Acredito que o problema dos rankings é que eles de fato medem hype. Geralmente esse algoritmos tem uma nota padrão e um peso inercial, para mudar a nota padrão de um jogo é preciso muita gente votando e para isso o jogo tem que ser conhecido. Gostaria de um ranking que cruzasse as informações de registro de partidas, com a quantidade de proprietários ao longo de tempo, para saber se o jogo foi chuva passageira ou se tornou uma clássico. Obviamente, essa classificação ser tão melhor quanto mais precisa forem as informações alimentadas pelos usuários da plataforma, mas teríamos ao menos uma análise amostral. 

 

Júlio Ferreira::

fantafanta::
Mas eu gostaria de estender essa pergunta. Qual jogo hoje em dia é memorável? São tantos os títulos lançados em tão pouco tempo que dificilmente a comunidade, no geral, irá se debruçar e esmiuçar um jogo até a sua exaustão. Para mim Paris é um jogo memorável, justamente porque eu me permiti criar boas memórias com ele. Passei muitos momentos agradáveis em família jogando Paris. Muitos mais que vários jogos consagrados do hobby, esses sim esquecíveis para mim.

Excelente comentário como um todo, mas destaco essa parte! Não existe isso de jogo "memorável" por si só, construir memórias depende mais das pessoas que do jogo (mesmo que você jogue sozinho!).   

Sobre jogos "memoráveis", Paris (o jogo) e vários outros encalhados mal rankeados, eu sempre lembro de uma parte do livro "Não me Faça Pensar" (Steve Krug). 

O livro fala sobre usabilidade na web e ele aborda bastante o comportamento de usuários buscando alguma coisa na internet. Ele explica que na internet as pessoas tem tantas opções disponíveis e a poucos cliques de distância que se não ela ver quase imediatamente o que ela quer ao acessar o seu site, ela muito provavelmente vai desistir e vai tentar encontrar o que ela procura em outro. Se seu em e-commerce um formulário de cadastro é muito grande ou se houver a mínimo dificuldade de uso você vai perder o que  a gente chama de "conversões" (que é o momento que usuário "fecha negócio" com a sua página, geralmente comprando um produto).

Mas a parte que eu realmente lembro quando penso no livro é a comparação de um site com um outdoor em uma estrada, porque o seu site não é uma página de revista que o usuário se proprõe a ler, ele na verdade é um outdoor no meio de vários outros e o seu usuário vai passar por ele a mais de 100k/h e vai ter somente um relance antes de outro outdoor aparecer.

Eu vejo muito esse feito no hobby também (e em outras coisas), observando os padrões de consumo no que diz respeito as jogos. As pessoas não querem mais esperar porque tem outro jogo esperando pra ser comprado, jogado e largado... Se o seu jogo não colocar quase todas as qualidades dele na camada superficial, se ele não entregar tudo na primeira partida de forma clara, se o jogador não entende-lo, o risco que o seu jogo corre de não cair no gosto da massa é bem grande. 

Na minha experiência pessoal, mais de uma vez eu me vi redescobrindo jogos que eu não gostava e passei a gostar simplesmente porque eu tive paciência. Não estou dizendo que todos os jogos vão ficar bons simplesmente porque você jogou mais, mas garanto que muitos vão melhorar bastante!
  

Esse seu comentário foi perfeito. As pessoas tem pressa demais e o Hobbie atrapalhada saturando de tanto lançamento. Clássicos de ontem seriam flops de hoje. Isso é um fato. 
Uma experiência pessoal. Eu lembro que quando joguei Terra Mystica pela primeira vez simplesmente odiei o jogo. Jogando de Nomades eu gastei todos os meus trabalhadores para fazer pá pelo custo mais alto do jogo (antes do upgrades). Quando me apresentaram as ações do jogo isso parecia o correto a se fazer. Se o jogo é de terraformar bora fazer isso. Mas hoje qualquer jogador mediano sabe que se não se compra pá pagando 3 trabalhadores (o valor mais alto). Mas isso me custou uma partida sem recursos onde fui travado rapidamente e foram as 1h40 mais longas da vida. Simplesmente odiei!
Terra mystica e um jogo punitivo e que as ações base do jogo, as que parecem obvias, muitas delas você não deve fazer e sim usar as ações Bônus ou de Poder. Mas o jogo não te entrega isso de forma clara. Fazer o óbvio vai te lograr a pior experiência possível.
O que eu quero dizer é que jogar um jogo uma única vez, algo padrão no Hobbie no dias atuais, muitas das vezes vai te fazer jogar fora um jogo com várias camadas que precisa ser degustado e não empurrado goela a baixo.

Bozeus::

pauloaguila::Eu joguei ele semana passada, jogo de uma amiga, ela também tinha comprado recentemente por um preço bem abaixo.
E sinceramente não me deu vontade de jogá-lo novamente. Não que o jogo seja ruim, mas não cativou ninguém na mesa e no final jogamos mais pra terminar logo o jogo.

Vou perguntar porque talvez você e as pessoas que jogaram com você sejam realmente os "alvos" dessa pesquisa:
1) tente nos dizer o que você sente que faltou
2) você acha que teria mais coisas a explorar em uma segunda partida? Ou acha que tudo o que fizeram na primeira já deu pra sentir/entender o jogo
Se puder falar também quantas pessoas jogaram e se lembra de alguma estratégia usada por alguém (focar nos edifícios baratos, ou nos caros, rushar monumentos, etc).

Vamos lá, jogamos em 4 players. As regiões de pontuação se resumiram a 4, pois nas outras regiões não houveram 4 chaves ou mais. Os tiles de benefícios também não chegamos nem na metade. Sem dúvidas o jogo tem muito mais a ser explorado mas senti que na primeira partida ficamos mto travados e ng desenvolveu bem. Fomos nos lugares que davam mais dinheiro e foram os lugares mais disputados. Monumentos acho que saíram uns 4. E a questão dos tiles de benefícios que escolhemos no final, achei bem sem graça e muitos nem foram úteis assim. Dinheiro apertado (isso não é ruim). Mas o sentimento que o jogo passou foi unânime para todos.

Júlio Ferreira::Eu vejo muito esse feito no hobby também (e em outras coisas), observando os padrões de consumo no que diz respeito as jogos. As pessoas não querem mais esperar porque tem outro jogo esperando pra ser comprado, jogado e largado... Se o seu jogo não colocar quase todas as qualidades dele na camada superficial, se ele não entregar tudo na primeira partida de forma clara, se o jogador não entende-lo, o risco que o seu jogo corre de não cair no gosto da massa é bem grande. 

Na minha experiência pessoal, mais de uma vez eu me vi redescobrindo jogos que eu não gostava e passei a gostar simplesmente porque eu tive paciência. Não estou dizendo que todos os jogos vão ficar bons simplesmente porque você jogou mais, mas garanto que muitos vão melhorar bastante!
 

Olá, Júlio. Obrigado pela réplica!
Eu penso assim também!
Além disso, são tantas as opções de jogos no mercado hoje em dia que o mais importante, no fim das contas, acaba sendo fazer a "curadoria" de tudo isso. Saber onde focar sua atenção para encontrar o jogo "certo" é uma arte.
Ter paciência para aprender e se dedicar a um jogo, aperfeiçoando sua leitura a respeito dele, tambem é uma arte.
Nem todo mundo vai ter tempo e dinheiro para fazer isso, eu compreendo, mas esse é outro papo. hehehe

marcelobrito::O que eu quero dizer é que jogar um jogo uma única vez, algo padrão no Hobbie no dias atuais, muitas das vezes vai te fazer jogar fora um jogo com várias camadas que precisa ser degustado e não empurrado goela a baixo.

É isso!
Nem todo jogo vai se mostrar agradável de primeira. E talvez nem mesmo o jogando várias vezes! hehehe
Mas veja o caso do próprio Paris aqui em casa.
Eu comprei o jogo na época da pandemia e não tínhamos muitas opçãoes de entretenimento em casa além de assitir televisão e ficar vendo bobagem na internet.
Quando decidi comprar jogos de tabuleiro pra valer, o Paris foi uma das minhas primeiras opções de aquisição. Só que foi um tiro no escuro, pois eu não  sabia nada a respeito dele. Lembro que comprei também o Power Grid e o Tigris & Eufrates. Ambos acabaram saindo da coleção depois (ok, até me arrependi de tê-los vendido).
Só que o Paris não. As primeiras partidas foram esquisitas e nem minha mãe e, posteriormente, nem minha noiva gostaram do jogo.
Minha mãe mesmo detestava ele! XD
Foi preciso insistir bastante com ela e jogar pelo menos umas 5 partidas para que pegasse a manha do jogo e entendesse de fato como ele funciona. Para tornar-se competitiva. Daí pra frente foi só alegria rs
E não é nem tanto pelo fato de ter se tornado boa no jogo, mas sim por ter compreendido como as coisas funcionam! Há uma grande satisfação em aprender. Ninguém  gosta de se sentir bobo jogando.
Só que é preciso dar tempo ao tempo. Nem todos tem condições de fazer isso. Se não tivéssemos com a disposição de tempo livre na pandemia, talvez tivesse passado o Paris pra frente também. Mas também falta a boa vontade de tentar enxergar o jogo com outros olhos.

De hoje, matando a saudade!
Primeira vez que, jogando em 2, a partida chegou a 2h de duração. XD
Essa eu venci, algo raro por aqui!

A grande benção/maldição do hobbie dos últimos 10 anos é que todos deixaram de ser jogadores/expert de board games para se tornarem acumuladores/somelier de mecânicas. A quantidade de lançamentos entrou numa escala desumada. Ninguém quer mais voltar ao antigo prazer que é apenas jogar um jogo já conhecido com os amigos e gastar boas horas ali. Hoje nos envenenamos com o veneno do novo-é-o-melhor. A corrida armamentista da última novidade, da nova mecânica, do mais inovador, do imprevisível, da maior miniatura, do tabuleiro mais diferentão, da caixa mais pesada.

Jogos topo-do-rank, que no fim, são só alguns kilos de papel impressos, já custam meio salário mínimo, e estão fadados a morarem a morar numa estante por meses até alguém ter coragem de devorar aquele manual e juntar alguém disposto a gastar horas ali (ignorando a frustração de errar as regras e quebrar o jogo). Jogar os hype tornou-se um evento anual, muito aguardando. Isso quando acontece. Nosso investimento ficou descartável. E tudo aquilo que nos motivava a tirar aquele Catan da prateleira era que isso rendia uma noite de muitas risadas (e brigas). Nos esquecemos disso. Ou será que estamos apenas ignorando o que nos trouxe até aqui?

Por fim, essa foto com a esposa me fez lembrar o quão bom é jogar um jogo que já conhecemos onde tudo que precisamos é abrir a caixa e começar a desfrutar das boas companhias.

marcelobrito::A grande benção/maldição do hobbie dos últimos 10 anos é que todos deixaram de ser jogadores/expert de board games para se tornarem acumuladores/somelier de mecânicas. A quantidade de lançamentos entrou numa escala desumada. Ninguém quer mais voltar ao antigo prazer que é apenas jogar um jogo já conhecido com os amigos e gastar boas horas ali. Hoje nos envenenamos com o veneno do novo-é-o-melhor. A corrida armamentista da última novidade, da nova mecânica, do mais inovador, do imprevisível, da maior miniatura, do tabuleiro mais diferentão, da caixa mais pesada.

Jogos topo-do-rank, que no fim, são só alguns kilos de papel impressos, já custam meio salário mínimo, e estão fadados a morarem a morar numa estante por meses até alguém ter coragem de devorar aquele manual e juntar alguém disposto a gastar horas ali (ignorando a frustração de errar as regras e quebrar o jogo). Jogar os hype tornou-se um evento anual, muito aguardando. Isso quando acontece. Nosso investimento ficou descartável. E tudo aquilo que nos motivava a tirar aquele Catan da prateleira era que isso rendia uma noite de muitas risadas (e brigas). Nos esquecemos disso. Ou será que estamos apenas ignorando o que nos trouxe até aqui?

Por fim, essa foto com a esposa me fez lembrar o quão bom é jogar um jogo que já conhecemos onde tudo que precisamos é abrir a caixa e começar a desfrutar das boas companhias.

Eu nem ia comentar mas essa sua fala me motivou, hehe.

De fato, concordo que o hobby está num ritmo muito acelerado, onde os jogos que demandam muitas partidas para serem completamente apreciados acabam passando despercebidos. Sabe, aqueles jogos onde se é possível ficar melhor nele a cada partida, porque se começa a entender os mecanismos...?

Ainda bem que alguns de nós são pessoas que não ligam para os rankings. Se eu ligasse, teria perdido, por exemplo, a pérola que é o Blackout: Hong Kong. É um dos meus jogos preferidos pela sua aparente simplicidade e pelos seus mecanismos tão interligados que é impossível de serem totalmente apreciados na primeira partida. Assim como no Feudum, no Bonfire...

Mas é realmente complicado fugir da "máquina". O hype é grande e o FOMO é forte.

marcelobrito::A grande benção/maldição do hobbie dos últimos 10 anos é que todos deixaram de ser jogadores/expert de board games para se tornarem acumuladores/somelier de mecânicas. A quantidade de lançamentos entrou numa escala desumada. Ninguém quer mais voltar ao antigo prazer que é apenas jogar um jogo já conhecido com os amigos e gastar boas horas ali. Hoje nos envenenamos com o veneno do novo-é-o-melhor. A corrida armamentista da última novidade, da nova mecânica, do mais inovador, do imprevisível, da maior miniatura, do tabuleiro mais diferentão, da caixa mais pesada.

Pois é, Marcelo. 
Eu, por exemplo, prefiro jogar 20x o mesmo jogo e extrair tudo o que o jogo tem a me oferecer do que jogar 1x 20 jogos diferentes e ficar na superficialidade ou ficar na imaginação do quanto além o jogo pode ir. 
E por curiosidade fiz a pergunta para o grupo no qual eu estava jogando: Vocês preferem jogar jogos diferentes ou repetir jogos? A resposta esmagadora foi: jogar jogos diferentes.