Caros Boardgamers
Numa boa, eu já ouvi essa conversa de que o novo jogo XYZ ia aposentar o jogo antigo ZYX, e para ser sincero quase nunca vejo isso acontecer. E exemplos disso não faltam. O Caverna ia aposentar o Agricola, O Projeto Gaia ia aposentar o Terra Mystica, O Ilha dos Gatos ia aposentar o Barenpark, e depois seria aposentado pelo New York Zoo, O Invasores de Cítia ia aposentar o Invasores do Mar do Norte, o It's a Wonderful World ia aposentar o 7 Wonders, O Clash of Cultures ia aposentar o TI4, e por aí vai. Absolutamente nenhuma dessas aposentadorias forçadas aconteceu.
Por isso, sempre que eu vejo esse papo, tenho sérias reservas a respeito.
O que eu acho que ocorre é que talvez um jogo aposente o outro mas apenas para uma determinada pessoa, e não de forma generalizada. É muito difícil, mesmo não sendo impossível, totalmente improvável, que um jogo que já alcançou determinado status e possui uma legião de fãs, de uma hora para outra seja substituído por um jogo recém lançado, até mesmo quando o novo é melhor que o mais antigo. Não digo que esse seja o caso do Caverna em relação ao Agricola, e essa discussão dá muito pano para manga, mas quando o Caverna saiu muita gente migrou, mas uma cacetada de gente continuou com o Agricola, que de forma alguma foi aposentado. O mesmo se pode dizer do Projeto Gaia e do Terra Mystica. E até mesmo conseguir chegar a ser uma alternativa viável, como ocorreu com esses últimos que eu citei é uma senhora façanha.
Dito isso, eu penso que essa aposentadoria compulsória da família Azul, um dos jogos mais aclamados, sucesso de crítica e de público dos últimos tempos, simplesmente não vai acontecer, e eu só acredito vendo. Por isso com todo o respeito, mas colocar que um novo vai aposentar não apenas o Azul, mas toda a família, me parece um baita clickbait, no qual eu, já macaco velho (pelo menos me sinto assim), acabei caindo, vocês vejam como são as coisas.
Na verdade, pelo que eu entendi do que foi narrado no texto, não é uma questão desse novo jogo aposentar a família Azul. Esse é mais um jogo do mesmo designer, o fenomenal Michael Kiesling, de modo que nem faria sentido jogar contra o patrimônio. Isso me parece muito mais como uma tentativa de manter vivo um sistema de jogos, digamos assim, que é o esquema da família Azul. Assim sendo, eu vejo aqui algo como aconteceu com o sistema Pandemic, que mesmo ainda sendo um campeão de vendas, seu designer o Matt Leacock começou a ramificar transformando um jogo em um sistema, aplicado a diversos outros cenários e unversos (Reino de Chtulhu, Clone Wars, e mais recentemente Senhor dos Anéis). Desse modo, me parece que talvez o Kiesling esteja querendo seguir pelo mesmo caminho.
Isso já cansou de acontecer com diversos designers, que quando descobrem um filão, passam a se dedicar bastante a ele, e qualquer um de nós no mesmo lugar faria o mesmo. O Roubira lançou o Dixit e nunca mais lançou nenhum jogo, mas tudo bem ele nem era designer de jogos para início de conversa, mas apenas teve a ventura de lançar um clássico. Mas aconteceu algo assim com o Teuber, com o Alan Moon e com o Vlaada, esses sim grandes designers, após os lançamentos respectivamente do Catan, Codenames e Ticket to Ride. Isso faz todo sentido, porque obviamente se você tem um produto que vende horrores é à ele que você vai se dedicar mais. E vamos combinar, nenhum de nós faria diferente na mesma situação.
A única coisa que eu não entendo, é como alguém enjoaria da família Azul, tendo tantas opções, a ponto de precisar de um novo jogo no mesmo estilo, mas com um cenário diferente. Para isso, o sujeito teria de jogar absurda e repetidamente os jogos da família Azul e apenas eles, o que não faz muito sentido considerando a caceta de jogos que existem disponíveis atualmente.
Por fim, acho que vale uma olhada nesse Intarsia, mas, mesmo sabendo que isso é umpouco leviano da minha parte, porque ainda não joguei o jogo, já de antemão isso me causa um forte impressão de mais do mesmo.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio