Caros boardgamers
E acho que nessa questão do usado ser mais novo ou mais barato que o novo, existem algumas coisas que precisam ser analisadas, que vão além de meramente comparar o preço. Logo de cara, é preciso entender que essa indignação e espanto com jogos usados sendo anunciados mais caro que os novos só faz realmente sentido quando o jogo ainda é vendido regularmente.
Nesse caso, considerando um jogo usado nas mesmas condições das cópias novas, ou seja, sem nenhum elemento a mais, ou nada que acrescente valor, aí eu acho que essa diferença, usado mais caro que o novo, realmente não faz sentido algum. Porém, quando o jogo está fora de catálogo, ou quando um reprint é improvável, aí a coisa muda de figura.
E aí se esbarra na primeira distorção, que é saber qual é efetivamente o preço do jogo novo. Para explicar melhor, basta tomar como exemplo as primeiras expansões do Mansions of Madness, "Pesadelos Recorrentes" e "Memórias Reprimidas", lançadas nacionalmente em 2016, ou seja, quase dez anos atrás. Se alguém lançar alguma das duas amanhã por R$ 500,00, fica difícil dizer se elas estão mais caras ou mais baratas do que custaram uma década atrás. Não é nem uma questão de apenas calcular o efeito da inflação do período, porque tem outras questões envolvidas, como a flutuação do dólar que impacta diretamente no preço dos jogos de tabuleiro (infelizmente sempre para aumentar o preço e nunca para abaixar), tamanho de tiragem, preço de frete e coisa e tal.
Por isso, como eu disse, dizer que o preço do jogo usado está mais caro que o novo, só vale se o jogo ainda está sendo comercializado, porque mesmo se o jogo tiver sido lançado no ano anterior, em que a variação do preço ainda não seria tão grande, ao menos teoricamente, fica complicado. Porque se o jogo tiver esgotado com uma remotíssima chance de nova tiragem, fica inviável a comparação.
E aí entra em cena aquele que eu acho que é o fator mais determinante, para o preço de um jogo usado ser mais caro que o novo que é a raridade. Jogos como Dead Man's Draw ou Pablo, que são sempre lembrados como bons jogos família, foram lançados o preço era bem baixo. Mas depois que esgotaram, eles são raríssimos de encontrar, e quem tem, normalmente não vende. Por isso, nas raras vezes em que esses jogos pintam no Mercado de Usados o preço é sempre alto, e muito mais alto do que o preço de lançamento, porque as pessoas saem no tapa para comprar. Basta pensar no preço que certos leilões atingem. Outro exemplo era o Pueblo, que antes do anúncio do reprint, atingia um preço absurdamente alto (e isso quando pintava uma cópia), dada a sua raridade.
Portanto, no caso dos board games usados, mesmo considerando os diversos outros fatores que entram na equação, eu acho que a raridade ou Lei da Oferta e da Procura, é o principal fator que faz eventualmente um jogo usado ser mais caro que do que ele custou no lançamento. Um exemplo disso é o Heat, que custou R$ 500,00 no lançamento, e que provavelmente vai ter um reprint. Atualmente não se vê uma cópia usada sendo anunciada por R$ 600,00, porque ainda existem cópias lacradas custando R$ 550,00. Mas se essas cópias se esgotarem antes do anúncio de um eventual reprint, muito provavelmente surgirão cópias usadas sendo anunciadas por bem mais do que R$ 500,00.
É assim que eu penso.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri