brunovsk85::Lá eu de novo perturbando vocês aqui... hehehe
Nunca joguei Carcassonne, apesar de ser um clássico consagrado. Fico me perguntando se é melhor comprar só o jogo base e ir comprando as expansões quando sentir necessidade ou comprar logo a Big Box.
Gostaria da opinião de vocês.
Caro
brunovsk85
Em primeiro lugar, no quesito comprar big box ou comprar o jogo base com as expansões em separado, existem alguns fatores que você deve considerar. O Carcassonne é o jogo "evergreeen" por excelência, ou seja, o jogo que está sempre sendo produzido e vendendo horrores, principalmente no exterior. O Carcassonne e o Catan são os dois principais jogos do início da Era dos Jogos Modernos, que mesmo passados mais de vinte anos (trinta no caso do Catan), nunca deixaram de ser produzidos um ano sequer. Portanto, comprar o base e as expansões desejadas não é algo tão difícil assim. E isso sem contar que a total ausência de dependência de idioma torna mais acessível comprar material importado, embora isso seja mais caro.
Dessa maneira, provavelmente comprar a big box já de cara te dá a opção de jogar com as expansões, e talvez saia mais barato, o que é um ponto positivo para as caixonas. Só que o tamanho das big box, dificultam sobre maneira arrumar um lugar na estante, e conforme a coleção cresce, rapidamente a falta de espaço pode se tornar um problema. Também é preciso considerar (e isso ninguém te conta) que esse conceito de big box é algo direcionado para mercados mais consolidados, como o europeu e o norte-americano. Em países com mais tradição em board games e mercados maiores e mais robustos, as pessoas já tem grupos de jogo bem estabelecidos e com o hábito de jogar regularmente. Em outras palavras, o jogo não sai de casa, e as pessoas é que vão até a sua casa jogar, quando querem jogar Carcassonne. Quando a noite de jogos é na casa de outra pessoa do grupo, se ela não tiver o Carcassonne Big Box, certamente o grupo vai jogar outro jogo, que também terá uma versão big box, como por exemplo o Terraforming Mars. Desse modo, todos poderão escolher, entre jogar com ou sem as expansões.
O problema é que essa não é a realidade do hobby de boards games no nosso país. Há um motivo para os jogos solo terem tanto apelo no mercado nacional, que é justamente o fato de boa parte da comunidade não possuir grupos de jogo tão bem estabelecidos. Nesse momento, você pode dizer "mas eu vou jogar apenas com a minha esposa, então o jogo não vai sair de casa...", e certamente muita gente está nessa mesma situação. Mas imagine que um dia você vai visitar um casal amigo, e tem a ideia de levar o Carcassonne consigo para apresentar a quem não conhece. Nesse caso a ideia é ótima, mas você se verá obrigado a abrir mão dela, porque o formato big box praticamente inviabiliza o transporte do jogo. Por outro lado, se você optar por comprar o base e as expansões em separado, isso não será um problema.
Você também tem de considerar que na big box você já tem um material específico. Evidentemente esse material extra foi incluído no big box de modo a tornar o produto mais atraente, com o acréscimo das expansões mais populares, considerando a opinião geral dos entusiastas do jogo, ou pelo menos acredita-se que o processo de seleção foi assim. Só que isso não é uma regra "talhada em pedra". Você pode, por exemplo, achar que as expansões que acompanham o jogo não são tão legais, e que boas mesmo são outras expansões que se precisa comprar separadamente. Nesse caso, ao invés de comprar o jogo base e as expansões em separado, se você comprar a big box direto, isso não representará nenhuma vantagem para você.
E aí entra em cena um segundo fator que eu acho fundamental. Você só vai saber se gosta do Carcassonne puro ou do Carcassonne com expansões (e quais delas), depois de jogar algumas vezes. Só que para jogar algumas vezes, normalmente, é preciso comprar o jogo. Nesse caso, eu ratifico aquilo que já foi dito anteriormente de que o melhor é fazer um test drive antes de comprar o jogo. Esse test drive pode ser feito jogando no BGA, ou melhor ainda comprando a versão digital na Steam. A versão digital sai bem barato (muito mais barato que a cópia física, então se você não gostar, não vai perder tanto dinheiro), além de te dar a possibilidade de jogar contra a IA do jogo. Você também pode comprar diversão expansões que também são bem baratas, para poder experimentar e ver quais se adequam melhor ao seu gosto.
Além disso, esse dilema Carcassonne, com ou sem expansões, já foi amplamente discutido, não apenas aqui no Ludopedia, mas principalmente no BGG. Só para usar uma analogia que todo mundo conhece, basta pensar em café. Algumas pessoas gostam de café, e só café (alguns não colocam nem açúcar). Para essas pessoas o café preto, puro, e de preferência coado, é aquilo que os satisfaz, e adicionar qualquer coisa além disso, é estragar a bebida que elas tanto apreciam. Já outras pessoas preferem café expresso, com toques de baunilha, uma grossa camada de chantily por cima, com muita canela em pó salpicada. Para esses, o café puro é muito sem graça, de modo que é fundamental incrementar um pouco as coisas.
Eu gosto muito do Carcassonne, principalmente por conta da sua simplicidade elegante, que esconde por trás uma imensa profundidade estratégica. Por isso eu particularmente acho que a proposta inicial do Carcassonne já é excelente, naquilo a que o jogo se propõe. Por isso, para mim, adicionar qualquer elemento a mais só estraga o que já está perfeito, como foi o exemplo do café com frufru acima. Assim, para mim o Carcassonne é como um prato de alta gastronomia cuja receita está bem balanceada e na medida exata, e qualquer coisa que se adicione, por mais que a intenção seja boa, só vai desequilibrar e piorar o prato.
Por fim, o Carcassonne é uma prova de que alguma aleatoriedade, ou melhor dizendo algum fator sorte, é fundamental para aumentar a jogabilidade do board game, desde que usado com muita sabedoria e muita parcimônia, para não se tornar o elemento preponderante do jogo. Desse modo, como o Carcassonne já possui a variabilidade do sorteio dos tiles, na minha opinião, isso dispensa a necessidade de qualquer expansão. O problema é quando a pessoa se torna fanática pelo jogo que começa a jogar memorizando os tiles, contando aqueles que já saíram e calculando a possibilidade de sair o tile que se precisa no próximo turno. Nesse caso, e talvez só nesse caso, talvez seja necessária alguma expansão, mas aí já não é culpa do jogo, mas sim da forma obsessiva como algumas pessoas jogam. Para quem quer apenas se divertir, com um dos melhores boards games de todos os tempos, o jogo base puro já está de bom tamanho.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio