Vencedor do
Prêmio Ludopedia 2025 na categoria Jogo Infantil,
Batalha dos Cookies é uma mistura deliciosa de vaza, estratégia e humor — tudo embalado em uma estética irresistível, com cookies coloridos, poderes mágicos e reviravoltas dignas de aplauso (ou gargalhadas). Criado por
Thiago Queiroz(Paizinho Virgula) e publicado pela
Adoleta Jogos, o jogo nasceu literalmente na mesa da sala do autor, com seus filhos como primeiros testadores. Thiago já havia vencido o
Prêmio Ludopedia 2022 com o jogo
Achô! também na categoria Infantil, mas dessa vez, a emoção foi ainda maior — afinal,
Batalha dos Cookies é fruto direto de momentos em família. Nesta conversa recheada de inspiração e boas ideias, ele conta como o jogo cresceu, superou desafios e virou um sucesso entre pais e filhos.
Ludopedia: Thiago, parabéns pelo prêmio! Você lançou Batalha dos Cookies oficialmente no DOFF 2024, e contou como foi emocionante ver pais e filhos jogando juntos — inclusive os seus(Dante e Gael). Como foi essa experiência para você, como autor e como pai?
Thiago: Foi incrível, de verdade. Eu sempre falo que meus jogos nascem da minha vida em família, então ver pais e filhos se divertindo com algo que começou na nossa mesa da sala é emocionante demais. Durante o DOFF, eu vi meus filhos explicando as regras para pessoas que eles nem conheciam, vi pais jogando com os filhos de verdade, sem aquele “tá bom, vou jogar esse jogo infantil só pra agradar”. E, claro, ver meus filhos circulando pelo evento, orgulhosos de falar “foi meu pai que fez esse jogo”, foi a realização de um sonho
Dante e Gael apresentando o jogo durante o evento
Ludopedia: Você criou o jogo inspirado nas partidas com seus filhos, com protótipos sendo testados há anos. Em que momento você percebeu que havia algo especial ali — algo que valia a pena lançar para o mundo? E como foi quando a Adoleta Jogos entrou nessa jornada com você para transformar a ideia em um jogo publicado de verdade?
Thiago: O meu grande desejo, desde o começo, foi de criar uma "vazinha". Inclusive, durante um bom tempo, esse era o nome do jogo! A gente chamava ele carinhosamente de "vazinha". E como eu sempre testo todas as minhas ideias de jogos com meus filhos primeiro, eu senti que tinha algo de diferente naquele jogo, porque meus filhos sempre pediam pra jogarem a "vazinha" comigo. Já a
Adoleta não chega exatamente a entrar na história, porque sempre fez parte da minha história como game designer. Foram eles os primeiros a acreditarem no meu potencial, e foram eles que lançaram meu primeiro jogo, o
Achô! que também ganhou um
Prêmio Ludopedia. Então, certa vez, eu convidei o
Leandro Nunes (da
Adoleta) e mais uma pessoa para testarem a "vazinha" na minha casa, com meus filhos, que foi quando todo mundo percebeu que naquele jogo tinha algo que tinha algo especial e, alguns meses depois, recebo uma minuta de contrato da
Adoleta para lançar a "vazinha". Eu nem acreditei que aquilo era verdade, mas era!
Leandro Nunes e Thiago Queiroz com o Prêmio durante o DOFF
Ludopedia: Batalha dos Cookies é um jogo de vaza, mas com toques muito únicos: cartas especiais, cookies podres, trunfos dourados e a ideia de que quem fizer mais pontos pode perder. Como foi equilibrar esses elementos para que funcionassem bem com crianças e ainda gerassem decisões interessantes?
Thiago: Esse foi o grande desafio. Eu queria que crianças conseguissem jogar, se divertir, e que tivessem chances reais contra adultos. Imagina, se uma criança joga uma vaza contra um adulto desses que é totalmente viciado em carteados: o resultado seria um massacre, certo? Foi então que eu decidi incluir elementos que não permitissem que fosse tão óbvio ganhar, como as fichas de magia, os cookies podres e, principalmente, a regra que diz que quem faz mais pontos, na verdade, tem uma dor de barriga e perde, dando a vitória ao segundo lugar. São esses toques que eu, como um game designer focado na infância e família, preciso ficar atento: para deixar o jogo mais equilibrado possível, e garantindo que o jogo ainda capture a atenção das crianças.
Pilha de cartas de cada jogador
Ludopedia: O tema de cookies é um grande charme do jogo, com peças coloridas, pedaços podres e até o risco de “comer demais”. O jogo sempre teve esse tema ou ele passou por outras ideias? Como foi transformar cookies em uma mecânica de pontuação, com pedaços montáveis e reviravoltas? Teve alguma história curiosa por trás dessa escolha?
Thiago: Enquanto se chamava apenas de "vazinha", e nos meus primeiros protótipos para jogar com os meus filhos, não haviam os cookies montáveis, mas os cookies eram fichas que poderiam render tanto pontos como ações poderosas. E o tema era de animais, onde quanto maior o número das cartas, maior era o animal. Logo em seguida, o jogo começou a se chamar pelo nome que todos conhecem agora, mas a sugestão de trazer crianças como personagens das cartas foi, inclusive, uma sugestão da própria
Adoleta, que eu amei logo de cara (até porque eles foram bem persuasivos me dizendo que daria até para colocar os meus filhos nas cartas, então que pai vai negar isso, né?). Já a ideia de transformar os cookies em peças de quebra-cabeças montáveis foi uma reviravolta bem interessante na história do desenvolvimento: depois da assinatura do contrato, alguns contratempos surgiram (e que nem vale a pena entrar em detalhes) e eu me vi em uma situação bem delicada, inclusive com o risco de não termos mais o "nascimento" do
Batalha dos Cookies . Mas é como dizem: mar calmo não faz bons marinheiros, então voltei às pranchetas e pensando junto com amigos (inclusive, o grande
Robert Coelho e o
Luis Francisco tem participação nisso), consegui adicionar mais uma camada ao jogo, que traria esse fator brinquedo, com a montagem de um quebra-cabeça que, no fim, traria um elemento de
set collection ao jogo, e isso acabou se tornando um dos pontos altos de todas as partidas do jogo.
Cookies como set collection
Ludopedia: Os marcadores de mágica são um diferencial divertido e estratégico. Como surgiu essa ideia e como foi a resposta das crianças durante os testes? Elas entendiam e usavam bem esse elemento desde o começo?
Thiago: Os marcadores vieram de um desejo de dar às crianças mais participação e chances de ganhar, porque eu adicionaria um certo elemento de caos, mas principalmente de sorte. Eu adoro jogos que movimentam a mesa, e trazem uma certa interação, e esse sem dúvida foi um dos elementos mais positivos nos primeiros testes com meus filhos e que só pude reforçar que foi uma boa decisão quando vi filhos jogando com seus pais no DOFF, ao passo que ouvia gritos e risadas de pais que, de repente, tinham seus pedaços de cookies roubados pelos seus filhos. Era maravilhoso! Esses marcadores eram, normalmente, uma das mecânicas que as crianças dominavam primeiro, justamente porque era uma forma de atrapalhar diretamente os adultos da mesa!
O Designer Pai e seus filhos durante o lançamentos do jogo
Ludopedia: Você já falou que sua família é apaixonada por jogos de vaza. Quais jogos te inspiraram diretamente na criação do Batalha dos Cookies?
Thiago: A gente joga muitos jogos de carta, então é até difícil pensar em inspirações diretas, porque são bastante difusas, mas lembro que, na época, eu estava bem vidrado em dois jogos específicos com os meus filhos, e lembro de ter pensado bastante neles durante os rascunhos iniciais da "vazinha":
Frank's Zoo e
The Bottle Imp. Mas é aquilo, se pensar bem,
The Bottle Imp. não tem muito a ver com o
Batalha dos Cookies e
Frank's Zoo sequer é uma vaza, mas na minha cabeça fazia sentido. Sabe como é, a nossa cabeça às vezes é bem esquisita.
Cartas, Cookie e Marcadores de Mágica
Ludopedia: Você viveu muitos momentos especiais criando e jogando Batalha dos Cookies, especialmente com seus filhos. Teve alguma partida ou situação durante o desenvolvimento que ficou marcada na sua memória? E ficaram ideias de cartas ou poderes que não entraram na versão final, mas que você guarda na manga para uma possível expansão?
Thiago: Acho que o primeiro teste que fiz aqui em casa com a participação do
Leandro Nunes (
Adoleta), mais outra pessoa e os meus filhos sempre vai ficar na minha memória por diversos motivos, mas principalmente porque, depois da partida, ao ver todo mundo na mesa tinha adorado o jogo, eu pensei comigo mesmo: "Cara, você conseguiu fazer uma vaza para crianças que pessoas entendidas do assunto gostaram!" Naquela época, eu sequer sabia se o jogo seria publicado algum dia, mas só de ter essa validação já tinha feito com que eu estivesse me sentindo pleno. Sobre as cartas na manga, total! Alguns marcadores de magia acabaram ficando de fora, para simplificar o jogo, bem como algumas cartas especiais, mas não darei spoilers! Quem sabe não aparece alguma expansão por aí? Só depende da
Adoleta eheheh.
Dante e Gael orgulhosos no lançamento do jogo
Ludopedia: Além do Batalha dos Cookies, você já lançou jogos como Achô! (2022) vencedor do Prêmio Ludopedia em 2022, Pega-Pega! (2023) e os recém-lançados Dino Parque (2025) e Mistureba Mágica (2025). E ainda tem AbduVACAS vindo aí. Como você enxerga sua trajetória como designer de jogos infantis? Criar jogos voltados para crianças surgiu a partir das suas vivências como pai e comunicador?
Thiago: Totalmente. Como pai e como criador de conteúdo sobre paternidade, eu vivo cercado por crianças, pais e mães, e percebo o quanto um jogo pode ser uma ponte pra conexão familiar. Meu objetivo sempre foi criar jogos que façam adultos e crianças se divertirem juntos, de verdade, sem que um precise “diminuir” o ritmo pro outro acompanhar. É aí que mora a mágica: criar momentos que serão lembrados por anos a fio entre famílias. Sobre a minha trajetória, como eu normalmente faço as coisas por pura paixão, sem pensar estrategicamente ou com grandes planos, devo dizer que às vezes fico sem acreditar que já lancei tantos jogos assim, e sempre fico pasmo quando vejo outras pessoas jogando eles, e principalmente: se divertindo horrores. Criar jogos veio de um lugar muito pessoal, no meio da pandemia, para ter um jogo que eu pudesse jogar com todos os meus filhos, independente da idade, tanto que daí nasceu o
Achô!, mas depois que lancei esse, é como se a cabeça nunca mais tivesse parado de pensar em jogos novos. É um barato que eu nem sei descrever direito.
Thiago Queiroz e suas obras como Designer
Ludopedia: Para fechar: como foi receber esse carinho da comunidade e da mídia e vencer o Prêmio Ludopedia com um jogo tão pessoal? O que esse reconhecimento representa para você?
Thiago: Foi especial demais, eu ainda não consigo colocar em palavras. É o reconhecimento dos pares, de pessoas que eu admiro muito e do público. E, sendo um jogo de vazas, categoria essa que muitos dizem até já estar super-saturada, esse prêmio significou demais da conta. Esse prêmio não é só meu, é da minha família inteira, que esteve comigo em cada teste, em cada ajuste e em cada risada. É também um reconhecimento de que jogos infantis podem ser relevantes, criativos e, principalmente, que não precisam ser enfadonhos ou entediantes para adultos — e, por fim, que merecem seu espaço nas prateleiras e nas mesas de todo mundo.