Yokohama é um jogo lançado em 2016 pela OKAZU Brand que, em 2017, ganhou uma nova versão bastante elogiada e aguardada pela Tasty Minstrel Games. A campanha de financiamento dessa versão ultrapassou os 430 mil dólares arrecadados e trouxe um upgrade para o jogo na versão que conhecemos como Deluxified Edition, que é maravilhosa.
O tabuleiro modular no setup para uma partida de Yokohama. Imagem: Geeks Under Grace.
O preço tava meio alto, mas ainda assim
Yokohama chegou ao Brasil esgotando as vendas. O motivo? O próprio jogo e a repercussão que ele criou antes mesmo de seu lançamento, o que a chama de
hype. O designer não é dos mais conhecidos, a produção era cara e com viés de jogo de luxo e, ainda assim, a
Kronos Games apostou alto e decidiu participar da importação do jogo e distribuição para os jogadores brasileiros. Tanto as cópias de varejo quanto a edição de luxo esgotaram.
Talvez muito disso se deva à produção da
Tasty Minstrel Games que nunca deixa a desejar. O designer do jogo,
Hisashi Hayashi, já havia trabalhado antes com bem pouca coisa de renome (
Trains talvez seja o mais conhecido deles), mas colocou seu novo jogo em várias das listas de melhores de 2017. No
BoardGameGeek, por exemplo, o jogo já está quase entre os 100 primeiros do ranking geral do site. Tudo isso credencia
Yokohama como um grande jogo que você deveria conhecer.
"MERCADORES" DE YOKOHAMA
A cidade de
Yokohama, no Japão, é uma importante cidade portuária. Mas, muito antes da explosão cultural do país, ela não passava de uma pequena vila de pescadores. No entanto, após o fim do embargo causado pela marinha americana, a cidade foi escolhida para receber investimentos do governo e se tornar o pólo de entrada ao comércio do país com os países estrangeiros. Apesar de ser uma pequena vila, logo
Yokohama se tornaria a "capital cultural" do Japão. Isso também aumentou a geração de empregos e o crescimento tecnológico da cidade.
No jogo, fazemos parte dessa revolução cultural, tecnológica e comercial na cidade japonesa e vamos investir nossos esforços em empregar cidadãos, construir lojas e ajudar na evolução tecnológica, assim como comprar e vender mercadorias em troca de contratos de exportação e ainda influenciar no crescimento da igreja. A sequência de jogo é bem simples: na sua vez, o jogador pode colocar assistentes no tabuleiro, sendo dois no mesmo espaço/região/
tile ou três em espaços distintos, então mover seu "prefeito" — o nome dado a nossa peça principal (um nome bem errado, uma vez que a gente tá mais pra empresários do que pra prefeitos) — , caso ele já esteja no tabuleiro, caso contrário ele pode colocá-lo em qualquer espaço, obedecendo a mesma regra de movimento, através de casas com seus assistentes que estejam adjacentes. Ou ainda, ele pode remover seu prefeito do tabuleiro.
Caixa maravilhosa da edição Deluxified da TMG, a mesma que a Kronos trouxe para o Brasil.
Ao final dessas etapas, ele pode realizar a ação do espaço onde parou, caso esteja movimentando o prefeito. Essa ação pode ou não gerar um bônus, como comentei acima. Ele ainda pode construir neste espaço, caso faça a ação com força 4 ou 5. No final da rodada, ele remove seus assistentes que estão no mesmo espaço que seu prefeito. Antes ou depois dessas fases de sua ação, o jogador ainda poderia utilizar uma ação extra, conforme algumas regras de aquisição dessa ação, que não vou entrar em detalhes no texto.
Para poder realizar algumas das ações como pegar recursos básicos com maior eficiência nós precisamos combinar as habilidades do nosso "prefeito" com seus assistentes, mas também com os prédios construídos. Cada vez que eu visito um desses locais com um prédio e um assistente, por exemplo, eu posso pegar não apenas 1 recurso, mas 2 ou 3. Se conseguir utilizar uma força de trabalho de 4 ou 5, ainda posso construir naquela região um posto comercial ou uma loja. Se o fizer com a força máxima, que é de 5 peças (meu prefeito, dois assistente e dois prédios construídos naquela região, por exemplo), eu posso ainda ganhar um bônus. Ou seja, todo o meu planejamento de movimento depende de onde quero chegar, com que força posso fazer uma determinada ação e se eu precisarei espalhar mais ou menos meus assistentes pelo tabuleiro.
Os contratos disponíveis nas docas e no porto da cidade. Imagem: Geeks Under Grace.
ISTANBUL DO JAPÃO?
Antes de mais nada quero começar falando que é injusta a comparação do jogo com
Istanbul. Gosto muito do jogo do
Rüdiger Dorn, mas se você analisar apenas um conjunto de mecânicas através de uma lista, você vai realmente achar os jogos idênticos. Movimento ponto-a-ponto, tabuleiro modular, pegar e entregar, colecionar componentes… Parece mesmo que se tratam de jogos parecidos, mas não são.
As cartas do jogo. Imagem: Geeks Under Grace.
Em
Yokohama somos mais do que meros mercadores, somos responsáveis pelo desenvolvimento da cidade, enquanto construímos edifícios comerciais e pegamos mercadorias para cumprir contratos. Mas também somos responsáveis por cuidar das exportações, por patrocinar a igreja e o desenvolvimento tecnológico da cidade, além de exercer influência (aquele controle de área maroto) e vários pontos da cidade. Comparar o jogo a
Istanbul é realmente simplificá-lo demais.
A essência dos jogos é similar: em ambos precisamos nos mover pelo tabuleiro executando ações conforme passamos pelas "casas", regiões diferentes, que são os tiles distribuídos aleatoriamente no começo do jogo. Cada espaço desse é uma área de ação em que poderemos adquirir recursos ou trocá-los, cumprindo contratos, realizando investimentos e distribuindo nossa influência pela cidade. Em
Yokohama, no entanto, poderemos ainda construir lojas e postos de comércio para aumentar nossa influência e também a força de nossas ações.
Na mesa. Imagem: Geeks Under Grace.
É COMPLEXO MAS É LEVE
Yokohama lembra mais
The Gallerist do que
Istanbul, nas suas devidas proporções, obviamente. O
feeling o movimento pelas opções de ações, o fato de deixar para trás assistentes que podem te ajudar a realizar uma ação com mais efetividade, os contratos a serem cumpridos e etc, tudo isso faz de
Yokohama quase um jogo do
Vital Lacerda, só que complexidade e duração bem menores.
Outra visão do setup do jogo. Imagem: Geeks Under Grace.
O jogo é realmente gostoso de se jogar, é bem redondinho, tem um final bastante bem planejado (o jogo não acaba abruptamente) e você tem aquela sensação de ter tentado fazer tudo possível. É claro que a produção da versão de luxo deixa o jogo mais bonito, mas o design gráfico, mesmo da versão básica do jogo, é bastante competente, com ótima iconografia, não dando muitas margens pra dúvidas, o que é importantíssimo num jogo sem dependência de idioma.
Yokohama é um dos meus preferidos de 2017 e, sem dúvida alguma, agradará as mesas de jogadores mais experientes, assim como agrada com jogadores mais casuais. O jogo não deixa nada a desejar.