rsasdelli::Opa!
Heheh, legal @Rodrigo Deus, lá no distante ano de 2018, ahahaha 
É @iuribuscacio, acho que a discussão sobre o produto com defeito é isso mesmo. Eu não acho que a Galápagos demitiu seus revisores de texto, e nem acho que as outras empresas não tem esses revisores. Com certeza tem gente lá fazendo esse trabalho. Não sei te dizer qual outra etapa teria que ser adicionada pra garantir um jogo sem erro ortográfico, talvez muito mais etapas de revisão por pessoas que entendem do que estão revisando.
Bora seguindo o papo que tá bom! hahaha
Abraços,
Renato Sasdelli
Caro Rafael
rsasdelli
Antes de mais nada, eu só não reproduzi na íntegra o seu comentário, por conta do espaço, mas li e meditei a respeito de tudo que você escreveu.
Eu acho que nós concordamos que consertar um jogo que veio errado, seja lá por qual motivo, não é algo simples e nem barato. Eu só não acho que seja inviável, e acho também que a editora não faz isso como deveria fazer, porque o jogo pode acabar dando prejuízo. A questão é que nada disso é problema do público consumidor. Na minha opinião a coisa é bem simples, se eu paguei por um produto o preço cheio, eu tenho o direito de receber o produto em perfeitas condições. Assim, o dever de quem compra é pagar e o dever de quem vende/distribui/produz é entregar o jogo sem problemas. Basta inverter a situação para ver como a coisa fica clara. Se eu chegar na loja e quiser comprar o jogo pagando apenas uma parte do preço, a loja via me vender o jogo? É obvio que não! Se eu quiser o jogo, eu é que tenho que me virar para arrumar o dinheiro. Por isso, se a editora produziu um jogo e viu que veio errado, ela é que tem de se virar para consertar o problema. O que ocorre é uma diferença de postura, porque quem está entregando o jogo é totalmente intransigente em relação ao preço e só entrega se a pessoa pagar até o último centavo, mas quem recebe o jogo não tem a mesma intransigência e aceita ficar com o jogo seja lá em que condições ele vier. Não foi o caso, mas só citando o exemplo do Heat, se o jogo tivesse chegado com erros e absolutamente ninguém aceitasse ficar com o jogo (mesma intransigência das lojas/editoras quanto ao preço), as editoras não teriam alternativa a não ser consertar o jogo, para conseguir vendê-lo. Só que na realidade isso não acontece de forma tão absoluta, mas apenas em alguns casos.
Basta lembrar o episódio do Ark Nova da Grok, para citar apenas um. O jogo veio com erros grotescos, as pessoas começaram a reclamar, a editora foi em uma Live, tentar vender a "historinha" de que foram apenas algumas cópias, o que enfureceu ainda mais os compradores. O resultado foi que a editora teve que pagar do próprio bolso a reposição, o que reduziu drasticamente seus lucros, para não ter um prejuízo maior ainda. Se isso fosse feito com outros jogos, não tenho dúvida de que o controle de qualidade das editoras melhoraria de uma forma quase milagrosa.
Nesse ponto nós esbarramos, em uma coisa que em parte é uma solução, mas que dificulta esse poder de "barganha" digamos assim, do comprador. Quando se faz um financiamento coletivo, ou se compra na pré-venda, o dinheiro já foi pago. Dessa maneira, mesmo que se consiga reaver o dinheiro de volta, isso dá mais dor de cabeça e requer mais esforço, do que simplesmente não comprar o jogo diretamente na loja. Basta dizer que o CDC dá um prazo de um mês para o lojista devolver o dinheiro, ou consertar o jogo, na eventualidade dele apresentar algum defeito. Também é preciso considerar que uma atividade empresarial tem altos e baixos, bem como riscos, que obviamente não podem ser transferidos para o público consumidor. Mas é justamente isso que as editoras fazem, quando não consertam os jogos integralmente. A Galápagos não reclama quando o Gloomhaven, ou o Dixit, ou qualquer outro campeão de vendas dão um lucro exorbitante. Do mesmo modo, a Galápagos nem pensa em dividir esse imenso sucesso financeiro com os compradores. Mas quando é o caso de um eventual prejuízo, porque o jogo veio errado e deveria ser consertado, a Galápagos não pensa duas vezes em "dividir" esse insucesso com seus compradores, ao não consertar o jogo. Isso, particularmente, eu acho inaceitável, e pode até ser que seja o que realmente acontece, mas nem por isso, se pode concordar com esse absurdo, só porque "as coisas são assim mesmo".
Eu sei que você pensa diferente e respeito, mas eu penso de outra forma.
No caso dos tradutores e revisores, eu também não acredito que a Galápagos tenha demitido seus funcionários que faziam esse serviço. Eu acho que na verdade ela nunca contratou gente suficiente, em quantidade e qualificação, para fazer esse serviço, em primeiro lugar. A impressão que fica é que antes a editora tinha uma equipe que dava conta de traduzir e revisar 10 jogos, por ano. Só que quando ela resolve começar a lançar 20 jogos por ano (isso é só um exemplo), ela dobrou a quantidade de trabalho de tradução e revisão, mas não dobrou a quantidade de funcionários. E isso é uma constante não apenas na Galápagos, mas em todas as grandes editoras nacionais de board games. Quando se compara com editoras menores, mesmo guardando a proporcionalidade, a incidência de erros é bem menor. Posso estar enganado, mas não vejo por exemplo tantos erros nos jogos da Papergames, que lança muito menos jogos que a Galápagos, mas também tem muito menos dinheiro e recursos humanos disponíveis. Quando a coisa desce para as empresas menores ainda (MS Jogos ou 101 Games, que são aquelas que eu conheço o trabalho) a incidência é ainda menor.
Quando você diz que alguma coisa sempre passa na revisão "profissional", eu continuo contrapondo o fato de nada passar na revisão amadora dos compradores, o que é um fato. Claro que aqui é preciso considerar que o revisor amador talvez tenha mais tempo, mas aí voltamos à questão da falta de pessoal. Se houvesse mais gente trabalhando em revisão, certamente os prazos não ficariam tão apertados, e não aconteceriam tantos erros. E essa nova postura das editoras, no quesito tradução e revisão, só não acontece, mais uma vez, porque a comunidade boardgamer na sua maioria é muito mais complacente do que deveria. As pessoas preferem ficar com o jogo errado, do que ficar sem ele, e com isso dar um recado para as editoras, de que esse tipo de erro não será mais tolerado, o que, pelo menos em tese, preveniria novos jogos com erro no futuro.
Em relação ao mofo, mais uma vez não dá para excluir a culpa da Galápagos e transferir para as fábricas chinesas. Isso pelo simples fato de que quase todos os jogos que mofam são da Galápagos. Assim sendo, a fábrica faz diversos jogos para editoras do mundo inteiro, muitas delas brasileiras, mas o mofo só ocorre no lote que vai para a Galápagos. Claro que ocorrem alguns incidentes de mofo com jogos internacionais, por isso eu não digo que esse problema é exclusivamente da Galápagos, mas quando se compara o que ocorre domesticamente e o que ocorre no exterior, a diferença é brutal. Mais uma vez, a maior quantidade de jogos lançados pela Galápagos não é suficiente para explicar porque tantos de seus jogos mofam. E tem mais outra questão. Se a fábrica entregou um jogo mofado, a obrigação da Galápagos era se entender com a tal fábrica e mudar de fornecedor. E nem dá para dizer que o reprint é mundial e o contrato exige que o jogo saia daquela fábrica, porque isso implicaria em admitir que os lotes de toda as editoras do mundo envolvidos com o projeto vieram corretos e apenas o lote da Galápagos veio mofado, o que além de totalmente inacreditável, também não faz o menor sentido. É muito mais provável que o problema esteja nas condições de armazenamento e no local do estoque da Galápagos. Isso sem falar que, novamente, se o jogo que a Galápagos produziu veio mofado, quem tem de resolver esse problema é a própria Galápagos e não os compradores conformados, que acabam fazedo justiça com as próprias mão e uma lata de Sanol. Ao invés disso, a editora bota o jogo para vender com desconto, e a gente até acha graça do termo "promofão". Mas na verdade isso é um total absurdo, e uma coisa muito triste, ver ao que o comprador menos endinheirado precisa se submeter, para comprar os novos lançamentos, sem pagar seus preços estratosféricos. Na verdade esse compradores nem precisariam se submeter a esse despropósito tanto assim, porque no Mercado de Usados se encontra muita coisa melhor, mais barata e sem mofo, do que os lançamentos atuais, mas esses jogos não são lançamentos e aí se cai na questão do FOMO e do HYPE.
No caso do FOMO e do HYPE, você me perdoe, mas eu discordo totalmente quando você diz que não são as editoras as principais criadoras e beneficiadas tanto por um quanto pelo o outro. As pessoas não se tornaram colecionistas de jogos do nada. Além disso, nem todo o boardgamer tem esse perfil, e muito menos quem acabou de conhecer o hobby. O sujeito descobre os jogos modernos, aí ele quer saber mais, logo fica sabendo do novo melhor jogo de todos os tempos da semana, normalmente através de um canal mais comprometido com a editora (jogo de graça, recebimento antes do lançamento, participação e eventos e coisa e tal), ele vê a ameaça de que se não comprar no primeiro dia ou na pré-venda, o jogo vai esgotar e ele vai ficar sem e por aí vai. Quem é que banca isso tudo e molda esse tipo de comportamento se não fora a editora?!?! Simplesmente não dá para pensar de outra forma, e numa boa, eu acho uma ingenuidade alguém achar que não são as editoras as principais responsáveis e fomentadoras tanto do HYPE, quanto do FOMO. Isso ocorre em diversos seguimentos econômicos e na indústria dos jogos de tabuleiro, não seria diferente.
Por fim, mais uma vez eu respeito totalmente a sua opinião, mas eu tenho uma opinião diametralmente oposta. No mais é por aí, cada um em a sua visão, cada um tem o seu ponto de vista, que nem sempre é convergente, e vida que segue.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio