E vamos de uma pequena série de postagens (creio que uma trilogia) centradas na identificação e apreciação das FLOPRECIOSIDADES. Pelo nome já deve dar pra entender, mas não é algo tão simples ou tão direto quanto falar em “tesouro escondido”, “diamante bruto” e alguns termos e abordagens já bem manjados. Digamos que será nessa direção, mas de uma forma meio que diferente, com nosso tempero do batendo de kina. Fazendo minhas as palavras do RaphaelGuri boa parte dos pontos aqui vieram de bate-papo descontraído, porém longo e encorpado sobre certos fracassos comerciais e como aferi-los, como senti-los indo um pouco além da intuição e do fato de estar vendo em promoções (que é um termômetro óbvio, mas não é o único). Resolvemos aprofundar um pouco mais na discussão sobre os flops dentro deste universo tão colorido e divertido, não somos “insiders” (você quis dizer: “gente de editora”) mas considerem que a postagem é um convite a entender um pouco mais desse fenômeno de mercado quando o jogo vende bem abaixo do esperado, a falha comercial: O flop.
PREÇO CHEIO E ESTEIRA DE LANÇAMENTOS
Não tem como não falar do famigerado preço cheio, ou preço de lançamento, ou ainda “retail” (já que quase não se usam termos em inglês ao falar sobre jogos de tabuleiros). O 400 e “lá vai preço” de hoje é o cento e poucos de amanhã se o flop acontecer. A questão é que se hypar, se as estratégias de venda juntas com boca a boca, tipo aquele share maroto num vídeo apresentando o jogo, e outras divulgações proliferarem do jeito certo, o jogo que pode ser apenas “ok” vira a próxima condição sine qua non” de aquisição pra coleção. Ou seja, essencial, maravilhoso, tudo que vc precisava e por aí vai. Escolher esperar já é o que uma fatia do mercado (os discordante$ ou menos abastado$) faz sempre. Aí vem um Harmonies, um skyteam, um coffee rush pra bagunçar a lógica de quem vai com calma haha. Mas faz parte... tirando o FOMO (fear of missing out/medo de ficar de fora) nosso de cada dia, a verdade é que dá pra passar sem. Há de se considerar que comprar depois que flopou e baixou o preço pode trazer suas agruras em termos de Mofo. Então entre Fomo e mofo, escolha seu anagrama e vá ser feliz, recomenda-se equilibrar os dois e diferente daquele eurão que afirma ter vários caminhos pra vitória mas não tem, aqui não há receita de bolo. Por vezes esse preço inicial calamitoso e que gera uma cascata de “nem f***ndo” vai ser o responsável pelo fracasso comercial.

Inclusive a janela pra isso acontecer tem diminuído cada vez mais. Muita gente pensa que a queda de preço rápida é por ter flopado com força, de forma violenta mesmo. Deixando de lado essa tentativa de classificar intensidades de flop, acredito que também ocorre devido a quantidade de lançamentos. Previamente havia uma regra silenciosa para por exemplo a black Friday, onde jogos daquele mesmo ano não entrariam em promoção, ficando pro ano seguinte. Hoje um jogo que não venda bem no bimestre/trimestre de lançamento, já sofre redução no bimestre/trimestre seguinte, alguns casos pontuais registram redução em pouco mais de 1 mês, deixando aquela aura de “quase ninguém quis”.
Essa esteira de lançamentos leva este kina que vos fala a refletir que antigamente falávamos de jogos do mês, hoje temos lançamentos semanais... é jogo pra caramba minha gente! Sabemos bem qual é a maior das editoras no momento, e acaba tendo que somar algumas (você quis dizer várias) outras editoras para equiparar, mas pensando no mosaico todo (não a editora, o mosaico mesmo hehe) não tem como todos os jogos serem absorvidos. Isso por si só, matematicamente falando já conta e já gera naturalmente fracassos comerciais. Aí vem todas as associações possíveis e imagináveis no sentido do jogo ser ruim, e isso é no máximo uma meia verdade que obviamente não se aplica a todos os casos de flop. Então essa parte aqui da postagem afirma que não há mercado suficiente pra absorver os jogos? Não da maneira que as editoras gostariam. Todo vendedor almeja fechar com a barraca vazia, afinal.
ESCOLHAS TENDENCIOSAS E A CORREÇÃO DO FLOP
Podemos pensar brevemente num viés psicológico, nesse afastamento natural que muitos (pra não dizer a maioria) sentem em torno do jogo que fracassou comercialmente. Temos mecanismos de seleção e preferências que tendem a almejar o que parece ser mais precioso. A pessoa mais bonita/atraente (sem parar pra falar sobre beleza relativa e imposição de padrão estético, pois daria outro texto) vai sempre/quase sempre receber uma priorização e favorecimento, em contrapartida um estabelecimento meio vazio te faz se perguntar se o lugar serve bem. Até pra pegar uma pedrinha brilhante na beira do rio você irá na que aparentemente brilhar mais naquele momento... E até onde podemos notar, não é nem um pouquinho diferente com os jogos. As exceções são o pessoal que adora o lado B, o jogo obscuro e tal, ou quem vai ficando calejado e tem todo um radar já configurado pra pouca coisa chamar sua atenção. Deixando de lado o mass Market, o consumo do público geral meio que “não-gamer”, o que conta é o hobbista médio que vai ter escolhas muitas vezes tendenciosas. Vejo muitos amigos do hobby se perguntando porque determinado título encalhou, aí outros vão dizendo qual foi o motivo do encalhe. Dependendo do jogo cada um diz uma coisa, por vezes dá match, ocorre um comentário que quase todos concordam em algum grau. Pode ser uma queixa em comum ou um apontamento bem lógico e depois disso cabe a pessoa filtrar e decidir se mesmo com as bronquinhas (em alguns casos são “broncas” de fato) serve para o seu perfil. Isso é ponderar se vai fazer um caminho diferente, ainda que tenha pedido ajuda ao gps, que nesse caso são as opiniões da comunidade, seja algo mais local, seja fórum nacional ou internacional.

Também cabe falar sobre a correção do flop! Digamos que “fazer justiça ao flop”, é outra coisa... Seria pegar um jogo dessa categoria e jogar descobrindo que foi uma boa/ótima aquisição pra coleção. Já corrigir o flop é mais do ponto de vista de fazer vender mesmo. Eu acho deliciosamente curioso o certame de correção de encalhe em termos de mercado, que são as promos do "patrão endoidou" que se traduzem em um grande “precisamos dar vazão no estoque”. Quando pensamos em promos de black friday e natal, vale dizer que o natal é a black da black, a desova que não desovou em novembro (na tal black) e aí vai direto pra categoria "bora insistir mais um pouquinho pra ver se vende" uma boa parcela tem uma baixa sazonal, depois fica num preço médio e não mais promocional, e dependendo chega a esgotar, para alívio dos lojistas e da editora. Mas também acontece do preço reduzido cristalizar, passar um bom tempo, de forma que até o menos observador cai a ficha de que não se trata mais de uma promo, e sim o real preço atual daquele título, até onde tiver caixa pra sair.
Fora o padrão de escolha tendenciosa, o medo de pegar um flop e não gostar, ficando depois meio travado pra vender, também ocorre devido a quem acompanha as flutuações saber que o jogo ficou meteoricamente mais barato em promos recentes. Foi brincadeira o que vi de Blackout hong kong tentando ser vendido por 150,00-180,00 ou pouco mais(que convenhamos, falando em 150 ainda é um bom preço) logo depois de ter sido adquirido por 100 conto ou pouco menos. Aí fica parecendo isca de desavisado sabe? E talvez seja mesmo, em minha opinião não é uma atitude louvável, mas vai de cada um e o mercado costuma autorregular entre a velha mão dupla de oferta e demanda.
TERMÔMETRO DA FLOPRECIOSIDADE E CIRCADIANOS
Porque é flop? Abaixo, eu vou dar “mirror” na tabela que o Raphael elaborou na postagem dele, mas basicamente ainda que a ludopedia só consiga registrar um recorte do mercado e a verdade de fato fique pras prateleiras e estoques mofando nesse Brasil’zão, ainda é o termômetro que temos, e serve pra tirar um retrato do panorama de algum jogo. Então ainda que entendamos que há ressalvas na precisão, iremos aferir através de critérios como: O conteúdo criado, a quantidade de pessoas que colocaram em sua coleção, quantos favoritaram, quantos anúncios tem no mercado da ludo e se teve promoção significativa, daquelas que fica por metade do valor original ou até menos. Então vamos mostrar um jogo que no geral não flopou, um flop bem identificável um jogo de sucesso absurdo e o nosso flop da vez que é o circadianos.
Observando acima, alguns descontos têm que ser dados (e nem me refiro aos descontos no preço dos jogos hehe). Vários critérios são contundentes, mas por exemplo se pensar na quantidade de anúncios, azul é o que tem mais, então tem mais gente querendo passar o jogo, porém o que conta é o tanto de gente que o tem, tornando o mesmo número um indicador baixo perante tantas cópias circulando. Outro ponto é que se observarmos quantos marcaram como “tenho” entre o Circadianos e o futurotopia o flop do primeiro parece maior, mas há de se considerar o tempo de absorção de mercado pois o circadianos é de março de 2023, e o futuropia veio 3 anos e 2 meses antes, em janeiro de 2020, então já teve mais tempo e mais promoções, portanto mais absorção. Mas então é um flop? Sim! E é uma preciosidade também, então pela união desses poderes surge uma flopreciosidade!!! Visto que já falamos um bocadinho sobre o flop em si, vamos falar especificamente sobre um título, pois a postagem também intenciona a boa e velha análise de um jogo.
Motivo de ser uma preciosidade? Ou simplesmente no que ele bate forte:
Vamos conhecer melhor o Circadianos: Primeira Luz? O objetivo em Circadians: First Light é liderar uma equipe de pesquisadores no planeta de Ryh. Os jogadores precisam gerenciar sua tripulação (dados) para visitar várias partes do planeta para comércio, agricultura, construção e pesquisa. Os jogadores pontuam por negociar com os locais, colher recursos para o depósito, melhorar sua base de pesquisa, explorar o planeta e coletar gemas. Ou seja, estamos falando de dice workers! O jogo como sempre cria situações onde números baixos podem ser valorizados, mas também há formas de aumentar ou reduzir em 1 os dados, inverter o lado, ou adicionar até +2 no valor. Foi feita lindamente uma mistura de movimento ponto a ponto com ganho de recursos no início do turno (income) pois você tem um hexágono que vai andando/explorando o planeta. O jogo não tem medo de ousar na assimetria, proporcionando poderes variáveis pro jogador realmente diferentes em seus 14 líderes. Tem vários líderes com entregas realmente diversas e como ele é segunda edição incorporou mais líderes ainda que eram de uma mini expansão. Também há 6 eventos (de 15) nas 6 rodadas, podendo dar boost, barateando certas alocações ou dificultando algumas coisas, ou seja, eventos positivos e negativos. O sétimo evento é o único fixo, sempre vem pra chamar o fim de jogo e pontuação.
Insert funcional, e recursos 3d como se já tivesse vindo com meio “upgrade kit”, o que leva a falar da economia/currency, que é curiosa. Você ganha 15 de água, mas gasta uns 10 rapidinho, o mesmo serve pra alga e energia, sendo alga o recurso incomum e energia o recurso mais raro, só superada por um minério vermelho/gema que dá ponto de vitória. Então sempre há muitas possibilidades todo turno e você terá que equilibrar os envios para as várias áreas de jogo (ações diversas) com se recolher um pouco e alocar em seu playerboard na parte que gera novos recursos. Você começa com 3 e pode ter até 5 dados. A ideia é obter mais dados pois vai executando as alocações para ganhar recursos sem precisar parar de fazer as ações importantes de cumprir contrato, negociar e seguir se deslocando no mapa do planeta. Algumas ações travam o dado alocado, então é outro motivo para manter um fluxo razoável de novos dados vindo, com o próprio jogo recomendado que o jogador nunca tenha menos de 3 dados no início da rodada.
Outro ponto interessante é que dentro desse tema intergaláctico o jogo não foi pelo caminho mais comum de conquistas e dominação cósmica. É sobre interação, comércio, tratados sendo firmados. Em termos de regras, ainda é o input de recursos com um output de pontos, mas foi muito inteligente a forma como você é recompensando ao trazer algo novo pra mesa de negociações que em termos de regras é quando faz isso com um dado de valor inédito (o primeiro 1, o primeiro 2, etc). Porém tem que tomar cuidado com punições que simbolizam que você teve perdas, que o acordo saiu caro, com os alienígenas podendo se tornar muito demandantes. O jogo chama isso de contratempos, e existem 3 colunas onde se negocia alga, energia ou o minério vermelho/gema. Numericamente falando, você resolve as punições se na mesma coluna você “chegar” com um dado de número igual, ou se a somatória der 8 ou +, depois 10 ou + e por aí vai. As cartas de contrato são outra fonte de pontos havendo os que focam de fato em pontuação e os que dão alguns pontos, mas potencializam certas alocações. Então as partidas tendem a ser sempre diversificadas e o jogo ainda tem 2 variantes, sendo uma pra facilitar as alocações e deixar o jogo mais leve ao retirar a obrigação de alocar da esquerda pra direita na ordem que você colocou em seu playerboard, e a mais interessante onde você começa com a pool inicial de recursos um tanto quanto reduzida mas pode usar 2 líderes em vez de 1, gerando sinergias verdadeiramente lindas, tipo um combinho já no setup. E tem modo solo, com 4 níveis de dificuldade e razoavelmente fácil de operar, pra solista nenhum botar defeito. Agora, não é por ser precioso que não vai conter falhas, e aqui no canal a gente nunca tem cegueira pro que o jogo apresenta que não é legal ou seja...
...no que circadianos bate de kina?
Primeiro os jogadores rolam, depois alocam eu seu tabuleiro de jogador, depois retiram pra alocar da esquerda pra direita e isso faz toda diferença pelos espaços mais concorridos, então isso é feito atrás de biombo. Muita gente não acha isso legal, mas caso alguém na mesa trapaceie, como já vi designer falando: “isso diz mais sobre o jogador do que sobre o jogo”. Na dúvida alguns grupos rolam foram do biombo e fazem as alocações de dado ocultas, atrás do biombo, pode ser meia solução. Já a arte... caramba... vamos com calma haha. Já dá pra observar na capa mostrada acima que não é o forte do jogo. Eu particularmente acho que fica no limite do ok, em Invasores de Cítia, ou O Legado de Yu funcionou, mas aqui só gera uma apresentação feia/complicada. Essa arte quase sempre divide as reações em 2 tipos: Quem gostou e quem não gostou, certo? Na verdade não! Teve quem achou ruim, e quem achou péssimo, o pobre jogo que me desculpe mas só vi uma pessoa dizer que achava a arte boa, e não sei de fato se foi com ironia, apenas observem novamente na foto acima a arte da capa.
Tal qual essa imagem reflexiva acima, é super válido pensarmos na cena do crime no Cenário da flopada! Como estava o mercado (em um recorte rápido), quando circadianos chegou nas lojas? Ora vejam, pelo que os mensageiros da época me disseram sobre outros “reinos”, em fevereiro de 2023 pensando no tipo de jogo compatível com a entrega que ele faz (ou seja, toda uma eurosidade) foi lançado simplesmente o Ark Nova! No mês dele que foi março de 2023 ele saiu junto com Encyclopedia, Meadow e Skymines. Ainda que com graus diferentes, são 3 flops, mas disputaram intenção de compra, percebem? E logo depois em abril de 2023 teve Dinosaur World(um certo flop) e Great Western Trail: Argentina(considerável sucesso). Só o Ark Nova já tira de tempo todos os citados, mas é interessante pra amarração, se debruçar sobre essa janela de 3 meses observando o mês anterior, o do lançamento e o posterior. Isso somado aos defeitos/ruídos que todo jogo tem (os jogos não são perfeitos, quem diria hein?). Como já citados, em termos de circadianos são os biombos e a arte. Gostar ou não de biombo pra informação oculta vai de cada um, mas a arte (obviamente está tudo bem se você gostar) fica na vizinhança do indefensável, como falamos acima. A promoção gritante é de 130,00, sendo que no lançamento ficava por volta de 400. Inclusive agora está em poucas lojas, mas isso é relativo pois pode ser um caminhar pra escassez, ou pode “do nada” a editora soltar mais cópias, já vimos acontecer.
Vamos encerrando e caso ainda não tiverem lido a postagem da Sociedade dos boards, só clicar AQUI. Aguardem novas postagens, vamos mostrar jogos que fogem do óbvio e podem surpreender (até porque boa parte do “óbvio” bombou e não virou flop). Como dissemos antes, serão jogos que são um flop, mas também são uma “preciosidade”, então pela união desses poderes vão surgindo as FLOPRECIOSDADES!!!
MAS E PRA VOCÊS, QUAL JOGO É UMA VERDADEIRA FLOPRECIOSIDADE?
Até o próximo reino a ser explorado, batendo forte e também batendo de kina!