Acompanhem nosso primeiro conto e deixem-se adentrar em uma nova percepção sobre barulhos, coragem e CLANK!
Pulp BG #01 - CLANK! CLANK! E o barulho que vinha de dentro
Capítulo 1 - Quem sou eu?
Não me recordo muito bem de como entrei nessa nefasta caverna. Estive tentando refazer meus passos, reconstruir minhas ideias, mas tudo é nebuloso. Quem teria me colocado aqui? Ou eu teria participado dessa loucura voluntariamente? As perguntas ecoavam em minha mente junto dos barulhos naturais e mórbidos de uma caverna como essa.
Sem nenhuma fonte de luz próxima, ando devagar, tateando cada parede da caverna. Não existem duas pedras iguais por aqui, mas todos foram recortados por um acaso vil, tornando-as pontudas. Meus dedos vão me guiando, enquanto são machucados. Sinto o sangue quente escorrendo por minha mão. De repente percebo um padrão! - Estarei eu em uma masmorra? - Disse em voz alta para tentar clarificar minha mente, eis que veio o primeiro barulho assustador - CLANK!
Meu coração disparou, me encolhi em uma posição de defesa fetal. Ao tatear o solo sinto um objeto estranho. Com calma estico minha mão e percebo que se trata de uma tocha. Pouco me adianta, sem fonte de fogo para acendê-la serei tão inútil quanto antes. Continuando o reconhecimento do solo com minhas mãos sinto algo, vou modelando o objeto e entendo ser uma bolsa. Tento puxá-la, mas ela está presa em algo. Eu forço, escuto um barulho de galhos quebrando e consigo trazê-la para mim.
Como não havia percebido essa bolsa? Novamente, coloco meus olhos nas pontas de meus dedos e começo a procurar algo que seja relevante. Consigo sentir uma picareta, uma espada e algo diferente. Pego, manuseio, o escuro é uma desgraça para quem não se lembra de nada. Me parece um caderno, um diário talvez. Um belo achado para um momento tão inoportuno. Continuo caminhando, com medo, me sentindo sufocado neste ambiente. Vejo um lampejo de esperança aparecer em forma de luz - Pela umidade que tenho enfrentado, devo estar muitos metros abaixo do solo, o que me faz acreditar que encontrei uma tocha acesa.
Meus passos se apressam um pouco, os dedos continuam sendo rasgados em suas pontas pelas pedras, uma leve curva e me deparo com um monstro adormecido, sentado no chão da caverna. Fico assustado, mas em silêncio me aproximo. Percebo se tratar de um Troll. Me esgueiro lentamente, como o último suspiro de um moribundo, com meu braço esticado ao máximo e, alcanço a tocha sem acordar a furiosa besta. Agora, com luz, tento retornar pelo caminho que segui, utilizando os dedos para apontar qualquer semelhança nas pedras. Com o coração disparado o infernal barulho retornou - CLANK!
Como soava alto, como um ressoar de metal. Seriam botas? Espadas? Armas de outro Troll? O barulho me agonizava porque parecia estar sempre ao meu lado. Em desespero sigo andando, virando, tentando mapear o local agora porcamente iluminado. Não consigo dizer aonde cheguei, mas é uma sala, recortada na caverna.
Eu entro na sala, faço uma checagem silenciosa e não encontro nenhum obstáculo. Sento-me cansado em um canto e aproveito a luz da tocha para ver o que havia encontrado anteriormente e sim, se tratava de um diário. Na capa uma inscrição me fez temer sua abertura: Meu nome é Arthur D. Leng, conhecido como célebre aventureiro e, caso esteja em posse de meu diário saiba que estou morto!
Capítulo 2 - Eu sou Arthur
Uma primeira leitura no diário e já entendo, assimilo. Cada escrito soa como uma nota em uma grande música, eu reconheço todos. Eu sou Arthur D. Leng e esse diário me pertence. Desejando por respostas e temendo pela própria vida eu iniciei a leitura.
"Sou um dos aventureiros mais famosos do reino. Denominado ladrão por alguns, me vejo com toda a pompa de um rei. Rei, que por sinal mandou me chamar para participar dessa expedição excruciante"
Sim, sim, eu me lembro! Fui convocado pelo Rei em conjunto com outros companheiros menores (rebeldes, exploradores e ladrões baratos pelo que recordo) para tentar recuperar um conjunto de artefatos magníficos nessa caverna maldita! A expedição era apoiada também por um Duque, um desses homens repletos de terras e influência, mas sem minha vivência.
As memórias apenas surgiam quando eu lia e absorvia as palavras do diário. Era como ler algo que eu já sabia - as palavras se completavam em minha mente. Prossegui a leitura, mas: CLANK! Novamente o aterrorizante barulho! Cada vez mais próximo se fosse possível tal situação. Acreditava que em algum momento esse barulho estaria dentro de mim, tamanha proximidade eu sentia a cada soar. Mesmo assustado e desorientado, segui.
"Passando a noite na taverna local conheci uma boa mulher. Beatrice era seu nome. Conversamos em profusão de ideias. Em tantas aventuras que estive sempre senti falta de um lar, algo que acalantasse meu coração nos retornos triunfantes"
Beatrice! Me lembrei claramente de seu rosto, de seu olor. Ficamos enamorados nos dias que passei na taverna. Compartilhei com ela todos os meus sonhos, minhas aventuras e meus desejos de uma vida diferente. Ela também sentiu empatia por tudo que eu pensava. Lembro-me de trabalhar arduamente em um plano, para propor Beatrice em casamento. Seria o desfecho perfeito para minha vida aventureira: recuperar os artefatos, receber uma grande recompensa e juntamente dela construir um novo rumo.
"Na manhã derradeira o ignóbil rei adentrou a nosso acampamento, montado para nos prepararmos para a expedição, descrevendo um último e relevante detalhe: a caverna era amaldiçoada por monstros e, possuía um dragão como guardião"
Ah, eu me recordo desse sentimento! Maldito rei! Nos fez inúmeras promessas de fortuna, nos colocou em prontidão e no momento derradeiro confessou tão vil informação! Como desejei esgoelá-lo ali, naquele instante! Por qual razão eu não desisti dessa aventura minha Beatrice? Por que não retornei para você e fugimos juntos? Por que... CLANK! CLANK!
O maldito barulho! Essa caverna amaldiçoada! O que aconteceu aqui? Eu anseio pelo abraço de Beatrice! Eu preciso sair desse inferno escuro! Mas, as páginas seguintes do diário são escritas de forma pesada, a escrita é bastante marcada no papel. Eu começo a olhar e meus olhos imediatamente gotejam ao ler a palavra morte!
Capítulo 3 - Uma morte, um arrogante e um acordo do submundo
A leitura do diário perdeu a conotação de esperança, de reminiscência e ganhou tons cinzas, assustadores. Era tudo tão intenso naquele instante.
"Maldito dia que entrei nessa caverna! Eu e meu grupo matamos uma horda de Goblins! Depois acabamos nos separando em uma caverna de cristal! Oh Beatrice, sua morte me fez prosseguir nessa amaldiçoada jornada"
Eu não conseguia acreditar - minha doce Beatrice morta! Por isso não desisti da missão quando fomos visitados pelo rei com suas notícias negras! Oh minha querida, como teria morrido? Que alma tão vil seria capaz de ter feito isso? E agora eu, continuo aqui nessa caverna, perdido, desesperado e sabendo que não terei seu amor quando conseguir escapar! Não havia saída, era preciso terminar o diário para tentar entender o que ocorreu e sair desse mundo obscuro!
"Eu irei odiar o rei, todo o reino que seja, pela eternidade! Malditos! Sabiam do que essa caverna era capaz e não nos contaram! Eu, Arthur D. Leng o maior aventureiro desse maldito reino! Mas não perecerei aqui! É preciso vingar-me! Eu irei acabar com todos aqueles que me fizeram passar por isso! Degolarei o rei e me proclamarei o soberano dessas terras!"
Não me recordo de sentir tanto ódio, de desesperadamente ansiar por uma vingança. Mas a morte de Beatrice não pode ser esquecida! Sim, o ódio será o combustível que me retirará desse lugar! Das profundezas dessa caverna eu sairei para o derradeiro ato de vingança! A ira se espalhava, quando o odioso som retorna: CLANK! Esse barulho maldito está passando de assustador para irritante! Eu preciso prosseguir o diário e encontrar mais respostas, quem sabe exista um mapa nessas páginas.
"Já não me recordo há quantos dias estou aqui. Minhas provisões acabaram. Minha esperança tem diminuído constantemente. Sem contar o medo, o desespero constante! A todo instante preciso me esconder de Ogros, monstros horrendos. Sem contar o maldito dragão que chamusca as paredes com suas labaredas. Qualquer barulho e ele cospe seu fogo mortal! Eu estou desistindo"
Eu me lembro desse sentimento. Ainda agora sinto-o forte, intenso. Esse desespero, esses monstros, toda essa situação! O que teria acontecido comigo? Como estou aqui, ainda vivo? Quantos dias já se passaram? Tantas perguntas que exigiam a leitura continuada do diário.
"Oh Beatrice! Por que me negou o sagrado matrimônio? Custava-lhe tanto dar-me amor? Que ódio senti quando me disse não. Mas, o verdadeiro ódio sinto da minha própria existência. O seu não mereceu uma resposta. Eu não desejava matá-la, mas negar-me foi como um ataque a ser defendido! Seu sangue quente jorrando..."
Não posso acreditar! Eu matei Beatrice! Mas e o sentimento de amor? De vida sublime? Maldito ódio! Beatrice não quis meu amor, sim eu consigo rememorar. Ela disse não, me insultou, zombou de meus sonhos. Ela mereceu morrer! Maldita mil vezes! Ela me colocou aqui, fez com que o destino corrompesse meu caminho!
Tudo é tão borrado, uma névoa encobre os pensamentos. Não consigo decifrar meus sentimentos. Não quero ler mais esse maldito livro! Mas ele pode ser a chave para escapar. É preciso ler, é preciso encontrar as respostas!
Mas antes do recomeço da leitura, eu fui assombrado novamente: CLANK! CLANK! O barulho outrora aterrorizante agora me irritava! Sentia a raiva crescente me devorando e, precisava encontrá-lo, enfrentar esse terrível monstro! Calar tal criatura faria recobrar meus ânimos, minha racionalidade. Mas com o diário em mãos, prossegui em sua leitura.
"Mesmo me escondendo dos monstros estou definhando. Estou morrendo por dentro. Eu não posso permitir isso, eu preciso cumprir minha vingança. [...] Um monstro repleto de olhos me observando nas sombras. Percebi sua presença, mas ele apenas me segue! O que quer? Devorar minha surrada carne? Ele se aproxima, ele se aproxima...
um acordo do submundo oferecido"
Depois de algumas páginas em branco o diário termina com essa simples frase: um acordo do submundo oferecido. Mas não entendo! Preciso de mais, minha memória insiste em falhar! Quais horrores me esperam se permaneço aqui desamparado?
CLANK! CLANK! Chega! Esse monstro padecerá agora! Não aguentarei mais esse barulho horrendo em minha cabeça!
Como um lobo caçando uma lebre ferida eu segui pela caverna. Em determinado me recordo de inclusive largar a tocha. Era como seu eu fosse guiado pelo som, sabia aonde ir. Minha raiva alimentava meu coração! CLANK - o barulho está próximo, uma parede nos separa, eu preparo meu ataque!
Capítulo Final - CLANK! CLANK!
Adentrei à primeira passagem possível e vi de relance uma tocha longínqua. Lá estava esse maldito monstro! Percebi que estava em uma sala relativamente brilhante, quase me recordei de algo. Eu segui pelo canto da sala, andando próximo às sombras! Comecei a imaginar o gosto da vitória em derrotar essa monstruosidade!
Mas, minha espada! Não a retirei da bolsa! Eu não saberia retornar, eu não saberia o que fazer. Matarei o monstro com minhas mãos!
Corro desesperadamente, ao me aproximar percebo três vultos na penumbra. Uma única tocha entre eles. Eu apenas grito: - Monstros morram! - Em sequencia me imagino dominando eles, deixando-os paralisados com meu ataque!
Mato os três com minhas próprias mãos! O som acabou! Não há mais CLANK para me assombrar! Eu pego a tocha que fora jogada e me aproximo para ver as três horríveis criatura, quando grito assustadoramente - eram três pessoas comuns. Aventureiros ou ladrões buscando fama. Eu os matei sem qualquer piedade. O sangue ainda quente em minhas mãos me deixa confuso.
Com a tocha em mãos ilumino a nova sala. Percebo que existe um relicário ao lado, repleto de água cristalina. Eu me aproximo, olho, buscando meu reflexo, e diabos...
Como um soco em minha mente minhas memórias retornam.
Eu matei Beatrice, com uma ira avassaladora. Ela não tinha o direito de negar-me como esposo. Eu desejava vingar-me de todos que me colocaram aqui. Desejava tanto que foi me dada a oportunidade. O monstro cheio de olhos me levou até o dragão. Ela se chama Nictotraxian. Ela me oferece seu sangue de dragão para me auxiliar em minha vingança. Eu aceitei, eu bebi e eu fui amaldiçoado.
Me fiz em um verdadeiro Mestre das Trevas. Buscando os sinais de qualquer pessoa que adentre à caverna para matá-la. Os barulhos me guiam, me fazem chegar até eles. Da minha expedição original ainda consegui matar um arqueólogo e um clérigo. As relíquias não sairão dessa caverna.
Mas, minha vingança nunca será completa. A maldição da rainha dragão me prende aqui, me faz reviver todos os meus fantasmas, todos os dias. Me fez em seu carniceiro.
Eu arrebentei a bolsa do meu próprio esqueleto morto, por isso o barulho de galhos quebrando. Eu sempre tento esquecer quem sou agora, o que me tornei. Eu preciso sair, eu preciso...
CLANK! CLANK!
Eu sou Arthur D. Leng, sou um Mestre das Trevas e acho que temos novidades no cardápio.
-.-
É isso aí meus amigos! Aqui encerramos nosso primeiro conto alucinante! Já imaginavam essa reviravolta? Sentiram compaixão do pobre Arthur? Não se preocupem, ele tentará devorá-los a cada jogatina de
Clank!: Um Deck Building de Aventura.
O que acharam de nosso conto? Deixem nos comentários as suas opiniões.
Gostaria também de receber indicações do próximo jogo a receber uma autêntica narração Pulp BG.
Saudações terráqueos XxX