danielwcastro::Então, essa é uma discussão dentro da arte por quem produz. Como graffiteiro, e cito no cast, há uma discussão se graffiti por encomenda ou na galeria continua sendo graffiti. Arte não é o resultado, é o processo e a motivação.
O graffiti é uma arte marginal, feita de forma ilegal, com foco em expressão de confronto, tudo o que projetos encomendados e a adequação às galerias tolem. Mas essa discussão vem desde os grandes "mestres" da renascença, que sempre se questionaram e é possível ver diferenças entre as artes encomendadas e as produzidas sem guia ou coleira.
Essa discussão se um produto é arte é apenas inversão de se arte pode ser produto e que existe desde sempre entre os artistas. Apenas saiu da bolha e causa, realmente, estranheza.
Eu, por exemplo, digo que vivo o graffiti, mas não de graffiti. Eu faço projetos de pinturas usando a estética e os materiais do graffiti, mas não é graffiti. Graffiti é quando eu vou pra rua com a minha crew pintar, sem preocupação além de fazer o que me dê vontade e trocar uma ideia com a rapaziada.
A arte não busca comunicar, a arte é tudo menos deliberada em qualquer sentido. A arte é e só. Ficamos muito presos em formas, cores e, pior de tudo, beleza ou funcionalidade. A arte não está preocupada com nada disso, apenas na sua existência.
A minha reflexão foi que os jogos em grande maioria hoje, não são arte. Elas são produtos desenvolvidos para atender á demandas específicas de editoras ou públicos, enquanto as verdadeiras artes estão fora de circuito e sem nenhum tipo de visibilidade. Infelizmente o capitalismo nos faz crer que tudo é produto e deva ter foco em vender e gerar valor.
Bem, acho que essa discussão é muito boa, mas no final quem se fode é quem cria e nunca quem tem os meios de produção.
Daniel, muitíssimo obrigado pelo feedback! De fato e de direito, não tenho nenhuma envergadura para discutir sobre o que é arte. Obrigado pelo esclarecimento do seu ponto de vista.
O graffiti, como você destacou, é uma forma de arte muito singular, pois pressupõe a existência do Estado e só existe dentro de um contexto marginalizante. Ele precisa de um sistema de regras para desafiá-las, de uma estrutura normativa para subverter. Essa é sua contradição genial: ele se define quebrando normas, exceto a própria norma que o constitui (a marginalidade).
Diferentemente de outras formas de arte, que vão sendo desenvolvidas num plano ou num suporte físico, o graffiti parece nascer primeiro como uma ideia disruptiva -- algo que existe antes mesmo de ser materializado. Ele é concebido para romper convenções, mas também carrega em si uma
mensagem de resistência (a "expressão do confronto"), e aqui surge minha dúvida: se o graffiti comunica uma
mensagem contra o opressor, como conciliar isso com a ideia de que "arte não busca comunicar"?
Na sua afirmação de que "os jogos, em grande maioria hoje, não são arte", entendo que, lendo
a contrario sensu, existiria uma minoria de jogos que seriam arte. Que tipo de jogos se enquadrariam nessa categoria? Seriam obras independentes, como PnP gratuitos? Ou seria determinado pela intenção do criador, livre das demandas comerciais que você mencionou?