Ceylon se passa no século XIX na colônia britânica que hoje é o atual Sri-Lanka, onde os jogadores se tornam empreendedores no mercado de chá, disputando o território para cultivar suas plantações e abastecer as companhias que exportam o produto.
Antes de mais nada, vale esclarecer que a análise do jogo é baseada em cima do que ele se propõe. Ceylon é um euro de leve pra médio (Peso 2.5 na bgg), com duração de aproximadamente 60 minutos. Lançado em Essen neste ano em uma categoria de jogo que concentrou toda sua hype no fraco The River, Ceylon acabou não tendo os holofotes que merecia (na minha opinião)
O Tabuleiro traz a região do Ceilão dividida em 4 regiões, cada uma representada por um conselheiro. Cada região ainda possui 3 níveis de altitudes, representadas por tiles sobrepostos. Quanto maior a altitude, melhor a qualidade do chá cultivado. Assim temos plantações de chá preto no nível mais baixo, chá verde no intermediário e branco no nível superior.
Os jogadores ainda tem seu board individual onde começam com 8 tokens de plantação, 15 rúpias, um chá preto e 3 cartas de ação
Os turnos se dividem em duas fases absurdamente simples:
1 - Jogar uma carta e escolher uma das duas ações principais ou uma das duas secundárias
2 - Comprar uma carta
Apesar da simplicidade, a graça do jogo está justamente aqui, no método da seleção de ações que traz conceitos parecidos com o que vemos em Puerto Rico e Rising sun, porém com uma interessante diferença que acaba gerando boas escolhas dentro de uma partida.
Cada carta conforme dito anteriormente, possui duas ações principais e duas secundárias, ao escolher a ação que deseja realizar o jogador a executa, porém disponibiliza para o restante da mesa a ação que ele não utilizou da carta jogada, ou as duas ações secundárias.
Caso o jogador que baixou a carta possua um token de tecnologia, ele pode executar mais de uma ação da carta (ou as duas principais ou uma principal e uma secundária), mas ainda assim indica ao restante da mesa qual a ação que fica disponível para os outros jogadores.
As ações principais são:
Plantar - Você paga 5 rúpias para colocar um token seu de plantação no local onde seu meeple se encontra. Ao final do jogo haverá uma pontuação de controle de área por região. Onde do primeiro para o quarto jogador pontua-se 10 / 6 / 3 / 1. Porém não basta ter maioria dos tokens em cada distrito, o gatilho para ter direito a pontuação em determinada região no final do jogo, é contratar o seu respectivo conselheiro (ação que falo mais adiante). (O primeiro a plantar nas 4 regiões ganha também uma pontuação extra, que diminui pro segundo e assim sucessivamente também na proporção de 10/6/3/1)
Contratar Conselheiro - Paga 5 rúpias para contratar o conselheiro de determinada região. Além dessa ação disponibilizar o score de controle de área daquela determinada região, também disponibiliza a habilidade especial do conselheiro (definida em setup randômico)
Colher - Colhe o chá (a cor varia de acordo com o nível) do tile onde seu meeple está e de TODOS os espaços adjacentes. Se a plantação for de outro jogador esse recebe 1 ponto por cada tile de plantação dele que você tenha utilizado.
Trade - Basicamente é o cumprimento de contratos disponíveis. No entanto aqui também há um sistema interessante, diferente da maioria dos jogos onde o cumprir o maior número de contratos geralmente torna a pontuação mais eficiente, nesse caso funciona um pouco diferente. Primeiro que ao cumprir o contrato você deve escolher a bonificação dele: rúpias ou pontos de vitórias, e nem sempre é uma escolha óbvia, a economia no jogo é bem apertada, e para uma estratégia a longo prazo rúpias são fundamentais, outro ponto que são 5 companhias e a bonificação final dos contratos se dá pelo set collection das companhias atendidas e não pelo número de contratos cumpridos. ALém disso para cumprir contratos de companhias diferentes, você precisa abrir espaço no player board que iniciam o jogo travados pelos seus tokens de plantação.
Avanço de tecnologia: Avançar tecnologia também custa 5 rupias e gera 1 rupia aos outros jogadores. Ao executar essa ação você avança numa trilha que gera pontuação no score final e que serve como critério de desempate (parecido com a trilha de honra de rising sun) no jogo. Além disso, sempre que avançar tecnologia, o jogador pega um token que permite que ele execute além da ação escolhida na carta, uma outra ação qualquer que não seja avanço de tecnologia. Podendo acumular quantos tokens quiser, porém utilizar um por vez.
As ações secundárias são
MOVER, permitindo mover seu meeple pelo tabuleiro, e
GANHAR 2 RÚPIAS, desafogo econômico que várias vezes será necessário utilizar, seja através das suas ações ou se aproveitando da jogada de alguém.
O Jogo termina quando alguém consegue plantar seu ultimo token ou quando as cartas se esgotam e então dá-se o round final, então contam-se pontos na proporção de 10/6/3/1 para quem tem mais dinheiro, esta mais avançado na trilha de tecnologia e no controle de área através das plantações de Cada distrito. Após se faz a pontuação pelo set collection de contratos de companhias diferentes atendidos e subtrai pontos por tokens de plantação não utilizados.
Considerações:
Ceylon não é algo extremamente inovador e revolucionário, mas pelo que pude observar dos lançamentos de essen, me pareceu a melhor novidade na categoria dos euros leves/médios. Rápido sem ser raso, o jogo é recheado de boas escolhas que precisam ser feitas no timing certo. Principalmente sabendo que dentro das suas escolhas haverá também a decisão de quais ações fornecerá aos seus adversários.
O gerenciamento do tempo correto dessas decisões é onde Ceylon se torna interessante. O sistema ajuda no baixo downtime do jogo, já que em absolutamente todo turno todo mundo joga. O dinamismo da partida é excelente, tendo como único ponto negativo uma certa facilidade de gerar confusão nos jogadores em saber de quem é a vez de jogar a carta já que estão todos executando ações o tempo todo.
O Sistema de pontuação também é algo que me chamou atenção. É inegável que no jogo há um caráter de corrida, e o fim da partida depende em parte dos jogadores, já que um dos gatilhos para isso é a plantação do seu oitavo campo. No entanto, o jogo te força a distribuir bem essas plantações e se mover no tabuleiro faz parte do gerenciamento de suas escolhas, ao mesmo tempo que se posicionar bem para efetuar a ação de colheita é importante para ser mais eficiente no cumprimento dos contratos. Sem contar que para ter a pontuação de controle de área no final você ainda precisa ter contratado os conselheiros de cada região. Ou seja, rushar nas poucas plantações disponíveis jamais será uma estratégia vencedora e isso eu acho bem legal num jogo de controle de área.

Por outro lado o gatilho de fim de jogo com a exaustão das cartas também força você a não desperdiçar ações. Investir em tecnologia no inicio para no final combar com ações mais poderosas? Sair fazendo uma rodada inicial de contratação de conselheiros, adiquirindo suas habilidades e depois tentar espalhar suas plantações garantindo a maioria de cada região? Cumprir contratos para avançar aos poucos na trilha de vitoria ou se encher de rúpias para não passar sufoco?
O jogo tem também seus problemas, jogá-lo com 3 jogadores é uma experiência excelente, no entanto a entrada do quarto jogador pode tornar o gerenciamento de mão das cartas de ações um pouco apertado demais e as vezes frustrante (as tecnologias passam a ter papel fundamental), já com dois jogadores o tabuleiro fica um pouco grande demais, mesmo eliminando um dos dois maiores distritos da partida. Não chega a comprometer a diversão do jogo, mas definitivamente a experiência não é tão agradável quanto com 3 jogadores.
Em tempos onde vemos recorrentes reclamações da “commoditização” dos jogos, Ceylon ainda tem aquele saborzinho no fim de algo diferente apesar de não ser incrivelmente inovador. A produção e arte caprichadas, proporcionam o prazer visual de uma mesa colorida e bonita.
Muita interação sem tanto confronto, Ceylon é uma opção bastante divertida, fácil de ensinar e de rodar com jogadores mais novos sem deixar de ser desafiador e interessante com jogadores mais experientes. Até que tomar um chazinho pode ser bacana.