Olá, pessoas!

Na sexta-feira jogamos a 4a missão de nossa campanha de Descent.

Fabiano - Overlord
Marcelo - Avric Albright
Pedro (substituído nesta sessão por Rafaelfo) - Leoric do Livro
Cesar - Grisban, o Sedento
Eu - Tomble Burrowell

Goblin Gordo - sessão I

Castelo Daerion - sessão II

O Sofrimento do Cardeal - sessão III

A aventura foi o Interlúdio - A Cripta Sombria.


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Capítulo 5 - A Cripta Sombria

"Eu disse que isso tudo era muito suspeito!", afirmou Tomble, irritado.

"Silêncio!", sibilou Avric, que estava encostado na parede, tentando enxergar o movimento fora da caverna.

"Por quê?", Tomble retrucou. "Eles já sabem que estamos aqui! Me ouvir falando não vai deixá-los pensando: 'Ora, mas tem pessoas ali dentro? Que inesperado!'"

"Sou eu que quero ouvi-los, seu meio-gnomo!", replicou Avric, nervoso com a situação.

A situação era que ele, Tomble, Leoric e Grisban estavam bloqueados do mundo exterior pela presença de dois dragões das sombras comandados pessoalmente pelo Barão Zacareth. Parecia que, finalmente, Avric e seus companheiros estavam à frente do Senhor do Escuro, chegando à Grande Floresta, enfrentando deslizamentos e outros perigos naturais para alcançar a Cripta Sombria, onde, de acordo com o Barão Greigory, estava uma das partes da Runa Umbrosa, que outrora, quando estava inteira, fora a algema que prendia o próprio Senhor do Escuro. A informação era verdadeira e os mapas suficientemente corretos. O baú de chumbo estava preso no chão e foi necessário tanto magia quanto trabalho braçal para removê-lo. Pareceu sucesso, até que Tomble voltou correndo de seu posto de vigia para avisar que o Barão Zacareth viera, voando nas costas de seus dragões, para ocupar a clareira que era a saída da cripta. Ele não vinha sozinho, Tomble disse, pois ele vira Ettins vindo de entre as árvores e Meriods saindo do rio.

Grisban queria sair e dar combate ao Barão e seus monstros. "Ainda não matei um dragão. Sinto-me incompleto até isso ocorrer", falara ele, com um raro sorriso surgindo por entre a barba densa. "Grisban, o Sedento, é um excelente nome. Mas Grisban, o Matador de Dragões, soa melhor", adicionou.

"Eu prefiro Tomble, o Vivo", rebateu Tomble. Ele estava exasperado porque, durante o caminho todo, alertara que tudo tinha a cara de uma armadilha. "Se temos mapas, eles devem ter também. E eles têm a outra metade. Com qualquer saravá vagabundo dá para encontrar uma parte usando a outra. Se eles não encontraram, é porque não querem. E se não querem, porque não querem? Porque sabem que vamos atrás. Porque querem matar dois coelhos com uma pedrada só. Não sei porque querem economizar pedras, mas querem, tenho certeza."

Avric tentara dissipar as dúvidas de Tomble, dizendo que havia proteções, feitiços antigos e procurara a ajuda de Leoric para fortalecer seus argumentos, mas o necromante foi vago e de pouca ajuda. Tornou-se óbvio que havia dois otimistas e dois pessimistas. Agora, Avric se perguntava qual demônio falava em seu ouvido de forma que ele ainda fosse otimista com o que quer que fosse.

"Acho que eles estão nos esperando", supôs Avric. "Não os escuto se aproximando, mas pode ser só porque tem gente aqui que nunca cala a boca." Tomble não mordeu a isca para lançar uma nova reclamação. Estranho, Avric pensou. Então viu que o Tomble não estava à vista. "Onde está o Tomble?"

"Pedi para ele ver se há outra saída daqui", Leoric avisou. Ele mexia na caixa de chumbo e havia marcas no tampa, como que desenhadas com água, que iam sumindo enquanto secavam. "Estou conjurando algumas proteções e travas místicas", respondeu à pergunta não feita por Avric. "Não há porque facilitar o trabalho de Zacareth."

Grisban, depois de afiar o machado uma centena de vezes, mexia nas paredes da caverna.

"Alguma saída?", Avric perguntou.

"Hã?", Grisban titubeou, surpreendido pela questão. "Ah, não. Não sei. Mas há quartzo aqui, certamente. E feldspato."

"Hum. Interessante", comentou Avric, sem saber o que mais dizer.

Tomble demorou algum tempo para retornar e Avric acreditava que, ainda estivessem na caverna quando a noite chegasse, o Barão Zacareth atacaria. À noite os dragões das sombras eram muito mais poderosos e o véu de escuridão que os acompanhava era praticamente uma garantia de morte cega e dolorosa.

Leoric, Grisban e Avric o encararam. Tomble, carregando a tocha de cabeça baixa, vinha quieto, o que era o maior indicativo de que tivera sucesso - as falhas o deixavam falante e praguejador. "Fica para lá. Talharam uma escada na pedra que leva para um corredor que dá numa porta que abre, se eu estou correto, para a clareira. Ou seja, não passa pelo Zacareth, mas podemos pegar ele de lado."

"Um ataque pelo flanco pode nos permitir passar", avaliou Avric. "A porta esta aberta?"

"Trancada."

Avric praguejou num resmungo. "Podemos derrubá-la?"

"Claro", disse Tomble, com mordacidade. "Com umas picaretas e uma semana, nós quatro devemos conseguir pô-la abaixo."

"Então que se dane!", bafejou Grisban. "Vamos lá abrir o caminho com sangue. Eu tenho a chave para isso", garantiu, acariciando o machado.

"Ou", inseriu Tomble. "Ou podemos abrir a porta."

"Mas ela não está trancada?", disse Avric.

"Está."

"Então?..."

"É para isso que existe essa chave", Tomble falou, tirando da sacola que carregava na cintura um losango de pedra escura, com veios multicolores.

"Seu desgraçado, porque não falou isso antes?", Grisban rosnou.

Tomble deu de ombros. "Encontrei-a num compartimento secreto ao lado da porta. Bem, um dia foi secreto. Mas o mecanismo ruiu. Daí só estava lá, esperando alguém pegá-la. Achei que era uma armadilha, por isso demorei. Sabem como é: erre duas vezes e você é um imbecil. Se bem que, tecnicamente, eu não errei a primeira vez ainda, né?"

"Ah", Avric dispensou a crítica com um aceno da mão. "Vamos lá. Leoric, terminou os feitiços?"

Leoric demorou alguns instantes para responder, mantendo o murmúrio rítmico que mantinha fazia um bom tempo. "Sim. Mas são poucos."

"Terão de servir", disse Avric. "Não pretendo perder o baú de qualquer modo."

Os quatro foram pela passagem indicada por Tomble e subiram pelas escadas lisas devido à umidade e ao musgo. O corredor acima era estreito e Leoric pediu pela chave, presumindo que houvesse algum encanto na chave ou na porta. Avric entregou o baú a Tomble e pegou seu escudo e espada. "Você cuida disso", ordenou a Tomble. "Nós cuidamos de você."

"Isso é só para compensar aquela vez que você me mandou sozinho naquele monastério para encarar uns elementais enquanto ninguém mais fazia nada, não é?", falou Tomble, ressentindo.

"Nada?" Grisban virou o rosto, enfurecido. "Nada?"

"Ah, tinha um ettin ou dois. Mas isso é quase nada", explicou Tomble.

"Os próximos dois nadas são seus, então", Avric avisou, mordaz.

"Bem, talvez eles sejam alguma coisa", Tomble corrigiu-se. "Mas não tanto assim."

Leoric encaixou o losango na abertura e o girou, precisando da ajuda de Grisban para isso. A porta de pedra deslizou com um estrondo para o lado, contudo bastou que um vão suficiente surgisse para que Grisban corre-se para fora e, ao sair dos arbustos, fosse de encontro com um dragão das sombras que olhava para aquele lado, alertado pelo barulho. Mas saber que alguma coisa vem, não significa estar preparado para tal coisa, ainda mais quando trata-se de um anão bárbaro, tomado pela fúria da batalha, armado com um machado mágico. O primeiro golpe acertou a junção entre o corpo e a pata do dragão - as escamas e a abriram diante da força do ataque e a lâmina encontrou o osso embaixo, partindo-o. A criatura urrou de dor e tentou se afastar, mas o ferimento fez com que perde-se o apoio e caísse. Grisban desviou-se do golpe com as garras dado pelo dragão, para subir em uma pedregulho de forma a poder saltar por sobre o monstro. O machado enterrou-se na cabeça no dragão, partindo os chifres e o crânio. Um tremor violento correu pelo corpo do monstro antes que a vida o abandonasse.

Avric foi o segundo a chegar na clareira e a tempo de ver Grisban pulando em cima de um dragão enquanto outra das criaturas, mais afastada, estava ao lado do Barão Zacareth, que estava aturdido, despreparado para o ataque vindo pela lateral. O dragão agiu antes e sugou o ar, preparando-se para usar sua baforada mortal nos heróis.

"Grisban, pule!", alertou Avric, que fez o mesmo e saltou para usar o cadáver do dragão caído como proteção do cuspe chamejante daquele ainda vivo. O calor insuportável cobriu a clareira, queimando mato e árvores, mas causou pouco dano ao anão e Avric, parcialmente escondidos pela barriga mole do dragão morto. Após a baforada o dragão andou adiante, raivoso pela perda do companheiro. Zacareth permaneceu atrás e começou a berrar chamando por reforços.

Porém seu brado logo se tornou um grito de dor quando uma espada surgiu dos arbustos em torno da clareira para fazer-lhe um rasgo enorme nas costas. Zacareth virou-se e viu um esqueleto, animado por magia, saindo do mato. O desmorto golpeou-o novamente e o Barão defendeu-se com dificuldade, sofrendo outro corte fundo.

"Dá-lhe, caveira!", incentivou Tomble, do meio da mata, pouco antes de disparar um tiro com sua besta no dragão que tentava bloquear o caminho de Grisban e Avric, impedindo-os de alcançar o Barão Zacareth. A seta enfiou-se com crueldade nas costas do monstro, que se sacudiu quando sentiu a dor e, em sua luta contra a agonia, foi golpeado pela dupla de guerreiros e vencido quando a espada de Avric penetrou no peito do dragão e depois rasgou até a garganta.

Zacareth, tendo subestimado o poderio dos heróis, decidiu fugir para unir suas forças soltas pela floresta - algo difícil, considerando que os Ettins queriam assar e comer os Meriods, enquanto os Dragões assustavam os primeiros e destestavam os segundos; era somente o poder do Senhor dos Escuro que faziam tais criaturas agirem juntas, porém Zacareth dispunha somente de uma fração dessa potência.

"Vamos!", instigou Avric para seus companheiros, que correram em direção diversas àquela tomada por Zacareth.

"Mas ele foi por lá!", Tomble indicou a direção da fuga do Barão Zacareth. "Ele já está quebrado, falta só separar as partes!"

"Não é nosso objetivo", Avric falou, peremptório. "Temos é que tirar essa runa daqui."

Seguindo pelo mato, os quatro pararam diante de um riacho fundo e de forte correnteza que cruzava a mata. Sem aviso dois tentáculos surgiram da água e bateram com força tremenda em Avric, que foi jogado para trás. Grisban atacou um dos tentáculos enquanto o esqueleto combatia o outro. Tomble viu que, rio acima, vinham alguns frisos partindo a superfície da água. "Tem mais vindo!", alertou.

"Pule na água", falou Leoric.

"O quê?", estranhou Tomble, que olhou para onde seguia a corrente e, pouco além, o riacho se transformava em uma cachoeira que rugiu ameaçadoramente.

"A cachoeira leva para perto da estrada. Dali poderemos fugir. Há muitos monstros na mata, nunca sairemos do modo que viémos", Leoric explicou, enquanto torcia a barra de seu manto e fazia um nó na cintura.

Grisban foi acertado por um tentáculo e puxado por outro, caindo de cabeça na água.

"Eu estou carregando uma maldita pedra de chumbo! Nadar não é uma opção! Isso é louc-" O comentário de Tomble perdeu-se quando Avric levantou-se e deu um grito de guerra antes de saltar para dentro do riacho, segurando a espada como de fosse um pilão. Seu golpe partiu a carapaça do Meriod, que balançou os tentáculos em desespero, mas não tinha como se livrar da morte.

Grisban emergiu algumas dezenas de metros correnteza abaixo e pediu por ajuda.

"Se eu morrer a culpa é sua!", avisou Tomble que mergulho segurando o baú de chumbo. Leoric foi atrás e Avric, após desprender a espada da criatura, agora encalhada no leito do riacho, seguiu os demais. A queda da cachoeira era de uma vintena de metros, mas água parecia quase fofa abaixo da cachoeira, aerada pelos milhares de golpes aplicados pela queda d'água.

Grisban foi o primeiro à chegar na margem e viu que a situação era pior do que o previsto: havia ali, na base da cachoeira, parte da tropa de monstruosidades do Barão Zacareth. Um dragão sibilou enquanto um Ettin pegava sua clava do tamanho de uma árvore. Grisban ajudou Leoric a subir pelo barranco. Tomble apareceu à certa distância, de mãos vazias. Deu um aceno breve antes de pular novamente na água. Avric ergueu-se na parte rasa e viu o pelotão. Balançou a cabeça, com água pingando dos cabelos.

"Cadê o Tomble?", perguntou enquanto os monstros aproximavam-se. Grisban indicou com a cabeça o local onde Tomble aparecera. O ladino surgiu de seu mergulho e jogou o pequeno, mas pesado, baú no mato acima do barranco. Avric notou que os monstros não o tinham percebido. Apertou o punho da espada. "Hoje é um dia tão bom quanto qualquer outro."

"É, é sim", concordou Grisban. "Melhor que muitos, até."

Leoric conjurou um novo esqueleto, tendo perdido o outro no ataque surpresa do Meriod. Avric pegou fôlego então berrou tal qual um grito de guerra: "Foge, seu desgraçado!" Daí correu para dar combate aos monstros, flanqueado pelo esqueleto e por Grisban, enquanto Leoric preparava os feitiços contidos no Cajado da Luz.

Tomble entendeu que o grito era para ele, e assim ele fez. Correu para dentro da mata e não parou de correr até alcançar a estrada. Então correu por ela e, do alto de uma colina, de onde a estrada descia serpenteando, ele viu a esperança: uma tropa de cavaleiros vinha junto de uma grande força de infantaria. Os homens usavam a libré do Barão Greigory.

Tomble acenou, aflito e os cavaleiros esporearam as montarias adiante. Uma breve explicação foi necessária antes deles seguirem para a trilha que dava acesso à base da cachoeira. Tomble foi com os cavaleiros, enquanto um destes retornou para junto da tropa, carregando um baú de chumbo até entregá-lo ao Barão Greigory, que seguia junto da retaguarda de seu exército.

A batalha na mata foi feroz, com os cavaleiros chegando pouco antes do trio de heróis ser superado pelo poderio das criaturas, então comandadas pelo próprio Barão Zacareth, que reencontrara seu bando.

Os cavaleiros atacaram com a força de um martelo, empurrando os monstros na direção do rio. A mata não permitia muitas manobras e os cavalos, mesmo treinados para a guerra, assustavam-se com os dragões. Foi somente quando a infantaria chegou que Zacareth viu que não poderia vencer ali. Assim, conjurou os poderes negros que lhe eram dados como um servidor do Senhor do Escuro, e transformou-se em fumaça preta antes de sumir. Sem o controle exercido por Zacareth, as criaturas abandonaram sua resistência empedernida - os Meriods escaparam para o rio que fluía da cachoeira; o par de dragões ergueu voo e foi-se. Somente os Ettins permaneceram envolvidos no combate e certamente uma tribo inteira foi exterminada naquela batalha, que abriu uma clareira tão grande que, é dito, os lenhadores de cem milhas não precisaram trabalhar por um ano.

O dia era dos heróis. Era mesmo, um bom dia, afinal.


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Foi uma sessão em que certamente o Fabiano sentiu um pouco do que sentimos na aventura do Castelo Daerion: a sensação de não poder fazer efetivamente nada para vencer. Ele tentou, por certo, apinhando nosso caminho e movendo os monstros de tal maneira que não fosse possível usarmos os atalhos pelo rio. Mas ele não quis bloquear completamente a cachoeira e foi por lá que fomos, mesmo tomando o dano de pular.

Foi a primeira vez que os dragões deram a cara para bater e batida ela foi. O esqueleto, veja só, foi bem menos útil, talvez por ter tido bem menos combates nesta sessão - foram 3 contra os dragões, 1 contra o Barão e 1 contra um Meriod (ou melhor, 1/2 combate, já que o Meriod ficou vivo, deixamos ele para trás mesmo).

O Tomble carregou o baú e isso significava vida difícil para o Overlord: pois além da habilidade natural dele, o mesmo tem armadura e escudo, junto de uma poção de cura. Ou seja, seria preciso uma tonelada de dano para derrubá-lo. Algo que não ficou nem próximo de ocorrer.

No turno final, gastando um monte de vigor e usando a habilidade única do Tomble, a vitória foi assegurada, sem correr riscos. De agora em diante é o 2º nível das aventuras. Algo me diz que iremos beijar a lona mais vezes.

E foi isso!

Abs,