Rigueira::adolfocaetano:: Problema de tradução é o tradutor querer inovar e mostrar erudição; aí sai essas expressões poucos usuais, quase estrangeiras. Aí coloco uma questão. Pra que serve a tal tradução? Não seria para tornar o texto inteligível, compreensível? Chamar de besouro e cervos, ao invés de vaca loura e corço (google, inclusive, indica erro avermeiado, de tão chique que é a palavra) atrapalharia a compreensão do jogo. Não. O que atrapalha é o cara não lembrar o nome usado na regra e começar a chamar de "bizorro" e veado (como aconteceria no meu grupo), mas funcionaria perfeitamente na comunicação do grupo (que é a função principal da linguagem).
Dada a minha humilde opinião de bost[...] que ninguém pediu e tampouco importa... Boas jogatinas e mais um dia a todos.
Primeiramente, obrigada pela contribuição. Esse é o ponto! Traduzir utilizando palavras pouco usuais atrapalha a compreensão e a comunicação com certeza. Se a ideia foi seguir a linha da utilização de uma linguagem mais coloquial, com nomes mais usuais como perereca e fuinha, pra mim não faz sentido usar vaca-loura e corço. E mais ainda quando já se vem usando a palavra corça em outras traduções. Eu confesso que achava que era corça macho e corça fêmea. Rs.
Caros
Rigueira e
adolfocaetano
Eu concordo totalmente com vocês de que a função da tradução é facilitar a compreensão. Nesse caso, a princípio, parece não haver sentido em utilizar uma palavra que ninguém conhece, ou quase ninguém mais usa. Além disso, essa erudição exacerbada só complica para os outros entenderem aquilo que se quer dizer. Quem é advogado, magistrado, promotor ou defensor público que o diga. Um exemplo claro disso, que eu tenho até medo de citar, para não reavivar uma discussão morta e enterrada foi a famosa Intrusora do Nemesis, que teria sido muito melhor traduzida como Intrusa, se fosse o caso.
Também é preciso entender que na vida real, o termo besouro pode ser alguma absurdamente genérico, com disse o
fantafanta, que se aplica a dezenas de milhares de espécies, o que não indicaria o seu uso. Mas esse termo é algo que qualquer um entende muito mais facilmente que "escaravelho". Então mesmo não sendo tão preciso científica e biologicamente falando, se não houver nenhum outro inseto no jogo, nesse caso específico eu acho mais acertado usar besouro que qualquer outro termo. Desse modo, para mim a tradução tem de servir ao objetivo maior de deixar o jogo mais compreensível e acessível, possível (eita Iuri, três palavras rimando, assim sua avó, que pelejou tanto para te ensinar a escrever, deve estar se revirando no túmulo!!!



).
Só para esclarecer, eu quero deixar claro que não tenho o jogo, porque eu não sou louco de dar 300 reais em um baralho de cartas, então estou apenas dando a minha opinião, que ninguém pediu, porque eu gosto muito e me interesso muito pela língua portuguesa. Por isso peço perdão por qualquer impropriedade.
Dito isso, eu acho que ninguém aqui vai discordar, de que a tradução de um jogo não é o local mais adequado para quem traduz mostrar o quanto ele é erudito e o quanto o seu "vernáculo multisciente e castiço" está em dia. Assim, o mais indicado é realmente utilizar na tradução do jogo, palavras que todo mundo conhece. Mas aí é que entra questão: quem é esse "todo mundo"?
Nós precisamos lembrar que vivemos em um país continental, em que todo mundo fala a mesma língua, e não existem dialetos aqui que mereçam qualquer menção. A China é quase do tamanho do Brasil e fala 10 idiomas principais. A Índia que também tem quase do tamanho do Brasil, vai além e registra mais de 400 dialetos e idiomas. Claro que esses dois países tem cada um, uma população 7 vezes maior que a brasileira, e isso conta muito para terem essa quantidade absurda de idiomas e dialetos. Mas as grandes distâncias, e o isolamento das vastas áreas e vastas populações também é um fator predominante para a profusão de línguas faladas, e para o surgimento de regionalismos, quando só se fala uma única língua no país.
Aliás, falando em regionalismos, é bom lembrar que o Brasil, diferentemente de China e Índia também é um país enorme, mas todo mundo fala português. E nisso temos de agradecer ao "medroso" D. João VI, que manteve e incentivou o projeto de um "Império Português Tropical" nas Américas, sendo um dos responsáveis por termos o tamanho que temos hoje, ao invés de nos dividirmos em diversos países pequenos, como ocorreu com toda a América Espanhola. O problema é que todo mundo aqui fala português, mas fala exatamente "o mesmo português". Como tudo aqui é muito distante, e durante séculos os meios de comunicação foram muito ruins e restritos a quem tinha dinheiro (celular só se popularizou em meados dos anos 2.000 gente), é natural que boa parte das palavras que se usem no sul sejam diferentes do sudeste, que por sua vez são diferentes do nordeste, que variam em relação norte, que diferem do centro-oeste. O "bacorinho" é um exemplo, porque não se usa em uma região, mas é comum em outra, embora na variante "bacurinho" ou "bacurim", para se referir aos filhos pequenos ou crianças.
Desse modo, talvez o mais compreensível seria usar veado no lugar de "corso", como masculino de corsa (que muita gente associa mais ao carro do que o animal, embora o nome daquele derive diretamente desse último). Só que aí se esbarra no significado coloquial de "veado", que se usa muito mais com outra conotação, do que para designar o macho da espécie. O mesmo se aplica a vaca loura, que pelo menos na minha quebrada se refere muito mais a uma "periguete de cabelo tingido" (as "loiras de farmácia"), do que o animal com esse nome.
Assim sendo, por mais estranho que me pareça usar "corso" e "vaca loura", e eu nem sei se a intenção de quem optou por esse termos, foi exatamente essa, mas pelo menos, apesar de dificultar o entendimento, agora todo mundo conhece algumas palavras novas, e que demonstram a riqueza do nosso idioma. Então talvez essa dificuldade de compreensão seja um preço justo a se pagar para aumentar o nosso vocabulário.
Para terminar, em se tratando de português rebuscado, eu não posso deixar de indicar uma verdadeira pérola de texto do imortal e muito saudoso Chico Anysio, no antigo programa Chico Total (que eu tive o prazer de assistir ao vivo), com o título de "Língua Portuguesa", e que vocês podem assistir nesse link:
https://www.youtube.com/watch?v=h6MXtPxF2n4
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
.P.S. Vá lá, "Corso" tudo bem, agora estranho vai ver aparecer um "Onço" e um "Cobro", como macho de onça e cobra, nas próximas versões do jogo...

