo o Detective, que segue a mesma pegada, em que você se sente jogando um jogo de tabuleiro, neste aqui, absolutamente TUDO que está na sua frente é completamente irrisório. Até por que ficar escaneando cartas o tempo inteiro é relativamente chato.
Primeiro, como eu disse, é um jogo solo ou no máximo em dupla. Jogar em mais que isso fica estranho.
Segundo, tudo ali podia ter sido lançado como um aplicativo. Na realidade o jogo É um aplicativo de luxo, cobrado em dólares, U$ 31,99. Ou seja, é um aplicativo MUITO CARO. Fora obviamente o fato de que a maioria das missões dentro do APP quando acabam as 5 que vem no jogo são pagas (reza a lenda que vai ser aberto a comunidade fazer suas próprias missões, mas ainda não vi nenhuma). Ou seja, para continuar usufruindo você terá que gastar mais ainda. E era mais fácil ser tudo lançado diretamente como um aplicativo.
Caso o APP se vendesse como o que é, um APP, que no fim das contas não tem a necessidade de nada físico, era só apertar no local em que a pessoa está, apertar na pessoa e apertar no tópico sobre o qual quer se falar. Necessidade zero de escanear coisas para isso.
No fim, não me arrependo da compra, de verdade eu curti muito a ideia do jogo. Mas fica a ressalva que apesar de toda a pompa e hype, é apenas um aplicativo de celular extra caro, com coisas impressas pra se fingir de jogo de tabuleiro.
Aqui na ludopédia tem uma versão PnP de todas as coisas que vem no jogo, que, olha só, é exatamente o que vem no jogo base.
Uma vez joguei a partida usando o tabuleiro mesmo. Na outra, minha noiva queria muito jogar de novo e eu havia esquecido em casa. Simplesmente imprimimos as cartas (isso nem é necessário, basta baixar o pdf e usar um celular para escanear o outro celular, mas não recomendo pq é chato ficar "subindo e descendo" pela lista de PDF e tentando lembrar onde está cada personagem), e jogamos com as cartas impressas.
O Tabuleiro não tem utilidade nenhuma. Colocar as localizações próximas a eles, ou imprimir o PnP e colocar as localizações na mesa, é exatamente a mesma coisa. E seria resolvido mais fácil exclusivamente pelo APP, sem necessidade de nada físico. Ter um espaço para "pistas", funciona exatamente do mesmo jeito. Basta fazer um deck de pistas e deixar separadas as que você já descobrir. Também seria mais fácil ser tudo apenas pelo APP. Sem necessidade de nada físico.
A história do jogo é muito boa, mas é puro storytelling, nao tem regras. Inclusive ele parece que vai vir pela galápagos e eu recomendaria fortemente a todas as pessoas antes de comprarem que imprimissem o PnP para ver se vale a pena para elas ter o jogo.
Sinceramente, não me arrependo da compra, ele vai ver "mesa" muitas vezes e pretendo jogar mais missões e quem sabe até criar as minhas. Mas tenho certeza absoluta que muita gente não vai curtir ou vai se arrepender se não der uma testada antes.
Meu medo com o futuro dos jogos é justamente esse. Pelo hype gerado, pelo tanto que empresas tem conseguido aliar celular com a experiência lúdica, a dúvida do colega que eu citei acima se torna uma coisa real. Nós já aceitamos pagar caro por aplicativos e por missões. Daí para microtransações será um pulo ao meu ver. Resta ver como a comunidade se comportará com tais fatos.
Se quiser ler mais resenhas do canal:
https://www.ludopedia.com.br/topico/32425/bushido-o-melhor-pior-jogo-de-luta-que-ja-joguei
https://www.ludopedia.com.br/topico/20856/what-s-he-building-in-there-um-jogao-pouco-conhecido
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