No recente Living Card Game Fireside Chat, o chefe de estúdio da FFG, Jim Cartwright, apresentou a aposentadoria de produtos e a ideia de distinguir entre um “Ambiente Atual” e um “Ambiente Legado” em nossos LCGs cooperativos. Este artigo analisa mais de perto esses conceitos, especialmente sob a perspectiva de como sua introdução pode impactar ou influenciar nossa filosofia de design daqui para frente.

“Espere… Do que estamos falando?”
Se você perdeu o Fireside Chat, vale a pena revisar o que esses conceitos significam.

Basicamente, a partir do final deste ano, produtos de expansão mais antigos de nossas linhas de LCG começarão a ser aposentados. Isso significa que não os reimprimiremos mais e que eles não serão mais considerados parte do Ambiente Atual.

Essa prática nos permite definir um Ambiente Atual mais acessível, que consiste no conjunto básico, em qualquer outra expansão evergreen (sempre em impressão), bem como nas expansões mais recentes que ainda não foram aposentadas. Na prática, isso corresponderá a aproximadamente 2–3 anos de expansões ativas; listas precisas do que é considerado Ambiente Atual serão mantidas e atualizadas por cada linha à medida que novos produtos forem lançados ou que produtos mais antigos forem aposentados.

A definição do Ambiente Legado é bastante direta: qualquer produto que já tenha sido impresso para o jogo faz parte desse ambiente. Todos os produtos dentro de cada linha de jogo serão sempre compatíveis com todos os outros produtos dessa linha, o que significa que, se você tiver uma carta, poderá usá-la no Ambiente Legado. Para aqueles que jogam há mais tempo, nada no Ambiente Legado é tecnicamente novo, exceto pelo nome. Até agora, o único ambiente de cada jogo era simplesmente “se você tem uma carta, ela faz parte do ambiente”. Com essa mudança, jogadores veteranos agora podem escolher entre jogar com todas as cartas no Ambiente Legado, jogar apenas com as cartas novas no Ambiente Atual ou alternar entre os formatos como preferirem.

“Mas nós gostávamos dos jogos como eles eram… Por que mudar?”

Embora essas mudanças impactem o design, é importante lembrar que o motivo por trás da mudança não foi, em primeiro lugar, esse impacto. Acima de tudo, essas mudanças estão sendo introduzidas para tornar os LCGs mais acessíveis e, por consequência dessa maior acessibilidade, mais sustentáveis a longo prazo.

Ao estabelecer e enfatizar o Ambiente Atual, um LCG se torna mais atraente e administrável para os varejistas manterem em estoque, e os novos jogadores não se sentem intimidados, confusos ou afastados por uma parede infinita de produtos. Barreiras como essas já fizeram com que antigos LCGs desmoronassem sob seu próprio peso, e o objetivo principal dessa mudança é evitar esses obstáculos e continuar publicando novos conteúdos para cada linha por muitos anos.

“Esses são jogos cooperativos… então por que o ambiente importa?”

A ideia de “rotação de conjuntos”, na qual certos conjuntos de cartas saem do ambiente padrão após alguns anos de disponibilidade, não é nova para quem já jogou um TCG competitivo. Os benefícios mencionados na seção anterior (varejistas não precisam manter conjuntos antigos em estoque depois que eles saem de rotação, e novos jogadores não sentem que precisam das cartas antigas para entrar no jogo) fazem parte do motivo para a rotação, mas a ideia de “equilíbrio competitivo” também está atrelada a essa decisão. O que leva à pergunta: por que definir os ambientes Atual e Legado em um jogo cooperativo? Por que não simplesmente aposentar produtos e deixar que o ambiente resultante se forme naturalmente em cada grupo?

Para explorar uma resposta a essas perguntas, vamos começar com um exemplo simples. Imagine uma carta de evento neutra de Arkham Horror: The Card Game que custa 1 recurso e, como uma ação, causa 3 de dano a um inimigo Ghoul no seu local.

Essa é uma boa carta?

A resposta depende inteiramente do ambiente. Quais outras cartas de evento de custo 1 estão disponíveis? Existem meios mais eficientes de causar dano sem usar eventos? Qual a probabilidade de encontrarmos um Ghoul durante o jogo? Quanto dano normalmente é necessário para derrotar um Ghoul? Há incentivos ou desvantagens para jogar com cartas neutras? Note que nenhuma dessas perguntas se refere à carta em si, mas todas consideram o resto do ambiente.

Perguntas como essas, e muitas outras, influenciam a maneira como pensamos (conscientemente e subconscientemente), sentimos e discutimos (com outros membros da comunidade) sobre a carta. E isso se aplica a apenas uma carta simples e direta — o contexto ambiental desse tipo acompanha todas as cartas do jogo. Em resumo, esses pensamentos, sentimentos e conversas moldam a forma como experimentamos o jogo.

Essas considerações são mais importantes em um jogo “competitivo” (humano vs. humano) do que em um jogo “cooperativo” (humano(s) vs. baralho de encontros)? Isso é discutível, e a resposta provavelmente varia dependendo de quem responde. Para nossos propósitos, o simples fato de que essas considerações fazem parte da experiência de um LCG cooperativo já é suficiente para estabelecer que ter um ambiente bem definido e bem estruturado é um recurso importante para manter em nossos LCGs.

“Como essas mudanças afetam a abordagem de design da FFG?”

À medida que nossos LCGs cooperativos entram nessa nova era pelos motivos já mencionados, diversas vantagens secundárias surgem para nossas equipes de design. Estamos empolgados com as possibilidades que essas mudanças trazem e ansiosos para explorá-las em nossos esforços de design.

A primeira e mais significativa dessas oportunidades é a capacidade de aumentar nosso foco no Ambiente Atual. Testar um novo conjunto de cartas em um ambiente que inclui quase uma centena de outros produtos para estabelecer o nível de poder desejado (para cartas de jogador) ou a dificuldade (para cada cenário) consome muitos recursos. Ter a possibilidade de refinar nossa análise e focar no Ambiente Atual durante todo o processo de desenvolvimento será inestimável tanto para nossos designers quanto para nossos playtesters. Isso não significa que vamos abandonar completamente o Ambiente Legado; significa, sim, que vamos priorizar a otimização do Ambiente Atual. Se surgir uma decisão de design em que o Ambiente Legado puxa para um lado e o Atual para outro, sempre priorizaremos o que melhora a experiência no Ambiente Atual. Além disso, para os jogadores que gostam do formato Legado, parte da diversão será justamente experimentar um jogo mais aberto, onde combos inusitados e momentos de surpresa podem acontecer com mais frequência.

A segunda oportunidade pode ser resumida em uma palavra: impacto. Quando uma nova carta é lançada, o tamanho do ambiente no qual ela é inserida desempenha um papel significativo no impacto que ela terá. Ambientes maiores tendem a se tornar estagnados, onde as mesmas cartas e estratégias continuam surgindo como as melhores opções de jogo. Já ambientes menores tendem a mudar com mais frequência. Isso significa que, com o crescimento contínuo do pool de cartas, a influência de cada nova carta lançada diminui ao longo do tempo. Uma vez que o conceito de aposentadoria de produtos é introduzido, o Ambiente Atual passa a evoluir de maneira muito mais dinâmica, já que cartas mais novas enfrentam menos concorrência, cartas antigas saem e novas estratégias emergem. Isso permite que nossas equipes de design moldem a experiência de cada ambiente de forma mais deliberada, tornando a evolução do jogo mais empolgante e mantendo a sensação de novidade a cada lançamento.

A terceira oportunidade apresentada por essas mudanças é um maior nível de liberdade de design. Algumas cartas ou baralhos podem restringir ou até mesmo fechar completamente certos espaços de design dentro do pool de cartas. Isso pode ocorrer por conta de uma interação específica, da eficiência bruta de uma carta ou de uma grande quantidade de cartas similares no ambiente. Seja qual for o motivo, a introdução e priorização do Ambiente Atual, junto com a ideia de que a maioria dos produtos eventualmente será movida para o Ambiente Legado, libera nossos designers para explorar conceitos que antes eram limitados ou inviáveis. Essa liberdade adicional possibilita um design mais preciso para cada personagem, baralho ou cenário, tornando o jogo como um todo mais refinado.

Atualmente, esses detalhes oferecem um vislumbre dos bastidores, influenciando nossa abordagem para o design dos conjuntos futuros. Mais informações sobre a composição exata do primeiro Ambiente Atual de cada jogo, além de dicas das equipes de design sobre como aproveitar melhor cada ambiente, serão divulgadas conforme esses detalhes forem definidos. A previsão para o lançamento oficial do Ambiente Atual como um formato reconhecido é no início de 2026. Até lá, você pode continuar aproveitando os jogos como sempre, jogando em um ambiente único que contém todas as cartas.

Considerações finais

Como mencionado anteriormente, essas mudanças representam uma nova evolução para nossos LCGs, e conforme começamos a desenvolver novos conjuntos para esses formatos, provavelmente aprenderemos ainda mais sobre o que podemos e não podemos fazer no design. Os LCGs mudaram bastante ao longo dos anos e inevitavelmente continuarão evoluindo no futuro. Estamos animados para explorar essa nova era ao seu lado.

Nate French
Líder de Design de LCGs
Fantasy Flight Games

Fonte: https://www.fantasyflightgames.com/en/news/2025/2/7/designer-journal-introducing-current-and-legacy-environments/