dstein::Iuri, parabéns pelo texto. Muito bem escrito, como sempre. Quanto tempo em média você precisa escrever um texto desse? Pela relação de fontes e referências e com tudo bem coordenado e coeso imagino um tempo desmedido, a não ser que você recorra à IA 
Adorei o parêntesis sobre o Drácula e as referências ao Mel Brooks e ao Roman Polanski. A trilogia das cores acho que vi jovem demais, deveria revisitar um dia. Vendo esse texto imagino o dia que vc irá fazer algo semelhante para o sword & sorcery mas não o americano, mas o francês e belga, que tem coisas interessantíssimas, seja na literatura, seja nos boardgames. Aliás, recentemente saiu o Thorgal, que é um pouco intrincado, com as regras meio chatinhas para apreender mas com mecânicas bem interessantes e uma arte caprichadíssima.
abs.,
Stein
Caro "Raposa do Deserto" (
dstein)
Meu camarada, "Herr General", na verdade eu tenho um segredo para produzir uma considerável quantidade de texto em um tempo relativamente curto, segredo esse composto de três partes, que são até simples. Desse modo, as três partes do meu segredo consistem em: muita prática, o hábito da leitura, não ter redes sociais.
Você veja como é importante ter bons professores e professoras no primário, e eu sou de uma época em que ainda se utilizava esse termo, que hoje corresponde, salvo engano, ao período do 2º ao 5ª anos do ensino fundamental. Eu tive uma professora, a saudosa e muito querida "Tia Ísis", que inclusive coincidentemente se parecia com a belíssima atriz JoAnna Cameron (recentemente falecida), que fazia o papel da protagonista no seriado "Poderosa Ísis" (aquela que fala os feitiços todos rimando, o que era muito engraçado) e que passava junto com o seriado do Shazam nos anos 70, salvo engano na Rede Globo e depois na TVS (atual SBT). Pois bem, essa professora fenomenal me ensinou, obviamente de uma forma que uma criança de 8 a 9 anos pudesse entender, que a escrita, diferentemente da fala, é uma expressão duradoura do pensamento organizado, e que quanto mais se escreve, mais fácil e eficiente se torna o ato de escrever. E para escrever bem era preciso antes ler bem, para aprender como se escreve melhor e aumentar o vocabulário. Agora me diga essa é ou não é uma professora fenomenal?!?!
Mas não foi só isso, porque eu tive a sorte de ter mãe, tias e avó, todas professoras, que sempre me fizeram ler muito e escrever muito, praticamente todos os dias da minha juventude. No início era um pouco forçado, eu reconheço, mas só no iniciozinho, porque logo depois eu já estava curtindo bastante. Com isso desde cedo eu desenvolvi o hábito não apenas de ler, o que fez de mim um leitor voraz a vida inteira, mas também o de escrever. Por isso, escrever se tornou um ato natural, de modo que eu consigo escrever bastante com fluidez, sem gastar tanto do tempo. Agora, se o que eu escrevo é bom, aí é outra história...
Claro que não precisa escrever uma vida inteira para que isso se torne algo até corriqueiro. Se uma pessoa escrever meia hora por dia, e ler meia hora por dia, todos os dias durante um mês (mas tem de ser esse pouquinho todo dia), ao final desse mês ela já deve sentir a diferença que faz. É importante também entender que de início você não vai escrever como um Jorge Amado ou um Gabriel Garcia Marques. A melhora no seu texto vem com o tempo. Por isso não vale a pena tentar melhorar hoje aquilo que se escreveu ontem. É muito melhor escrever cada dia uma coisa diferente e de preferência sempre usando palavras novas e expressões diferentes, mesmo que com o mesmo significado. Só que aí fica a pergunta: onde eu vou arrumar tempo para conseguir ler e escrever. É aí que entra a ausência das redes sociais.
Atualmente, todo mundo reclama de falta de tempo para malhar, para estudar, para ler e coisa e tal. Mas essa mesma pessoa que reclama disso, sempre encontra tempo para postar fotos, escrever comentários na sua rede, assistir vídeos no Youtube e no TikTok, ler e repostar bobagens inclusive fake news em alguns casos (e quando eu digo que é preciso ler, eu digo leitura séria de livros e não essas besteiras de whatsapp). O dia em que a pessoa percebe que rede social nada mais é do que a universalização e potencialização da antiquíssima fofoca, e quando ela percebe também que simplesmente não vale a pena perder um instante que seja com isso, é literalmente miraculoso como ela passa a ter tempo para outras coisas. A questão é que hoje as pessoas estão viciadas em redes sociais, e em saber as novidades na vida dos outros, especialmente das subcelebridades, e que não acrescentam em absolutamente nada a vida da própria pessoa. Eu não faço a menor questão de saber qual o décimo carro super esportivo que a estrela da música sertaneja da vez comprou, com que modelo, aspirante a atriz, o craque da seleção está saindo, o que o está fazendo o último vencedor ou vencedora do BBB, e nem os motivos da separação do casal global do momento. No fundo, o gerenciamento do tempo de cada um, depende basicamente de definir o que se acha mais importante para cada um, e no meu caso eu procuro priorizar a leitura, a escrita e os board games é claro, porque ninguém é de ferro. Não tenho nada contra quem curte rede sociais, mas isso só não é para mim, porque eu prefiro gastar meu tempo livre com outras atividades. E antes que alguém justifique o uso das redes sociais por conta da profissão e do trabalho, eu faço a seguinte indagação: quanto tempo a pessoa passa nas redes sociais trabalhando e quantas horas ela passa fuçando e vivendo a vida alheia? Isso porque se a pessoa passasse oito horas por dia trabalhando nas redes sociais eu acredito fortemente que a última coisa que ela ia querer fazer no seu tempo livre seria mexer no celular.
No caso das IAs, eu não tenho uma visão tão apocalíptica dessa ferramenta quanto um Harari da vida. Eu acho que a IA é "uma boa serva, porém, uma má senhora". Assim sendo, para mim a IA é apenas uma ferramenta e deve ser utilizada exatamente como aquilo que ela é. Não há a menor dúvida de que a capacidade de pesquisa de uma IA é quase que infinitamente superior a de um ser humano. Assim sendo, a maneira mais eficiente e mais adequada, na minha humilde opinião, seria usar a IA para coletar dados que possam substanciar o seu texto. Infelizmente, as informações que a IA fornecem, nem sempre são muto confiáveis, então é fundamental ficar sempre checando duplamente esses dados, e isso às vezes acaba levando tanto tempo, quanto procurar o dado você mesmo. Uma experiência muito legal é pedir para o chatgpt escrever um ensaio com no mínimo 4.000 tokens, sobre o jogador de futebol profissional "colocar seu nome". Os 4.000 tokens servem para garantir que a resposta seja grande, porque token é a unidade de elementos, letras ou palavras que o chatgpt usa para estabelecer o tamanho dos textos. Você vai se surpreender com o que o chatgpt vai escrever, porque na ausência de um jogador de futebol real ele vai inventar um, mas te responder como se ele fosse uma pessoa real.
Mas o problema principal do chatgpt não é nem esse, porque com o tempo a tecnologia melhora. A grande ameaça da IA, no caso o chatgpt, é que ele é uma ferramenta, mas as pessoas utilizam essa tecnologia como se fosse uma muleta. Ao invés de se utilizar os dados fornecidos pela IA para melhorar o próprio texto, algo que pode ser interessante (desde que os dados estejam corretos), as pessoas usam a IA para escrever o próprio texto em si, como se fosse ela própria quem tivesse escrito. O perigo disso é que dessa forma a pessoa escreve menos, e com isso ela simplesmente desaprende de como escrever um texto com um mínimo de qualidade, tanto em forma quanto em conteúdo. E quanto mais desenvolvida a tecnologia de IA, mais as pessoas se sentiram a tentadas a usar essa tecnologia em substituição delas mesmas. Portanto, as pessoas que têm medo de que serem substituídas pela IA, nem sempre se dão conta, de que elas mesmas já estão se "autosubstituindo" pela IA. E isso é ainda mais gritante e consequentemente preocupante, entre os estudantes, que são o futuro. Basta pensar em uma habilidade simples que é fazer contas de cabeça, ou na capacidade de retenção de memória. Tudo começou com a calculadora, que antigamente havia até em relógios de pulso. Hoje você tem o celular que te dá acesso imediato à internet, fazendo com que cada vez menos se precise usar o próprio cérebro. Se você perguntar a um jovem de 14 anos, ou até mesmo um adulto, com quem a Ucrânia está em guerra ele vai te responder na mesma hora, com a Rússia. Agora experimenta perguntar onde, na Europa fica a Ucrânica. Há uma chance enorme de que a pessoa não faça a mínima ideia.
Por esses motivos, ou seja, porque os dados do chatgpt não são nada confiáveis, e porque eu prefiro continuar escrevendo por mim mesmo, o meu uso dessa tecnologia é quase nulo. Eu digo quase nulo, porque quando eu tenho realmente dificuldades em encontrar alguma informação, e muito de vez em quando eu consulto o chatgpt, apenas para que ele me aponte uma possível direção sobre onde procurar os dados que eu preciso. Desse modo, para mim o chatgpt é apenas uma wikipedia vitaminada e menos precisa. para escrever meus textos sobre jogos, eu utilizo muto mais as resenhas e vídeos sobre board games, especialmente no BGG, que eu acho mais confiáveis.
Quanto ao seu pedido de escrever sobre o Sword & Sorcery, na versão francesa, esse eu vou ficar te devendo por hora, porque tenho uma longa lista com temas para meus artigos, além do que, apesar de não possuir esse board game, eu conheço e até joguei um pouco (mas a versão americana), e atualmente estou mais focado em jogar os jogos que eu já tenho. Mas um dia quem sabe...
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio