por Patanga Cordeiro
Tudo o que desejamos
Na vida-desejos
É falso.
-Sri Chinmoy
(acima: o leãozinho se controlando para não comprar mais um board game)
Já viram como tem coisas que são muito legais, mas não valem a pena?
Consigo imaginar várias categorias:
- Coisas ditas “legais”, mas que são muito ruins (drogas, preguiça, raiva, etc)
- Coisas que realmente são legais, mas você não precisa deles naquele momento da sua vida (a hora certa e a simplicidade são mais satisfatórias para quem as cultiva do que os desejos, impulsos e complexidade para quem indulge neles)
- Coisas que podem ser legais para algumas outras pessoas, mas não para você, porque você é diferente. (cada um tem coisas a aprender neste exato momento que são diferentes dos demais)
Os jogos de tabuleiro têm sido uma experiência única para mim, meus amigos e familiares. Algo que valeu o seu preço muitas vezes. Essa é outra categoria de legal também.
Preciso ouvir o meu coração
Recentemente eu comprei o Root para brincarmos. Fiquei super animado, porque o jogo é tão bonito, pela assimetria de papeis, e tem tanta gente falando bem dele.
Mas o meu Root agora está a venda depois de poucas jogadas...
Honestamente, eu não devia tê-lo comprado, e sabia disso.
Quando comecei no hobby, eu via os vídeos do pessoal que faz os reviews dos jogos, tanto profissionais quanto amadores. Como alguém que começou no hobby, a conclusão de assistir todos os vídeos é, em geral, que vale a pena comprar todos os jogos que existem, com algumas exceções. Isso não ajuda muito, né? O que não quer dizer que não é verdade.
Dos nacionais, o pessoal que eu mais gosto é o Paulo, Jean e Guilherme do Covil dos Jogos (
Tankbr), cujos vídeos em si são bem divertidos e me fazem sentir bem. Eles têm uma pegada bem inocente, bem de criança no bom sentido, e isso me agrada pessoalmente. Eu poderia assistir os vídeos como quem assiste um programa interessante! Dos internacionais, os meus favoritos são Quinns, Matt (e Paul) do Shut Up and Sit Down, que é quem eu mais vejo no final das contas. Já o Rahdo (outro reviewer de jogos famoso), por exemplo, gosta de jogos diferentes que eu. Nem adianta eu assistir o review dele para saber se o jogo vai ser legal para mim. O Tom Vasel é bem eclético, então mais fica difícil para mim comprar pelas recomendações dele, pois ele gosta de bastante coisa mesmo.
Tem várias coisas que gosto no Shut Up and Sit Down. Eles são muito engraçados (os ingleses são famosos por isso – não é a toa que
Monty Python veio de lá), o sotaque é muito legal, o objetivo deles em fazer reviews é mostrar os jogos que eles realmente recomendam como essenciais para uma coleção (e não só mais um jogo) e, mais importante, é que temos um gosto parecido para jogos. Não gostamos de jogos bem feitos, mecanicamente perfeitos, com alta rejogabilidade e sem fator de sorte. Para nós, isso é tudo secundário, apesar de serem boas coisas nos jogos. Não gostamos muito dos euros, mas isso é só falando em probabilidades. Olha que eu gosto de alguns jogos euro difíceis e complexos, como o
CO2, que adoro.
Um vez vi eles falando algo que me fez muito sentido, sobre os jogos legacy (que são mais ou menos destruídos no processo de jogar) ou jogos de detetive (onde saber a resposta previamente acaba com o jogo) - algumas pessoas dizem que não vale a pena gastar 20 libras num jogo legacy ou de detetive que vai durar só umas 5-10-15 sessões de jogo. Mas essas mesmas pessoas não se importam em gastar 20 libras numa pizza entregue em casa, que é comida numa hora e sua caixa é jogada no lixo! O jogo de detetive você pode vender ou dar para alguém se divertir, depois de você mesmo se divertir muitas noites e construir boas recordações.
Os jogos que mais gostamos
são os que nos fazem sentir bem e que fazem com que a mágica de estar próximos das pessoas que você gosta (ou passa a gostar) venha a tona. Se o jogo é simples, balanceado, de autor famoso, boa produção... tudo é secundário. Tem que ter “a mágica”. Todos os jogos que comprei sob recomendação do Shut Up and Sit Down até agora foram 100% na mosca.
El Dorado, Robo Rally,
Freedom, Captain Sonar,
Treasure Island e outros. Adoramos. Não foram simplesmente boas aquisições. Foram umas 7 dentre as 10 as melhores aquisições que já fiz.
Eu assisti o r
eview do Root, que eles disseram ser um jogo incrível, mas que não diverte quem tem um gosto similar ao deles e, por isso, não poderiam recomendar, apesar da sua qualidade de design excepcional.
Ainda assim, voltando ao início do tópico, acabei comprando porque eu queria acreditar que ia ser um jogo que íamos jogar muito. Mas eu sabia que não. Só que queria acreditar, não queria ouvir. É como se fosse um barulho que afasta o silêncio. Composições musicais possuem momentos de silêncio intencionais. Saber como usá-los é tão difícil quanto compor uma bela melodia.
(Falando de música, acima interlúdio gráfico que combina com a imagem que abriu este post)
O silêncio
Desperta o meu coração.
-Sri Chinmoy
É isso o que chamamos de hype? Talvez seja, mas tem algo a mais do que a hype, tem um defeito em mim mesmo que eu não cuidei de atentar para.
Ou seja, agora vou ter que ter o trabalho de vender o jogo (ainda bem que tem muita gente que o adora - ele vai encontrar um bom lar para divertir, tenho certeza!) para compensar a minha falta de convicção no sentimento que tive. Antes tarde do que nunca!
Na vida, quanto mais cedo reconhecemos os erros, mais fácil fica consertar, e mais cedo teremos novas experiências, que nos ensinarão novas coisas a melhorar.
Tudo na vida é uma questão de velocidade.
O quão rápido você quer seguir em frente.
Mesmo numa direção diferente dos outros.
Seja interior ou exterior.
E é lindo.
Mesmo.
Gratidão!
O silêncio
Desperta o meu coração.
-Sri Chinmoy
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PS: Se tiverem comentários, ideias sobre o que escrever, se gostaram ou desgostaram particularmente de algo que escrevi ou de que parte do texto (sobre o jogo em si ou sobre a abordagem secundária do tema), serei grato pelo feedback nos comentários, para eu saber um pouco mais como posso servir melhor.
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Com gratidão,
por Patanga Cordeiro