fantafanta::Eu li essa matéria e estou tentando entender a quem possa interessar tais informações.
Obviamente não sou um grande fã da CMON. Na verdade não sou nem um pouco. O único jogo deles que curti até hoje foi o Modern Art Card Game. Mas pelo jeito há sim quem se importe com tudo isso e eu estou só falando bobagem.
Só que esse é apenas o movimento "natural" do mercado dando seus pulos.
O que me surpreende é que eles se surpreendam com a elevação dos "custos de vida" - operação - que eles mesmo ajudaram a fomentar sem contrapartida à altura.

Caro fantafanta

Meu camarada eu concordo consigo. 

Um dos principais e mais sérios problemas, em um setor econômico, é justamente quando as empresas entram em uma espiral ascendente de elitização de  seus produtos, cobrando cada vez mais caro por unidade. Quando se trata de produtos de nicho, com um mercado consumidor mínimo, potencialmente a coisa fica ainda mais perigosa. 

Desse modo, um dia a empresa pode acordar e descobrir que ela reduziu tanto a quantidade de pessoas com capacidade econômica para comprar seus produtos, que todo mundo que podia comprar já comprou, e não se interessa em comprar mais. A empresa também pode descobrir que quanto maior o poder aquisitivo da pessoa, maiores são as suas opções de lazer, e que jogos de tabuleiro são apenas uma opção que competem com uma infinidade de outras opções. 

Esse é o caminho que o mercado nacional de jogos vem trilhando, há anos, e do qual, ao que tudo indica não se desviará tão cedo.

Assim sendo as editoras nacionais optaram fortemente pela lógica do consumo de exclusão, ao invés de procurar baratear os custos e baixar os preços ou, ao menos, trazer também jogos mais baratos, para contrabalancear a escalada nos altos valores cobrados pelos board games. Isso poderia, em tese, aumentar a base de consumidores desse jogos "menos caros", e obter uma clientela mais estável e com maior potencial de crescimento para as editoras nacionais. Infelizmente a única grande editora que eu acho que trabalha com essa lógica é a Papergames, que investe pesado nos jogos de cartas.

Ontem mesmo, um amigo (que não é do hobby) me ligou de uma loja de jogos, onde ele estava participando de uma noite de quiz com a filha (eles foram lá especificamente pelo tema do quiz, e não por causa dos board games). Ele queria saber o nome de um jogo que eu havia lhe mostrado, meses atrás. O jogo em questão era o Spyfall, na época esgotadíssimo, mas que teve uma nova tiragem recentemente. Meu amigo estava muito empolgado, mas se assustou com o preço (algo em torno de R$ 200,00), porque o jogo só tem cartas. Ele imaginou, no desconhecimento dele, que por esse preço deveria haver pelo menos um tabuleiro e alguns componentes a mais. O resultado é que ele acabou não comprando, porque mesmo gostando do jogo, achou muito caro. E olha que eu estou falando de apenas 200 reais que, pelos padrões de hoje, é bem barato. E esse meu amigo é um funcionário público, com um bom salário, que não é rico, mas tem um bom padrão de vida. Eu não duvido nada que dezenas de milhares de pessoas, em situação parecida, pensem a mesmíssima coisa e façam a mesma conta. E se para esse meu amigo que ganha bem, pagar 200 reais em um jogo de cartas é caro, dá para imaginar o quanto isso significa para quem não ganha tão bem, nem tem estabilidade profissional.  

O mais curioso desse relato, é que o Spyfall saiu pela mesma Papergames, que eu citei acima como exemplo de editora focada em jogos baratos. Isso é para você ver que, até no caso de uma das raríssimas editoras que se preocupa em atender um público menos abastado, o investimento em jogos baratos, pode até fazer parte da estratégia gerencial da empresa, mas isso só vai até certo ponto.   

De todo modo, quem viver verá.

Um forte abraço e boas jogatinas!

Iuri Buscácio