por Fernando A. Celso Jr. - PUBLICADO EM http://onboardbgg.com/2015/05/08/sobre-a-mesa-cyclades/

Cyclades (nome dado a um grupo de ilhas gregas no sul do mar Egeu) é um jogo tematizado na Grécia Mitológica. Foi lançado em 2009 pela Matagot e tem como designers Bruno Cathala (Shadows Over Camelot, Five Tribes, Abyss) e Ludovic Maublanc (Ca$h ‘n Guns, Dice Town) e coroado com a arte espetacular de Miguel Coimbra (7 Wonders,Small World).
Em Cyclades, o jogador que primeiro possuir duas metrópoles em seus territórios ao final de um ciclo (rodada) vence o jogo. Para obter uma metrópole, ele tem três caminhos possíveis: através do Desenvolvimento Econômico (construindo uma metrópole a partir de quatro edifícios diferentes), Desenvolvimento Intelectual (trocando quatro cartas de filósofos por uma metrópole) ou ainda conquistando uma de outro jogador.
Para isso, os jogadores usarão suas tropas e frotas e disputarão os favores dos Deuses (Zeus, Poseidon, Ares, Atena e Apolo) além de poder usufruir do auxílio de diversas e poderosas criaturas mitológicas (Pégaso, Minotauro, Medusa, Ciclope etc.)
O belo tabuleiro, uma visão do Olimpo (Foto On Board)
Mecânicas
– Controle de área
– Movimento de área
– Leilão/Licitação
– Rolagem de dados
– Seleção de cartas
Uma partida de Cyclades é composta por ciclos, os quais são divididos em seis fases:
1 – Criaturas Mitológicas
Essa fase serve para atualizar a trilha das Criaturas Mitológicas para que três delas fiquem visíveis, uma em cada um dos três possíveis espaços. A quantidade de moedas de ouro (Gold Pieces, GP) desenhadas por debaixo de cada espaço (4 GP, 3 GP e 2 GP) representa o preço que deve ser pago pela utilização de uma determinada Criatura durante a fase de ação.
Nesta atualização, caso a Criatura que ocupa o espaço de 4 GP não tenha sido usada, ela se move em um espaço para a direita e posiciona-se uma nova Criatura retirada do baralho nesse espaço que acabou de ser liberado. Isso é feito com as demais criaturas, sempre as movendo para a direita, sendo que a última, aquela que ocupava o espaço 2GP, irá para o descarte, conforme ilustra a figura ao lado, esqueçam, contudo, os números no desenho.
2 – Os Deuses
Aqui os deuses serão sorteados e colocados na trilha de oferendas e a ordem em que eles aparecem (de baixo para cima) é muito importante, pois serve não só para determinar a sequência de jogo naquele ciclo (quem ofertou ao deus de cima joga primeiro), mas também para definir a ordem das ofertas do próximo (aquele que joga por último neste ciclo, será o primeiro a fazer uma oferta no próximo).
Em partidas com menos de cinco jogadores, nem todos os deuses estarão disponíveis, portanto, no momento do sorteio, dependendo da quantidade de jogadores, alguns deuses ficarão ocultos naquele ciclo, retornando para o próximo. Basicamente deverá existir um deus disponível (incluindo Apolo) para cada jogador por ciclo.
Os deuses. Você precisará de cada um deles… Talvez até de Apolo!
3 – Receitas
Cada jogador recolhe a quantidade de moedas de ouro de acordo com o número de marcadores de prosperidade (cornucópias), uma para cada marcador, presente nas ilhas e nas rotas de comércio marítimo que controla. Estes marcadores de prosperidade estão presentes já impressos em várias ilhas e também podem existir marcadores extras posicionados graças a Apolo, assim como em alguns espaços marítimos impressos nas setas, representando o fato de algum barco ocupando este espaço estar comercializando com outras nações. As moedas de ouro ganhas pelo jogador ficam escondidas atrás de seus escudos.
4 – Oferendas
Para poder usufruir do apoio dos deuses e com isso executar as ações que cada um proporciona, os jogadores terão de gastar suas moedas de ouro. Então um por vez, na ordem já estabelecida, cada jogador oferta uma quantidade de moedas a um deus a sua escolha e coloca seu marcador de oferenda no espaço correspondente à quantidade de moedas que irá fazer a oferenda a essa divindade. Não há um máximo a ser ofertado, porém não poderão haver blefes. E acredite, a ira divina será terrível para aqueles que ousarem a desafiar a vontade dos deuses!
Porém, um deus concede o seu favor apenas a um jogador por ciclo, com exceção do Apolo, ou seja, aquele que pagou a maior oferenda. Caso um jogador faça uma oferenda a um deus que já foi escolhido, essa oferenda tem de ser maior que a oferenda que já foi realizada pelo jogador anterior. Dessa forma, o jogador que teve sua oferenda ultrapassada deve, de imediato, licitar a um deus diferente. E assim sucessivamente, até que todos os deuses tenham sido escolhidos por apenas um jogador.
Vale dizer que o deus Apolo é fixo no tabuleiro, portanto, sempre presente, e quem o escolhe, muitas vezes por não ter opção, praticamente passa a vez naquele ciclo.

5 – Realizar Ações
Enfim, na fase de ação, os jogadores irão usufruir dos poderes dos deuses ofertados e podem também pagar pelo uso das Criaturas Mitológicas. O jogador que ganhou a oferenda para o primeiro deus pode realizar as ações específicas dele e pagar o custo para usar quantas criaturas mitológicas quiser das que estiverem disponíveis naquele momento. As ações possíveis nesse turno são:
Chamar uma ou mais Criaturas Mitológicas: aqui pode-se comprar o benefício de criaturas mitológicas durante esse ciclo. As criaturas com miniaturas tem sua duração até o início da sua fase de ação do próximo ciclo, quando terão suas peças removidas do tabuleiro, com exceção do Kraken, e suas cartas serão descartadas.

Recrutar: Os deuses permitem aos jogadores recrutar, dependendo da sua especialidade, uma Tropa (Ares), uma Frota (Poseidon), um Sacerdote (Zeus) ou um Filósofo (Atena) sem custos, mas é possível também, obter mais, pagando o custo em moedas de ouro. As tropas e frotas são utilizadas para combates e, especificamente, as frotas transportam as tropas de uma ilha a outra através de uma ligação entre os espaços, de modo bem simples. Cada sacerdote que o jogador possuir concede o desconto de 1 GP para o pagamento das oferendas e, finalmente, com quatro filósofos, pode-se construir uma metrópole!
Construir: Cada tipo de edifício está associado a um deus, cada um com efeitos diferentes. Durante essa fase, um jogador pode construir o mesmo tipo de edifício várias vezes, incluindo na mesma ilha, desde que possa pagar o custo de 2 GP por prédio. Assim que um jogador possuir quatro edifícios diferentes, independentemente da sua localização em uma ou mais ilhas, automaticamente ele constrói uma Metrópole.
Ações Especiais: Alguns deuses permitem aos jogadores executarem ações especiais. Um jogador pode realizar essas ações várias vezes, desde que tenha as moedas de ouro para custeá-las. Com Poseidon, o jogador pode mover suas frotas, já o jogador que ofertou a Ares, pode mover algumas ou todas as Tropas em uma ilha para outra ilha conectada através de uma cadeia de frotas da sua cor, e aquele que escolheu Zeus pode descartar uma carta de criatura disponível e substituí-la pela primeira carta do baralho de criaturas.
Aumentar Receitas: Os jogadores que selecionaram Apolo têm uma escolha muito limitada de ações. Escolher Apolo é uma forma de pular o turno para poupar dinheiro. O jogador que o escolheu recebe 1 GP se possuir mais do que uma ilha ou 4 GP se possuir uma única ilha. Além disso, caso ele tenha sido o primeiro a escolher o deus da luz, receberá um marcador de prosperidade que deverá colocar imediatamente em uma ilha de sua escolha.
6 – Fim do Ciclo
Quando todos os jogadores tiverem jogado e colocado seus marcadores de oferendas no trilho da ordem de turno, o ciclo termina. Se um ou mais jogadores possuírem duas Metrópoles, o jogo termina. Caso contrário, começa um novo ciclo. Se houver empate, aquele que tiver maior quantidade de Metrópoles vence, se mesmo assim o empate persistir, o jogador que tiver mais moedas de ouro será o vencedor.
O sistema de combate de Cyclades é muito simples. Quando ocorre a invasão de um espaço, ilha ou mar, onde existam tropas ou frotas de um jogador, por tropas ou frotas de outro, inicia-se um combate.
Então, atacante e defensor efetuam o lançamento de um dado de 6 lados. Soma-se o valor do resultado desse dado com a soma numérica da quantidade de suas tropas ou frotas no conflito. O lado que atingir um montante (resultado do dado + número de peças) maior, vence aquela rodada de combate e o perdedor deverá retirar uma peça. Isso se repete até que não sobre mais peças, ou qualquer um dos lados decida recuar. Um empate resulta na perda de peças de ambos os lados. Os edifícios Porto e Fortaleza, obtidos através de Poseidon e de Ares, respectivamente, proporcionam um bônus adicional de +1. O Porto fornece o bônus para batalhas marítimas ao redor de sua ilha e a fortaleza concede o bônus para batalhas dentro da ilha para o jogador, dono do edifício.
Considerações Finais
Cyclades é um jogo de controle de área, não de combate. A administração correta das suas moedas de ouro é essencial sendo uma característica muito forte do jogo. Saber como e quando gastar seu dinheiro faz toda diferença. Algumas vezes é necessário inclusive, ofertar a um deus ou comprar uma criatura que você não quer no momento para não deixar o outro jogador fazê-lo e ter uma vantagem, ou mesmo impedi-lo de ganhar naquele ciclo. É comum também tentar inflacionar as apostas, forçando um determinado jogador a pagar mais caro pelo Deus que tanto quer. Por isso, é muito bom os jogadores terem outras estratégias em mente, principalmente porque a situação do jogo muda muito de um ciclo para o outro, refletindo o dinamismo deste board game.

Outra característica dele é que todos os jogadores têm de ficar atentos às ações e estratégias dos demais, pois um deslize, uma atualização de criaturas, pode fazer o jogo ser decidido repentinamente. Todos os deuses são úteis e importantes e alguns jogadores cometem o erro de subestimar algum deles. Dois bons exemplos que já presenciei disso são: Zeus com sua ação especial de descartar e colocar uma nova criatura mitológica para compra, o que pode ser um erro fatal, já que criaturas como Pégaso e Quimera podem decidir quem será vitorioso, e Atena, pois se você ofertar dois turnos seguidos com ela, poderá ter 4 filósofos e consequentemente, uma Metrópole.
Cyclades sem dúvida alguma é um ótimo jogo, diria até que essencial para uma boa coleção, e que está no meu Top 10 de melhores jogos há alguns anos.
NOTA DO EDITOR: Confira as dicas de trilha sonora para Cyclades no podcast Meeple Maniacs 004 com Jack Explicador.
Pontos Positivos
– Componentes belíssimos e arte fantástica
– Muito dinâmico e estratégico
– Total interação entre os jogadores
– Imersivo e temático
Pontos Negativos
– Jogadores que conheçam bem as características dos deuses e das criaturas levarão uma boa vantagem sobre os demais