Fiquei ouvindo o podcast e lembrando não apenas dos jogos de puzzle da série Exit (eu particularmente já joguei os primeiros: EXIT: O Laboratório Secreto, EXIT: A Tumba do Faraó e EXIT: A Cabana Abandonada), mas também dos narrativos da série Undo que joguei (UNDO: Festival da Flor de Cerejeira e UNDO: Maldição do Passado) e outros tantos que só querem contar um conto ou uma historieta (Histórias Sinistras, Stuffed Fables, Mice and Mystics, T.I.M.E. Stories etc).

Posso ter entendido errado, mas parece que o problema reside mais na limitação da mecânica do que na frustração do que foi jogar A Iniciativa, não? Há um limite muito definido do que se pode tirar de um "livro-jogo". Quanto mais flexível é a história em relação às possíveis ações do jogador, menos coesa será em relação à narrativa. Seria esse o ponto? Que uma boa história paradoxalmente precisará de um jogador passivo? Como alguns dizem: o jogador precisa ser jogado?

Você deu um exemplo muito legal: Night Shyamalan é um roteirista caiu na própria armadilha do plot twist. O sucesso que ele fez em "O sexto sentido", em nenhum outro ocorreu. E olhe que eu gosto de Corpo Fechado, Sinais, A Vila, Fragmentado... mas nenhum se compara àquele. Daí, como provocação, posso ter uma história muito boa dentro do jogo, sem uma reviravolta? Quais seriam os elementos de uma boa "história jogável"?

Ou para ter um bom jogo, a história é apenas um pretexto para construir um puzzle cativante?

Como fazer uma critica desfavorável sem parecer maldoso ou insensível, protegendo a dignidade do autor da obra criticada?

Encher um objeto de adjetivos é uma forma preguiçosa e ineficaz de fazer uma análise.

Pode-se escolher falar menos sobre o objeto e mais sobre a experiência individual da relação com o objeto, que são as emoções.

Mas como transmitir uma sensação e ser compreendido por quem ouve, sendo que descrições objetivas não são capazes de aproximar do receptor a maneira única como o emissor pessoa viveu uma experiência? Quanto coçou uma coceira, quão gloriosa foi uma conquista, quão dolorosa foi uma perda?

E se, além disso, a obra em estudo pertencesse a um mercado de nicho, novo para muitos ouvintes?

A escolha do Lucas no episódio sobre o jogo A Iniciativa foi de fazer um exercício de linguagem figurada, para comparar algo novo com algo com o qual o ouvinte já tem familiaridade. Ele resgatou 
a memória de uma sensação semelhante em outra mídia, que são os filmes de M. Night Shyamalan, que via de regra apresentam reviravoltas surpreendentes no terceiro ato: o fato de sempre haver uma surpresa traz a certeza de não ser mais surpreendido.

E é esse excesso a falha de implementação da campanha de A Iniciativa que Lucas foi capaz de comunicar com tanta sensibilidade e repertório da cultura e da linguagem.

Espero ter a chance de jogar A Iniciativa um dia e ter minha própria percepção.

Lucas, muito obrigado pelo episódio. Um grande abraço.

PS 2: posso comentar sobre um episódio passado? Quando Van Gogh foi anunciado eu fiquei muito interessado em conhecer, mas quando vi pessoas jogando unicamente com a mecânica, sem qualquer reflexão sobre o tema, perdi um tanto da curiosidade. Graças ao seu episódio sobre esse jogo, eu recuperei a motivação e aproveitei para jogar quando finalmente uma oportunidade apareceu. Minha conclusão é que, para que a obra seja experienciada da forma como proposta pelo André Teruya, a pessoa que explica o jogo precisa investir um tempinho em enriquecer a explicação do jogo com o contexto dos painéis de jogador com as emoções do pintor e com as cartas dos demais personagens.