Caros orlandocn e RaphaelGuri
Rapaziada, eu gostaria de fazer dois pequenos esclarecimentos, em relação à minha posição quanto à necessidade de se apoiar as lojinhas de bairro, para que não fique parecendo que uma hora eu escrevo uma coisa e na outra hora escrevo algo diametralmente diferente.
Qualquer pessoa que já tenha lido alguns dos meus textos e comentários, sabe que eu sou um ardoroso defensor da necessidade de se baixar o preço dos board games, até para que o hobby cresça de forma sustentável, ao invés de apenas inchar, como parece ter acontecido durante e após a pandemia. Quando o crescimento é sustentável, o mercado cresce dali para cima, mas quando o que há é um inchamento, o mercado agora tem um tamanho x, que amanhã pode se reduzir drasticamente dependendo do cenário.
Então se eu que defendo sempre a necessidade de se reduzir os preços, e também que cada vez ele estão mais altos, parece no mínimo incoerente que eu agora esteja defendendo que se pague um pouco mais para apoiar a lojinha do bairro. Esse questionamento faz sentido, porém a coisa não é bem assim. No meu último comentário respondendo ao Raphael (que está concorrendo no Prêmio Ludopedia, então bora lá dar uma força), eu esclareci que eu vejo como válida, a possibilidade de se pagar mais caro em um ou outro jogo, para apoiar a lojinha, mas que isso é um modelo insustentável no longo prazo, inclusive como apontou o Marllos Dias, em outro comentário. Eu defendi ainda e continuo defendendo, que sendo inviável que um único comprador compre sempre jogos mais caros, por outro lado é bem possível, e razoável, que diversos compradores, comprem um ou dois jogos mais caros e que se uma quantidade considerável de pessoas agirem assim, possivelmente a lojinha de bairro consegue sobreviver, sem que ninguém sozinho precise sempre pagar mais caro, em todos os jogos que comprar.
Do mesmo, modo, em outro texto do camarada Davi dharrebola Henrique (que está concorrendo no Prêmio Ludopedia e também tem o meu voto), "A Morte das Ideias", eu defendi que é uma pena que já não saiam hoje jogos tão inovadores quanto os jogaços do passado, como Catan, El Grande, Tigris & Euphrates, Carcassonne, Agricola entre outros. Eu defendi isso, porque eu realmente acredito que com o passar do tempo a quantidade de jogos que dá para considerar como obras primas diminuiu bastante, e à olhos vistos. Pode parecer que seja implicância minha e que eu ache que só jogo antigo é que presta e que os jogos novos são todos uma porcaria. Só que isso é uma extrapolação muito equivocada e um grande exagero em relação ao que eu defendo. O que eu gostaria na verdade, e esse foi o espírito do meu comentário, é que hoje em dia surgissem mais jogos no nível desses colossos de board games do passado, que inovassem e efetivamente revolucionassem o atual mercado, com acontecia no anos 1990/2000. E um dos motivos que eu aponto para isso não acontecer, é justamente o fato de hoje as editoras e designers estarem muito mais voltados em produzir o mesmo jogo, com roupagem diferente, do que investir em inovação.
Vejam que eu não tenho nada contra que as editoras requentem um jogo de grande sucesso do passado, alterando o cenário para algo que tenha maior apelo entre os jovens de hoje, como super-heróis Marvel e DC. O que eu tenho contra, é que se faça só isso e apenas isso, e que quase nenhum recurso se destine à inovação, que é o que acontece atualmente com designers e editoras.
Quanto à parte final do comentário do orlando, relatando uma "DR lúdica" (justamente onde? isso mesmo em uma lojinha de bairro), eu acho que discussões assim são muito válidas, como por exemplo "jogo bom é jogo pesado", contra, "não interessa o peso o que interessa é a diversão", ou algo no sentido de "carteado é ou não jogo?". Quanto a isso, eu só posso dizer que discutir o hobby faz parte, e que isso é muito legal, desde que se consiga manter o respeito e a cordialidade. Se não houver embate, se todos concordarem em tudo, simplesmente nada de novo surge...
Outra coisa que vale a pena citar é que toda essa conversa de apoiar a lojinha do bairro, evidentemente parte do pressuposto de que existe uma lojinha de bairro, que por razões óbvias, é coisa que só se vê em capitais e nos grandes centros, e assim mesmo, nem em todos. Então se o sujeito mora em um cidade grande, com alto nível de IDH, mas que está afastada dos grandes centros, ou da capital do estado, esse é um cenário mais complicado, e que fica fora das minhas considerações, pela impossibilidade de se apoiar um lojinha de bairro que na prática não existe.
Para terminar, antes que alguém venha com a piadinha do "a carapuça serviu" kkkkk, eu quero dizer que escrevi esse comentãrio n"ao por estar na defensiva, até porque isso não faria sentido algum já que o Orlando não me citou especificamente (quem me dera que eu fosse tão importante e tão relevante assim). O fato é que o Orlando, de forma muito elegante e respeitosa, expos a opinião dele que envolve alguns pontos bastante específicos, e que tratam de assuntos que eu defendo vigorosamente. Por isso eu achei que seria uma boa prestar esses esclarecimentos, em relação ao meu posicionamento quanto a esses pontos.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio