Escrita por: Rodrigo Neves.
Sinopse do Jogo:
Via Appia é um jogo de estratégia familiar, com a temática da construção da mais famosa estrada do Império Romano, que ligava Roma a Brindisi. Dispute as melhores pedras na pedreira, construa as seções mais valiosas da estrada e tente chegar antes nas principais cidades pelo caminho. Lançado em 2013 pela editora Queens Games, é um jogo de Michael Feldhotter, de 2 a 4 jogadores e que dura 1 hora de partida.
Mecânicas:
- Construção de Rotas;
- Controle de Área;
- Coleção de Componentes;
- Destreza.
Síntese do Jogo:
Via Appia tem proposta simples, interessante. Cada participante representa um arquiteto ou chefe construtor, responsável por ajudar na construção da estrada. Para isto, ele deve buscar pelas pedras mais valiosas na pedreira, considerando a demanda na seção atual da estrada, os espaços disponíveis nas carroças individuais e avaliando as chances de obter os ladrilhos desejados. Na construção da estrada, cada um deve balancear entre construir as seções que valem mais pontos e viabilizar uma rota que o faça chegar mais rápido na próxima cidade. Cada jogador deve garantir um suprimento de ouro para sua viagem, pois quem chega antes garante uma melhor pontuação.
A partida rola em turnos consecutivos, onde cada jogador terá direito a uma ação por vez. Entre as ações disponíveis temos: escolher um cartão de benefício, tentar coletar pedras na pedreira, construir ladrilhos da estrada ou viajar por rotas já construídas da Via Appia.
Ao lado do tabuleiro, abrimos uma oferta de cartões de benefícios. Ao todo são 7 cartões a disposição. Cada jogador pode optar em receber um dos benefícios presentes no cartão desejado, entre o dinheiro e as pedras. Em seguida, ele é virado e ficará indisponível aos demais. Logicamente que os melhores são disputados a tapa, deixando para o final os menos atraentes. O jogo traz uma compensação interessante... os 3 últimos cartões trazem ambos os benefícios para o jogador que os escolher. Quando todos os cartões são indisponíveis, uma nova leva é aberta e os descartados são reembaralhados aos que sobrarem. E assim se segue até o fim do jogo.
Esta ação é fundamental para gerar recursos iusados em outras ações, como pedreira (discos) e viagem (dinheiro). Tirar proveito dos melhores cartões iniciais e dos benefícios duplicados finais, é relevante, pois significa obter mais recursos com menos ações.
Ao escolher pedras, o jogador recebe do estoque geral o número indicado de discos de madeiras, do tipo escolhido, que possuem tamanhos variados: pequeno (cinza), médio (branco) e grande (cor natural de madeira). Estes discos não são usados diretamente na construção da estrada, mas sim na pedreira, em busca dos ladrilhos de construção.
Ao tentar a sorte na pedreira, o jogador tem direito a duas chances. Em cada uma delas, o mesmo deve usar um dos seus discos do seu estoque pessoal, empurrando-o pelo “funil” da pedreira.
A recompensa do jogador é dada pelos discos que caem do lado oposto da pedreira, que viram ladrilhos para a construção da Via Appia. Por exemplo, um disco pequeno dá direito a um ladrilho pequeno, um disco médio a um ladrilho médio ou pequeno, e um disco grande a um ladrilho qualquer: seja grande, médio ou pequeno. Lógico que a busca é pela queda dos discos maiores, mas o movimento dos discos circulares não é fácil de prever. É neste ponto que entra a mecânica de destreza no jogo, além dos momentos de frustração e surpresa. É comum um jogador empurrar um disco grande e o conjunto todo se realocar sem deixar um única pedra cair do outro lado. É bem sagaz aproveitar as falhas alheias, que preenchem os espaços vazios e facilitam as jogadas seguintes. Este ponto do jogo pode desagradar aos menos afeitos a sorte.
Outro fator relevante é que os jogadores não têm limitações em relação aos discos de seu estoque pessoal... mas aos ladrilhos sim. Eles devem ser armazenados na sua carroça pessoal, e os espaços são restritos aos variados tamanhos. Vira e mexe acabam caindo mais pedras que o esperado da pedreira, e o jogador acaba não recebendo-as por falta de espaço. Menos mal que elas podem ser vendidas por 1 ouro nestes casos.
Sobre a ação de construção, devemos notar que a estrada é dividida em três seções: A, B e C, e a construção de uma seção somente pode ser iniciada, quando a imediatamente anterior já foi concluída. Na sua vez, o jogador pode optar por construir, colocando um ou dois ladrilhos na seção atual, usando peças da sua carroça pessoal. Ladrilhos construídos geram pontos de vitória instantâneos: 1 para um ladrilho pequeno, 3 para um médio e 5 paracada grande. As conexões devem ser respeitadas.
Cada ladrilho construído, independente do seu tamanho, gera uma ficha ao jogador com a letra da seção: A, B ou C. No fim da partida, existe uma disputa de controle de área por maioria, para cada seção, que vale uma pontuação considerável à vitória.
A última ação é a de viajar pela Via Appia. Cada jogador possui um meeple de sua cor, que começa a partida em Roma. Gastando dinheiro, podemos nos mover pelos ladrilhos construídos em direção as cidades que separam as seções da estrada. O custo do movimento depende da distância que se deseja percorrer: 1 ladrilho custa 1 moeda, 2 ladrilhos custam 3 moedas e 3 ladrilhos custam 6 moedas. Quanto maior o movimento, se vão mais moedas, porém com menos ações. Considerando que neste jogo o dinheiro é relativamente escasso, é importante saber planejar bem os sprints nesta corrida.
Os jogadores pontuam de forma instantânea ao chegar na próxima cidade, mas esta pontuação cai bastante do primeiro para o segundo, do segundo para o terceiro e assim vai. Ou seja, somente os primeiros ganham um valor relevante. Outro ponto... sempre que um jogador chega ao fim de uma seção, o custo de movimento dos jogadores atrás caem em uma unidade. É uma regra cumulativa. Isto ajuda a balancear e não deixar o pessoal sem grana para traz no jogo.
Avaliação:
Via Appia é um jogo de estratégia familiar de regras simples e duração baixa para média, recomendado à grupos que curtem conhecer uns jogos divertidos e originais. O dispositivo da pedreira é o verdadeiro charme do jogo... e sua diversão. Por outro lado, pode ser um ponto desfavorável para grupos que não gostam de jogos onde a influência da sorte seja significativa. Particularmente não considero que ele seja tão dependente da sorte, mas pessoas com menos facilidade em interpretar dinâmicas de movimentos em conjunto e fluxos, talvez sim.
A arte do jogo é bacana e os componentes de qualidade satisfatória. Ele ainda engloba uma estrutura muito boa de mecânicas de controle de área, rotas e coleção de componentes. Tudo em um nível bem leve e bem integrado. Um detalhe a ser levado em consideração é que o número de peças de ladrilho é limitado, e próximo ao total necessário para construir todo a estrada. Então, se na parte final do jogo alguém partir para a coleta de ladrilhos sem disputa, é capaz de somente ele conseguir construir na última rodada. Não chega a ser uma falha... mas pode tirar a graça do jogo.
Não subestime a pontuação do controle de área nas respectivas seções, os pontos nas corridas por quem chega primeiro as cidades e os pontos obtidos com os ladrilhos mais valiosos. É uma das combinações mais fortes neste jogo.
