Tendências de Preço dos Board Games no Mercado Brasileiro
Análise das Variações de Preço desde 2021
Ainda nos longos dias de pandemia, em 2021, tive a iniciativa de criar a primeira lista “
Fazendo uma coleção com jogos baratos em 2021”. Com essa postagem esse canal foi aberto. Naquela altura fazia mais ou menos uns dois anos que havia entrado no mundo dos jogos de tabuleiro, quando uns parentes levaram uns jogos para uma viagem e me presentearam com um Dobble e um Coup.
Já era apaixonado por jogos desde pequeno, mas a partir do nome das editoras na caixa dos jogos acabei conhecendo o mundo dos jogos modernos. Logo de cara me pareceu espantoso os preços, mas, com um pouquinho de paciência logo descobri os canais de vendas de usados e os sites exclusivos de pesquisa de preços dos jogos.
Sou um hobbista brasileiro "normal", ou seja, não dá pra comprar tudo, mas tenho um traço de personalidade que muito brasileiro tem: um gosto e uma habilidade por caçar promoção e por avaliar o preço das coisas. Sei dos perigos disso, por isso tenho sempre em mente os ensinamentos do grande mestre Julius: “mais barato é não comprar”. Com isso acho que encontrei um meio termo interessante. De fato, acho que não é saudável ou possível ficar só adquirindo jogo, mas vale ir trocando lentamente, assim dá pra curtir o que se tem e o barato da novidade.
Vi que esse tipo lista sobre o que está barato estimula a comunidade hobbista mesmo em tempos econômicos complicados. Lembrar de jogos do ano passado que estão ali bem mais acessíveis e que podem ser do mesmo tipo daquele lançamento hypado ou até bem melhor. Era legal ver que na lista se indicavam jogos, mas se compartilhava isso nos comentários e todo mundo se ajudava.
A partir disso, essa lista se tornou a principal tradição do Jogo Justo (embora tenha crescido no canal o interesse pelo uso dos jogos modernos fora do contexto do entretenimento, em ambientes de trabalho e educação). Dessa maneira, essa postagem pretende fazer uma análise leiga, mas embasada em dados bem interessantes gerados pelos quase 5 anos dessa lista que podem ser conferidas nos links abaixo:
Já na primeira lista percebia um desafio: O que é barato nesse ramo? Esse é o tipo de pergunta que não tem uma resposta. É preciso considerar o quando o jogo irá a mesa, o poder aquisitivo específico da pessoa e o desejo. Uma pessoa pode até ter julgar que tem um poder aquisitivo baixo, mas ela quer muito um jogo mais pesado, que é caro por essência. Ela não vai comprar um jogo desse tipo a toda hora, mas pode querer se dar um presente uma vez na vida – e é justo que o faça.
Essas listas não toveram a intenção de abarcar todo o mercado brasileiro, focam no desejo do hobbista, algo como: “Dos jogos que você quer, que você acha legal, o que está barato?”. Até porque jogo ruim e jogo que não agrada e não vai pra mesa não é barato. Por isso é são “listas colaborativas”, só funcionam se for assim, por isso sempre fica o convite nas listas de cada um adicionar jogos e, sempre que possível, comentar sobre o jogo e o preço.
O diferencial dessa listas foi criar um dispositivo que ajudasse os hobbistas a se localizar no mercado e entre si, criar um mapa em meio a uma oferta tão grande de jogos, mas com recursos de compra tão escassos para a maioria das pessoas. Assim os jogos foram divididos em categorias de peso. Não o peso das regras, tão conhecida no BGG, mas algo que mistura a quantidade de componentes, qualidade da produção e, sim, a qualidade do jogo em si e de sua equipe de desing, até porque é de se esperar que isso agrege valor ao produto.
As categorias surgiram depois de dois anos de pesquisa constante. Constatei que a cada ano os preços dos jogos se organizam mais ou menos nessas categorias de jogos. Isso ficou claro como bafafá do GloomHeaven de 1000 reais, que, na verdade, ficou muito tempo sendo 999,99 reais, o que demonstra que as editoras têm conhecem seu público e analisam o lucro obviamente com base no custo, mas não só isso, pensam também no número mágico, aquela imagem numérica que vai captar o nosso desejo para comprar.
Outro exemplo, foi o polêmico 7 Wonders Segunda Edição por 400 reais. “São só cartas e uns poucos cartonados”, “Não mudou muito coisa pra sair de 250 pra 400”. Eu mesmo peguei um ranço e boicotei. Valeu a pena! Joguei muita coisa, esperei e acabei comprando o meu tempos depois, por exatos 197,90, incluindo frete, novinho. Mais barato até do que jamais havia imaginado pagar na primeira edição quando entrei no hobby. Sério, nem queria mais tanto assim, mas com esse preço parecia que a editora estava me implorando pra comprar. Fiz essa “caridade” e não me arrependo. Mas isso por que pesquisei, conversei com a comunidade hobbista em locais como essa lista. Se querem uma ideia: nesse momento você não compra esse jogo usado aqui por menos de 238,50 mais frete.
Há aqui quem vá dizer: “com isso você está desvalorizando o produto”, ou “se não comprasse só na promoção o preço em geral era mais barato”. É o Brasil, minha gente! Não dá pra ficar comprando coisa cara. E digo mais, o mercado não pensa assim, ele não pensa em você especificamente comprar, ele pensa no lucro, se o Elon Musk comprar toda a tiragem do 7 Wonders, tá ótimo pra eles. Por isso está institucionalizado no mercado coisas como obsolescência programada, que desvaloriza os produtos usados; o fear of missing out, vulgo FOMO, qeu cria a ideia que você vai ficar de fora da comunidade sem um produto e faz o preço do lançamento ser propositalmente exorbitante e excludente. Com isso o mercado não liga para eu adquirir o lançamento, como um mero brasileiro normal, para muitos jogos, ele quer que eu e maioria aqui compre o resto da classe A. Se é assim, vamos jogar o jogo, mas vamos criar os nossos dispositivos, como essas listas. Pelo menos um mínimo de consciência de não comprar caro e assim forçar as editoras e lojas testarem o preço até chegar na nossa realidade.
Dito isso, vou apresentar aqui essas categorias e como temos trabalhado suas faixas de preço nesses anos.
*Dados do ano de 2022 deletados pela Ludopedia.
A multiplicação das categorias
Pode-se imaginar que o aumento do número de categorias se deu por conta do fato de ser um hobbista iniciante desvendando o mercado, no entanto, quem acompanha o mercado dos jogos no Brasil sabe bem que, de fato, o mercado se diversificou bastante nos últimos cinco anos. O fato mais notável disso foi o fenômeno Paper Games e sucesso dos jogos Pocket, o que fez em seguida mais duas categorias nessa editora. O sucesso foi tanto, que isso se tornou modelo no mercado e tem hobbista que compra esses jogos só pra ter a linha pocket ou micro de uma editora.
Comparação linhas pequena, pocket e micro da Paper Games
Já os jogos médios e pesados são os mais tradicionais que todo mundo conhece. Talvez a única categoria que apareceu aqui nas listas do canal e que já existia fora a dos jogos intermediários. No entanto, com a inflação e diversificação dos jogos vimos que, apesar de já existiram antes, também houve uma atenção maior para esse tipo de jogo, não tanto como essas linhas menores, mas pode ser que no rumo inflacionário atual, essa categoria venha a ganhar cada vez mais destaque, fora o aspecto portabilidade que ela tem, critério importante para a comunidade que precisa cada vez mais de espaço pra guardar jogos em casa e de portabilidade para levar jogos para uma quantidade crescente de pessoas que se interessam por eles.
7 Wonders Duel: exemplo de jogo intermediário.
As Mudanças nos critérios de preço
Esse é o quesito mais importante dessas listas e, confesso, é algo meio intuitivo depois de muito pesquisar, mas que ganhou uma autoridade pelo sentido que fez para os milhares de hobbistas que acessaram as listas, encaxairam seus critérios aí e dialogaram entre si.
De forma geral, o que se tenta com o estabelecimento de uma faixa de preço é considerar o poder aquisitivo do hobbista normal brasileiro, a inflação que sempre é esperada e o que é devido para quem cria e produz os jogos. Essa razão nunca será um cálculo exato. Sabemos que as editoras embora tenham um plano para cada produto, trabalham todos os seus produtos como um conjunto. O que quero dizer é que elas sabem que um jogo, como Wingspan pode ser mais barato, mas se ela sabe que vai vender toda a tiragem por mais de 400 reais ela vai fazer isso, até para poder cobrir o risco de outros produtos mais arriscados. Isso faz com que o Wingspan, sendo um joga mais pra médio em produção, tenha uma tendência de preço de jogo pesado.
Isso quer dizer que você não deve comprar um Wingspan? Não. No mundo que vivemos, às vezes vamos pagar caro pelo nosso desejo mesmo. O legal é ter consciência das opções que teríamos com os mesmos recursos.
Ok, então vamos agora relembrar o que é cada categoria e conversar sobre o que temos percebido no mercado em cada uma delas.
JOGOS PESADOS (450,00): Cada vez mais nichado
Os jogos considerados aqui como "pesados" são conhecidos por sua complexidade e pelo grande número de componentes que envolvem na produção e geralemnte, componentes de luxo: miniaturas, moedas de metal, tabuleiros grandes, etc.
Essa categoria de jogos têm tido problemas no mercado. Obviamente, têm ficado de fora das listas de compras de maioria dos hobbistas, especialmente dos novos. Isso devido a inflação do preço e o risco pro hobbista de gastar muito e jogar pouco. Ele acaba priorizando jogos que vejam mais mesa ou que o investimento seja menor.
O que tem ocorrido é uma espécie de on demand nesses jogos. Kickstarters e tiragens pequenas. Ou seja, não há tentativa de queda de preço, mas um foco em acertar o jogo e a pequena quantidade de quem vai pagar um preço bem mais alto que antes na verdade.
Ainda temos visto possibilidades aí para o hobbista normal por causa dos flops e do mofo (como foi o caso da recente onda dos Bloody Rage a menos de 300 reais, ou de um Angel Fury, que flopou), mas ssinto que isso vai ficar cada vez mais raro e jogos de alta produção, miniaturas e etc, serão para poucos.
JOGOS MÉDIOS (250,00): Paraíso brasileiro
A maioria dos board games se encaixa na categoria de jogos médios. Estes típicos jogos de caixa 30cm x 30 cm são geralmente mais casuais e voltados para a família. Tem geralemte um tabuleiro tradicional e maior quantidade de cartonados e componentes de madeira que os intermediários se pequenos.
Nos últimos anos, observamos uma tendência mista: enquanto alguns jogos mais hypados viram seus preços subirem significativamente (como o caso do Wingspan já citado aqui), muitos outros, devido à intensa concorrência, têm preços bem reduzidos. Para serem considerados baratos, jogos médios devem estar a menos de 250 reais. Esta categoria é especialmente interessante para novos jogadores e famílias que buscam entretenimento acessível. De uma forma geral é aqui que se encontram as maiores pechinchas. Acredito que as editoras não poderm abdicar dessa categoria, isso faz com que tenha muita competição e aqui temos um grande campo para a popularidade dos jogos no Brasil. É fácil hoje encontrar excelentes jogos dessa categoria por menos de 200,00 reias até.
JOGOS INTERMEDIÁRIOS (150,00): Normal
Semelhantes aos jogos médios, mas com uma caixa ainda menor, os jogos intermediários são frequentemente exclusivos para dois jogadores. Têm alguns componentes em madeira, plásstico ou cartonados, mas não tanto quanto os médios, de igual modo, podem ter um tabeleito, mas menor.
Esta categoria tem visto uma redução de preços, sem tantas opções como os médios, mas, de forma geral, ficam na faixa dos 150 mesmo, tornando-se uma opção econômica interessante.
JOGOS PEQUENOS (70,00): Vem inflacionando com o sucesso
Os jogos pequenos, geralmente embalados em caixas de 10cm x7 cm com um papelão duro, seus componentes são em maior parte cartas, podendo ter poucos cartonados, madeira ou plástico (geralmente só um tipo de componente que não são cartas).
Esses jogo têm tido elevação nos preços. A razão para isso é que, por serem mais baratos no geral, o mercado assimilou seu aumento de preço. No entanto, ainda há jogos pequenos que podem ser encontrados por menos de 65 reais, considerados baratos nessa categoria. Estes jogos são perfeitos para viagens ou para espaços limitados, oferecendo diversão compacta e acessível. Tá encaracendo, mas ainda dá pro brasileiro.
JOGOS POCKET (50,00): Seguindo a onda dos pequenos
Os jogos pocket são uma novidade no mercado, caracterizados por suas caixas de papelão mole e compoto só por cartas.
Para serem considerados baratos, devem estar abaixo de 50 reais. A inovação e o formato atraente destes jogos têm contribuído para seu crescimento no mercado, permitindo que os consumidores tenham acesso a entretenimento portátil sem comprometer o orçamento. Acho não vão subir de preço porque tem a categoria dos pequenos muito próximo na faixa de preço, mas as editoras podem começar a transformar todos os "pequenos" em pocket e fazendo uma categoria só e subindo o preço para a faixa de 80-90 reais. O novo
Schotten Totten parece indicar isso. Tinha tiles e caixinha dura, passou a ser só cartas, caixa menor e mole, o preço, o mesmo.
JOGOS MICRO (25,00): Ainda não dá pra avaliar
Recentemente introduzidos no mercado, os jogos micro são extremamente pequenos, compostos por poucas cartas e realmente cabem no bolso.
Para serem considerados baratos, devem estar abaixo de 25 reais. Esta categoria tem visto uma receptividade positiva entre os consumidores, especialmente aqueles que buscam praticidade e diversão rápida. A simplicidade na produção e no design destes jogos contribui para manter os preços baixos. Sinceramente, não vejo se falar muito deles e não sei como avalia-los, podem até estar em descendência.
Conclusão
Então, embora o mercado de board games no Brasil tenha visto um aumento geral nos preços, diversas categorias de jogos continuam acessíveis, permitindo que os hobbistas mantenham seu interesse e engajamento sem comprometer significativamente o orçamento. Infelizmente nas duas pontas dessas categorias parecem haver movimentos que podem ser um downgrade para o hobbista brasileiro: primeiro, parece que vai ficar cada vez mais difícil para um brasileiro comum adquirir jogos com componentes premium do que já foi e, em certa medida, ainda é; segundo, num movimento semelhante, os jogos pequenos parecem perder gradativamente seus poucos componentes de melhor qualidade (tiles, meeples, etc.) e virando uma grande categoria "barata" mais sempre com preço mais crescente que as demais categorias; por fim, os jogos médios se apresentam como o local dos melhores custo-benefícios, mas com os jogos mais hypados com uma elevação de preço exorbitante, paquerando já com preços de jogos pesados (vide o caso Wignspan citado).
De todo modo, a análise das tipologias de board games revela que, com uma pesquisa cuidadosa, é possível encontrar alternativas econômicas dentro de cada categoria, atendendo às necessidades e preferências dos jogadores brasileiros. Agora, é preciso estar atento e compartilhar sua experiência em comunidade, se não, não dá pra sobreviiver como hobbista.