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Você sabia?A "primeira onda" de jogos de tabuleiro no Brasil

lbleicher03/01/17 22:06

lbleicher

03/01/17 22:06

226 mensagens MD

O Brasil vive hoje um ótimo período para fãs de jogos de tabuleiro. Claro que não dá pra comparar com outros países, mas há dez anos atrás quem imaginaria que hoje teríamos tantos bons títulos no mercado nacional, e que várias cidades brasileiras tenham estabelecimentos onde se pode comprar ou jogar títulos modernos do hobby?

O que pouca gente lembra é que existiu uma "primeira onda" de jogos de tabuleiro por aqui, na década de 80.

Como todo mundo sabe, a editora mais tradicional de jogos de tabuleiro do Brasil é a Grow, que começou nos anos 70 criando sua versão do Risk, o famoso (para alguns infame) War. Sempre foi o maior hit da empresa e deu origens a várias versões (o War II e seus aviões, o War Júnior, o War: Império Romano e por aí vai). Com o sucesso do War, eles resolveram arriscar lançando o Diplomacy, que nem de longe vendeu tanto (até compreensível - é um jogo até mais "feito pra acabar com amizades" que o War, mas tem inúmeros fãs até hoje).

Só que não parou por aí: na década de oitenta, a Grow estava sempre fazendo o dever de casa para pesquisar o que havia de bom no mercado internacional pra trazer pra cá. Lembrem que era o início do Spiel des Jahres, prêmio criado pelos alemães justamente para incentivar a criação de bons jogos.

A Grow certamente estava antenada com a premiação, pois lançou por aqui o Acquire (com o nome de Cartel - e pra ficar mais confuso lançou o Cartel com o nome Jogo do Poder), o Heimlich & Co.. (saiu como Top Secret), o Scotland Yard (como Interpol), o Flying Carpet (como Tapete Mágico), o Auf Achse como Carga Máxima, etc.

Essa lista não faz brilhar seus olhos? Tudo bem, é justificável: era ainda a década de 80, quando os "melhores jogos" em geral ainda não eram tão bons quanto os que apareceriam na década seguinte e revolucionariam o gênero. É fato que nem todos os jogos premiados daquela época envelheceram bem. Mas há alguns que valem a pena conhecer: o Heimlich & Co. (Top Secret por aqui), por exemplo, funciona bem até hoje como "party game" pra jogar com um grupo que inclua também quem não é "gamer". As regras são super simples, num típico exemplo de elegância do autor (Kramer, o mesmo de clássicos como El Grande, Mexica, Tikal e The Princes of Florence): ele subverte a manjada mecânica "roll and move" fazendo com que a cada rolagem de dados os jogadores possam mexer todos os personagens - só que eles são sorteados no começo do jogo e ninguém sabe quem é quem. Então você precisa ir mexendo as peças de forma a ir "empurrando" seu personagem pra frente, mas sem ficar muito óbvio, porque tem jeito também de colocar ele pra trás - que é provavelmente o que os outros vão fazer se descobrirem quem você é.

Agora imaginem o que poderia ter acontecido se a Grow tivesse mantido essa tendência de estar sempre antenada ao SdJ. A década de 90 foi uma época em que os vencedores e recomendados ao prêmio alemão incluíram jogos como Catan, Tigris&Euphrates, El Grande, Tikal, Arte Moderna, Pega em 6, Medici, Condottiere... Isto é, muitos jogos que continuam fazendo sucesso até hoje.

Em vez disso, a Grow deixou isso pra lá e voltou a focar apenas nos velhos jogos de massa, e assim a esmagadora maioria dos brasileiros não fazia a menor ideia de que uma revolução estava acontecendo para os jogos de tabuleiro. Pouca gente vai lembrar, mas antigamente a revista Super Interessante (na época em que era um pouco mais interessante e menos sensacionalismo barato) tinha uma coluna falando das novidades do mundo dos jogos de tabuleiro no exterior - o que na prática só servia pra gente ficar babando mesmo, já que, como internet ainda estava começando por aqui e e-commerce ainda era algo pouco comum, trazer jogos de fora estava longe de ser fácil.

A não ser que eu tenha esquecido outra iniciativa, a primeira tentativa de reverter isso foi aparecer só em 2006, quando apareceu a Odysseia Jogos, que lançou por aqui o Modern Art (saiu como Arte Moderna), até hoje meu "gateway" preferido (pra mim ele vem à frente da "santíssima trindade" dos gateways - Carcassonne, Ticket to Ride e Catan, nessa ordem). Só que não deu muito certo: até hoje eu não sei exatamente o que aconteceu (aliás, alguém que conheça o pessoal envolvido precisava contar essa história), mas o fato é que o jogo não teve muita divulgação e só foi sendo vendido muito aos poucos - inclusive foi encontrado recentemente um lote ainda lacrado desse excelente jogo de leilão do Reiner Knizia. Que é disputado até por gente de fora: vez ou outra tem gringo no BGG perguntando como conseguir uma cópia da edição brasileira, por conta da excelente arte de Mike Doyle.

A "segunda onda" só foi engrenar de vez mesmo quando finalmente a Grow resolveu lançar o Catanaqui no Brasil. Nessa época (2011) eu já estava bem informado sobre jogos de tabuleiro modernos, e aproveitei a deixa pra apresentar o Catan para todos os conhecidos - vários amigos meus compraram, alguns inclusive entraram de cabeça no hobby. E deu certo, tanto é que a Grow lançou em seguida Carcassonne, Coloretto, Puerto Rico, Ave Caesar, Istanbul e prometeu também o The Castles of Burgundy. E aí vieram outras editoras como Galápagos, Conclave, Funbox e etc. Hoje, acho que já dá pra finalmente dizer que os jogos modernos vieram pra ficar por aqui.

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Doidera
1060 mensagens MD

Doidera03/01/17 22:28

Doidera » 03/01/17 22:28

Essa cronologia tem tudo a ver comigo, pois tive contato com os lançamentos da Grow na década de 1980, mas fiquei "desantenado" do universo dos jogos de tabuleiro por comta da Grow não ter comtinuado no mesmo ritmo de lançamentos nas décadas de 1990 e 2000.

Mas depois do lançamemto do Colonizadores de Catan, do Domínios de Carcassonne e do Puerto Rico, comecei a ficar mais ligado no universo dos jogos modernos.

E só pra registrar, eu amava a seção sobre jogos na Superinteressante.

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Bombardium
1143 mensagens MD

Bombardium03/01/17 22:36

Bombardium » 03/01/17 22:36

@lbleicher
Parabéns irmão, por mais uma pesquisa legal e texto bom. No meu caso eu tive War bem criança, Monopoly. Um pouco mais velho ganhei aquele Pokémon Master Trainer, Scotland Yard e teve um hiato grande até eu comprar outro jogo desse tipo.

Comprei Uno depois de velho, e só fui comprar jogos de tabuleiro moderno no ano passado.

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lbleicher
226 mensagens MD

lbleicher03/01/17 22:39

lbleicher » 03/01/17 22:39

Bebezao::Essa cronologia tem tudo a ver comigo, pois tive contato com os lançamentos da Grow na década de 1980, mas fiquei "desantenado" do universo dos jogos de tabuleiro por comta da Grow não ter comtinuado no mesmo ritmo de lançamentos nas décadas de 1990 e 2000.

Mas depois do lançamemto do Colonizadores de Catan, do Domínios de Carcassonne e do Puerto Rico, comecei a ficar mais ligado no universo dos jogos modernos.

E só pra registrar, eu amava a seção sobre jogos na Superinteressante.

Pois é, eu também tive alguns desses jogos da Grow quando criança nos anos 80, e quando adolescente nos 90 meu hobby passou a ser música e video game.
Eu só peguei o bonde um pouco antes do "renascimento" da Grow porque uma amiga me falou desses tais "jogos modernos" e eu resolvi ler sobre o assunto. Ela trouxe o San Juan, que eu nem achei assim tãaaaao legal, mas foi o suficiente pra despertar o interesse, e aí fui lendo tudo sobre o assunto, entrei naquela mailing list do yahoo, vi que tinha um cara vendendo uns jogos e resolvei comprar um Tigris&Euphrates, lá por 2009. E aí a minha vida nunca mais foi a mesma

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butilheiro
2883 mensagens MD

butilheiro03/01/17 23:07

butilheiro » 03/01/17 23:07

Mais um excelente texto, meu caro. Mostrando que a parte de pesquisa é seu forte!

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Conde_dl
279 mensagens MD

Conde_dl04/01/17 00:00

Conde_dl » 04/01/17 00:00

Bom texto!

Por coincidência, estive pesquisando jogos de tabuleiro no Mercado Livre (de tempos em tempos faço isso, aliás, foi assim que comprei alguns jogos antigos, mas que gosto muito, como o "Viagem pela Europa", que é sempre bem vindo para relaxar após uma virada de jogatina).

Mas pelo que vi esses dias no próprio Mercado Livre, a GROW não só trouxe bons títulos internacionais nas décadas de 70, 80 e 90, mas entre os anos 70 e 90 lançou bastante coisa diferente. (É verdade que relaxou totalmente da metade dos anos 90 para frente...).

Alguns exemplos de imagens que salvei por aqui (alguns jogos não estão cadastrados na Ludopédia, mas estou juntando as informações e irei cadastra-los no passar deste mês).

Acredito que vários dos jogos abaixo não merecem cair totalmente no limbo. Lendo a respeito deles, fiquei com vontade de experimentar vários ^^

Staff:

Focus:

RPM:

Invasores:

Tango (um jogo direcionado para se jogar em casal):

Waterloo:

Cartago:

Stratego:

Ações Exame ( basicamente o jogo Wall Street relançado em 2016 pela GROW)

Alquimix (um jogo que ao bater o olho lembrei do Potion Explosion)

Status:

PhotoCLip (que na minha opinião é basicamente o Macroscope destacado por Tom Vassel em ranking recentemente divulgado na Ludopédia)

Graphos:

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carlosbotelho
35 mensagens MD

carlosbotelho04/01/17 00:03

carlosbotelho » 04/01/17 00:03

antes da edicao do Diplomacy acima mostrada a Grow lancou uma cuja a caixa era somente um verde-agua chapado com o nome "1914", ainda na decada de 70

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Hugosan
898 mensagens MD

Hugosan04/01/17 00:13

Hugosan » 04/01/17 00:13

Como pode... Ninguém ter lembrado de citar esse daqui (clonagem tupiniquim de Cosmic Encounters)

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butilheiro
2883 mensagens MD

butilheiro04/01/17 00:19

butilheiro » 04/01/17 00:19

Muitos desses jogos eram cópias de jogos lá de fora, como os mencionados Jogo do Poder, Contatos Cósmicos, Staff, RPM, War, Banco Imobiliário, e ainda tinha o Yam (cópia do Yatze) e o Can-Can (cópia do Uno).

O Graphos eu tenho até hoje, mas está com as cartas completamente detonadas. Quero fazer uma impressão própria do jogo com arte nova e com material bacana, proteger as cartas com sleeves e tal, porque o jogo é realmente bom. Ah, a versão que eu tenho não é essa da imagem acima, mas uma que saiu já nos anos 1990.

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Cow Marx
95 mensagens MD

Cow Marx04/01/17 00:32

Cow Marx » 04/01/17 00:32

Muito bacana a pesquisa! Parabéns pelo texto!

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