Root — Assimetria, conflito e política em um dos jogos mais brilhantes do hobby moderno

Fala, pessoal da Ludopedia! Aqui é o Thiago Prado, do canal Amantes dos BoardGames, e hoje trago uma análise profunda de um jogo muito especial para mim — não apenas por tudo o que ele representa no hobby, mas também pela quantidade absurda de partidas, experiências e histórias que ele já me proporcionou: Root.
Este é, disparado, o jogo que eu mais joguei, mais estudei, mais gravei conteúdo e mais vivi em mesa. E justamente por isso, senti que ele merecia um texto mais longo, mais detalhado e mais honesto, no estilo de uma review de revista especializada, indo além de impressões rápidas e mergulhando no que faz Root ser tão único.

A seguir, o vídeo completo da análise:





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Introdução — Um jogo que vai muito além da mesa

Root não é apenas um jogo de tabuleiro. Ele é um sistema vivo, competitivo e social, que cresce a cada partida, a cada nova facção aprendida e, principalmente, a cada novo grupo de jogadores. É um daqueles jogos que, quanto mais você joga, mais ele revela camadas escondidas — e mais você percebe que dominá-lo não é uma questão de aprender regras, mas de entender pessoas.


No Amantes dos BoardGames, sempre buscamos jogos que provoquem discussões, que gerem histórias e que façam os jogadores saírem da mesa comentando jogadas, decisões e alianças. Root faz tudo isso com uma naturalidade impressionante — e é exatamente isso que vamos explorar neste texto.



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O que é Root? — Um resumo objetivo, mas essencial

Root é um jogo de conflito assimétrico, ambientado na Floresta da Madeira, onde diferentes facções de animais disputam o controle do território. Cada jogador assume o papel de uma facção completamente distinta das outras, com regras próprias, objetivos específicos, ritmo de jogo único e maneiras muito diferentes de pontuar.

Apesar de ter batalhas, dados e controle de área, Root não é um jogo puramente de guerra. Ele mistura elementos de jogos de conflito com mecânicas típicas de euros, criando uma experiência híbrida: você pontua construindo, explorando, conspirando, manipulando cartas e, sim, combatendo — mas nunca apenas combatendo.

O jogo funciona como uma corrida até os 30 pontos. Quem chega primeiro vence. Isso cria uma tensão constante, já que nem sempre quem está “ganhando batalhas” está realmente ganhando o jogo. Muitas vezes, a vitória vem de escolhas silenciosas, rotas alternativas e decisões políticas tomadas longe dos dados.


O peso maior atribuído ao jogo vem justamente da assimetria extrema: aprender Root não é aprender um jogo, mas sim aprender vários jogos coexistindo na mesma mesa.




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Pontos positivos — Onde Root realmente brilha

1 - O primeiro e talvez mais impactante ponto positivo de Root é a sua assimetria profunda e genuína. Não estamos falando de pequenas variações de poderes ou habilidades iniciais. Cada facção joga literalmente um jogo diferente. O Marquesado de Gatos administra uma máquina econômica e logística; a Aliança da Floresta cresce na base da revolta e da opressão; a Dinastia das Águias vive sob a pressão de uma programação rígida; o Vagabundo atua quase como um RPG ambulante dentro do tabuleiro. E isso é apenas o começo.

Atualmente, o jogo conta com dez facções disponíveis no Brasil, com mais uma expansão anunciada que elevará esse número ainda mais. Cada nova facção adiciona não só variedade, mas também novas dinâmicas de mesa. Root não envelhece porque ele se reinventa a cada combinação diferente de facções, jogadores e mapas. Mesmo após dezenas de partidas, ainda há situações inéditas surgindo naturalmente, o que é algo raríssimo em jogos competitivos.

Essa assimetria também cria um sentimento constante de descoberta. Você nunca “fecha” Root. Mesmo depois de 50 partidas — e falo isso por experiência própria — ainda há facções que exigem reaprendizado, ajustes finos e compreensão profunda de timing. Ficar meses sem jogar com determinada facção significa, muitas vezes, precisar revisitar sua lógica quase do zero. Para alguns isso pode soar como um problema; para outros, é exatamente o que mantém o jogo vivo por anos.

2 - Outro ponto fortíssimo é o nível de competitividade que Root alcança. Por ser uma corrida clara até os 30 pontos, o jogo gera uma tensão constante e uma vontade real de vencer. Não é incomum ver mesas onde todos estão extremamente atentos às jogadas dos outros, calculando pontos, antecipando movimentos e discutindo possíveis ameaças. Essa competitividade extrapola a mesa e se manifesta em ligas, campeonatos e rankings — algo que poucos jogos conseguem sustentar de forma orgânica.

A existência de ligas, como a Liga Root São Paulo, é prova disso. Pessoas jogam dezenas de partidas por temporada, não apenas por obrigação competitiva, mas porque o jogo continua interessante mesmo em alto nível. Root recompensa conhecimento, leitura de mesa e adaptação — não existe uma estratégia única vencedora.



3 - Outro grande mérito está na baixa influência da sorte, especialmente para um jogo de conflito. Embora existam dados nas batalhas e compra de cartas, quase tudo pode ser mitigado. Facções têm formas de aumentar dano, controlar resultados, manipular cartas e minimizar riscos. A sorte existe, mas raramente decide uma partida sozinha. Na maioria das vezes, ela apenas acelera ou atrasa planos que já estavam bem ou mal construídos.


4 - Por fim, Root se destaca por algo que poucos jogos conseguem entregar: ele vai além das regras. Trata-se de um jogo profundamente social e político. Conversas, alianças temporárias, blefes e acordos implícitos fazem parte da experiência. Muitas vezes, a mesa decide o rumo da partida mais do que qualquer carta ou dado. Jogadores precisam ler intenções, perceber ameaças e saber quando avançar ou recuar. Root transforma interação social em mecânica de jogo — mesmo que isso não esteja escrito no manual.



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Pontos negativos — Onde Root pode afastar jogadores

Toda essa profundidade, no entanto, cobra seu preço. O maior ponto negativo de Root é também seu maior ponto positivo: a assimetria extrema. Aprender o básico do jogo não é difícil, mas dominar Root exige tempo, dedicação e muitas partidas. Para jogar bem contra uma facção, você precisa entendê-la por dentro. Caso contrário, corre o risco de não perceber uma vitória iminente até ser tarde demais.

Isso torna Root um jogo pouco amigável para grupos casuais ou que jogam esporadicamente. Jogadores que não têm disposição para estudar facções, revisitar regras específicas e aprender com derrotas constantes podem se frustrar rapidamente. Root não perdoa desconhecimento — especialmente em mesas experientes.
Outro ponto sensível é o custo financeiro. O jogo base oferece uma experiência excelente, mas grande parte da riqueza do sistema está nas expansões. Novas facções, mapas e módulos aumentam significativamente a profundidade do jogo, mas também exigem investimento. Embora seja possível adquirir tudo aos poucos, Root é um jogo que naturalmente incentiva a coleção — o que pode afastar quem prefere experiências mais fechadas e definitivas.


Há ainda um fator que divide opiniões: a dinâmica de “todos contra o líder”. Como o jogo permite e até incentiva alianças momentâneas, é comum que jogadores se unam para impedir quem está na frente de vencer. Isso pode gerar partidas memoráveis e reviravoltas incríveis, mas também pode ser frustrante para quem sente que jogou melhor desde o início. Em Root, estratégia sozinha não garante vitória — a leitura política da mesa é tão importante quanto qualquer plano bem executado.



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Considerações finais — O que Root representa no hobby


Root é um marco. Não apenas pela sua assimetria ousada, mas pela coragem de exigir maturidade dos jogadores. Ele não entrega respostas fáceis, não segura a mão de ninguém e não tenta agradar todos os públicos. Em troca, oferece uma das experiências mais ricas, tensas e memoráveis que um jogo competitivo pode proporcionar.


É um jogo que cresce com o jogador. Quanto mais você aprende, mais ele devolve. Cada derrota ensina, cada vitória revela novos caminhos, e cada mesa cria histórias únicas. Root não é sobre ganhar uma partida específica — é sobre construir uma jornada dentro de um ecossistema vivo de facções, pessoas e decisões.

Nota final: 9.5 / 10



Um dos jogos mais inteligentes, profundos e ousados do hobby moderno. Root não é para todos — mas para quem abraça sua proposta, ele se torna inesquecível.