É preciso entender que os jogos (ou qualquer outro artifício usado na educação) devem vir depois da aprendizagem.
Por exemplo: existe aquela fala popular (e bastante propagandeada pela própria empresa relacionada) que diz "Eu aprendi a ler com o gibi da Turma da Mônica". Na verdade, a criança aprendeu a ler como qualquer outro ser humano: identificar os desenhos das letras, associar as sílabas e somá-las para formar e compreender as palavras. A criança praticou a leitura com o gibi da Turma da Mônica; e ela poderia ter feito isso com qualquer outro texto.
Do mesmo modo, ensinar qualquer assunto não tem muita diferença entre si. Praticar e fixar a aprendizagem, sim. É nesse momento que se considera a possibilidade dos jogos de tabuleiro.
Então, é muito fácil a sociedade dizer que a escola isso, a escola aquilo, que está tudo ultrapassado. O aluno senta no banco da escola/universidade querendo aprender brincando; não quer ouvir os ensinamentos do professor e muito menos pegar livros e exercícios para fazer. Pois bem, coloca uma caixa de Catan na mesa desse aluno sem o livro de regras pra ver se sai alguma coisa. Qualquer jogo em si precisa ser aprendido e ter conhecimentos prévios (de uma pessoa experiente ou de textos e gráficos inscritos), senão, nada acontece feijoada.
Critica-se a memorização dos conteúdos, mas é errado fazer isto. Precisa-se memorizar, sim. A crítica, portanto, deve estar direcionada aos pais e educadores que não ensinam a usar essas memórias. É nesse ponto que os jogos de tabuleiro podem entrar também. E não só eles, claro.
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Existem formas lúdicas de apresentar um conteúdo aos alunos e há quem diga que elas devem prevalecer sobre o "modo tradicional". Na verdade, tanto faz: lúdico ou não, o aluno conseguirá aprender do mesmo jeito. O que precisa ser trabalhado no aluno é o seu interesse e a sua aceitação; e o problema disso, algumas vezes, está em casa.
Por exemplo. O aluno X de escola pública não gosta do tradicional e não está aprendendo; os seus pais exigem da instituição um ensino lúdico para o seu filho mostrar evolução. O aluno Y de escola pública não gosta do tradicional e não está aprendendo; os seus pais tiram o seu filho da escola pública, colocam-no numa escola militar (rígida) e avisam ao garoto que lá as coisas são sérias; e o aluno evolui.
Em suma, não tem problema nenhum em querer ser lúdico; da mesmo forma que não tem problema algum em ser tradicional. A criança prefere praticar a sua leitura com o gibi da Turma da Mônica do que com Clarice Lispector. Eu considero importante compreender as vontades do aluno com a contrapartida de que ele aceite a condição de aprendizagem da pessoa experiente (de forma humanizada, claro). A criança lê o gibi, mas deve entender que precisará dar um passo a mais e se interessar pelos livros infantis da Clarice Lispector (mesmo que ela apenas olhe e já "ache chato").