Muito bom o episódio!

Um livro que li e me marcou muito sobre arte é o "O que é arte?" , do Leon Tolstoy. Recomendo!

Se arte é comunicar sentimentos e emoções através do subjetivo, então eu acredito que o jogo (as regras, e não design gráfico) é sim uma forma de arte. No momento que eu sento pra jogar um jogo, toda a linguagem das regras é uma forma de comunicar emoções, através de um desafio.

Talvez seria uma forma de arte tridimensional. Enquanto um quadro ou música seria uma arte bidimensional, ou seja, apenas o artista se comunica individualmente com cada apreciador, no jogo o designer se comunica com todos e todos os jogadores comunicam emoções entre si durante a partida.

Pra concluir esse bate papo gostoso, o mais importante é que jogo só é jogo se tiver regras. E na arte não é diferente. Por isso arte sem normas e padrões seria como um jogo sem regras. Se um mictório pixado ou uma banana na parede é arte, então qualquer coisa é arte e, ao mesmo tempo, nada é arte.

Quanto a algo ser um produto (portanto, não ser arte), não cabe criticar a forma como um todo por causa das aplicações atuais dela. Você acha que a música é menos arte só porque temos sertanejos universitários enlatados a torto e a direito? Você acha que o cinema é menos arte só porque Hollywood existe? (olha eu buscando a polêmica, já que nem entendo de filme...)

Sobre ser ou não arte, vocês vão ter que trazer argumentos muito mais robustos pra me convencer que não é arte uma obra me deixa imerso por horas, me permite experienciar diferentes maneiras de agir e pensar, que condensa elegantemente várias formas reais ou fictícias de se viver e que me faz terminar uma partida com aquele sentimento de emergência (no sentido de emergir mesmo), como quem desperta de um sono profundo sem saber onde estava e volta à realidade meio zonzo. 

Reflexões à parte, deixo como recomendação o livro "Games: Agency as Art" do filósofo C. Thi Nguyen, que aborda esse ponto, entre muitos outros que não conseguiria resumir aqui, de como a arte é a forma de nós comunicarmos e armazenarmos formas de agência ao longo de gerações. 

Achei excelente o episódio trazer várias opiniões divergentes. Acredito que a minha é parecida com a do Robert. Há um grande potencial desperdiçado quando enxergamos jogos apenas como entretenimento.

Na minha visão, jogos são tão produtos culturais quanto filmes e livros. E, assim como existem livros e filmes que são considerados arte, também podemos ter jogos que alcançam esse status. Cada obra — seja ela literária, cinematográfica ou interativa — carrega doses variadas de entretenimento e reflexão. Da mesma forma que há produções voltadas puramente para o consumo, também existem aquelas criadas para provocar emoções e transmitir sentimentos profundos. O mesmo vale para os jogos.

Além disso, nem todo jogo precisa ser sobre competição. No universo dos videogames, por exemplo, temos títulos como Disco Elysium, cujo foco está em redescobrir o mundo através da mente do protagonista. O jogo mergulha em questões filosóficas e morais, sem oferecer respostas certas ou caminhos óbvios — apenas dilemas complexos e humanos. 

Vejo também os jogos como uma poderosa plataforma para crítica social e política. E é justamente aí que muitos deles se tornam arte, ao abordar sistemas reais de maneira crítica e sensível. Hegemony, This War Of Mine e John Company são ótimos exemplos. Este último, inclusive, não foi feito para ser "vencido", mas para transmitir a sensação de como o mal pode ser banalizado, e como pessoas aparentemente boas são capazes de cometer atos cruéis em nome de interesses maiores.

Em resumo, eu concordo com a opinião de que nem todo jogo seja arte — e tudo bem. Mas sim, existem jogos que são, e esses merecem reconhecimento. No entanto, esse tipo de produção ainda é minoria no mercado atual e provavelmente continuará sendo.

Lucas Fratini::No episódio dessa semana eu compartilhei o microfone com a finesse dos artistas e jogadores para responderem se afinal, jogos são arte?


Os convidados foram André Rumjanek, Bruno Camurati, Nadi e Robert Coelho. Cada um com a sua formação e repertório deu o seu ponto de vista e o debate ficou muito rico, talvez seja um dos meus episódios favoritos do podcast. Confere aqui!


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E para você, jogos são uma forma de arte?
Comenta aqui a sua experiência que eu vou ler alguns comentários no próximo episódio!

Bom dia, boa tarde ou boa noite, Lucas.

Parabéns pelo cast. Estou curtindo muito, achei ele sendo citado no Fabuloso e maratonei.
Sobre o último episódio, vou dar meus R$0,02 de opinião porcaria. Eu concordo em parte com muita coisa, mas sobre a Arte sendo utilizada dentro de um sistema capitalista (que estamos inseridos, independente de vontade) não ser considerada arte eu bati boca com o rádio do meu carro! rsrsrsrs
A arte só é. Como ela será utilizada, não faz com ela ela seja menos ou mais arte, não a define como arte ou não arte. Senão os maiores pintores e escultores que, na minha porca opinião, criaram o que chamamos de Arte, faziam em sua maioria, como encomendas de Reis, Imperadores e os Raios que os Partam.
Imagine dizer que a Monalisa não é Arte? É capaz do próprio Da Vinci aparecer aqui e me dar um tapa na cara (que eu torceria para estar com tinta e venderia minha pele como arte - rsrsrs). O Xadrez, que corre à boca miúda, ter sido inventado para entreter um imperador ou rei (com origem extremamente controversa), não foi uma arte?
Definir o que é arte ou o que é jogo baseado no sistema econômico vivido que eu acho estranho e difícil de compreender.
Eu, sendo um idoso que adora jogos de tabuleiro e ainda faço voz para meus personagens ao mexê-los no tabuleiro ainda mais quando jogo com meu filho e minha esposa, acho que tanto o jogo ser arte ou a arte ser jogo, é o menos importante, o mais importante é: Foi divertido? Diversão e arte os Titãs já definiram que são os nossos objetivos. E pra mim, velho caquético, é a única coisa que vai importar.
Parabéns mais uma vez pelo cast e pelo debate. Foi de explodir a cabeça gatos (momento trocadilho com Exploding Kittens rsrsrsrsrs).
Ps.: Sim, sou velho que faz piadolas que na minha época eram chamadas apenas de anedotas!
Abração!

Nunca me vi, nem metaforicamente, puxando o pé do host! Nem na realidade. Mas não serei vingativo! Não colocarei nosso querido host em maus lençóis diante de um textão... mas dificilmente escapará de um textículo.

(meu amigo - e é assim como já te considero -, peço perdão, desde já, pela brincadeira!)

Como diria Sun Tzu, até a guerra é arte. E minha mãe - não muito orgulhosa, nem muito satisfeita - costumava reclamar quando eu fazia arte. Pois bem, aqui estamos, prestes a fazer mais uma.

O fato de um objeto ser também um bem de consumo ou um produto industrial desqualifica seu caráter de obra de arte? Não entendi o argumento.

"E lá vamos nós!" Entrando mais uma vez num debate conceitual, onde a divergência de opiniões repousa - como bem pontuou Robert Coelho - nas definições centrais: o que é arte e o que é jogo. Curiosamente, enquanto ouvia a exposição do Robert, achei que ele caminhava para concluir que jogo não é arte. Eis que vem o plot twist! Mas, se era para ter uma reviravolta, claro que viria dele.

Pensemos: todo jogo carrega intencionalidade, produz experiências, provoca emoções, apresenta uma estética, segue regras (ainda que mínimas), faz parte da cultura, utiliza símbolos e representações. Tudo isso são características frequentemente atribuídas à arte - a depender, claro, do conceito adotado.

No entanto, nem todo jogo transmite (ou possui) uma mensagem, nem se insere, necessariamente, num contexto expressivo. Diferentemente da arte, que essencialmente busca comunicar, criticar ou expressar algo de maneira deliberada, o jogo pode existir apenas como desafio ou recreação para o jogador. Além disso, o jogo, por definição, pressupõe um fim - não é só forma, é máquina em movimento, e exige condições que determinam sua conclusão - enquanto a arte pode ser inacabada, ambígua ou mesmo contínua em sua fruição.

Talvez a chave esteja no modo como recortamos o campo. Se aceitarmos que todo livro, filme, escultura ou obra em certas mídias pode ser considerado arte, talvez possamos aplicar esse mesmo critério a determinados jogos. Não a todos, mas àqueles cuja intenção, forma e conteúdo os alinhem a esse universo estético e expressivo.

Ao meu ver,, eu vejo a arte, ilustração, aplicada ao produto, o jogo de tabuleiro, e não o jogo como arte em si.

Eu vejo que muitas obras de arte lidam com temas sociais e políticos, e pra mim isso falta nos jogos atuais, é raro jogo que toque, aborde ou milite em política e temas sociais ou espinhosos.

tuliobarros::Nunca me vi, nem metaforicamente, puxando o pé do host! Nem na realidade. Mas não serei vingativo! Não colocarei nosso querido host em maus lençóis diante de um textão... mas dificilmente escapará de um textículo.

(meu amigo - e é assim como já te considero -, peço perdão, desde já, pela brincadeira!)

Como diria Sun Tzu, até a guerra é arte. E minha mãe - não muito orgulhosa, nem muito satisfeita - costumava reclamar quando eu fazia arte. Pois bem, aqui estamos, prestes a fazer mais uma.

O fato de um objeto ser também um bem de consumo ou um produto industrial desqualifica seu caráter de obra de arte? Não entendi o argumento.

"E lá vamos nós!" Entrando mais uma vez num debate conceitual, onde a divergência de opiniões repousa - como bem pontuou Robert Coelho - nas definições centrais: o que é arte e o que é jogo. Curiosamente, enquanto ouvia a exposição do Robert, achei que ele caminhava para concluir que jogo não é arte. Eis que vem o plot twist! Mas, se era para ter uma reviravolta, claro que viria dele.

Pensemos: todo jogo carrega intencionalidade, produz experiências, provoca emoções, apresenta uma estética, segue regras (ainda que mínimas), faz parte da cultura, utiliza símbolos e representações. Tudo isso são características frequentemente atribuídas à arte - a depender, claro, do conceito adotado.

No entanto, nem todo jogo transmite (ou possui) uma mensagem, nem se insere, necessariamente, num contexto expressivo. Diferentemente da arte, que essencialmente busca comunicar, criticar ou expressar algo de maneira deliberada, o jogo pode existir apenas como desafio ou recreação para o jogador. Além disso, o jogo, por definição, pressupõe um fim - não é só forma, é máquina em movimento, e exige condições que determinam sua conclusão - enquanto a arte pode ser inacabada, ambígua ou mesmo contínua em sua fruição.

Talvez a chave esteja no modo como recortamos o campo. Se aceitarmos que todo livro, filme, escultura ou obra em certas mídias pode ser considerado arte, talvez possamos aplicar esse mesmo critério a determinados jogos. Não a todos, mas àqueles cuja intenção, forma e conteúdo os alinhem a esse universo estético e expressivo.

Então,  essa é uma discussão dentro da arte por quem produz. Como graffiteiro, e cito no cast, há uma discussão se graffiti por encomenda ou na galeria continua sendo graffiti. Arte não é o resultado, é o processo e a motivação. 
O graffiti é uma arte marginal, feita de forma ilegal, com foco em expressão de confronto, tudo o que projetos encomendados e a adequação às galerias tolem. Mas essa discussão vem desde os grandes "mestres" da renascença, que sempre se questionaram e é possível ver diferenças entre as artes encomendadas e as produzidas sem guia ou coleira. 
Essa discussão se um produto é arte é apenas inversão de se arte pode ser produto e que existe desde sempre entre os artistas. Apenas saiu da bolha e causa, realmente, estranheza.
Eu, por exemplo, digo que vivo o graffiti, mas não de graffiti. Eu faço projetos de pinturas usando a estética e os materiais do graffiti, mas não é graffiti. Graffiti é quando eu vou pra rua com a minha crew pintar, sem preocupação além de fazer o que me dê vontade e trocar uma ideia com a rapaziada.
A arte não busca comunicar, a arte é tudo menos deliberada em qualquer sentido. A arte é e só. Ficamos muito presos em formas, cores e, pior de tudo, beleza ou funcionalidade. A arte não está preocupada com nada disso, apenas na sua existência. 
A minha reflexão foi que os jogos em grande maioria hoje, não são arte. Elas são produtos desenvolvidos para atender á demandas específicas de editoras ou públicos, enquanto as verdadeiras artes estão fora de circuito e sem nenhum tipo de visibilidade. Infelizmente o capitalismo nos faz crer que tudo é produto e deva ter foco em vender e gerar valor.
Bem, acho que essa discussão é muito boa, mas no final quem se fode é quem cria e nunca quem tem os meios de produção.

Bem, o meu foco principal em participar no cast era gerar debate e apresentar uma visão de como o capitalismo estraga a nossa relação com processos criativos, pois ele foca em transformar tudo em produto e gerar renda, até o hobby. 

Isso causa um sofrimento gigante em quem produz, destruindo completamente o processo criativo. Eu não sentia prazer em produzir um mural depois que virei um produtor de arte. Quando era uma atividade por pura expressão, era muito foda do momento do rascunho á última borrifada do spray. Quando virou profissão, passei á ficar tenso, pois cada pintura despretensiosa poderia estar sendo vista por clientes ou quem curte o meu trampo. Passei á não dar mais os rolés de bobeira com a galera, sair pra fazer uns bombs sem rumo e sem nada planejado. Perdi boa parte da minha vida social e afetiva.

Quando entendi que a minha arte não era o produto que eu vendia, muita terapia também, passei á voltar á pintar aos poucos e estou pegando ritmo novamente. Se tudo der certo em dezembro vou voltar á pintar toda semana um murinho novo, sem cobrança e nem stress.

Mesmo que não haja uma definição consensual de arte, eu considero que não.

É certo que há muito trabalho criativo nos jogos, e muito trabalho visual também, mas no final das contas, o aspecto do produto - de algo utilitário, feito sob encomenda e em larga escala, pesa muito e limita demais o lado criativo.