A fabricante de jogos de tabuleiro Panda expandiu pela primeira vez sua operação de produção para fora da China ao lançar uma joint venture no Brasil, em meio à crescente incerteza sobre as tarifas dos EUA que têm afetado fortemente a indústria de jogos de tabuleiro.

Desde sua fundação em 2007, a Panda já produziu mais de 70 milhões de jogos de tabuleiro na China, atendendo desde grandes editoras como Asmodee, Stonemaier e Leder Games até criadores iniciantes com projetos no Kickstarter ou Gamefound.

No entanto, o setor de manufatura chinesa tem enfrentado dificuldades recentes devido à política tarifária dos EUA. O presidente Trump elevou as tarifas sobre produtos chineses para até 145%, antes de um “período de trégua” de 90 dias reduzir esse número para 30%. Enquanto isso, a atividade industrial na China caiu no ritmo mais rápido desde setembro de 2022, com o acúmulo de produtos prontos causado por vendas em queda e atrasos nos envios internacionais.

A trégua de 90 dias gerou nova onda de problemas, com editoras de jogos correndo para embarcar produtos para os EUA antes do prazo final no início de julho, o que pressiona os preços de frete e gera atrasos adicionais.

O CEO da Panda, Michael Lee, disse ao BoardGameWire: “As tarifas — especialmente quando chegaram a 145% em abril — tiveram um impacto substancial. Vimos uma desaceleração nos pedidos e vários projetos foram temporariamente pausados.




“Felizmente, a Panda tem uma base de clientes global. Enquanto os EUA representam cerca de 58% do nosso negócio, também atendemos muitas editoras na Europa e Ásia, o que ajudou a absorver parte do impacto.

“Flutuações nos preços de frete e de matérias-primas continuam sendo um desafio, e esperamos que esses custos acompanhem a demanda — como ocorreu durante a COVID.

“Também estamos aconselhando nossos clientes a incluir prazos maiores em seus cronogramas de produção e envio, como precaução.”

A parceria com a empresa brasileira de impressão e embalagem Kawagraf — que já produziu jogos como Zombicide, Exploding Kittens e The Mind — oferecerá, segundo Lee, uma alternativa confiável para driblar os desafios tarifários dos EUA sem comprometer os padrões de qualidade da Panda.

Ele explicou que a Panda já planejava expandir a produção além da China desde a primeira gestão de Trump, considerando parcerias nos EUA, Europa e outras partes da Ásia.

Lee afirmou: “No fim das contas, a parceria com a Kawagraf no Brasil nos empolgou mais por diversos motivos. A empresa tem grande expertise técnica, experiência com marcas internacionais e o Brasil oferece isenção fiscal para importação de matérias-primas e componentes que são transformados e exportados.

“As tarifas de importação do Brasil, de 10%, são as mais baixas entre os países que consideramos — mais vantajosas até que nos EUA, onde matérias-primas e componentes enfrentam tarifas elevadas.”

Os primeiros jogos fabricados pela Panda Brasil devem chegar aos EUA nas próximas semanas, com a empresa ampliando gradualmente suas operações na fábrica em São Paulo. A Kawagraf tem histórico na impressão e embalagem de alto padrão para empresas como L’Oréal e Samsung, e segundo Lee, adaptou-se com sucesso à produção de jogos de tabuleiro, demonstrando a qualidade técnica exigida pela Panda.

A nova fábrica é ideal para componentes de papelão, papel e madeira. Para jogos com muitas miniaturas, a produção de plásticos continuará sendo feita na China, mas esses componentes poderão ser importados ao Brasil com isenção de impostos, desde que integrados ao jogo final montado para exportação.

A Panda também considerou expandir para o Vietnã, mas, segundo Lee, o país não apresenta o mesmo potencial de mercado local da América do Sul, além de estar sob crescente fiscalização alfandegária em relação a produtos chineses redirecionados pelo país.

“Continuamos avaliando oportunidades globais, mas nosso foco é um crescimento estratégico que equilibre logística, custo e acesso ao mercado. O Brasil atendeu a todos esses critérios, por isso avançamos lá primeiro.”

A expansão também abre portas para o crescimento no restante da América do Sul, disse Lee, graças aos acordos comerciais do bloco MERCOSUL.

“O Brasil tem uma indústria gráfica e de embalagem altamente desenvolvida, com uma cadeia de suprimentos robusta para matérias-primas. Isso o torna um local ideal para produzir componentes centrais como caixas, tabuleiros e cartas.

“Além disso, o país é geograficamente mais próximo dos EUA que a China, reduzindo em cerca de uma semana o tempo de envio. O Brasil tem o maior mercado de jogos da América do Sul, com editoras de destaque como Galapagos Jogos, Grok e Paper Games.

“A Argentina e a Colômbia são as segunda e terceira maiores economias do MERCOSUL. Apesar do acesso limitado a jogos, há comunidades ativas em ambos os países.

“Dado o tamanho da população e a cultura social desses países, acreditamos que há um potencial não explorado para expandir o hobby nessas regiões.

“Embora o Chile não faça parte do MERCOSUL, Santiago tem uma comunidade de jogos vibrante e abriga a feira Ludifest. Algumas editoras locais, como a Fractal Juegos, também já alcançaram sucesso internacional. Em um esforço para ampliar nossa presença na América Latina, recentemente contratamos nosso primeiro gerente de projetos fluente em espanhol, baseado em Santiago.”

Questionado se está preocupado com o futuro da indústria, Lee respondeu: “No curto prazo, sim — sentimos empatia pelas empresas que estão enfrentando dificuldades. Também sentimos o impacto, especialmente pela redução no volume de pedidos.

“Mas vemos esses desafios como catalisadores para inovações necessárias. Nossa expansão para o Brasil é um exemplo — não é apenas uma resposta às tarifas, mas uma estratégia de longo prazo para diversificar a produção e acessar novos mercados.

“Estamos otimistas quanto ao futuro da indústria, mesmo que o caminho imediato seja mais complexo do que o habitual.”

Fonte: https://boardgamewire.com/index.php/2025/06/09/exclusive-board-game-manufacturer-panda-expands-production-outside-of-china-for-first-time-amid-us-tariffs-upheaval/