
Pra começar, vou logo dizendo que sou fã do Knizia, portanto, leve isso em consideração para ler todo o resto.
Battle Line é um jogo para 2 jogadores do designer alemão Reiner Knizia, criado em 2000. Na verdade, ele é uma reimplementação (com um tema infinitamente melhor) do jogo Schotten Totten, de 1999, também do Knizia.
Battle Line é uma obra prima do design de jogos e merece que você dê uma chance a ele!
Para começar, vamos falar de simplicidade. Na caixa de Battle Line você vai encontrar 60 cartas de unidade, numeradas de 1 a 10 em 6 “naipes” (cores). Também vêm na caixa 10 cartas táticas, com poderes especiais.
Além das cartas, a caixa contém ainda 9 marcadores que representam as 9 batalhas que são travadas entre os dois jogadores.
Explicando de maneira bem simples, cada jogador posiciona suas unidades e cartas táticas em 9 mãos de poker simultâneas, com 3 cartas cada. Se você fizer uma mão de poker mais forte que a do seu adversário, você vence aquela batalha Quem ganhar 3 mãos de poker adjacentes ou 5 em qualquer lugar, é o vencedor!

E porque esse jogo é genial?
Primeiro motivo: por causa das possibilidades de blefe (ou jogos mentais!). Como você pode vencer conquistando 3 bandeiras adjacentes ou 5 em qualquer lugar, dá pra usar isso para desviar a atenção do seu oponente para uma possível terceira bandeira para a qual você não está realmente dedicando esforços. Assim ele descarrega uma mão boa numa bandeira onde você não vai competir de verdade, guardando seus recursos para um outro lugar mais importante. Ele blefe é muito sagaz!
Outra tática interessante é você segurar cartas que podem ser importantes para seu adversário, ainda que sejam importantes para você também! Esse é um jogo de esperança: você sempre espera que venha aquela carta matadora para completar seu wedge (a combinação mais forte do jogo). Segurar as cartas do adversário é importante para que ele estique a esperança e não parta para outra solução.
Segundo motivo: decisões excruciantes. Sério, eu não consigo sentir em nenhum outro jogo o que eu sinto jogando Battle Line. É muito tensa a bagaça! A genialidade aqui vem de uma simples decisão de design: você não pode passar, você tem que jogar um carta! Isso significa se comprometer com uma determinada formação naquela bandeira, pois não vai dar para mudar depois! E pior, às vezes, você estraga uma formação, porque afinal de contas você é obrigado a jogar uma carta e a carta pode não servir para nenhuma formação sua em aberto. Cara, que agonia. Realmente é o jogo mais tenso que eu já joguei. Não consigo explicar direito, eu tento fazer uma poker face quando estou jogando, mas por dentro eu estou suando frio a cada jogada...
Terceiro motivo: a demonstração de vitória em cada bandeira. Essa regra da demonstração de vitória é meio difícil de explicar, mas vamos lá. Se você colocou as 3 cartas da sua formação em uma determinada bandeira e o seu adversário ainda não colocou todas, você pode declarar a vitória naquela bandeira se você provar que não há uma maneira de seu adversário fazer uma combinação superior à sua. Há alguns detalhes: essa demonstração não pode levar em conta cartas que estejam ainda na sua mão e nem o efeito de cartas táticas.
G-E-N-I-A-L
Essa regra dá dor de cabeça. Mas é muito bem bolada e muito bem colocada. Às vezes, para você poder usar essa regra, você descarrega uma carta boa do adversário em uma formação sua, por vezes arruinando sua própria formação, só para poder provar que o adversário não pode usar aquela carta. Isso é muito massa!
Quarto motivo: o jogo é pequeno, (relativamente) barato, fácil de explicar e joga rápido. Mas não é simplista. Ele te dá muito material para pensar, mesmo sendo um jogo “pequeno”. E, pra mim, isso é um grande feito!
Bom, para terminar, gostaria de falar algumas coisas que passam na minha cabeça quando jogo Battle Line. Eu gosto de jogos simples, não tenho muita paciência para jogos muito complicados. Algumas coisas em Battle Line poderiam ser mais simples. Por exemplo: a condição de vitória é 3 bandeiras adjacentes OU 5 em qualquer lugar. Porque o designer não deixou só uma, para simplificar? Porque o ganho em profundidade de jogo é maior do que a sobrecarga de regras! Esse é o tipo de decisão que faz os grandes jogos. É você saber que o aumento da complexidade só vale a pena quando há um ganho real de profundidade. Mesmo assim, há um limite.
Enfim, eu coloco Battle Line no mesmo patamar de outros gigantes dos eurogames, como Agricola e Power Grid, jogos bem mais complexos, mas que são igualmente bons, cada um na sua própria escala.
Um abraço e bora jogar!