A questão em debate vai além do vício em jogos; o que realmente está em jogo é a cultura do consumismo. Independentemente do hobby, a tendência de transformá-lo em uma fixação está cada vez mais presente, levando-nos a gastar excessivamente na busca da experiência ideal. Um prazer saudável pode facilmente se tornar uma obsessão. Vivemos em uma sociedade marcada pela ansiedade, que nos impulsiona a comprar, acumular hobbies, adquirir conhecimentos superficiais e consumir informações em excesso, muitas vezes sem sequer perceber. É um reflexo de uma sociedade adoecida, onde a busca constante por mais acaba por nos dominar.

fousfo::A questão em debate vai além do vício em jogos; o que realmente está em jogo é a cultura do consumismo. Independentemente do hobby, a tendência de transformá-lo em uma fixação está cada vez mais presente, levando-nos a gastar excessivamente na busca da experiência ideal. Um prazer saudável pode facilmente se tornar uma obsessão. Vivemos em uma sociedade marcada pela ansiedade, que nos impulsiona a comprar, acumular hobbies, adquirir conhecimentos superficiais e consumir informações em excesso, muitas vezes sem sequer perceber. É um reflexo de uma sociedade adoecida, onde a busca constante por mais acaba por nos dominar.

Bom dia meu amigo.
Você tocou em um ponto essencial.
O ser humano, sobretudo as novas gerações não suportam mais o tédio.
O celular nos oferece uma experiência personalizada, tudo voltado ao nosso prazer.
Os "cookies" acumulados nos sites, nos fazem receber sugestões de compra baseadas nos nossos históricos de pesquisa, ou seja, é tudo personalizado, tudo voltado ao nosso prazer.
Hoje uma criança (e até um adulto) não consegue mais sentar e simplesmente não fazer "nada", o ócio nos parece angustiante, nos dá um vazio.
E muitas vezes, tentamos fechar esse buraco, preencher esse vazio com uma nova compra.

danfnd::Excelentes tópico e comentários!
Acho que como muitos aqui eu redescobri o prazer dos jogos de tabuleiro depois de adulto.
Junto com a nostalgia das brincadeiras de infância veio a descoberta da existência dos jogos modernos, mais complexos e estratégicos.
E depois de voltar a jogar com amigos passei a também comprar novos jogos para coleção.
Mas é realmente difícil conciliar a minha fase de vida e da maioria dos amigos, já casados e com filhos pequenos, com a o tempo necessário a dar vazão à quantidade de jogos que a gente acaba comprando.
Eu procuro não esquentar a cabeça com isso, mas também já não compro mais jogos como antigamente.
Devo ter por volta de uns 80 a 90 jogos, contando expansões. Alguns nunca viram mesa. Outros que eu gostaria de jogar com frequência acabam não indo pra mesa por conta da complexidade das regras.
Ao mesmo tempo, não considero me desfazer dos jogos. Encaro como aqueles livros que você guarda na estante para ler um dia. Dizem que o Umberto Eco disse uma vez algo parecido sobre ter livros na estante. Não sei se a analogia se encaixa perfeitamente, mas é como tenho lidado com a minha coleção atualmente. Quem sabe esses jogos estejam só esperando a sua vez.

"É tolice pensar que tem de ler todos os livros que compra, pois é tolice criticar aqueles que compram mais livros do que alguma vez conseguiram ler. Seria como dizer que deve usar todos os talheres ou óculos ou chaves de fenda ou brocas que comprou antes de comprar novos.
"Tem coisas na vida que precisamos ter sempre abundância, mesmo que usemos apenas uma pequena porção. "Se, por exemplo, consideramos os livros como medicamentos, entendemos que é bom ter muitos em casa em vez de alguns: quando se quer sentir melhor, então vai ao 'armário dos remédios' e escolhe um livro. Não um aleatório, mas o livro certo para aquele momento. É por isso que você deve ter sempre uma escolha nutricional! "Quem compra apenas um livro, leia apenas esse e depois se livra dele. Eles simplesmente aplicam a mentalidade do consumidor aos livros, isto é, consideram-nos um produto de consumo, um bem. Quem ama livros sabe que um livro é tudo menos uma mercadoria." -  Umberto Eco

Exato! Concordo plenamente, eu sempre pensei nas minhas coleções como algo que eu gosto, que eu pretendo utilizar no presente, mas que também quando ficar mais velho, poder continuar aproveitando e passando eles para novas pessoas, seja sobrinhos, com filhos dos amigos, netos...eu me tornar o velhinho legal que quando eles vão na casa passam horas lendo ou jogando coisas legais. (já pensou, que sonho, você velhinho aposentando, morando em um lugar tranquilo, chega seus netos para passar as ferias com você, e vocês ficam jogando 9h de TI4 igual uns viciados kkkkkkkkkk)

Exatamente por ter tantas opções no mercado e tantos jogos que não quero jogar.
(Inevitável, sempre acontece quando se joga em grupo.)
Eu fui para o solo.

E os jogos de tabuleiro são só o início de outros nichos tais como os que me encaixo:
Coleção de dados, personalizar/melhorar e jogos para imprimir e jogar.

Eu acho que o que não é saudável é se cobrar para se divertir.
"Hoje vou jogar o jogo _________!"

Tenho gibis/livros como hobby também, às vezes a leitura é tão envolvente que não quero parar de ler para jogar, mas em outra oportunidade vou jogar.

Se não der, não deu.

Não é uma obrigação o jogo ser apreciado no momento de sua compra.
Até pq tem manuais aí que são desafiadores, requer tempo e paciência. 

Ótimo texto. 

Adorei a frase "ânsia de ter, e tédio de possuir"

Se aplica demais em muitas situações ligadas ao hobby. 

Eu mesmo, não me encaixo ainda no perfil de quem compra e não bre o jogo, mas já estou reparando que andei comprando muitos jogos ultimamente, na ânsia de preencher alguma vontade que ainda não sei ao certo qual é. 

Pegamos o tokaido deluxe esses dias, adoramos o jogos (eu e minha esposa), jogamos algumas vezes, e mesmo assim fica aquele sentimento...

"Legal, mas ainda não é esse"

Não sei se faz sentido pra vocês. 

Eu tenho percebido isso com nossos jogos. 

Compro vários jogos, o jogo chega, gostamos, mas "ainda não é esse"

Acredito que a alta frequência de lançamentos tem influenciado nesse sentimento também. 

Acabei de pegar um Duna Imperium num leilão, que nem chegou ainda, e já estou a espera dos Goonies, daybreak etc. 

Não diria que o hobby já se tornou insalubre, mas já percebi que estou criando hábitos nada saudáveis pra minha vida financeira kkk

Ótimo tópico, rendeu ótimos comentários também. É bom ver esse tipo de reflexão na forma mais sincera: grupo de apoio para saúde mental :¬)

Eu fui impactado pelo entusiasmo no início do hobby/vício, cada jogo novo uma boa experiência, depois só jogo novo sem experiência (só a frustração de comprar), o lado do colecionar também me pegava - e ainda pega. - e precisei passar por uma "reabilitação". Primeiro passo foi parar de seguir lançamentos: não ter uma lista de desejos, deixar de seguir, ver e ouvir os principais canais sobre o tema. Influenciadores são os principais responsáveis pelas compras ruins ou desnecessárias, pois como foi dito, ganham para divulgar e fomentar o mercado. Ainda continuo interessado em jogos novos e antigos, mas prefiro ver a avaliação de jogadores reais, perfis de pessoas que não ganham nada para avaliar e são honestos em suas preferências e apontar problemas e da mesma forma manifestam entusiasmo e empolgação com jogos de dentro e fora do hype. Nas avaliações dos jogos aqui na ludopedia têm vários perfis para os quais dou o maior crédito na hora de comprar um jogo novo (ver a coleção do cara, jogos preferidos, comentários e avaliações), e funciona melhor que os canais oficiais e recomendados das editoras. 
Não compro mais tantos jogos, priorizo apenas os mais dinâmicos, simples de regra e fáceis de apresentar para grupos casuais. Jogos pesados e médios mantive as melhores experiências na perspectiva do Umberto Eco. 
A ideia de procurar grupos para jogar no começo do hobby para mim foi frustrante, muitos grupos tóxicos de muito competitividade, pouco divertidos focados em status de coleção, no whats a 5ª série e o bulling imperam, sempre com comentários maldosos, implicâncias com preferências e alfinetadas desnecessárias vinda de adultos. Ter um grupo fixo, com pessoas de maior afinidade, me pareceu mais interessantes do que ficar procurando grupos aleatórios para jogar.

Jogar é bom, mas tem mais coisa na vida para dar prioridade. Vendi muita coisa e reverti em outras experiências que geraram momento e memórias distintas e interessantes. 

Sr Ze:: Nas avaliações dos jogos aqui na ludopedia têm vários perfis para os quais dou o maior crédito na hora de comprar um jogo novo (ver a coleção do cara, jogos preferidos, comentários e avaliações), e funciona melhor que os canais oficiais e recomendados das editoras. 

Muito bom esse ponto, enquanto o hobby não tiver um “jornalismo de crítica” independente (como acontecia no passado com a gastronomia), com alguém recebendo salário pra isso, continua sendo mais confiável apostar nos usuários da Ludopedia com gosto parecido, com os mais jogados do LudoStat e, apesar de polêmico, também dou uma olhada nos rankings. Do jeito que a sociedade caminha pra influencers ao invés de críticos, não vejo isso mudar.

LuisPerdomo::
Mesma coisa, joguei MtG de 2003 até 2018, mais ou menos, apesar de ainda ter algumas cartas guardadas.

Você está vivo! Some não. A Ludopedia é mais vazia sem seu textos...
PS: tenho que ficar de olho nos seus leilões!

Cara, excelente reflexão. Parabéns pelo texto!