dharrebola::Invoco o senhor iuribuscacio em modo de ataque.
Tá faltando ele nesse tópico.

Caro
heliangelo e Davi Henrique (
dharrebola)
Inicialmente eu pensei em não comentar, justamente porque eu tenho um artigo prestes "a sair do prelo", tratando justamente da relação wargames e mercado nacional de jogos, então eu não queria dar nenhum spoiler. Além disso, os companheiros Gabriel (
GabrielAlmeida) e Raphael (
RaphaelGuri) já falara muito mais e melhor, do que aquilo que eu conseguiria expor. Aliás só faltou "um Miguel" para completar a trindade.
No entanto, sem antecipar muita coisa, e atendendo a invocação do Davi, eu gostaria de tecer alguns comentários.
Em primeiro lugar eu gostaria de dizer que eu não concordo muito, quando aqui se falou do brasileiro em geral, tanto em relação a fatal de leitura, quanto à falta dos temas bélicos serem uma questão cultural. Isso porque quando se fala em termos gerais, a escala é muito grande, e por isso o hobby dos boards games modernos não se aplica, porque ele envolve uma fração tão mínima da população brasileira, que não faz sentido, pelo menos do meu ponto de vista, usar expressões como "o brasileiro em geral". Eu não tenho nenhuma dúvida em afirmar que qualquer um de nós que joga e compra board games regularmente não representa "o brasileiro em geral". A bem da verdade é que nós somos parte de uma minoria privilegiada capaz de gastar 300, 500, 700, reais ou até mais do que isso, em um hobby, algo que está fora de questão para a maioria esmagadora do povo brasileiro.
Por isso, apesar de também achar que o brasileiro médio infelizmente lê pouco, e de que o brasileiro médio é um sujeito pacífico para o qual o tema "guerra" não diz muita coisa, acho que esse fatores são muito menos influentes do que se pensa, porque obviamente o público boardgamer não é composto pelo público médio, nem quantitativamente nem economicamente.
Em segundo lugar, eu acho que antes de tratar da relação entre wargames e o mercado nacional de jogos, é preciso especificar o conceito de "wargame" ao qual se está referindo na questão. Na minha humilde opinião existem basicamente duas formas de encarar o conceito de "wargame", ou seja os "wargames stricto sensu" e os "wargames lato sensu". Só para esclarecer estamos aqui falando apenas sobre jogos de tabuleiro, porque se formos expandir o conceito de wargames, incluindo os jogos de guerra militares, com armamentos, veículos e soldados reais, ou os wargames de treinamento das academias militares prussianas, esse comentário ficaria longo demais.
Dito isso, do modo como eu vejo, os wargames na definição clássica e tradicional são os "jogos de guerra" com grade hexagonal, para duas pessoas, de altíssima complexidade, partidas durando horas e em alguns casos dias, e que emulam ao máximo um conflito militar, nos moldes dos antigos wargames da Avalon Hill, que tiveram seu auge entre 1975 e 1985. Nesse caso, acho que esses jogos não vem para o Brasil, nem para nenhum outro lugar do mundo, como era antigamente, simplesmente porque eles são um produto muito característicos de uma outra era, quando não havia internet, redes sociais, celular, videogames de última geração, e o ritmo de vida era muito mais lento. Isso permitia a dedicação necessária que um wargame clássico demandava, e a possibilidade de se dedicar horas a uma única partida. Essa não é a realidade de hoje em dia. Isso me leva a crer que os wargames tradicionais não tem nem de longe a mesma relevância e sucesso que já tiveram outrora. Basta pensar há quantos anos um wargame tradicional não é o destaque principal de Essen ou da GenCon. No mesmo sentido, desde a criação do Kenerspiel des Jahres, para jogos mais complexos, nenhum wargame tradicional foi sequer finalista desse tão prestigiado prêmio. Na lista "War" para jogos de guerra do BGG (que incluem qualquer board gamre com esse tema), só aparece um wargame tradicional mais recente, ou seja, de 2010 para cá, na 30ª posição, que é o Holland '44 de 2017 (o D-Day Omaha Beach é de 2009, o Empire of the Sun: The Pacific War 1941-1945 é de 2005 e o Combat Commander Europe é de 2006).
Assim sendo, veja que wargames tradicionais ainda são produzidos atualmente, como comprova a própria lista "War" do BGG, mas eles são direcionados especificamente para um público, que apesar de muito fiel, é também muito pequeno e restrito. Tanto que esses wargames tradicionais só aparecem nos prêmios específicos da categoria, com o Golden Geek Best Wargames e o Charles S. Roberts Best Wargames. Aliado a isso, como repetido à exasutão, o nosso mercado nacional de jogos é muito pequeno, com tiragens irrelevantes, mesmo dos board games de maior sucesso. Portanto, se já é difícil para as editoras gringas lançarem wargames tradicionais porque o mercado lá fora, para esse tipo de jogo específico, não é muito grande, para um mercado do tamanho do nosso, lançar wargames tradicionais e totalmente inviável, e n nehuma editora nacional se arriscaria nisso.
Por outro lado, existem os wargames lato sensu, que são quaisquer jogos que envolvam o tema "guerra", sem as restrição dos wargames tradicionais ëstilo Avalon Hill 1975-1985". Esses jogos chegam ao Brasil constantemente e com bastante sucesso, como é o caso por exemplo do Destemidos e do Memoir "44. Se for expandido o conceito e incluir outros cenários como fantasia e ficção científica, aí o "o céu é o limite", porque há o Twilight Struggle, Guerra do Anel, Batalha dos CInco Exércitos, Kemet, Twilight Imperium, Clash of Cultures, e por aí vai.
Por fim, como bem lembrou o Gabriel, não custa lembrar que o board game mais jogado em todo o Brasil é o WAR da Grow, que também é um wargame lato sensu, o que, mesmo consideradas as características específicas do jogo e as condições quando ele foi lançado, eu acho que contradiz essa noção de que brasileiro não curte jogos de guerra. Talvez o brasileiro não curta aquilo que a nossa diminuta comunidade board gamer entenda como "wargame", mas no caso do brasileiro em geral, tão citado em alguns comentários anteriores, a história é bem diferente.
Por isso na minha opinião, a análise dessa eventual pouca penetração dos wargames no mercado nacional, vai depender muito do conceito de wargame e dos parâmetros aplicados, o que interfere bastante em qualquer tipo de conclusão, a respeito.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
P.S. Davi, meu camarada, você perdoe a falta de modéstia, mas espero que, ao menos nesse seu baralho, eu seja o "Dark Magician" do Yugi...

